domingo, 27 de abril de 2014

Francisco: João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restaurar e atualizar a Igreja



No centro deste domingo, que encerra a Oitava de Páscoa e que São João Paulo II quis dedicar à Misericórdia Divina, encontramosas chagas gloriosas de Jesus ressuscitado.
Já as mostrara quando apareceu pela primeira vez aos Apóstolos, ao anoitecer do dia depois do sábado, o dia da Ressurreição. Mas, naquela noite – como ouvimos –, Tomé não estava; e quando os outros lhe disseram que tinham visto o Senhor, respondeu que, se não visse e tocasse aquelas feridas, não acreditaria. Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no meio dos discípulos, no Cenáculo, encontrando-se presente também Tomé; dirigindo-Se a ele, convidou-o a tocar as suas chagas. E então aquele homem sincero, aquele homem habituado a verificar tudo pessoalmente, ajoelhou-se diante de Jesus e disse: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).
Se as chagas de Jesus podem ser de escândalo para a fé, são também a verificação da fé. Por isso, no corpo de Cristo ressuscitado, as chagas não desaparecem, continuam, porque aquelas chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, sendo indispensáveis para crer em Deus: não para crer que Deus existe, mas sim que Deus é amor, misericórdia, fidelidade. Citando Isaías, São Pedro escreve aos cristãos: «pelas suas chagas, fostes curados» (1 Ped 2, 24; cf. Is 53, 5).
São João XXIII e SãoJoão Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão (cf. Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo.
Foram sacerdotes, bispos e papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria.
Nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava «uma esperança viva», juntamente com «uma alegria indescritível e irradiante» (1 Ped 1, 3.8). A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas pelo crisol do despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores levada até ao extremo, até à náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado, tendo-as, por sua vez, doado em abundância ao Povo de Deus, recebendo sua eterna gratidão.
Esta esperança e esta alegria respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém, de que falam os Actos dos Apóstolos (cf. 2, 42-47), que ouvimos na segunda Leitura. É uma comunidade onde se viveo essencial do Evangelho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e fraternidade.
E esta é a imagem de Igreja que o Concílio Vaticano II teve diante de si.João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restabelecer e actualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a Igreja. Na convocação do Concílio,São João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito. Este foi o seu grande serviço à Igreja; por isso gosto de pensar nele como o Papa da docilidade ao Espírito Santo.
Neste serviço ao Povo de Deus, São João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu.
Que estes doisnovos santos Pastores do Povode Deus intercedam pela Igreja para que, durante estes doisanos de caminho sinodal, seja dócilao Espírito Santono serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos escandalizarmos das chagas de Cristo, a penetrarmos no mistério da misericórdia divina que sempre espera, sempre perdoa, porque sempre ama.

Fonte: Zenit.

sábado, 26 de abril de 2014

Neste sábado, em Turim, será beatificado o padre Girotti, assassinado em um campo de concentração nazista



O padre dominicano Giuseppe Girotti, vítima do ódio contra a fé, assassinado no campo de concentração de Dachau pelas mãos dos nazistas, será proclamado beato neste sábado em Alba, no Piemonte. O Santo Padre o recordou na audiência geral desta quarta-feira, desejando que "o seu heroico testemunho cristão e o seu martírio suscitem em muitos corações o desejo de aderir cada vez mais a Jesus e ao Evangelho". Para representar o Santo Padre na beatificação, estará presente o cardeal Giovanni Coppa, nascido em Alba.
O padre Girotti foi um dos 1500 sacerdotes mortos no campo de concentração de Dachau. Nascido em Alba em 15 de julho de 1905, de uma família muito pobre, foi ordenado sacerdote na ordem dos dominicanos em 1930. Fez seus estudos bíblicos em Jerusalém na escola do padre Lagrange, entre 1932 e 1934. Tornou-se docente de Sagrada Escritura no Studium dominicano de Santa Maria das Rosas, em Turim, onde, em 1983, publicou um comentário aos Livros Sapienciais. Em 1937, foi encarregado de continuar o comentário à Sagrada Bíblia começado pelo irmão Marco Sales. Em 1939, foi suspenso do ensino, censurado pelo regime devido à sua postura antifascista e transferido para o convento de Santo Domingo.
Com a ocupação alemã da Itália em 1943, a situação dos judeus ficou particularmente delicada a partir da decisão da República Social, em 30 de novembro, de prender todos os judeus. Pio XII pediu que os fieis ajudassem e salvassem os judeus. E o padre Girotti não deixou de lado o dever moral de prestar ajuda aos perseguidos. Mas foi traído e caiu numa armadilha da polícia nazista, que, por telefone, lhe pediu acompanhar um dos filhos do professor Diena, judeu, até a casa do pai na colina de Turim. Girotti saiu do convento em 29 de agosto de 1944 e não voltou mais. Foi levado para o campo de concentração de Dachau.
No campo de concentração, o padre foi acometido de um carcinoma que lhe trouxe problemas de vista, dores reumáticas e inflamação crescente nas pernas. Morreu em 1º de abril de 1945. As últimas palavras escutadas dele foram uma citação do livro do Apocalipse: "Maranatha. Vem, Senhor Jesus!". Uma mão desconhecida escreveu de lápis na sua cama: “São Giuseppe Girotti”. Nos registros do campo de concentração de Dachau, pode-se ler: "Motivo da prisão: ajudou os judeus". O padre Girotti foi enterrado na fossa comum de Leitenberg.

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

São José de Anchieta não teve medo da alegria

O papa Francisco presidiu nesta quinta-feira, às seis da tarde, na Igreja romana de Santo Ignácio de Loyola, a missa de ação de graças pela canonização de São José de Anchieta. O Santo Padre assinou no dia 3 de Abril o decreto de canonização do padre Anchieta,  juntamente com o de outros beatos canadenses: a mística missionária Maria da Encarnação (Guyart) e o bispo Francisco de Montmorency -Laval. Os três tinham sido beatificados em 1980 por João Paulo II.

A canonização do jesuíta de Tenerife José de Anchieta foi feita através do processo chamado ‘equipolente’, já que não responde a um milagre recente, mas se reconhece o seu intenso trabalho de evangelização no Brasil, realizado na segunda metade do século XVI.
Na sua chegada à igreja, o Pontífice argentino foi recebido com aclamações e aplausos pelos muitos fiéis e curiosos que se aglomeravam nas portas do templo. E é que Roma se encontra tomada por milhares de peregrinos de vários países que vieram para a capital italiana participar, no próximo domingo, da canonização de João XXIII e João Paulo II.
A igreja de Santo Ignacio recebeu cerca de mil pessoas durante a celebração. A delegação canária, com umas oitenta pessoas, está encabeçada pelos dois bispos das Canárias, monsenhor Bernardo Álvarez (Tenerife) e monsenhor Francisco Cases (Gran Canária), o presidente do Governo regional, Paulino Rivero, o do Conselho de Tenerife, Carlos Alonso, e o prefeito de La Laguna - cidade natal de São José de Anchieta - Fernando Clavijo, entre outros. Representando o Governo Espanhol, o ministro José Manuel Soria, que também é canário.
Na Eucaristia, que tem sido em português, participaram as primeiras autoridades religiosas do Brasil: os cardeais Damasceno, Hummes, Braz e Scherer. Mesmo assim, o Santo Padre fez sua homilia em espanhol. A seguir, reproduzimos as palavras do Papa durante Francisco durante a missa de ação de graças:
No trecho do Evangelho que acabamos de ouvir os discípulos não conseguem acreditar na alegria que têm porque “não podem crer por causa dessa alegria”, assim diz o Evangelho. Olhemos a cena: Jesus ressuscitou, os discípulos de Emaús narraram a sua experiência. Pedro também conta o que viu. Logo, o mesmo Senhor aparece na sala e lhes diz: “A paz esteja convosco”. Vários sentimentos invadiram os corações dos discípulos: medo, surpresa, dúvida e, finalmente, alegria. Uma alegria tão grande que, por esta alegria “não conseguem crer”. Estavam atônitos, pasmados, e Jesus, quase mostrando um sorriso, pede a eles algo para comer e começa a explicar-lhes, devagar, a Escritura, abrindo o seu entendimento para que pudessem comprendê-la. É o momento da maravilha do encontro com Jesus Cristo, onde tanta alegria nos parece mentira; mais ainda, assumir o gozo e a alegria nesse momento é arriscado e sentimos a tentação de refugiar-nos no ceticismo, “não é para tanto”. É mais fácil acreditar em um fantasma do que em Cristo vivo. É mais fácil ir a um quiromante que adivinhe o seu futuro, que joga as cartas, do que confiar na esperança de um Cristo triunfante, de um Cristo que venceu a morte. É mais fácil uma ideia, uma imaginação do que a docilidade a esse Senhor que surge da morte e vai lá saber as coisas às quais nos convida. É o processo de relativizar tanto a fé que termina nos distanciando do encontro, da carícia de Deus. É como se “destilássemos” a realidade do encontro com Jesus Cristo no alambique do medo, no alambique da excessiva segurança, do querer controlar, nós mesmos, o encontro. Os discípulos tinham medo da alegria... E nós também.
A leitura dos Atos dos Apóstolos nos fala de um paralítico. Escutamos somente a segunda parte dessa história, mas todos conhecemos a transformação deste homem: aleijado desde o nascimento, prostrado na porta do Templo para pedir esmola, sem nunca atravessar sua soleira; e como os seus olhos se fixaram nos Apóstolos, esperando que lhe dessem algo. Pedro e João não podiam dar-lhe nada do que ele procurava: nem ouro, nem prata. E ele, que sempre tinha ficado na porta, agora entra por conta própria, dando saltos, e louvando a Deus, celebrando as suas maravilhas. E a sua alegria é contagiosa. Isso é o que hoje nos fala a Escritura: as pessoas se admiravam, e assombradas vinham correndo para ver essa maravilha.
É que a alegria do encontro com Jesus Cristo, essa que nos dá tanto medo de assumir, é contagiosa e grita o anúncio, e aí cresce a Igreja. O paralítico crê. “A Igreja não cresce por proselitismo, cresce por atração”; a atração testemunhal deste gozo que anuncia Jesus Cristo. Esse testemunho que nasce da alegria assumida e logo transformada em anúncio. É a alegria fundamental. Sem este gozo, sem esta alegria, não é possível fundar uma igreja, uma comunidade cristã. É uma alegria apostólica, que irradia, que expande. Me pergunto: Como Pedro, sou capaz de sentar-me com o meu irmão e explicar devagar o dom da Palavra que recebi? É contagiá-lo da minha alegria! Sou capaz de convocar ao meu redor o entusiasmo daqueles que descobrem em nós o milagre de uma vida nova, que não é possível controlar, à qual devemos docilidade porque nos atrai, nos leva; essa vida nova nascida do encontro com Cristo?
Também São José de Anchieta soube comunicar o que ele tinha experimentado com o Senhor, “o que tinha visto e ouvido” dele; o que o Senhor lhe comunicou nos seus exercícios. Ele, junto com Nóbrega, é o primeiro jesuíta que Ignácio envia à América. Um garoto de 19 anos. Era tal a alegria que tinha, tal o gozo, que fundou uma nação, colocou os fundamentos culturais de uma nação em Jesus Cristo. Não tinha estudado teologia, não tinha estudado filosofia; era um garoto, mas tinha sentido o olhar de Jesus Cristo e se deixou alegrar, e optou pela luz. Essa foi e é a sua santidade. Não teve medo da alegria.
São José de Anchieta tem um belo hino à Virgem Maria, a quem, inspirando-se no cântico de Isaías 52, compara com a mensagem que proclama a paz, que anuncia o gozo da Boa Nova. Que ela, que nessa madrugada do domingo, sem dormir pela esperança, não teve medo da alegria, nos acompanhe na nossa peregrinação, convidando todos a se levantarem, a renunciar à paralisia, para entrarmos juntos na paz e na alegria que Jesus, o Senhor Ressuscitado, nos presenteia.

Veja o álbum de fotos da celebração.
( RED - IV / Trad.TS) - Fonte: Zenit.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O papa Francisco fala aos empresários: "Abram os olhos e não fiquem de braços cruzados"

Na semana passada, o Santo Padre recebeu uma mensagem de trabalhadores da empresa Lucchini, sediada na cidade italiana de Piombino. A empresa vai ser fechada. O papa Francisco afirmou, na audiência geral desta quarta, que a mensagem o comoveu e o deixou triste. "Queridos trabalhadores, queridos irmãos, nos rostos de vocês se desenhava uma profunda tristeza e preocupação de pais de família, que só pedem o direito de trabalhar, de viver com dignidade e de cuidar, alimentar e educar os próprios filhos". O Santo Padre assegurou a eles a sua proximidade e a sua oração. Francisco os convidou também a não se desanimarem: "O papa está junto com vocês e reza por vocês, para que, quando as esperanças humanas se apagarem, permaneça sempre acesa a esperança divina, que não decepciona nunca". Além disso, Francisco afirmou que os "abraça fraternamente".
A todos os responsáveis pelas empresas, por sua vez, o papa pediu que empreguem "todos os esforços de criatividade e de generosidade para reacender a esperança no coração desses nossos irmãos, no coração de todas as pessoas que ficaram desempregadas por causa do esbanjamento e da crise econômica". O Santo Padre alçou a voz para pedir: "Por favor, abram os olhos e não fiquem de braços cruzados!".
Os doentes foram os primeiros a saudar hoje o Santo Padre na audiência geral. Enquanto a multidão esperava a chegada de Francisco na Praça de São Pedro, o papa dedicava um longo momento a um grupo de doentes e aos seus familiares. O encontro aconteceu na Sala Paulo VI. Sem nenhuma pressa, o Santo Padre saudou, abençoou e conversou tranquilamente com muitos deles. Visivelmente emocionados, os enfermos e seus familiares e acompanhantes abraçaram o papa Francisco e tiveram tempo para intercambiar palavras com ele.
Já na praça, o pontífice percorreu os corredores a bordo do papamóvel, parcialmente coberto devido à chuva. Francisco abençoou crianças, tomou mate e até desceu do jeep para falar com um grupo de crianças que estavam nas primeiras filas. O papa, brincando, chegou a colocar na cabeça o gorro vermelho de uma delas.
A catequese focou na alegria da ressurreição. Francisco convidou os fiéis presentes a repetirem três vezes em voz alta: "Por que buscais entre os mortos Aquele que está vivo?". Depois, pediu que todos refletissem ao longo do dia de hoje sobre esta pergunta.
No resumo da catequese, o Santo Padre declarou: "Queridos irmãos e irmãs, celebramos nestes dias, com alegria, o grande mistério da ressurreição de Cristo. É uma alegria autêntica, profunda, que se baseia na certeza de que Cristo ressuscitado não morre mais, mas vive e age na Igreja e no mundo. Não é fácil aceitar a presença do ressuscitado no meio de nós. A pergunta que o anjo fez às mulheres naquela manhã de Páscoa deve interpelar a nós também: ‘Por que buscais entre os mortos Aquele que está vivo?’. Buscamos entre os mortos Aquele que vive toda vez que nos encerramos no egoísmo e na autocomplacência; quando nos deixamos seduzir pelo poder e pelas coisas deste mundo, esquecendo-nos de Deus e do próximo; quando colocamos a nossa esperança em vaidades mundanas, no dinheiro ou no sucesso; toda vez que perdemos a esperança ou não temos forças para rezar; toda vez que nos sentimos sozinhos ou abandonados pelos amigos e até por Deus; toda vez que nos sentimos prisioneiros dos nossos pecados. A advertência do anjo vai nos ajudar a sair das nossas tristezas e a nos abrir para a alegria e para a esperança. A esperança que remove as pedras dos sepulcros e que nos impulsiona a anunciar que Jesus está vivo".
A seguir, o papa saudou "com afeto os peregrinos dos países latino-americanos. Que, neste tempo de Páscoa, abramos a nossa vida ao encontro com Cristo ressuscitado e vivo, o único que pode nos dar a verdadeira esperança".
Terminando a audiência, o Santo Padre também agradeceu pelas felicitações de Páscoa que recebeu nas semanas passadas e retribuiu: "Desejo agradecer de coração às crianças, aos jovens, aos idosos, às famílias, às comunidades paroquiais e religiosas, às associações e movimentos de diferentes grupos que me manifestaram afeto e proximidade. Peço a todos que continuem rezando por mim e pelo meu serviço à Igreja".
Francisco também recordou que no próximo domingo será beatificado, na região italiana do Piemonte, o servo de Deus Giuseppe Girotti, de quem o papa destacou "o heroico testemunho cristão e o martírio". Francisco fez votos de que o novo beato suscite em muitos corações o desejo de aderir cada vez mais a Jesus e ao Evangelho.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 22 de abril de 2014

ANUNCIANDO A RESSURREIÇÃO

A ressurreição do Senhor foi uma surpresa para os discípulos. Embora tivessem sido alertados, ela os pegou desprevenidos. Daí a sensação desencontrada de temor e alegria. Temor, porque se tratava de avizinhar-se do mundo dos mortos, e as Escrituras proibiam, terminantemente, qualquer prática deste tipo. Alegria, porque renascia a esperança de reencontrar-se com o amigo querido, que havia sido crucificado.
Quando as mulheres, que tinham ido ao túmulo de Jesus, foram alertadas a respeito da ressurreição, saíram, às pressas, para comunicar esta notícia extraordinária aos discípulos. Este foi o início de uma missão que haveria de varar os séculos e se espalhar pelo mundo inteiro. A ressurreição constitui o âmago do anúncio evangélico, que seria confiado como missão aos discípulos. De fato, estes se caracterizam por sua condição de anunciadores da ressurreição.
Por outro lado, independentemente de uma missão específica, quem se encontra com o Ressuscitado não consegue conservar apenas para si esta experiência que provoca uma reviravolta na existência humana. A ressurreição do Senhor oferece ao discípulo uma nova perspectiva de vida. Porque Jesus ressuscitou, vale a pena viver, apesar das derrotas e dos fracassos, uma vez que ele se tornou penhor de vida e esperança. É preciso sempre anunciar isto ao mundo!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A misericórdia de Deus supera até mesmo a traição

Por que Judas traiu a Cristo? E porque, diferente dos outros, se suicidou? A traição e a idolatria do dinheiro é um pecado que condena de forma eterna? Ou a misericórdia de Deus sempre salva, mesmo os pecados mais graves?
Estas e outras perguntas foram respondidas pelo Pe. Raniero Cantalamessa, durante a a pregação da sexta-feira santa que pronunciou hoje à tarde na basílica de São Pedro em Roma.
O, pregador da casa Pontifícia lembrou que Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, “se tornou o traidor” (Lc 6, 16).
Não o era originalmente, mas foi se transformando por causa da idolatria do dinheiro.
O Evangelho nos diz que Judas "era um ladrão e, como tinha a bolsa, tirava o que nela se colocava" (Jo 12, 6).
Padre Cantalamessa acrescentou que “o dinheiro, não é um dos tantos; é o ídolo por  excelência; literalmente, “o ídolo de metal fundido” (cf. Ex 34, 17).
"O apego ao dinheiro, diz a Escritura, é a raiz de todos os males" (1 Tm 6, 10).
De acordo com o pregador da Casa Pontifícia, "Por trás de cada mal da nossa sociedade, está o dinheiro, ou, pelo menos, também o dinheiro. Ele é o Moloch de bíblica memória, ao qual se imolavam jovens e crianças (cf. Jer 32, 35).
A este respeito, o padre Cantalamessa disse que por trás de atos desumanos, como o tráfico de drogas, a prostituição, o fenômeno das várias máfias, a corrupção política, fabricação e comercialização de armas, a venda de órgãos humanos retirados de crianças... há um "grande Velho" que existe realmente, não é um mito; “chama-se Dinheiro!”.
"Como todos os ídolos , - explicou - o dinheiro é ‘falso e mentiroso': promete segurança e, em vez disso, a tira; promete liberdade e em vez disso a destrói".
Referindo-se às muitas vítimas desta idolatria e à morte de Judas que se enforcou, padre Cantalamessa repetiu: "Por quem o fizeram? Valia a pena? Fizeram realmente o bem dos filhos e da família, ou do partido, se é isso procuravam? Ou, pelo contrário, destruíram a si mesmos e os outros? O deus dinheiro se encarrega de punir, ele mesmo, os seus próprios adoradores”.
"Mas Jesus - disse o pregador - nunca abandonou a Judas e ninguém sabe onde ele caiu quando se jogou da árvore com a corda no pescoço: se nas mãos de Satanás ou de Deus”.
Na Divina Comédia, Dante Alighieri fala de Manfred, filho de Frederico II e rei da Sicília, que na sua época todos acreditavam que tinha sido condenado porque morto excomungado.
Na Divina Comédia, Manfred moribundo confia ao poeta ‘que voluntariamente perdoa’ e do Purgatório escreve: “Terríveis foram os meus pecados, mas a bondade infinita com seus grandes braços sempre acolhe aquele que se arrepende”
Para o padre Cantalemessa a história de Judas deveria levar-nos a “jogar-nos também nós aos braços abertos do crucifixo”  porque a questão mais  importante "não é a sua traição, mas a resposta que Jesus dá a isso”.
Ao contrário de Pedro, que teve confiança na misericórdia de Deus, continuou o pregador, "o maior pecado de Judas não foi ter traído a Jesus, mas ter duvidado da sua misericórdia".
Jesus é misericordioso porque "procurou o rosto de Pedro depois de sua negação para dar-lhe o seu perdão" e orou na Cruz: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23 , 34).
Para garantir a experiência da Misericórdia – destacou Pe. Cantalamessa – existe o sacramento da reconciliação. A confissão - acrescentou - nos permite experimentar em nós misericórdia e a ternura de Deus.

Para explicar o que pode fazer a Páscoa em cada um de nós o pregador da Casa Pontifícia concluiu repetindo as palavras do poeta Paul Claudel:

"Deus meu, ressuscitei e ainda estou com você!
Dormia e estava deitado como um morto na noite.
Deus disse: “Seja feita a luz” e eu despertei como se dá um grito! […]
Meu Pai, que me gerou antes da aurora,
coloco-me na tua presença.
O meu coração está livre e a minha boca está limpa, o corpo e o espírito estão de jejum.
Sou absolvido de todos os meus pecados
que confessei um por um.
O anel das núpcias está no meu dedo e o meu rosto está limpo.
Sou como um ser inocente na graça
Que tu me concedestes”.

Fonte: Zenit.

sábado, 19 de abril de 2014

Vigília Pascal

Leituras da noite da vigília: Gn 1, 1-2,2; Gn 22, 1-18; Ex 14, 15-15,1; Is 54, 5-14; Is 55, 1-11; Bar 3, 9-15.32-4,4; Ez 36, 16-28; Rom 6, 3-11; Mt 28, 1-10

Ideia principal: Cristo ressuscitado nos enche com a sua Luz e Fogo, afastando a escuridão dos nossos pecados; se faz Palavra, lembrando-nos a história da salvação; convida-nos a lavarmos e purificarmos com a água que jorra do seu lado, renovando nosso batismo e o nosso compromisso de viver como filhos da luz; e, finalmente, leva-nos à mesa da Eucaristia e nos faz participar de seu banquete divino e da sua vida divina e ressuscitada em nossa alma.

Resumo da mensagem: Durante o Sábado Santo nos unimos à Igreja junto ao túmulo do Senhor, meditando sua paixão e morte, sem que fosse realizado o Santo Sacrifício da Missa e o altar permanecesse vazio. A liturgia nos faz sentir, com toda a sua força, o vazio da ausência de Cristo. Dia do Grande Silêncio. Hoje, a Vigília Pascal nos inunda com a forte presença do Senhor ressuscitado, que emerge com toda a sua força divina e luminosa das profundezas da morte para levar consigo a todos os que participam da verdadeira vida, que não pode ser extinta, e que é  projetada para a eternidade.

Pontos da ideia principal:

Em primeiro lugar, Cristo Ressuscitado é Luz que ilumina os cantos da nossa história e nossas vidas pessoais e nos faz passar da escuridão do pecado e da morte à luz da graça e da vida. Iluminados com a luz de Cristo ressuscitado, Deus nos fala e nos conta as maravilhas que ele tem feito desde o início do mundo por todos nós, para que ouvindo nos enchamos de gratidão e confiança; iluminados com essa luz escutaremos, pois, com os ouvidos do coração a Palavra de Deus. Com a água do batismo, cujo promessas renovamos hoje, nos faz seus filhos, marcados com o sinal da cruz e do óleo perfumado de Deus. Essa fonte batismal nos lembra hoje que temos renascido para uma nova vida e que temos deixado a velha vida de pecado, temos renunciado a Satanás e seus enganos e mentiras, e que professamos nossa fé em Deus. Uma vez que somos filhos, convida-nos à mesa para nos alimentar com o Pão da vida e da imortalidade, para ter a vida e a tenhamos em abundância.

Em segundo lugar, a ressurreição de Cristo compromete-nos a ser cristãos que andamos na luz, que amamos a luz, que nos deixamos iluminar pela luz de Cristo e transmitimos a luz para todos os rincões: a nossa casa, o nosso escritório, nossa faculdade. Estamos empenhados em defender essa luz em nossas vidas com as nossas palavras e nosso testemunho. Essa Palavra ouvida é conforto e medicina do nosso espírito, alimento da nossa alma. É uma Palavra não somente para ouvir, mas para viver e transmitir. Sejamos cristãos que levemos a Palavra de Deus ao nosso redor. Leiamos a Palavra de Deus em particular e em família. Meditemo-la em grupos. Levemos essa Palavra lá onde ninguém chega, através do nosso apostolado. Levemos orgulhosamente esta vida nova e livre, marcada com a cruz santificadora e salvadora de Cristo e com o óleo perfumado de Deus que recebemos no dia do batismo. Quantos lugares esperam o bom aroma de Cristo a quem devemos levar  com a nossa presença, com nossas palavras, com nosso testemunho honesto e justo! Não nos privemos deste Pão da Eucaristia: Ele dá força, incentivo, conforto. Ele dá forças para a luta contra o pecado. Ele dá coragem e ousadia para pregar a Palavra.

Para reflexionar: estamos dispostos a viver a Páscoa com essas atitudes: ser reflexos da Luz de Cristo, ser mensageiros da Palavra de Deus, ser novos homens que tem rosto de ressuscitados e homens fortes que se alimentam com o Pão da Eucaristia?

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sexta-Feira Santa 2014

Leituras de hoje: Is 52, 13-53, 12; Heb 4, 14-16; 5, 7-9; Jo 18, 1-19, 42

Ideia principal: “Vós que passais pelo caminho, olhai e vede se existe dor como a dor que me atormenta, com a qual o Senhor me afligiu no dia da sua ardente ira” (Lamentações 1, 12). Hoje contemplamos um fato histórico terrível que esconde um mistério divino que devemos viver no “hoje” desde a fé. Fato histórico: “Cristo morreu verdadeiramente” e mistério divino “pelos nossos pecados e para a nossa justificação”. Ambos, fato histórico e mistério, vão juntos.

Resumo da mensagem: Hoje, Sexta-feira Santa, o sacramento cala para dar lugar ao evento e acontecimento histórico (leitura da paixão de são João), isto é, a contemplação do fato do qual nasceram todos os sacramentos. E tudo para nos introduzir no mistério: para a nossa justificação e salvação dos nossos pecados (primeira e segunda leitura).

Pontos da ideia principal:

Em primeiro lugar, detenhamo-nos no acontecimento histórico terrível deste dia: agonia, flagelação, paixão no corpo e na alma, e morte de cruz. Golpeado, ferido, humilhado, triturado, vencido e derrotado. Sem essa visão da historia, a visão do mistério: “Deus o fez pecado por nós” (2 Cor. 5, 21) estaria suspendida no vazio, desancorada; seria teoria ou ideologia; seria um sistema de doutrinas religiosas, como existiam naquele tempo entre os gregos e como existem agora. Sem a realidade dos fatos ocorridos, a nossa fé estaria vazia, diz Paulo (1 Cor 15,14 ). Por tanto, a historia é essencial para a nossa fé no mistério que hoje celebramos. O fato histórico é mencionado até mesmo pelo historiador romano Tácito: “Condenado ao suplicio por Poncio Pilatos” (Anais, livro XV, 44).

Em segundo lugar, olhemos agora o mistério que está detrás deste acontecimento histórico. Sobre os seus ombros pesava o pecado, o sofrimento, a miséria do mundo inteiro, porque Ele tinha aceitado ser o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Por que teve que morrer desse jeito? Temos que meditar a paixão de Cristo, e a sua Cruz. A Cruz é a nossa âncora de base para alcançar a salvação, uma salvação que sem Ela, assumida com amor não seria possível conseguir. Uma Cruz que é a ponte, o caminho, a escada que nos permite ser redimidos e nos unir a Deus, a um Deus do qual emana A SAÙDE, que foi o primeiro em pegá-la, colocá-la sobre as suas costas e levá-la até o final: “Pela Cruz à Luz”. Uma Cruz que se assemelha à porta do Céu, o caminho mais reto para a Gloria e o meio mais útil e eficaz para consegui-la. Nós já conhecemos todas as variedades da dor, porém esta dor é diferente. É a dor de um Deus; é uma dor livre, aceitada, desejada: “oferecendo-se livremente à sua paixão”. Nenhuma dor conhecida por nós é assim: isto é, tudo e só dor, sem pegada de necessidade. Não resulta fácil de acreditar, sob a ótica do materialismo, que alguém fosse capaz de imolar-se, sem pedir nada em troca.

Finalmente, perguntemo-nos, o que farei diante deste fato histórico que esconde um mistério vivido no eterno “hoje”? Acompanhar a Cristo na sua cruz, levando com amor a nossa cruz, que é a participação da Sua. A Cruz é sinal de contradição, sempre foi. Loucura e escândalo para os judeus, pois constituía um meio que provocava a tortura, a humilhação e a morte destinada aos piores criminais alheios à cidadania romana; ser Rei com esse trono, é loucura. E é, também, necessidade para os gentios, para os pagãos. Que bobagem era essa de se imolar numa Cruz; o que é isso de morrer para salvar. Devemos, como São Francisco de Assis, submergir-nos, adentrar-nos na meditação deste mistério, deixar-nos “impressionar” pelos estigmas do Salvador. Convertamos cada uma das nossas lágrimas que caíram, caem e cairão dos nossos olhos num elo de uma corrente, em degraus de uma escada que, sem solução de continuidade, nos levem até a Gloria, vendo nelas uma oportunidade única para nos aproximar do perdão e dum CRISTO que nos dá a alegria da Redenção.

Para refletir: dado que a cruz é algo que acompanha a própria natureza e essência do homem e que não existe vida humana sem cruz, perguntemo-nos: queremos uma vida sem padecimento, sem sofrimento? E dado que no final é certo que “todos os olhos choram, embora não o façam ao mesmo tempo”, que todos choraram, choram e chorarão, pensamos fugir da cruz? Quais são as nossas cruzes? Por caso são mais pesadas que a de Cristo?

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste email:
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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Quinta-feira Santa

Leituras: Êxodo 12, 1-8. 11-14; 1 Coríntios 11, 23-26; João 13, 1-15.


Ideia principal: Dia do Amor feito entrega e presentes.

Resumo da mensagem: na primeira Páscoa cristã, Deus Pai por amor nos entrega generosamente o seu Filho-Cordeiro imaculado e imolado para a nossa salvação (primeira leitura). Jesus por amor nos entrega o sacerdócio, a Eucaristia e o mandamento do amor (evangelho e segunda leitura). Somente precisamos de mãos e coração para receber estes presentes maravilhosos, agradecer com amor e corresponder com a nossa entrega.

Pontos da ideia principal:

Em primeiro lugar, nesta Santa Missa Vespertina da Ceia do Senhor a Igreja comemora aqueles momentos nos quais Cristo nos deu as máximas provas do seu amor, oferecendo a sua vida por nós. Com esta celebração começa o solene Tríduo Pascal, onde o mistério infinito do Amor de Deus pela humanidade caída se desprende diante dos nossos olhos e nos convida à gratidão, à adoração, à reparação e à imitação. Este amor se faz entrega e presente: o presente do sacerdócio ministerial, o presente da Eucaristia e o presente do mandamento novo do amor.

Em segundo lugar, o que simbolizam esses três presentes? No lavatório é o amor que se humilha. Na Eucaristia é o amor que se imola, isto é, se partilha, se compartilha e se reparte, perpetuando o sacrifício de Cristo na cruz. No sacerdócio é o amor que se faz visível e se prolonga em homens de carne e osso, aos quais Jesus faz “outros Cristos” para que o representem e se configuram com Ele, que é Cabeça e Pastor.

Finalmente, diante do presente do lavatório e do mandamento do amor, só me resta deixar que Cristo lave os meus pés e a minha consciência e me abaixar para lavar os pés dos meus irmãos com a caridade. Diante do presente da Eucaristia, somente resta agradecer, receber a Eucaristia com um coração limpo e fazer-nos eucaristias vivas para os nossos irmãos, para que a nossa vida seja uma Eucaristia permanente, isto é, uma imolação constante pelos demais, uma presencia consoladora para os demais e um fator de unidade com os demais. Diante do presente do Sacerdócio, somente resta rezar a Deus para que mande santos sacerdotes à sua Igreja que sejam “outros Cristos”.

Para refletir:

 Como estou tratando o mandamento do amor: com delicadeza ou piso esse mandamento com meu egoísmo e soberba? Como vivo a Eucaristia: com fervor, limpeza interior e adoração? Peço a Deus que tenha piedade de nós enviando santas e abundantes vocações ao sacerdócio?

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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Cuba: televisão estatal transmitirá pela primeira vez a Paixão de Cristo

A televisão estatal cubana transmitirá nesta quarta-feira, pela primeira vez, a encenação da Paixão de Cristo, representada nesta segunda-feira na catedral de Havana. Nos últimos anos, o executivo da ilha tem permitido que, ocasionalmente, a Igreja tenha acesso aos meios de comunicação governamentais
Raúl Castro também declarou feriado nesta Sexta-Feira Santa.
Depois da visita de Bento XVI à ilha, em março de 2012, o presidente fez o mesmo “em caráter excepcional”. Agora, a Assembleia Nacional do Poder Popular aprovou a Lei 116, que estabelece que a Sexta-Feira Santa passa a ser dia de recesso laboral todos os anos.
A lei entrará em vigor em 1º de junho, mas o Ministério do Trabalho e da Segurança Social emitiu a Resolução 13, de 2014, que determina: “Na sexta-feira 18 de abril de 2014 interrompem-se as atividades laborais, com exceção das relacionadas com a safra açucareira e com outros trabalhos agropecuários urgentes, indústrias de processo de produção contínua, trabalhos urgentes de carga e descarga, serviços de transporte e sua segurança técnica indispensável, serviços hospitalares e assistenciais, farmácias e postos de gasolina, funerárias, jardins vinculados com estas e cemitérios, serviços de hospedagem, comunicações, transmissões de rádio e televisão, centros de recreação e atrações turísticas, distribuição de leite e demais serviços públicos básicos, e atividades de pesca e outras autorizadas pela lei”.
Graças a esta medida, milhares de cubanos poderão participar, na noite da Sexta-Feira Santa, das tradicionais procissões da Semana Santa na ilha, entre elas a via-crúcis pelas ruas da “Habana Vieja”, encabeçada pelo cardeal Jaime Ortega. Estas manifestações religiosas fora das igrejas foram autorizadas em 1998 pelo governo do então presidente Fidel Castro, após a visita de João Paulo II a Cuba.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Francisco: a história é um instrumento para discernir o hoje na Igreja

Os membros do Pontifício Comitê de Ciências Históricas foram recebidos hoje no Vaticano pelo papa Francisco, por ocasião do 60º aniversário da instituição fundada pelo papa Pio XII.
O Santo Padre reiterou que “é sempre válida a célebre afirmação de Cícero em ‘De Oratore’, parcialmente retomada pelo beato João XXIII, um apaixonado pelos estudos de história, no discurso de abertura do Concílio Vaticano II: ‘Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae’. O estudo da história representa, de fato, um dos caminhos para a busca apaixonada da verdade, que, desde sempre, está no íntimo do homem”.
Aos presentes na audiência realizada no Palácio Apostólico, o Santo Padre afirmou: “Em seus estudos e no seu ensino, vocês podem confrontar, em particular, os fatos da Igreja que caminha no tempo, com a sua história gloriosa de evangelização, de esperança, de luta cotidiana, de vida utilizada no servir, de constância no trabalho pesado, como também de infidelidade, de rejeições, de pecados”.
Francisco destacou o trabalho da comissão no contexto da Igreja de hoje: “Estas pesquisas, marcadas por autêntica paixão eclesial e pelo amor sincero da verdade, podem ajudar muito os que têm a tarefa de discernir o que o Espírito Santo quer dizer à Igreja de hoje”.
“O Comitê de Ciências Históricas se insere há tempos no diálogo e na cooperação com instituições culturais e centros acadêmicos de muitas nações e é acolhido com respeito no âmbito mundial dos estudos históricos”, porque é “no encontro e na colaboração com os pesquisadores de cada cultura e religião que podemos oferecer uma contribuição específica ao diálogo entre a Igreja e o mundo contemporâneo”.
“Entre as iniciativas programadas, eu penso em particular no congresso internacional do centenário do início da Primeira Guerra Mundial, que apresentará os mais recentes resultados dos estudos sobre as iniciativas diplomáticas da Santa Sé durante aquele trágico conflito, além da ajuda dos católicos e de outros cristãos para socorrer os feridos, refugiados, órfãos e viúvas. E também na busca dos desaparecidos e na reconstrução de um mundo dilacerado depois do período que Bento XV chamou de ‘inútil massacre’”.
O papa Francisco terminou assegurando que “hoje ressoa mais atual do que nunca o seu profundo apelo: ‘Com a paz, nada se perde; com a guerra tudo pode ser perdido’. Quando escutamos estas palavras proféticas, percebemos que a história é realmente ‘magistra vitae’”.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Francisco pede perdão pelos casos de abusos e reitera tolerância zero

O Santo Padre pediu perdão pelos danos perpetrados pelos sacerdotes que abusaram sexualmente de menores. Francisco recebeu uma delegação do Escritório Internacional Católico da Infância (BICE, na sigla em francês) e os incentivou na defesa dos direitos dos menores e na urgência de impulsionar projetos contra "o trabalho escravo, contra o recrutamento de crianças-soldados e contra qualquer tipo de violência".
Agradecendo as palavras do presidente do BICE, Francisco expressou a sua dor pelos abusos contra menores cometidos por homens da Igreja, pediu perdão e assegurou com firmeza que a Igreja não retrocederá diante deste mal:
"Eu me sinto interpelado a enfrentar todo o mal feito por alguns sacerdotes; muitos, muitos em número, mas não em comparação com a totalidade; enfrentar e pedir perdão pelo dano que eles causaram com os abusos sexuais contra crianças. A Igreja é consciente deste dano, que é um dano pessoal, moral, cometido por eles, mas como homens de Igreja. E não vamos dar nenhum passo para trás no tratamento destes problemas e nas punições que devem ser aplicadas. Pelo contrário, acredito que devemos ser muito fortes. Com as crianças não se brinca". 

Como já fez em outras ocasiões, o pontífice argentino destacou a importância de privilegiar crianças e idosos na sociedade, pois o futuro de um povo está nas mãos deles. Do mesmo modo, falou do direito das crianças de crescer em uma família com pai e mãe, “capazes de criar um ambiente idôneo para o seu desenvolvimento e para a sua maturidade afetiva. Continuar amadurecendo numa relação com a masculinidade de um pai e com a feminilidade de uma mãe, para ir consolidando a sua maturidade afetiva”.
O Santo Padre manifestou ainda firme rejeição a todo tipo de experimentação educativa: “Com as crianças e com os jovens não podemos experimentar. Eles não são cobaias de laboratório”. E observou que “os horrores da manipulação educativa que vivemos nas grandes ditaduras genocidas do século XX não despareceram; conservam a sua atualidade sob roupagens diversas e sob propostas que, com pretensão de modernidade, forçam crianças e jovens a caminhar pela estrada ditatorial do 'pensamento único'".
Francisco também afirmou que “trabalhar pelos direitos humanos pressupõe manter sempre viva a formação antropológica, estar bem preparados na realidade da pessoa humana e saber responder aos problemas e desafios das culturas contemporâneas e da mentalidade difundida pelos meios de comunicação social”.
Obviamente, "não se trata de nos encolhermos em cantos protegidos que hoje são incapazes de dar vida, que dependem de culturas que já estão ultrapassadas. Não, não é isso! É questão de encararmos com os valores positivos da pessoa humana os novos desafios das novas culturas. Para vocês, é questão de oferecer para os seus dirigentes e funcionários uma formação permanente sobre a antropologia da criança, porque é lá que os direitos e as obrigações se fundamentam. Dela depende o planejamento dos projetos educativos, que, obviamente, têm que ir progredindo, amadurecendo, se acomodando aos sinais dos tempos, respeitando sempre a identidade humana e a liberdade de consciência".
Recordando o logotipo da Comissão da Proteção da Infância e da Adolescência de Buenos Aires, a Sagrada Família que escapa rumo ao Egito, Francisco explicou que, “às vezes, para defender, é preciso escapar. Às vezes temos que ficar e proteger. Às vezes temos que brigar. Mas sempre temos que ter ternura”.
O BICE nasceu da intervenção do papa Pio XII em defesa das crianças após a Segunda Guerra Mundial. Desde então, a organização sempre se comprometeu com os direitos do menor, inclusive na Convenção das Nações Unidas de 1989. O BICE colabora constantemente com os escritórios da Santa Sé em Nova Iorque, Estrasburgo e Genebra.

Fonte: Zenit.

sábado, 12 de abril de 2014

Domingo de Ramos

Mateus 21, 1-11; Isaías 50, 4-7; Filipenses 2, 6-11; Mateus 26, 14-27. 66

Padre Antonio Rivero, L.C. Doutor em Teologia Espiritual, professor e diretor espiritual no seminário diocesano Maria Mater Ecclesiae de São Paulo (Brasil).

Idéia principal: Dois gritos são escutados hoje na liturgia do Domingo de Ramos: “Hosana” e “Crucifica-o”. E os dois dirigidos a Jesus, o Cordeiro de Deus. São duas pontes que todos devemos atravessar na vida.

Resumo da mensagem: No domingo passado contemplamos a vitória do Senhor sobre o último e mais temível inimigo: a morte, antecipando a vitória final da ressurreição. Hoje, a Igreja nos vai preparando para poder cantar, no seu momento, o hino de vitória, o da sequência pascal: “Duelam forte e mais forte: é a vida que enfrenta a morte.
O Rei da vida, cativo, foi morto, mas reina vivo!”. Mas para chegar a este momento, Cristo teve que atravessar duas pontes: a ponte do “Hosana” e a ponte do “Crucifica-o”. Cristo, diante do grito “Hosana” não se vangloriou, pois tinha o olhar colocado na missão redentora encarregada pelo Padre. Diante do grito “Crucifica-o” não resistiu nem recuou (primeira leitura); ao contrário, se despojou de si mesmo e foi obediente até a morte (segunda leitura), nos dando o seu Corpo como comida, o seu Sangue como bebida, o seu Espírito como alento e Maria como mãe.

Pontos da idéia principal:

Em primeiro lugar, no Domingo de Ramos, Jesus escutou o “Hosana” dos bons corações de tanta gente em Jerusalém. São palmas e aclamações. O quê fez, que reação teve Jesus? Ele elevava estas aclamações ao seu Pai celeste e elas lhe davam ânimo para seguir o caminho até a imolação livre e amorosa da sua vida para salvar a humanidade.

Em segundo lugar, mas também neste dia Jesus escutou com muita tristeza e dor o grito insano e louco “Crucifica-o”, orquestrado por pessoas invejosas e soberbas que queriam matá-lo, se livrar dele, porque a sua mensagem era diversa – não contraditória – da que eles seguiam. Das palmas do “Hosana” às lanças do “Crucifica-o”. O quê fez, que reação teve Jesus? Sofreu em silêncio, perdoou todos. Amou o seu Pai. Subiu na cruz para morrer, e assim salvar todos os homens.

Finalmente, nós, na nossa vida humana e cristã teremos que atravessar muitas vezes estas duas pontes: a ponte do “Hosana”, ou seja, a ponte dos aplausos, dos sucessos, da festa. Mas talvez, virando a esquina, me espera a outra ponte, a ponte do “Crucifica-o”, que é a ponte da humilhação, do fracasso, da difamação, do desprezo, da calúnia. Como devemos reagir? Com os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (segunda leitura). Diante da primeira ponte, a fácil, com gratidão, elevando os nossos olhos ao céu. Diante da segunda, a cruel, com paciência, com capacidade de perdão e oferecendo tudo a Deus, para que nos sirva de purificação e de união com o sacrifício de Cristo.

Para refletir: Eu também sou dos que dizem “Hosana”, louvando o Senhor, e poucos dias, ou inclusive horas depois, grito “Crucifica-o”? O que prefiro e peço a Deus para mim na oração, o “Hosana” ou o “Crucifica-o”? Que personagem quero ser nesta semana santa: Pedro, Judas, os soldados, Pilatos, Herodes, Simão de Cirene, os fariseus e sumo sacerdotes, Maria, João ... ?


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sexta-feira, 11 de abril de 2014

América, um continente de cara feliz, mas com situações de injustiça

"Três dias intensos para ouvir atentamente a um continente plural, rico de esperança e também de contradições. Um continente complexo, habitado por muitos povos e culturas”. Essas foram as palavras do cardeal Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e Grão- Chanceler da Pontifícia Universidade Urbaniana, na conclusão do Congresso Internacional 'Na escuta da América: encontros entre povos, culturas, religiões; caminhos para o futuro’, celebrado na Urbaniana do 7 ao 9 de abril.
O cardeal destacou que "no Norte, no Centro e no Sul da América encontramos um cristianismo com uma cara alegre e popular, mas também participante, dinâmico, envolvido em situações de injustiça, de opressão do homem, de ameaça da vida humana desde a sua concepção e pela destruição do meio ambiente". Da mesma forma destacou que a América, porém, não é um continente “somente cristão”, porque “estão presentes as grandes religiões vindas com os imigrantes, imigrantes de fé judaica ou islâmica, e também discípulos das tradições espirituais e religiões asiáticas; ao lado deles há pessoas não crentes e distantes da experiência religiosa”.
O cardeal Filoni observou ainda que, durante o Congresso “nos deixamos provocar pela realidade para relê-la depois à luz da fé e da Tradição cristã e buscar juntos caminhos para a realização do futuro”. Depois de indicar que “a Evangelização é uma missão que se refere à todos e a situação de secularização geral abre novas fronteiras”, o prefeito lembrou o mandato de Aparecida para “uma missão continental que poderia, no entanto, cruzar também as fronteiras do mesmo continente americano, e que ao mesmo tempo, poderia perceber o continente americano de forma nova”.
Por outro lado, o cardeal indicou que “hoje a missão e a enculturação se comparam com sociedades similares a um caleidoscópio sempre em movimento" , ou seja , "devem estar preparadas para uma compreensão de si e do próprio contexto extremamente plural, dinâmico e em transformação. Em tudo isso é necessário ter claro uma hierarquia da verdade e tentar desenhar uma identidade cristã não fragmentada e confusa”.
Em conclusão, o cardeal convidou a refletir sobre o que significa para a América a eleição como sucesso de Pedro, de um filho, o primeiro, da América; o que significa para a Igreja na América, para a evangelização deste continente e a partir deste continente, a nomeação de Francisco.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

João Paulo II e a santidade da vida cotidiana



Dom Piero Marini, mestre das celebrações litúrgicas pontifícias de João Paulo II, afirma que começou a refletir sobre a santidade do papa polonês em sua beatificação, uma santidade da vida cotidiana: à qual o Senhor o chamou, primeiro em Cracóvia e depois, como bispo de toda a Igreja durante seu pontificado. “Ele fazia de forma extraordinária as coisas ordinárias da vida!" Assim relatou Marini em entrevista à Rádio Vaticana, por ocasião do lançamento do livro "João Paulo II - O homem, o Papa, o santo”. O volume, que foi produzido pelo grupo editorial Utet Grandi Opere – Fmr em colaboração com o Pontifício Conselho para a Cultura, inclui, entre outros, o testemunho de Monsenhor Marini, atual presidente do Comitê Pontifício para os Congressos Eucarísticos internacionais.
O primeiro encontro entre Monsenhor Marini e Karol Wojtyla teve lugar em Cracóvia, em 1973, durante uma viagem do Cardeal Prefeito da Congregação para o Culto Divino. "Lá, pela primeira vez, eu vi o arcebispo de Cracóvia, muito amigável. Lembro-me especialmente da sua proximidade com o povo". Wojtyla era "um pastor que realmente cheirava a ovelha".
Sobre a santidade de João Paulo II, o mestre de cerimonias conta na entrevista à Rádio Vaticana que "a reflexão sobre a santidade, pelo menos na minha experiência, veio durante a sua vida, sobretudo, quando o via tão comprometido com a oração, antes da celebração e, especialmente, durante e depois da celebração". Mas, continua ele, o “pensamento sobre sua santidade veio, pela primeira vez, refletindo precisamente sobre a sua vida por ocasião da beatificação: percorrendo novamente o seu modo de ser, seu modo de ser em relação às pessoas, com o povo". E recorda que, no início de seu pontificado, quando no fim da missa o Papa caminhava em direção à multidão, o mestre de cerimônias tentava impedi-lo. Para Monsenhor Marini a beatificação "foi uma oportunidade de refletir sobre sua vida, também pensar novamente no Concílio, quando lembrou a todos os padres, bispos, que não se torna santo fazendo coisas extraordinárias, mas fazendo bem o seu dever". E, assim, Marini explicou que começou a refletir que a santidade de João Paulo II “não era a santidade dos primatas, mas a santidade da vida cotidiana: à qual o Senhor lhe havia chamado primeiro em Cracóvia e depois, como bispo de toda a Igreja durante o seu pontificado. Ele realizou de forma extraordinária as coisas ordinárias da vida!”
Marini narra o que mais lhe comovia na dimensão orante de João Paulo II: "ele acreditava no que fazia! Quando rezava, rezava porque acreditava em sua oração. Não tinha medo de rezar em público, fazia gestos que talvez outros teriam tido alguma dificuldade para fazer". Ele era "um homem autêntico, tinha seus momentos de intimidade, de conversa com Deus”. O mestre de cerimonias afirma que esta era a “impressão que ele tinha” e que ainda hoje o “edifica quando pensa nos momentos de oração que começavam na sacristia". Uma “oração que era pessoal, mas também simples e comum a cada um de nós, como a oração do Rosário e, às vezes, durante a viagem, ele fazia parar o carro para celebrar a Liturgia das Horas (...)era um homem que realmente dava à oração o primeiro lugar!”.
Para finalizar a entrevista, recordou o episódio de João Paulo II em Agrigento e o seu grito contra a máfia. Monsenhor Marini afirma que este momento também mostra um traço da santidade de Wojtyla, “tinha a valentia de um homem ‘convicto’". E lembrou que o papa polonês, por vezes, disse: "Eu sou um Papa bom, próximo, amável na vida e nos relacionamentos com os outros, mas eu me transformo quando se trata de defender os princípios!" E para concluir, citou o apelo do Papa em Agrigento "com tanta convicção, coragem, que quase assustava. Lembro-me da mesma forma quando em Varsóvia, durante um evento, ele defendia a vida no ventre da mãe. Eram momentos em que emergia toda a convicção que estava dentro e que era a base de seu comportamento de cada dia".

(Trad.:MEM) - Fonte: Zenit.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Disse o Papa Francisco: a cruz não é um enfeite

"Não há cristianismo sem a cruz": esta foi a ideia central da homilia do papa Francisco na missa desta manhã, na Casa Santa Marta. O pontífice destacou que "não há possibilidade de sairmos do nosso pecado por conta própria" e reiterou que a cruz não é um enfeite para colocarmos no altar, e sim o mistério do amor de Deus.
Caminhando no deserto, o povo se lamuriava contra Deus e contra Moisés. Mas, quando o Senhor enviou serpentes, o povo admitiu o seu pecado e pediu um sinal de salvação. O Santo Padre se referiu à primeira leitura, tomada do Livro dos Números, para refletir sobre a morte no pecado. Em seguida, constatou que Jesus, no Evangelho de hoje, admoesta os fariseus dizendo: "Morrereis em vosso pecado".
"Não há possibilidade de sairmos sozinhos do nosso pecado. Não há. Aqueles doutores da lei, aquelas pessoas que ensinavam a lei, não tinham uma ideia clara sobre isso. Eles acreditavam, sim, no perdão de Deus, mas se sentiam fortes, autossuficientes, sabiam todo. E, no fim das contas, eles tinham feito da religião, da adoração a Deus, uma cultura com valores, reflexões, certos mandamentos de conduta para ser educados, e pensavam, sim, que nosso Senhor pode perdoar; eles sabiam disso, mas tudo era muito distante".
No deserto, mais tarde, Deus ordena que Moisés faça uma serpente e a exponha em uma vara: quem for picado pelas serpentes e olhar para esta, viverá. Mas o que é a serpente? "A serpente é o símbolo do pecado", como vemos no Livro do Gênesis quando "foi a serpente que seduziu Eva ao lhe propor o pecado". E Deus manda levantar o "pecado como uma bandeira da vitória". Isto, explicou Francisco, "não pode ser compreendido direito se não entendermos o que Jesus nos diz no Evangelho". Jesus diz aos judeus: "Quando tiverdes levantado ao Filho do homem, então conhecereis que sou eu". No deserto, prosseguiu o papa, foi levantado o pecado, "mas é um pecado que procura a salvação, porque ele é curado ali mesmo". O que é elevado, destacou Francisco, é o Filho do homem, o verdadeiro Salvador, Jesus Cristo.
"O cristianismo não é uma doutrina filosófica, não é um programa de vida para sobrevivermos, para sermos educados, para fazermos as pazes. Estas são as consequências. O cristianismo é uma pessoa, uma pessoa levantada na cruz, uma pessoa que aniquilou a si mesma para nos salvar; Ele se fez pecado. E, assim como o pecado foi levantado no deserto, aqui foi levantado Deus feito homem e feito pecado por nós. E todos os nossos pecados estavam lá. Não se entende o cristianismo sem se entender esta profunda humilhação do Filho de Deus, que humilhou a si mesmo transformando-se em servo até a morte e morte de cruz, para servir".
“Não temos nada de que nos gloriarmos”, observou o pontífice: “esta é a nossa miséria”. Mas, “por misericórdia de Deus, nos gloriamos em Cristo crucificado”, como São Paulo. E por isso "não há cristianismo sem a cruz e não há cruz sem Jesus Cristo". O coração da salvação de Deus "é o seu Filho, que tomou sobre si todos os nossos pecados, as nossas soberbas, as nossas seguranças, as nossas vaidades, os nossos desejos de ser como Deus". Por isso, "um cristão que não sabe se gloriar em Cristo crucificado não entendeu o que significa ser cristão". As nossas chagas, "as chagas que o pecado deixa em nós, só podem ser curadas com as chagas do Senhor, com as chagas de Deus feito homem, humilhado, aniquilado. Este é o mistério da cruz".
"Não é um enfeite, que tem que ser colocado sempre nas igrejas, no altar. Não é um símbolo que nos diferencia dos outros. A cruz é o mistério, o mistério do amor de Deus, que se humilha, que se transforma em ‘nada’, que se faz pecado. Onde está o teu pecado? 'Eu não sei, eu tenho muitos'. Não, o teu pecado está ali, na cruz. Vai buscá-lo ali, nas chagas do Senhor, e o teu pecado será curado, as tuas chagas serão sanadas, o teu pecado te será perdoado. O perdão que Deus nos dá não consiste em eliminar uma conta que temos com Ele: o perdão que Deus nos dá são as chagas do seu Filho na cruz, levantado na cruz. Que Ele nos atraia para si e que nós nos deixemos sanar".

Fonte: Zenit.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Cardeal Celli: "Comunicar significa conscientizar-nos de que somos humanos"

Nos dias 4, 5 e 6 de abril, foi celebrado em Madri o I Congresso Internacional de Evangelização Digital, organizado pela iMisión. O tema do encontro, “Missionários num mundo enREDado”, faz um jogo de palavras em espanhol com os termos “red” (rede, em referência à internet) e “enredar” (envolver).
 
Participaram o responsável pela conta do papa no Twitter, Gustavo Entrala; o sacerdote jesuíta Antonio Spadaro, diretor da célebre revista italiana La Civiltà Cattolica; a professora de comunicação da Universidade Carlos III, Susana Herrera, e o bispo de San Sebastián, dom José Ignacio Munilla, entre outros.
O presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, cardeal Claudio Maria Celli, saudou os participantes através de videoconferência no Vaticano, convidando-os a uma cultura do encontro, ao testemunho da vida e à formação permanente.
O congresso contou com mesas redondas e oficinais práticas sobre temas como gestão de redes sociais e blogs para evangelização.
Reproduzimos na íntegra a mensagem enviada em vídeo pelo cardeal Celli:

* * *

Desejo saudar todos os participantes deste I Congresso de Evangelização na Internet, organizado pelos jovens da iMisión.
Minha saudação, no início deste seu congresso, quer ser uma voz de encorajamento para todos vocês, que querem viver o Evangelho em cada um dos âmbitos da vida; em particular no novo ambiente digital, habitado por centenas de milhares de pessoas, no qual nós, cristãos, somos chamados a “ajudar as pessoas de hoje a descobrir o rosto de Cristo” (cf. Bento XVI, Mensagem para a 44ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais, 2010).
Entre as possibilidades que a comunicação digital oferece, uma das mais importantes se relaciona com o anúncio do Evangelho. É claro que não é suficiente desenvolver habilidades tecnológicas, embora elas sejam importantes. Trata-se, acima de tudo, de encontrar homens e mulheres reais, muitas vezes feridos ou confusos, para oferecer a eles verdadeiras razões de esperança. Este anúncio requer relações humanas autênticas e diretas para proporcionar um encontro pessoal com nosso Senhor. Portanto, a tecnologia não é suficiente.
Isto não significa que a presença da Igreja na rede seja inútil; pelo contrário, é indispensável estarmos presentes, sempre com estilo evangélico, neste que, para tantos jovens, se transformou numa espécie de ambiente de vida, a fim de reativarmos as perguntas sobre o sentido da existência, que não podem ser apagadas do coração, e indicar o caminho que leva até Aquele que é a resposta, a Misericórdia divina feita carne: o Senhor Jesus (cf. papa Francisco, discurso aos participantes da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para os Leigos, dezembro de 2013).
Certamente, durante o congresso, vocês poderão conhecer muitos aspectos técnicos sobre o lado bom e o lado perigoso da internet, concretamente nas redes sociais, que são o espaço onde vocês são mais ativos. Mas eu quero lhes recordar que a comunicação não são os instrumentos, as técnicas ou as estratégias de persuasão. A comunicação é a constante dinâmica da doação de nós mesmos, permanecendo dispostos a acolher o que os outros nos oferecem.
Quero propor, assim, estas três imagens para a sua reflexão:
Sejam promotores da Cultura do Encontro
O Santo Padre Francisco nos presenteou uma reflexão muito bonita para a próxima Jornada Mundial das Comunicações Sociais, apresentando uma nova leitura da parábola do bom samaritano e exortando os comunicadores a se tornarem “próximos”. O papa Francisco nos diz que o bom samaritano não só se aproxima, mas cuida do homem meio morto que ele encontra à beira do caminho. Comunicar significa conscientizar-nos de que somos humanos, filhos de Deus, e de que temos que construir uma Igreja que seja casa de todos.
Eu convido vocês a se perguntarem se a sua comunicação é um bálsamo perfumado para a dor e um vinho bom para a alegria (cf. papa Francisco, Mensagem para a 48ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais, 2014).
Chamados a dar testemunho
Somos chamados a ser testemunhas coerentes da fé que professamos, levando em conta que a nossa vocação missionária não tem que ser vivida como um expansionismo beligerante, mas como vontade de nos doar aos outros, sendo disponíveis e pacientes para atender as necessidades, perguntas e dúvidas de tantas pessoas que procuram a verdade e o sentido da sua existência (cf. Bento XVI, Mensagem para a 47ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais, 2013). O papa Francisco, neste sentido, está nos dando grandes lições de abertura coerente e respeitosa às pessoas que não necessariamente pensam como nós.
Formação
Finalmente, é necessário continuar criando espaços de formação diante das transformações técnicas, sociais e culturais que estamos vivendo. Como membros ativos da Igreja, teremos que conhecer as novas linguagens e reconhecer o contexto em que realizaremos a nossa missão.  Graças à formação permanente, poderemos “saber ser e saber estar” nos novos ambientes comunicativos em que somos chamados a viver a nossa fé.
Precisamente por este motivo é que eu quis enviar esta saudação a todos os participantes deste congresso, com o auspício de que, durante estas jornadas, vocês tenham a oportunidade de intercambiar experiências e se enriquecer mutuamente.

Que Deus abençoe o seu trabalho.

+ Claudio Maria Celli

Presidente

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A iMisión é uma iniciativa fundada pelo sacerdote marianista Daniel Pajuelo e pela religiosa da Pureza de Maria, Xiskya Valladares. É coordenada por um grupo de religiosos e leigos.
Seu objetivo é "tecer uma rede de católicos comprometidos com a evangelização na internet, oferecer-lhes formação e favorecer o encontro e a reflexão".
Sua principal inspiração é a doutrina da Igreja nos meios de comunicação. Seu maior exemplo é o papa Francisco.
Um dos frutos da iMisión é o "iDecálogo" para evangelizar nas redes sociais, já traduzido para cinco idiomas e disponível para download em www.imision.org.

Para mais informação: http://congreso.imision.org

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O golpe




São vivas minhas lembranças da quartelada de 1964. Desde 1962 eu trocara Belo Horizonte pelo Rio. Jânio Quadros, em agosto de 1961, havia renunciado à presidência da República. Jango, seu vice, tomou posse.

O Brasil clamava por reformas de base: agrária, política, tributária etc. No Rio Grande do Sul, o deputado federal e ex-governador daquele estado, Leonel Brizola, cunhado de Jango, advertia sobre o perigo de um golpe de Estado.

Em Pernambuco, Miguel Arraes contrariava usineiros e latifundiários e imprimia a seu governo um caráter popular. Em Angicos (RN), Paulo Freire gestava sua pedagogia do oprimido.
O MEB (Movimento de Educação de Base) dava os primeiros passos apoiado pela ala progressista da Igreja Católica. A UNE multiplicava, por todo o pais, os CPC (Centros Populares de Cultura).

Novo era o adjetivo que consubstanciava o Brasil: cinema novo; bossa nova; nova poesia; nova capital...

A luta heroica dos vietnamitas, o êxito da Revolução Cubana (1959) e o fracasso dos EUA ao tentar invadir Cuba pela Baía dos Porcos (1961) inquietavam a Casa Branca. “A América para os americanos”, reza a Doutrina Monroe. A maioria dos ianques não entende que está incluído no termo “América”  todo o nosso Continente mas só eles são considerados “americanos”.

Era preciso dar um basta à influência comunista, inclusive no Brasil. E tudo que não coincidia com os interesses dos EUA era tachado de “comunista”, até mesmo bispos como Dom Helder Camara, que clamava por um mundo sem fome. Foi apelidado de “o bispo vermelho”.

Trouxeram dos EUA o padre Peyton, pároco de Hollywood. De rosário em mãos e bancado pela CIA, ele arrastava multidões nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Manipulava-se o sentimento religioso do povo brasileiro como caldo de cultura favorável à quartelada.

A 13 de março de 1964, Jango promoveu um megacomício na Central do Brasil, no Rio, defronte o prédio do Ministério do Exército. Ali, ovacionado pela multidão, assinou os decretos de apropriação, pela Petrobras, de refinarias privadas, e desapropriação, para fins de reforma agrária, de terras subutilizadas. As elites brasileiras entraram em pânico.

Em 31 de março, terça-feira, as tropas do general Olimpio Mourão Filho, oriundas de Minas, ocuparam os pontos estratégicos do Rio. Jango, após passar por Brasília e Porto Alegre, deposto da presidência, refugiou-se no Uruguai. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o comando do país e, pressionado pelos militares, convocou eleições indiretas. A 11 de abril, o Congresso Nacional elegeu o marechal Castelo Branco presidente da República. Estava consolidado o golpe.

A máquina repressiva começou a funcionar a todo vapor: Inquéritos Policiais Militares foram instalados em todo o país; a cassação de direitos políticos atingiu sindicalistas, deputados, senadores e governadores; uma simples suspeita ecoava como denúncia e servia de motivo para um cidadão ser preso, torturado ou mesmo assassinado.
Os estudantes e alguns segmentos da esquerda histórica resistiram nas ruas do Brasil. Foram recebidos a bala. A reação da ditadura acuou seus opositores na única alternativa viável naquela conjuntura: a luta armada. Em dezembro de 1968, o governo militar assina o Ato Institucional nº 5, suprimindo o pouco de espaço democrático que ainda restava e legitimando a prisão, a tortura, o banimento, o sequestro e o assassinato de quem lhe fizesse oposição ou fosse simplesmente suspeito. 

Muitos são os sinais de que se vivia sob uma ditadura. Este foi insólito: há no centro do Rio uma região conhecida como Castelo. E, na Zona Norte, um bairro chamado Muda (porque, outrora, ali trocavam as parelhas de cavalos que puxavam os bondes que ligavam a Tijuca ao Alto da Boa Vista).
Em 1964, no letreiro de uma linha de ônibus carioca a indicação: Muda-Castelo. Os milicos não gostaram: o marechal viera para ficar. Pressionada, a empresa inverteu o letreiro: Castelo-Muda. Ficou pior. Cancelaram a linha...

Frei Beto.

domingo, 6 de abril de 2014

É possíver ter Jesus como amigo porque, tendo ressuscitado, ele está vivo, está ao meu lado

Existem várias vias de acesso ao mistério de Cristo. Padre Raniero Cantalamessa, na sua quarta pregação de Quaresma, continua o caminho traçado da Tradição da Igreja: o “dogma cristológico”, compreendido como “as verdades fundamentais sobre Cristo, definidos nos primeiros concílios ecumênicos, especialmente no de Calcedônia”. Em definitiva tais verdades, continua o Capuchinho, “se reduzem aos seguintes três pilares: Jesus Cristo é verdadeiro homem, é verdadeiro Deus, é uma só pessoa”.
O pregador da Casa Pontifícia escolhe São Leão Magno para entrar nas profundezas do mistério cristológico. De fato, ele foi o papa reinante no momento em que a teologia latina e aquela grega se encontraram. São Leão Magno não se limitou a transmitir a fórmula de Tertulliano, que tinha escrito: “Vemos duas naturezas, não confusas, mas unidas em uma pessoa, Jesus Cristo, Deus e homem”. Foi mais longe, adaptando a fórmula “aos problemas que surgiram nesse meio tempo, entre o concílio de Éfeso do 431 àquele de Calcedônia do 451”.
Padre Cantalamessa observa que o pensamento cristológico do Papa Leão, exposto no Tomus ad Flavianum, encontra-se no cerne da definição de Calcedônia. Cita, portanto, o ponto em que se declara: "Ensinamos por unanimidade que deve-se reconhecer o único e mesmo Filho Senhor nosso Jesus Cristo, perfeito na divindade e sempre o mesmo perfeito na humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem [...], gerado antes dos séculos pelo Pai segundo a divindade e nos últimos tempos, por nós homens e para a nossa salvação, gerado por Maria Virgem segundo a humanidade; subsistente nas duas naturezas de modo inconfuso, imutável, indivisível, inseparável, não sendo de forma alguma suprimida a diferença das naturezas por causa da união, pelo contrário, permanecendo preservada a propriedade tanto de uma quanto da outra natureza, elas combinam para formar uma só pessoa e hipóstase”
Na fórmula de Calcedônia, diz o capuchinho, "repousa toda a doutrina cristã da salvação”. De fato, "só se Cristo é homem como nós, o que ele faz, nos representa e nos pertence, e somente se ele mesmo é Deus, aquilo que faz tem um valor infinito e universal”, tanto que, como se canta no Adoro te devote, “somente uma gota do sangue que derramou salva o mundo todo do pecado”. É este um tema sobre o qual o oriente e o ocidente são unânimes.
Santo Anselmo, entre os latinos, e Cabasilas, entre os ortodoxos, apresentam poucas diferenças entre eles quando escrevem que, antes de Cristo, o homem tinha contraído uma dívida infinita com o pecado. Tinha que lutar contra satanás para livrar-se, mas não podia porque era escravo exatamente daquele que deveria vencer. Por outro lado Deus podia expiar o pecado e vencer, mas não tinha que fazê-lo porque não era ele o devedor. Portanto, continua padre Cantalamessa, “era preciso que se encontrassem unidos na mesma pessoa aquele que tinha que lutar e aquele que podia vencer”, e é isso que aconteceu com Jesus, “verdadeiro Deus e verdadeiro homem, em uma pessoa”.
Estas certezas a respeito de Cristo, no entanto, ao longo dos últimos dois séculos foram colocadas em discussões por estudiosos que, a partir de Strauss, procuraram classifica-las como “puras invenções dos teólogos”, com a finalidade de levar adiante uma tese que separava o Cristo do dogma do Jesus de Nazaré da história. Eles diziam que “para conhecer o verdadeiro Jesus da história” era preciso “prescindir da fé nele posterior à Páscoa”.
O pregador da Casa Pontifícia fala das "reconstruções imaginativas" sobre a figura de Jesus proliferadas em um contexto semelhante e adverte: “Não é possível mais em boa fé escrever “pesquisas sobre Jesus” que pretendem ser ‘históricas’, mas prescindem, ou melhor, excluem do do ponto de partida, a fé nele”. De tal forma, continua o capuchinho, há uma mudança em ato que leva o nome de James D.G. Dunn, um dos maiores estudiosos vivos do Novo Testamento. No livro intitulado “Mudar perspectiva sobre Jesus”, Dunn erradica os pressupostos daquela tese que contrapõe o Cristo da fé e o Jesus histórico, citando, entre as várias argumentações, o fato de que “a fé começou antes da Páscoa”, quando os discípulos começaram a seguir a Jesus porque acreditavam nele. Embora imperfeita, se tratava ainda sempre de fé.
Cristo é a base de tudo no Cristianismo, então Pe. Cantalamessa se pergunta: "Se não se tem ideias claras sobre quem é Jesus, que força terá a nossa evangelização?”. Nem a história nem muito menos o dogma conseguem dar-nos o Cristo da realidade, porque a história, transmitida pelos evangelhos, leva a um Jesus “lembrado”, ou até mesmo mediado pela memória dos discípulos, enquanto que o dogma pode levar a uma Jesus “definido”, “formulado”, que difere da fórmula de Calcedônia como a água que bebemos difere da fórmula química H2O.
Como chegar, então, ao “Jesus real” que está “além da história e por trás da definição”? Por meio do Espírito Santo que, lembra o pregador pontifício, permite um conhecimento “imediato” de Cristo e é “a única mediação não mediata’ entre nós e Jesus, no sentido de que não age como um véu, não constitui um diafragma ou um trâmite, sendo ele o Espírito de Jesus, o seu “alter ego”, da sua mesma natureza”. E, continua, “é a Escritura mesma que nos fala deste papel do Espírito Santo com o propósito de conhecer o verdadeiro Jesus. A vinda do Espírito Santo em Pentecostes resulta em uma iluminação repentina de todo o trabalho e pessoa de Cristo".
Padre Cantalamessa apela, portanto, à ajuda do Espírito Santo para “despertar” o dogma. Do triângulo de São Leão Magno e Calcedônia, pelo qual Jesus Cristo é “uma pessoa em duas naturezas”, o capuchinho toma em consideração o terceiro elemento. O uso moderno do conceito de “pessoa” atribuiu à palavra de origem latina um significado subjetivo e relacional, pelo qual indica “o ser humano em quanto capaz de relação, de estar como um eu diante de um tu”. A fórmula latina “uma pessoa” apareceu portanto, mais fecunda com relação à correspondente grega “uma hipóstase”, porque esta última pode dizer-se de cada objeto existente, enquanto que “pessoa” pode referir-se somente a um ser humano e, por analogia, divino.
Aplicando o discurso para o relacionamento com Cristo, padre Cantalamessa explica que “dizer que Jesus é ‘uma pessoa’ significa também dizer que ressuscitou, que vive, que está diante de mim, que posso tratar-lhe com intimidade como ele a mim. É preciso passar continuamente, no nosso coração e na nossa mente, do Jesus personagem ao Jesus pessoa. A personagem é alguém de quem se pode falar e escrever o que quiser, mas a quem e com quem, no geral, não é possível conversar”. O pregador da Casa Pontifícia introduz portanto um elemento essencial no seu discurso, e afirma que “é possível ter Jesus por amigo, porque, tendo ressuscitado, ele está vivo, está do meu lado, posso relacionar-me com ele como dois seres vivos o fazem, um presente a um presente. Não com o meu corpo e nem mesmo somente com a fantasia, mas ‘no Espírito’ que é também infinitamente mais íntimo e real do que ambos”.
Infelizmente, considera o capuchinho, é raro pensar em Jesus nestes termos, ou seja, como um amigo, um confidente. Esquecemos que, sendo “verdadeiro homem”, Ele “possui em sumo grau o sentimento da amizade que é uma das qualidades mais nobres do ser humano. É Jesus que deseja um tal relacionamento conosco”, não chamando-nos mais servos, mas amigos (cf. Jo 15, 15).
Na sua vida terrena, Cristo estabeleceu relações de verdadeira amizade somente com alguns, embora amasse a todos indistintamente. Agora, como ressuscitado, “não está mais sujeito às limitações da carne” mas, continua padre Cantalamessa, “oferece a cada homem e a cada mulher a possibilidade de tê-lo como amigo, no sentido mais pleno da palavra”. A quarta pregação da Quaresma conclui, portanto, com o desejo de que o Espírito Santo “nos ajude a acolher com maravilha e alegria esta possibilidade que preenche a vida”.

Fonte: Zenit.

sábado, 5 de abril de 2014

Quinto domingo da quaresma

Ezequiel 37, 12-14; Romanos 8, 8-11; João 11, 1-45

Ideia principal: o Cristo Pascal veio para nos tirar, para nos ressuscitar do nosso sepulcro do pecado (primeira leitura e evangelho), e dar-nos uma vida nova de ressuscitados, para não viver mais segundo a carne, porém segundo o Espírito (segunda leitura).
Resumo da mensagem: Cristo, além de ser Água viva (segundo domingo) e Luz (terceiro domingo), também é Vida e Ressurreição (quarto domingo). Cristo não quer que a nossa vida fique no sepulcro do nosso pecado e se apodreça. Quer que morramos ao nosso homem velho para depois ressuscitarmos e fazer-nos homens novos, segundo o Espírito.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, a ressurreição de Lázaro do sepulcro mostra o ponto culminante da atividade de Jesus. É o maior dos seus milagres. Mediante este extraordinário milagre, o Senhor trata de vencer a incredulidade dos judeus. Na batalha entre a fé e a incredulidade, Jesus oferece o dom de um testemunho maior. Mas o coração dos judeus se fecha e isso os leva a tomar a decisão oficial de matar o Cordeiro inocente, e também de matar Lázaro, que era um testemunho vivo do poder divino de Cristo. O caminho da cruz está desde agora traçado, porém no plano de Deus a cruz será o umbral da exaltação e glorificação do Pai no seu Filho. O complot dos homens, no plano da Providência, serve para os desígnios de Deus.
Em segundo lugar, se Lázaro é amigo íntimo de Jesus, o Senhor da vida, por que Jesus permite que morra e o coloquem no sepulcro? Jesus permite um mal para manifestar a glória de Deus. Jesus não usa o seu poder divino para evitar a morte ignominiosa da cruz. Por isso, irá ao encontro da sua própria morte por decisão pessoal. Irá em busca da sua “hora”, essa hora que tanto o angustiava, mas que ao mesmo tempo desejava com ardor, porque será a hora da glorificação do seu Pai e da nossa salvação mediante o Mistério da sua morte e ressurreição. Tal é a razão pela qual não impediu a morte do seu amigo Lázaro, para que resplandecesse a glória do seu Pai, da mesma maneira como não evitaria a sua própria morte, para que o Pai fosse plenamente glorificado no Filho. Somente assim nos tiraria do sepulcro e nos daria uma vida nova. A morte e a ressurreição de Lázaro constituem um prelúdio da sua própria morte e ressurreição. Vendo esta ressurreição, os apóstolos consolidarão a sua fé e se prepararão para a grande prova da Paixão.
Finalmente, hoje Jesus também quer gritar a cada um de nós, como então gritou a Lázaro: “Lázaro, vem para fora!”. Sai do sepulcro do pecado. Sai da incredulidade. Sai da preguiça. Sai do desânimo. Sai do egoísmo. Cristo não quer que nos apodreçamos no sepulcro do pecado, pois “a glória de Deus é o homem vivente”, dizia Santo Irineu. Saiamos e veremos a luz, a vida e a ressurreição de Cristo. No sepulcro só existem vermes, escuridão, decomposição e morte. E Cristo é o Senhor da vida, e Ele quer nos fazer partícipes da sua vida divina e imortal.
Para refletir: estou no sepulcro do pecado ou já experimentei durante a Quaresma a vida nova em Cristo Jesus? Cada vez que peco, escuto a voz de Cristo: “vem para fora”? Acredito que Cristo é Vida e Ressurreição para os que o seguem?

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Canonização de JPII e JXXIII: Roma está pronta para receber os peregrinos



A cidade eterna se prepara para receber milhares de peregrinos que participarão desse grande momento da história da Igreja. Em 27 de abril, na Praça de São Pedro, cairá o manto que descobrirá os rostos de dois novos santos, papas João XXIII e João Paulo II.
Para este grande evento, Roma está preparando um dispositivo para facilitar e tornar mais confortável a estadia dos peregrinos, como indicado pelo prefeito Ignazio Marino.
Foi preparado um plano especial de transporte para os dias 26 e 27 de abril. Ao anoitecer do sábado, 26 de abril, acontecerá a "noite branca" de oração. O serviço funcionará das 14:00 as 24:00, a fim de assegurar o fluxo gradual para o centro da cidade. As 14 linhas de ônibus que circulam na região da Praça de São Pedro e na parte antiga da cidade adaptaram o horário de trabalho, bem como as 6 linhas de metrô e tram bus. O metrô terá horário non-stop até às 4 . Para domingo (27), dia da canonização, as 57 linhas da região funcionarão na escala de sábado, bem como a rede de tram bus e grande parte dos trens.
Além disso, o serviço de informação turística e cultural PIT (Ponto de Informação Turística) da Roma Capital será reforçado para garantir o melhor acolhimento aos visitantes. De 26 a 28 de abril três pontos estarão abertos de 8:00 às 22:00 (Esquilino, Piazza del Popolo e Piazza Risorgimento) .
Cerca de 200 trabalhadores estarão encarregados da limpeza. Dedicados exclusivamente ao evento. Também serão instalados mais de 980 banheiros químicos, dos quais 147 para pessoas com deficiência.
Do ponto de vista do atendimento e segurança, os peregrinos poderão contar com a ajuda de 630 voluntários em dois turnos de 12 horas. Está previsto a distribuição de 4 milhões de garrafas de água. A UNITALSI garantirá o acesso aos serviços religiosos e o serviço de acompanhantes para as pessoas com deficiência. Serão instalados 13 pontos de socorro avançado, 5 pontos de reanimação, 42 prontos socorros, 64 pontos de atendimento básico, 81 equipes de resgate, 5 pontos para amamentação, 2  pontos de carros para coordenação, 4 carros com equipamentos médicos.
Para os peregrinos que não conseguirem entrar na Praça de São Pedro, haverá telões em diferentes partes da cidade.
Já está disponível o "Roma Pass 48". O cartão inclui entrada para alguns museus e preço reduzido para entradas em outros locais, bem como o uso de transporte público.

(Trad.:MEM) - Fonte: Zenit.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

João Paulo II: o atleta de Deus que também nos ensinou a morrer



Desde que apareceu na janela da Praça de São Pedro com seu sorridente rosto redondo, cheio de energia, o papa que caminhava com passo dinâmico pelas longas escadarias da praça foi chamado de "atleta de Deus". Parecia que aquele homem poderoso e incansável não iria nunca precisar dos médicos, mas tudo mudou num belo dia de primavera de 1981: as balas disparadas pela mão assassina não o mataram, mas minaram seriamente a sua saúde de ferro. Desde então, João Paulo II se tornou também um homem do sofrimento: a doença e a dor se tornaram parte da sua vida e fizeram da Policlínica Gemelli um lugar muito familiar (o papa, aliás, a chamava de "Vaticano III"). Dessa experiência nasceu a carta apostólica "Salvifici doloris", sobre o sentido cristão do sofrimento, além do desejo de ter na cúria um dicastério voltado aos doentes e aos profissionais da saúde: com o motu proprio "Dolentium hominum", João Paulo II estabeleceu o Conselho da Pastoral dos Agentes de Saúde. E foi ele, ainda, que criou a Jornada Mundial dos Enfermos, no dia 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes.
Pouco a pouco, o Parkinson e os problemas com ossos e articulações o foram imobilizando e aprisionando em seu corpo, mas o papa continuava a sua missão sem esconder as suas dores: não para se exibir, mas para reivindicar o valor e o papel de cada pessoa na sociedade, mesmo se doente ou deficiente. As últimas semanas da vida terrena de João Paulo II foram os seus dias de calvário: o papa que tinha nos ensinado a viver nos ensinava também como enfrentar a morte.
Ao lado de João Paulo II até o instante final esteve sempre o médico pessoal, doutor Renato Buzzonetti. No livro-entrevista “Accanto a Giovanni Paolo II” [Ao lado de João Paulo II, publicado na Itália pela Editora ARES], ele conta os trechos seguintes:
* * *
Foram dias que marcaram profundamente a minha vida, dominados por um gravíssimo compromisso profissional, pela participação dolorosa no drama humano e religioso que estava acontecendo diante dos meus olhos, por uma tensão extrema diante da grande responsabilidade que pesava sobre os meus ombros e, finalmente, por uma oração ininterrupta, em comunhão com o papa que sofria na sua cruz mística.
Na quinta-feira, 31 de março de 2005, por volta das 11 horas da manhã, enquanto celebrava a missa na capela privada, o Santo Padre sentiu um tremor intenso, seguido por uma séria elevação da temperatura e por um gravíssimo choque séptico. Graças à habilidade dos reanimadores, a situação crítica foi controlada e dominada mais uma vez.
Perto das 17 horas, foi rezada a santa missa ao pé da cama do papa, que aos poucos emergia do choque. Quem celebrou foi o cardeal Jaworski, com mons. Stanislaw, mons. Mietek e dom Rylko. O Santo Padre estava com os olhos semiabertos. O cardeal de Lviv lhe deu a unção dos enfermos. Na consagração, o papa levantou fracamente o braço direito, duas vezes, em direção ao pão e ao vinho. Tentou bater no peito com a mão direita no momento do Agnus Dei. Depois da missa, a convite de mons. Stanislaw, os presentes beijaram a mão do Santo Padre. Ele chamou as freiras pelo nome e acrescentou: “Pela última vez”. Seu médico, antes de lhe beijar a mão, disse em voz alta: “Santo Padre, nós o amamos e estamos aqui juntos com todo o coração”. Depois, sendo quinta-feira, o Santo Padre quis comemorar a hora de adoração eucarística: leitura, recitação dos salmos, cantos entoados pela irmã Tobiana.
Na sexta-feira, 1º de abril de 2005, depois da missa concelebrada por ele, o Santo Padre pediu, às 8 horas, para fazer a via-crúcis, fazendo o sinal da cruz em cada uma das 14 estações. Participou da recitação da terceira hora do ofício divino e, às 8h30, pediu para ouvir a leitura de passagens da Sagrada Escritura, lidas pelo padre Tadeusz Styczen. Os cuidados médicos continuaram sem pausas.
No sábado, 2 de abril de 2005, foi celebrada a santa missa ao pé da cama do Santo Padre. Ele participou com atenção. No final, com palavras arrastadas e quase ininteligíveis, João Paulo II pediu a leitura do evangelho de São João, que o pe. Styczen fez devotadamente, lendo nove capítulos. Homem contemplativo, com a ajuda dos presentes, o papa recitou as orações do dia até o ofício das leituras do domingo iminente.
Por volta das 15h30, o Santo Padre sussurrou para a Irmã Tobiana: "Deixem-me ir para o Senhor...", em polonês. Mons. Stanislaw me referiu essas palavras apenas alguns minutos mais tarde.
Aquele era o seu "consummatum est" (Jo 19, 30).
Não era uma rendição passiva à doença, nem uma fuga do sofrimento, mas a mostra da consciência profunda de uma via-crúcis bravamente aceita até a espoliação de toda coisa terrena e da própria vida, e que agora se aproximava do objetivo final: o encontro com o Senhor. Ele não queria atrasar esse encontro, esperado desde os anos da juventude. Foi para isso que ele tinha vivido. Aquelas palavras eram de expectativa e de esperança, de renovada e definitiva entrega nas mãos do Pai.
Naquelas mesmas horas, eu e meus colegas médicos constatamos que a doença se voltava inexoravelmente para o fim do seu curso. A nossa batalha tinha sido travada com paciência, humildade e prudência; e fora extremamente difícil, porque, intimamente, nós sabíamos que ela terminaria em derrota. A racionalidade técnica, a consciência e a sabedoria dos médicos, o carinho iluminado dos familiares foram guiados constantemente pelo respeito misericordioso e total do homem que sofria. Não houve tratamento agressivo.
Depois das 16 horas, o Santo Padre foi adormecendo e perdendo gradualmente a consciência. Por volta das 19 horas, ele entrou em coma profundo e em agonia. O monitor registrava o esgotamento progressivo dos parâmetros vitais.
Às 20 horas, começou a missa celebrada aos pés da cama do pontífice que falecia. Foi celebrada por mons. Dziwisz com o cardeal Jaworski, mons. Mietek e dom Rylko. Cantos poloneses se entrelaçavam com os cantares que subiam da Praça de São Pedro, lotada. Uma pequena vela brilhava sobre o criado-mudo, ao lado da cama.
Às 21h37, o Santo Padre morreu.
Depois de poucos minutos de atônita dor, foi entoado o Te Deum em língua polonesa e, da praça, de repente, viu-se iluminada a janela do quarto do papa.
* * *
Nesta sexta-feira, 4 de abril de 2014, a Universidade Europeia de Roma organizará, às 19 horas, o encontro “João XXIII, João Paulo II: dois papas, dois santos”, com testemunhos inéditos sobre a santidade dos dois pontífices prestes a ser canonizados. A entrada será livre.

Fonte: Zenit.