sexta-feira, 10 de setembro de 2010

“Deus não criou o universo”: marketing para livro de Hawking

Uma provocação saudável, considera um decano de Filosofia

Por Jaime Septién

Deus não criou o universo. Esta afirmação do livro do famoso físico Stephen Hawking gerou um debate mundial esta semana, dando uma publicidade enorme ao seu livro "The Grand Design" (espera-se que esteja nas livrarias a partir de hoje).

Por tal motivo, entrevistamos o Pe. Rafael Pascual, LC, decano de Filosofia do Ateneu Pontifício Regina Apostolorum (Roma) e diretor de um curso de "Ciência e Fé" que aborda os temas desta obra que está chegando ao público.

Quais foram suas primeiras impressões com relação a esta obra de Hawking, que vazou na imprensa antes do seu lançamento?

Pe. Rafael Pascual: Sinceramente, parece um recurso publicitário antes do lançamento de um novo produto. Acho que há muita retórica. Se continuássemos no mesmo tom, poderíamos responder como um famoso político, em outro contexto: "E quem é Stephen Hawking?".
Mas penso que, muito além da retórica, é preciso aceitar a nova provocação de Hawking e inclusive agradecer-lhe por isso, pois, como disse Aristóteles, temos de ser agradecidos não somente com os que dizem a verdade, mas também com os que erram, pois nos estimulam a buscar com mais esforço a verdade. Obviamente, é preciso esperar a leitura do livro para saber o que ele realmente diz e quais são seus argumentos.

É possível que a Astronomia, a Física e as demais ciências empíricas cheguem um dia a desvelar o que até hoje é considerado como o "segredo" dos inícios?

Pe. Rafael Pascual: Acho que seria preciso começar dizendo que uma coisa é falar do começo do universo, no sentido científico, e outra coisa é a origem do universo, que vai muito além do que a ciência pode dizer. No fundo, é a famosa questão que o próprio Hawking recordava no livro que o tornou famoso: por que existe algo e não simplesmente o nada? Ou, dito de maneira mais poética, por que o mundo insiste em existir? Não acho que a ciência seja capaz de dar uma resposta a esta pergunta.

Se a ciência consegue explicar como tudo começou, já não teria sentido falar de Deus?

Pe. Rafael Pascual: Acho que não, pelo mesmo motivo que acabei de comentar. Talvez não seja totalmente correto o que se costuma dizer sobre a ciência - que ela explica o como, enquanto a Filosofia e a religião explicam o porquê. A ciência também busca os porquês dos fenômenos, mas o faz em seu próprio âmbito, que é o estritamente físico.
Mas não é competente, por sua própria índole, no que vai além de tal campo e do que ultrapassa o horizonte do experimental - o que não quer dizer que não exista nada além disso. Deus não entra propriamente no horizonte das ciências, e por isso as ciências simplesmente não podem se pronunciar ao respeito.

Então, onde fica Deus?

Pe. Rafael Pascual: Deus fica onde sempre esteve. No fundo, penso que Hawking cai no mesmo erro que Newton, ou melhor, leva a posição de Newton à sua consequência lógica. O problema é que começa de um falso ponto de partida. De fato - já dizia Laplace - a ciência não tem necessidade da hipótese de Deus, contra a introdução de Deus por parte de Newton na explicação da mecânica do universo; mas isso não quer dizer que Deus não exista, e sim que se encontra em outra ordem, em outro nível, muito além do científico, ao qual somente a Filosofia e a Teologia têm acesso.

Portanto, o que podemos pensar daqueles que acreditam que a ciência pode chegar a excluir um lugar para Deus na compreensão do mundo?

Pe. Rafael Pascual: Eu diria que deveria ser pedido que respeitem o âmbito da própria competência. É como se um teólogo que não fosse especialista na matéria começasse a pontificar sobre Física Quântica e dissesse que o dualismo onda-partícula demonstra que Deus existe, ou coisas do estilo.

Fonte: Zenit.

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