domingo, 31 de janeiro de 2016

Tratar a religião como um investimento humano é uma tentação

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A narração do Evangelho de hoje nos leva, mais uma vez, como no domingo passado, à sinagoga de Nazaré na Galiléia onde Jesus cresceu em família e é conhecido por todos. Ele, que recentemente tinha iniciado sua vida pública, agora retorna pela primeira vez apresentando-se à comunidade em dia de sábado. Lê a passagem do profeta Isaías que fala do futuro Messias e por fim declara: “cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir ” (Lc 4,21). Os conterrâneos de Jesus, a princípio espantados e admirados, em seguida, começaram a murmurar entre eles e a dizer: porque é que este que pretende ser o Consagrado do Senhor, não repete aqui na sua cidade, os prodígios que se diz ter feito em Cafarnaum e nas aldeias vizinhas? Então Jesus diz: “Nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra” (v. 24), e apela aos grandes profetas de outrora Elias e Eliseu, que realizam milagres em favor dos pagãos para denunciar a incredulidade de seus povos. Então, os presentes se sentem ofendidos, se levantam indignados, expulsam Jesus e querem lança-lo no precipício. Mas ele, por força de sua paz “passando pelo meio deles, continuou o seu caminho” (v. 30). Sua hora ainda não tinha chegado.
Esta passagem do evangelista Lucas não é apenas a narração de uma briga entre vizinhos, como às vezes acontece em nossos bairros, motivada pela inveja e pelo ciúme, mas destaca uma tentação à qual o homem religioso está sempre exposto – todos nós estamos expostos – e da qual devemos decisivamente nos afastarmos. E que tentação é essa? É tentação de tratar a religião como um investimento humano e, por consequência, colocar-se num “contrato” com Deus buscando os próprios interesses. Em vez disso, na verdadeira religião trata-se de acolher a revelação de um Deus que é Pai e que cuida de cada uma das suas criaturas, mesmo daquelas menores e insignificantes aos olhos dos homens. Precisamente nisto consiste o ministério profético de Jesus: em anunciar que nenhuma condição humana pode constituir motivo de exclusão – nenhuma condição humana pode ser motivo de exclusão – do coração do Pai e que o único privilégio aos olhos de Deus é o de não ter privilégios. O único privilégio aos olhos de Deus é o de não ter privilégios, de não ter padrinhos, de estar abandonados nas suas mãos.
“Hoje cumpriu-se a escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 21). O “hoje” proclamado por Cristo naquele dia, vale para todos os tempos; ressoa também para nós nesta praça, lembrando-nos da atualidade e da necessidade da salvação trazida por Jesus à humanidade. Deus vem ao encontro dos homens e das mulheres de todos os tempos e lugares, na situação concreta em que estes se encontram. Vem também ao nosso encontro. É sempre ele que dá o primeiro passo: vem visitar-nos com a sua misericórdia, levantar-nos da poeira dos nossos pecados, vem estender-nos a mão para tirar-nos do abismo em que o nosso orgulho nos fez cair, e nos convida a acolher a consoladora verdade do Evangelho e a caminhar pelo caminho do bem. Mas é sempre ele que vem nos encontrar, nos procurar.
Retornemos à sinagoga. Certamente naquele dia, na sinagoga de Nazaré, estava Maria, a Mãe. Podemos imaginar as batidas do seu coração, uma pequena antecipação do que vai sofrer sob a cruz, vendo Jesus, ali na sinagoga, antes admirado, depois insultado, ameaçado de morte. Em seu coração, pleno de fé, ela guardava cada coisa. Que ela nos ajude a nos converter de um deus de milagres ao o milagre de Deus, que é Jesus Cristo.
Depois do Angelus
Queridos irmãos e irmãs,
Hoje celebramos o Dia Mundial dos doentes de hanseníase. Esta doença, embora em declínio, infelizmente, ainda afeta especialmente os mais pobres e marginalizados. É importante manter viva a solidariedade com estes nossos irmãos e irmãs, que ficaram inválidos em decorrência desta doença. Asseguramos a nossa oração e o nosso apoio àqueles que os assistem. Bons leigo, boas irmãs, bons padres.
Saúdo com afeto a todos, queridos peregrinos de diversas paróquias da Itália e de outros países, bem como associações e grupos. Em particular, saúdo os estudantes de Cuenca e de Torreagüera (Espanha). Saúdo os fiéis de Taranto, Montesilvano, Macerata, Erculano e Fasano.
E agora, saúdo os meninos e meninas da Ação Católica da Diocese de Roma! Agora eu entendo porque havia muito barulho na praça! Queridos jovens, também este ano, acompanhados pelo Cardeal Vigário e seus assistentes, vocês vieram numerosos para a “Caravana da Paz”.
Este ano, o testemunho de paz, animado pela fé em Jesus, seja ainda mais alegre e consciente, porque foi enriquecido pelo gesto que acabaram de realizar, ao passarem pela Porta Santa. Os encorajo a serem instrumentos de paz e misericórdia entre seus coetâneos! Vamos ouvir a mensagem que seus amigos, aqui ao meu lado, irão ler.
E agora os meninos na praça soltarão balões, simbolizando a paz.
Desejo a todos um bom domingo e um bom almoço. E por favor não se esqueçam de rezar por mim. Até breve!
Papa Francisco - Zenit.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Profetas da misericórdia

Jesus viveu na cidade de Nazaré, dentro de todas as relações sociais de uma vilazinha habitada por pessoas briguentas e implicantes com as outras, com relações mais provincianas do que aquelas ainda encontradas em nossos dias, malgrado o crescimento, a técnica, comunicações e outros acréscimos mais oferecidos pela cultura corrente. Ali, quando alguém, criado nas vielas e no meio da criançada e depois juventude, aprendiz de carpinteiro, certamente amigo de tanta gente, volta e se faz realizador das profecias, o fato suscitou reações fortes que chegaram aos limites do ódio, com o qual muitos pretenderam eliminá-lo. Jesus teve que passar pelo meio da multidão, escapando para não ser lançado no precipício (Cf. Lc 4, 21-30). Entretanto, sua presença deixou estupefatos os habitantes de Nazaré: “Seus discípulos o acompanhavam. No sábado, começou a ensinar na sinagoga, e muitos se admiravam. ‘De onde lhe vem isso? ’, diziam. ‘Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco? ’ E mostravam-se chocados com ele. Jesus, então, dizia-lhes: ‘Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa’. E não conseguiu fazer ali nenhum milagre, a não ser impor as mãos a uns poucos doentes. Ele se admirava da incredulidade deles. E percorria os povoados da região, ensinando” (Mc 6, 1-6).
Por onde passava, o povo experimentava a alegria: “Cheios de grande admiração, diziam: Tudo ele tem feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem” (Mc 7, 37). O Senhor Jesus só fez o bem e manifestou a infinita misericórdia do Pai, não deixando passar perto de si os cegos, os coxos e estropiados, mudos, paralíticos, marginalizados e pecadores de todo tipo. Justamente por isso foi julgado, condenado e morto, para depois ressuscitar glorioso ao terceiro dia. Perto dele se encontravam os discípulos, começando pelos apóstolos, para alargar cada vez mais o círculo, chamando homens e mulheres do meio das multidões que se multiplicam pelos séculos afora. A porta é sempre a do perdão e da misericórdia. As testemunhas mais significativas são justamente aquelas que foram banhadas pelo óleo do perdão e acolhidas com o abraço do pastor, que vai ao encontro da ovelha perdida e a traz sobre os ombros. Há poucos dias, o Papa Francisco abençoou os carneirinhos dos quais é tirada a lã para confeccionar os pálios dos Arcebispos nomeados a cada ano, chamados justamente a serem sinais do amor misericordioso, que busca quem está perdido.
Mas esta é a vocação de todos os cristãos, feita também matéria do exame a ser aplicado no fim dos tempos, a prova da misericórdia. Se a Igreja e os cristãos são julgados, quem sabe condenados, perseguidos e incompreendidos, que seja pela prática da bondade e da misericórdia. Nas “nazarés” de todos os tempos, permita o Senhor que todos os discípulos de Jesus passem fazendo apenas o bem, e que suas mãos não se manchem com a iniquidade e eles não sejam motivo de escândalo para os pequeninos.
Como a fragilidade humana acompanha nossa história pessoal e de Igreja, a proclamação contínua da misericórdia, mormente em tempos transformados em “Jubileu”, somos convidados a acorrer ao trono do perdão ilimitado do Senhor. Ponto de partida é o reconhecimento sincero e honesto das fraquezas e pecados cometidos, para que assim o Espírito Santo encontre corações abertos à unção do perdão. Quem se julga mais perfeito do que os outros, espécime superior diante do comum dos mortais, fecha a porta para a experiência magnífica do perdão misericordioso de Deus e para o consequente crescimento na virtude. Daí a insistência da Igreja, no Ano da Misericórdia, convidando à peregrinação, oração, sacramento da Penitência, tudo isso simbolizado na passagem pelas muitas portas santas da Misericórdia abertas por toda parte.
Entretanto, a Igreja convida a espalhar a misericórdia, através das chamadas “Obras de Misericórdia”, para que todos experimentem a alegria de ser misericordiosos como o Pai. A Arquidiocese de Belém, inspirada pela proposta feita pelo Papa Francisco aos jovens que se preparam à Jornada Mundial da Juventude, convida todos os irmãos e irmãs que se sentem tocados pela graça do Jubileu, a colocarem em prática, pouco a pouco, estes gestos corporais e espirituais, durante o ano corrente. Para o mês de fevereiro, desejamos juntos praticar duas obras de misericórdia espirituais: Dar bom conselhos e ensinar os que precisam.
Aconselhar é orientar e ajudar a quem precisa. O Salmista nos convida a rezar: “Bendigo o Senhor que me aconselhou; mesmo de noite meu coração me instrui” (Sl 16, 7). Jesus nos orientou e aconselhou a não sermos cegos guiando cegos (Cf. Mt 15, 14), e também a primeiro tirarmos a trave do nosso olho, para depois tirar o cisco do olho do irmão (Lc 6, 39). Dar bons conselhos e não qualquer conselho. Para isso, é preciso mergulhar na graça do Espírito Santo e perceber os sinais de Deus que nos auxiliam na compreensão dos fatos. Aconselhar não é pretender adivinhar o futuro, muito menos projetar nossas angústias; é ajudar, à luz da oração e do conhecimento da vontade de Deus, a quem nos pede um discernimento nas opções e decisões a serem tomadas.
Ensinar os que precisam não é apenas transmitir conhecimentos, ensinar os valores  do Evangelho, formar  na doutrina e nos bons costumes éticos e morais. A história da salvação é sem dúvida uma instrução contínua e interrupta da parte de Deus para com a humanidade. Nossa tarefa é instruir as pessoas, começando pelo nosso exemplo, chegando à Palavra e os ensinamentos sistemáticos. À comunidade dos Colossenses Paulo diz: “A palavra de Cristo permaneça em vós com toda sua riqueza, de sorte que com toda sabedoria possais instruir e exortar-vos mutuamente.” (Cl 3, 16). Toda instrução que brota  da caridade, oração e paciência gera frutos em abundância.
Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo metropolitano de Belém do Pará

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

“O Papa nos convida a abrir as portas que estavam fechadas”, disse reverendo Metodista

“O Papa Francisco está abrindo as portas que tinha sido fechadas, testemunhando que o amor de Deus pode alcançar a todos”, foi o que disse o reverendo Tim Macquiban, um dos líderes da Igreja Metodista em Roma, em uma entrevista concedida à ZENIT na semana passada. O reverendo Tim Macquiban, salientou que rezar pela unidade dos cristãos é vital e explicou como o Papa Francisco está avançando rapidamente nas boas relações ecumênicas.
O pastor contou sobre as suas esperanças para melhorar as relações entre católicos e metodistas, refletindo sobre o que temos em comum, propondo a necessidade de ecumenismo não só espiritual, mas também de ações. Em particular, Macquiban sugeriu como metodistas e católicos poderiam compartilhar a sua busca por uma vida santa.
O rev. Macquiban é, desde 1987, um  ministro da Igreja Metodista britânica. Formou-se na Universidade de Cambridge. Serviu em igrejas pequenas e grandes na Grã-Bretanha em Yorkshire e Cambridge. Ensinou por 18 anos em uma escola superior.
O ministro tem uma longa história de trabalho na pastoral, no mundo acadêmico e ecumênico. Junto com a sua esposa, Angela, apoiou o trabalho da World Church, na participação em programas de desenvolvimento. Com esta finalidade visitou a Jamaica, a Singapura e a Malásia. Também ensinou nos Estados Unidos e em várias universidade metodistas e deu palestras na Austrália. A Igreja Metodista de Roma fica perto de Castel Sant’Angelo..

 Acabamos de concluir a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Por que é importante orar pela unidade dos cristãos?
Rev. Macquiban: Após 50 anos de diálogo com a Igreja Católica Romana, nós oramos pelo reconhecimento do nosso batismo comum e a incorporação em um só corpo. Para aprender a amar e respeitar o outro, independentemente das nossas diferenças.
 Qual é a contribuição do Papa Francisco no avanço do ecumenismo?
Rev. Macquiban: Tudo o que o Papa Francisco diz e faz, especialmente agora, neste ano da misericórdia, abre as portas que estavam fechadas, favorecendo o vento da mudança. O seu calor por aqueles que são outros, sejam cristãos ou não, é a prova de que o amor de Deus pode chegar a todos.
 Quais as esperanças para melhorar as relações entre católicos e metodistas? E entre os católicos e todos os cristãos?
Rev. Macquiban: A abertura, a cordialidade e o entusiasmo pelo evangelho é algo que metodistas e católicos podem compartilhar em sua busca comum pela santidade da vida. A “fé atua por amor” como disse John Wesley, o teólogo Inglês que fundou o movimento protestante do Metodismo.
 Durante a audiência geral da semana passada, o Papa disse que todos os cristãos compartilham a missão comum de levar a misericórdia de Deus aos demais, especialmente aos pobres e aos necessitados. Como fazer com que todos os cristãos possam trabalhar juntos buscando esse propósito?
Rev. Macquiban: Sobre esta questão não há muita diferença entre nós cristãos. Dias atrás eu estava com a comunidade de Santo Egídio na cidade de Ostia. O seu trabalho de caridade com os pobres é bastante familiar para mim. Há anos que eu prego por um “ecumenismo de ação”, que nos leva além do ecumenismo espiritual.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

IV Domingo do Tempo Comum

Ciclo C
Textos: Jr 1, 4-5.17-19; 1 Co 12, 31-13,13; Lc 4, 21-30
Ideia principal: Cristo e os seus seguidores seremos sinal de contradição.
Síntese da mensagem: Hoje é a continuação do Evangelho da semana passada. Um autêntico cristão- chame-se Papa, bispo, sacerdote, religiosa, leigo- sempre será sinal de contradição, a exemplo de Cristo, que não foi compreendido, que jogou na cara dos seus compatriotas a falta de fé, e por isso  quiseram jogá-lo do barranco para baixo (evangelho). Diante disto devemos reagir com a caridade de Cristo (2 leitura), sem medo e com a confiança em Deus, quem nos consagrou desde o batismo para ser profetas para as nações e está do nosso lado para nos salvar (1 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, Cristo foi desde que nasceu sinal de contradição; assim disse Simeão a Maria e a José quando estes o apresentaram no templo (cf. Lc 2, 21-40). Jesus foi falar três vezes na sua cidade, Nazaré. Na primeira o aplaudiram até o ponto de sair fumaça das palmas da mão, porque falava “como os anjos”, era o seu paisano e não tinha mais do que falar. Na segunda o vaiaram porque emendou a página ao profeta Isaias, o filho do carpinteiro ao profeta, até ai podemos chegar!, dizendo que o Messias não é o Deus das vinganças, mas o Deus das bondades e do perdão. Na terceira vez, foi a vencida: porque igualou diante de Deus os estrangeiros, judeus e pagãos, empurram-no pelas ruas até os arredores da cidade, ao precipício, e uma investida do povo e… como pode passar pela cabeça de alguém colocar no mesmo nível pagãos, estrangeiros e judeus, estes últimos que eram raça eleita por Deus? Definitivamente esse Jesus de Nazaré pirou de vez. Sinal de contradição! Porque prega outra Notícia diferente- as bem-aventuranças-, mais interior e não tanto exterior e escrava de preceitos, e que não fazia ressoar o eco do Antigo Testamento… está desfigurando a religião de Israel! Porque ia nos banquetes, comia e bebia com pecadores. Porque permitia ser tocado pelos pecadores, era considerado um proscrito e que cheirava mal. Porque deixava que o acompanhassem mulheres que o serviam nas suas necessidades, e não cumpria a lei de Moisés. Porque ensinava nas ruas e nas estradas sem ter o seu título e sem ser escriba sabichão e sem levar um livro debaixo do braço, era criticado. Porque deixava que as crianças se aproximassem Dele, e as acariciava e abençoava, estava debaixo da lupa dos fariseus e dos doutores da lei. Porque era um peregrino itinerante que não tinha onde reclinar a cabeça, era considerado esquisito e fora do comum. Sinal de contradição! “Veio aos seus e os seus não o receberam”(Jo 1,11). Para quem Jesus é sinal de contradição e pedra de escândalo? Para os soberbos, para os que se resistem a crer, converte-se em “rocha de escândalo” (cf. 1 Pe 2,8). E é o mesmo Senhor quem adverte: “Bem- aventurado o que não se escandalize de mim” (Mt 11,6).
Em segundo lugar, a Igreja também foi, é e será sinal de contradição. A pregação da Igreja, a sua mesma presença no meio do mundo, resulta incômoda quando, fazendo-se eco do ensinamento de Cristo, pronuncia o que não deseja ser ouvido; quando recorda que o homem não é Deus, que a lei ditada pelos homens nem sempre coincide com a lei de Deus; quando desafia os convencionalismos pacificamente aceitados pelo nosso egoísmo, pela nossa comodidade e pela nossa soberba; quando proclama a verdade do matrimônio uno, indissolúvel, fecundo, até a morte. A Igreja é sinal de contradição quando não comunga com as ideologias de moda. Como Jeremias (1 leitura) e como Cristo, a Igreja não deve se amedrontar. É Deus quem faz para o profeta praça forte, coluna de ferro e muralha de bronze. A força da Igreja não provem do poder das armas, o do dinheiro, o do prestigio mundano. A força da Igreja provem da sua fidelidade ao Senhor. A resistência da Igreja radica na força paradoxal do amor; um amor que “desculpa sem limites, crê sem limites, espera sem limites, aguenta sem limites” (1 Cor 13,7). A autêntica prioridade para a Igreja, escreveu o Papa Bento XVI, é “o compromisso laborioso pela fé, pela esperança e pelo amor no mundo”. Com essa prioridade devemos trabalhar todos, aceitando o desafio da rejeição, e dando, incansavelmente, testemunho do amor de Deus.
Finalmente, os autênticos seguidores de Cristo, os profetas de Deus experimentarão também este sinal de contradição. Esta é uma constante que acompanha os autênticos profetas, desde o Antigo Testamento até os tempos presentes. Os falsos profetas, os que dizem o que as pessoas querem escutar e, sobretudo, o que compraz os ouvidos dos poderosos, prosperam. Mas os profetas verdadeiros resultam incômodos e provocam uma reação em contra quando na sua pregação tocam temas candentes, colocando o dedo na ferida de alguma injustiça ou situação de infidelidade. Se não, perguntemos a São João Batista ao denunciar o adultério do rei Herodes. Ou ao beato Oscar Romero, que ganhou o apelido de “a voz dos sem voz”. A sua defesa dos mais desfavorecidos de El Salvador fez que o Parlamento britânico o propusesse como candidato para o Premio Nobel da Paz em 1979. Desgraçadamente, os seus contínuos chamamentos ao diálogo, para que os ricos não se aferrassem ao poder, e os oprimidos não optassem pelas armas, não surtiram efeito, apesar da popularidade que alcançaram as suas homilias dominicais. Obstinados em reprimir toda oposição, agentes do Estado terminaram por assassinar o monsenhor Romero, no dia 23 de marco de 1980, e continuaram violando os direitos humanos, provocando uma guerra civil em El Salvador que duraria onze anos e causaria 70.000 mortos.
Para refletir: reflitamos nestas palavras do Papa Francisco: “Mantemos o olhar fixo em Jesus, porque a fé, que é o nosso “sim” à relação filial com Deus, vem Dele, vem de Jesus. É Ele o único mediador desta relação entre nós e o nosso Pai que está no céu. Jesus é o Filho, e nós somos filhos Nele. […] Por isto Jesus diz: veio trazer divisão; não é que Jesus queira dividir os homens entre si, ao contrário: Jesus é a nossa paz, a nossa reconciliação. Mas esta paz não é a paz dos sepulcros, não é neutralidade, Jesus não traz neutralidade, esta paz não é uma fábula a qualquer preço. Seguir Jesus comporta renunciar o mal, o egoísmo e eleger o bem, a verdade, a justiça, inclusive quando isto requer sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isto sim, divide; sabemos disto, divide inclusive as relações mais próximas. Porém, atenção: não é Jesus quem divide. Ele põe o critério: viver para si mesmos, ou viver para Deus e para os demais; fazer-se servir, ou servir; obedecer ao próprio eu, ou obedecer a Deus. Eis aqui em que sentido Jesus é “sinal de contradição” (Homilia de S.S. Francisco, 18 de agosto de 2013).
Para rezar: Senhor, dai-me coragem para poder ser sinal de contradição sem medo, seguindo vosso exemplo e de tantos irmãos e irmãs cristãos, que inclusive deram a vida por Vós e pelo Evangelho
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

“Que a quaresma seja uma oportunidade de conversão. Especialmente para os ricos, soberbos e poderosos”

É uma grande oração a Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2016, publicada hoje, mas assinada no dia 4 de outubro de 2015, festa de São Francisco de Assis. Uma oração que o Papa dirige a Deus pelo pobre, no qual “a carne de Cristo se torna de novo visível como corpo golpeado, ferido, chicoteado, faminto, em fuga…”. Mas também uma oração pelo rico, pelo poderoso, pelo soberbo, que, cego pelo poder, vive “escravo do pecado” e fechado hermeticamente a Deus correndo o risco de “afundar naquele eterno abismo de solidão que é o inferno”.
Para todos o Papa invoca a misericórdia de Deus. “Misericórdia eu quero, e não sacrifícios” (Mt 9, 13). As obras de misericórdia no caminho jubilar é, de fato, o tema da Mensagem. “A misericórdia de Deus – escreve, de fato – transforma o coração do homem e lhe faz experimentar um amor fiel e assim o torna capaz de misericórdia no seu entorno”.
“É um milagre sempre novo” que o Santo  Padre espera que também aconteça durante este jubileu e que possa “irradiar na vida de cada um de nós, motivando-nos ao amor do próximo e animando aquelas que a tradição da Igreja chama de obras de misericórdia corporais e espirituais”.
Elas – explica Bergoglio – “nos lembram que a nossa fé se traduz em ações concretas diárias, destinadas a ajudar o nosso próximo no corpo e no espírito e sobre as quais seremos julgados: alimentá-lo, visita-lo, consola-lo, educa-lo”. Especialmente “quando o pobre é o irmão ou a irmã em Cristo que sofrem por causa da sua fé”.
Na verdade, há um pobre – destaca o Pontífice – que é ainda “mais miserável”: é “aquele que não aceita reconhecer-se como tal”, que “acredita que é rico, mas que, na verdade, é o mais pobre dos pobres”. Ele “é assim por ser escravo do pecado, que o leva a utilizar riqueza e poder não para servir a Deus e os outros, mas para sufocar em si a profunda consciência de ser, também ele, nada mais do que um pobre mendicante”.
“Quanto maior o poder e a riqueza à sua disposição, maior pode se tornar esta cegueira mentirosa”, afirma o Pontífice, chegando ao ponto de não querer nem sequer ver o pobre mendicante na porta da sua casa. “Esta cegueira – adverte – é acompanhada por um soberbo delírio de onipotência, na qual ressoa sinistramente aquele demoníaco ‘sereis como Deus’ que é a raiz de todo pecado”.
Tal frenesi corre o risco de expandir-se e poluir o meio ambiente, assumindo também formas sociais e políticas. Isso foi demonstrado pelos totalitarismos do século XX e é demonstrado hoje pelas “ideologias do pensamento único e da tecnosciência, que pretendem tornar a Deus irrelevante e de reduzir o homem a massa instrumentalizável”. Também pode ser demonstrado pelas “estruturas de pecado ligadas a um modelo de falso desenvolvimento baseado na idolatria do dinheiro, que fazem as pessoas e as sociedades mais ricas indiferentes ao destino dos pobres, que lhes fecham as portas, rejeitando, até mesmo, de vê-los”.
É neste cenário instável que chega a Quaresma, um “tempo favorável”, especialmente neste Ano Jubilar, “para poder finalmente sair da própria alienação existencial graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia”, destaca o Papa. “Se através daquelas corporais – reitera – tocamos a carne do Cristo nos irmãos e irmãs necessitados de serem alimentados, vestidos, abrigados, aquelas espirituais – aconselhar, ensinar, perdoar, corrigir, orar – tocam mais diretamente o nosso ser pecadores”.
Por isso obras corporais e espirituais “nunca se separam”. “É justamente tocando na miserável carne de Jesus crucificado que o pecador pode receber o dom da consciência de ser ele mesmo um pobre mendigo”, afirma o Santo Padre. E garante que, através deste caminho, também os ‘soberbos’, o ‘poderosos’ e os ‘ricos’ “têm a possibilidade de dar-se conta de serem imerecidamente amados pelo Crucificado, morto e ressuscitado também por eles”.
Só neste amor “está a resposta a esse anseio de felicidade e de amor infinitos que o homem se ilude de poder preencher por meio dos ídolos do conhecimento, do poder e do possuir”. Mas – adverte Francisco – “fica sempre o perigo que, por causa de um sempre maior fechamento a Cristo, que no pobre continua a bater na porta dos seus corações, os soberbos, os ricos e os poderosos terminem se condenando a cair naquele eterno abismo de solidão que é o inferno”.
Para todos estes, então, ressoem as sinceras palavras de Abraão: “Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos”: “Esta escuta diligente – deseja o Papa – nos preparará da melhor forma para comemorar a definitiva vitória sobre o pecado e a morte do Esposo já ressuscitado”. A este respeito, o Pontífice recorda a iniciativa 24 horas para o Senhor, através da qual se quer destacar “a primazia da escuta orante da Palavra, especialmente aquela profética”.
“A misericórdia de Deus é, de fato, um anúncio ao mundo: mas de tal anúncio cada cristão é chamado a fazer experiência em primeira pessoa”, acrescenta; justo por isso no tempo quaresmal serão enviados os Missionários da Misericórdia, “para que sejam para todos um sinal concreto da proximidade e do perdão de Deus”.
A última reflexão do Papa é sobre a Virgem Maria, “ícone perfeito da Igreja que evangeliza porque foi e é continuamente evangelizada por obra do Espírito Santo”. O Pontífice pede a sua materna intercessão: Ela “que em primeiro lugar, diante da grandeza da misericórdia divina que lhe foi dada gratuitamente, reconheceu a própria pequenez, reconhecendo-se como a humilde serva do Senhor”. Com este exemplo, o convite do Papa Francisco é, portanto: “Não percamos este tempo de Quaresma favorável à conversão!”.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Papa: “Peçamos perdão pelo pecado das nossas divisões”

O Santo Padre Francisco pediu que neste Ano Jubilar da Misericórdia, tenhamos em mente que “não pode existir autêntica busca da unidade dos cristãos não sem confiar-se plenamente na misericórdia do Pai”. Ele também convidou a pedir desculpas “pelo pecado das nossas divisões, que são uma ferida aberta no Corpo de Cristo”. Como Bispo de Roma e Pastor da Igreja Católica, Francisco quis “invocar misericórdia e perdão pelos comportamentos não-evangélicos da parte de católicos em relação a cristãos de outras Igrejas”. E convidou todos os irmãos e irmãs católicos a perdoar se, hoje ou no passado, “sofreram ofensas de outros cristãos”.
A este respeito, o Papa disse: “Não podemos eliminar o que houve, mas não queremos permitir que o peso das culpas passadas continue manchando as nossas relações”. A Misericórdia de Deus – destacou Francisco- renovará as nossas relações.
Tudo isso afirmou o Santo Padre Francisco na tradicional celebração das Vésperas na Solenidade da Conversão de São Paulo, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na conclusão da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
Na celebração estavam presentes representantes de outras Igrejas e comunidades eclesiais de Roma. Como recordou o Papa em sua homilia, a conversão de Paulo não é apenas uma mudança moral, mas uma “experiência transformadora da graça de Cristo, ao mesmo tempo, um chamado a uma nova missão, a de anunciar a todos esse Jesus”.
A vocação do apóstolo – observou o Papa – “não se funda nos méritos humanos de Paulo”, que se considera “ínfimo” e “indigno”, mas na vontade infinita de Deus, que o escolheu e confiou a ele o ministério.
Ele afirmou que a “superabundante misericórdia de Deus é a razão única sobre a qual se funda o ministério de Paulo, e é, ao mesmo tempo, aquilo que o Apóstolo deve anunciar a todos”. Refletindo sobre o mistério da misericórdia e da eleição de Deus, o Papa ressaltou que “o Pai ama a todos e quer salvar a todos”, por isso chama alguns, “conquistando-os com a sua graça, para que através destes o seu amor possa chegar a todos”.
O Papa indicou que, à luz do tema que norteou a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, “chamados a anunciar as obras maravilhosas de Deus”, os fiéis de todas as confissões cristãs podem dizer que receberam esta chamada. “Para além das diferenças que ainda nos separam, reconhecemos com alegria que na origem da vida cristã há sempre um chamado cujo autor é Deus mesmo”, afirmou ele.
O Bispo de Roma disse ainda: “Podemos progredir no caminho da plena comunhão visível entre os cristãos não somente quando nos aproximamos uns dos outros, mas, sobretudo, na medida em que nos convertemos ao Senhor, que por sua graça nos escolhe e nos chama a ser seus discípulos. E converter-se significa deixar que o Senhor viva e opere em nós”.
Portanto, “quando juntos os cristãos de diferentes Igrejas ouvem a Palavra de Deus e buscam colocá-la em prática, dão passos importantes rumo à unidade. E não é somente o chamado que nos une; somos unidos também pela mesma missão: anunciar a todos as obras maravilhosas de Deus”.
Sobre este caminho rumo à plena comunhão, Francisco indicou que já é possível desenvolver múltiplas formas de colaboração para favorecer a difusão do Evangelho: “caminhando e trabalhando juntos, nos damos conta de que já estamos unidos no nome do Senhor”, acrescentou.
Ao concluir, ele indicou que, juntamente com representantes de outras Igrejas passaram pela Porta Santa da Basílica “para recordar que a única porta que conduz à salvação é Jesus Cristo nosso Senhor, o rosto misericordioso do Pai”.
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

“Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa”

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho de hoje, o evangelista Lucas antes de apresentar o discurso programático de Jesus em Nazaré, resume sua atividade evangelizadora. É uma atividade que Ele cumpre com a força do Espírito Santo: a sua palavra é original, porque revela o sentido das Escrituras; é uma palavra que tem autoridade, porque manda até mesmo nos espíritos impuros e eles obedecem (cf. Mc 1,27). Jesus é diferente dos mestres de seu tempo. Não abriu uma escola para o estudo da Lei, mas pregava e ensinava em todo lugar: nas sinagogas, pelas ruas e nas casas. Jesus é diferente também de João Batista que proclama o juízo iminente de Deus, enquanto Jesus anuncia o seu perdão de Pai.
E agora imaginemo-nos entrando na sinagoga de Nazaré, cidade onde Jesus cresceu até os trinta anos. O que acontece é um fato importante que delineia a missão de Jesus. Ele se levanta para ler a Sagrada Escritura. Abre o livro do profeta Isaías e encontra a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim; porque ele me consagrou com unção e me enviou para anunciar a Boa Nova aos pobres “(Lc 4,18). Depois de um momento de silêncio cheio de expectativa por parte de todos, diz, diante da perplexidade geral: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabaram de ouvir” (v. 21).
Evangelizar os pobres: esta é a missão de Jesus; esta é também a missão da Igreja, e de todo batizado na Igreja. Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa. Anunciar o Evangelho com a palavra e, primeiramente, com a vida, é a finalidade principal da comunidade cristã e de todo seu membro. Observa-se que Jesus dirige a Boa Nova a todos, sem excluir ninguém, aliás, privilegia os que estão distantes, os sofredores, os doentes, os descartados pela sociedade.
Perguntemo-nos: o que significa para evangelizar os pobres? Significa se aproximar deles, ter alegria em servi-los, libertá-los de sua opressão e tudo isso no nome e com o Espírito de Cristo, porque é Ele o Evangelho de Deus, é Ele a Misericórdia de Deus, é Ele a libertação de Deus, é Ele que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza. O texto de Isaías, reforçado por pequenas adaptações introduzidas por Jesus, indica que o anúncio messiânico do Reino de Deus que veio ao nosso meio, se dirige de forma preferencial aos marginalizados, prisioneiros e oprimidos.
Provavelmente no tempo de Jesus estas pessoas não estavam no centro da comunidade de fé. E nos perguntamos: hoje, em nossas comunidades paroquiais, nas associações e nos movimentos, somos fieis ao programa de Jesus? A evangelização dos pobres, levar-lhes a Boa Nova, é a prioridade? Atenção: não se trata de prestar assistência social e muito menos de atividade política. Trata-se de oferecer a força do Evangelho de Deus que converte os corações, cura novamente as feridas, transforma as relações humanas e sociais segundo a lógica do amor. Os pobres, de fato, estão no centro do Evangelho.
A Virgem Maria, Mãe dos evangelizadores, nos ajude a sentir com vigor a fome e a sede do Evangelho que existem no mundo, especialmente no coração e na carne dos pobres. Que ela ajude cada um de nós e toda comunidade cristã a testemunhar concretamente a misericórdia, a grande misericórdia, que Cristo nos doou.
Depois do Angelus
Queridos irmãos e irmãs,
Saúdo com afeto a todos que vieram de diferentes paróquias da Itália e de outros países, bem como as associações e as famílias.
Em particular, saúdo os estudantes de Zafra e os fiéis do Cervellò (eu sou espanhol); os participantes da conferência patrocinada pela “Comunidade mundial para a meditação cristã”;  grupos de fiéis da Arquidiocese de Bari-Bitonto, de Tarcento, Marostica, Prato, Abbiategrasso e Pero-Cerchiate.
Desejo a todos um bom domingo e por favor não se esqueçam de rezar por mim! Bom almoço e até breve!
Papa Francisco - Fonte: Zenit.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Mensagem do Papa Francisco para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais

«Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo»

Queridos irmãos e irmãs!
O Ano Santo da Misericórdia convida-nos a reflectir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia. Com efeito a Igreja unida a Cristo, encarnação viva de Deus Misericordioso, é chamada a viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e agir. Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus.
Como filhos de Deus, somos chamados a comunicar com todos, sem exclusão. Particularmente próprio da linguagem e das acções da Igreja é transmitir misericórdia, para tocar o coração das pessoas e sustentá-las no caminho rumo à plenitude daquela vida que Jesus Cristo, enviado pelo Pai, veio trazer a todos. Trata-se de acolher em nós mesmos e irradiar ao nosso redor o calor materno da Igreja, para que Jesus seja conhecido e amado; aquele calor que dá substância às palavras da fé e acende, na pregação e no testemunho, a «centelha» que os vivifica.
A comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade. Como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e harmonia. As palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente físico como no digital. Assim, palavras e acções hão-de ser tais que nos ajudem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio. Ao contrário, a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a comunicação.
Por isso, queria convidar todas as pessoas de boa vontade a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades. Todos nós sabemos como velhas feridas e prolongados ressentimentos podem aprisionar as pessoas, impedindo-as de comunicar e reconciliar-se. E isto aplica-se também às relações entre os povos. Em todos estes casos, a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar, como se exprimiu muito eloquentemente Shakespeare: «A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe» (O mercador de Veneza, Acto IV, Cena I).
É desejável que também a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia, que nunca dá nada por perdido. Faço apelo sobretudo àqueles que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da desconfiança, do medo, do ódio. Pelo contrário, é preciso coragem para orientar as pessoas em direcção a processos de reconciliação, mas é precisamente tal audácia positiva e criativa que oferece verdadeiras soluções para conflitos antigos e a oportunidade de realizar uma paz duradoura. «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (…) Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 7.9).
Como gostaria que o nosso modo de comunicar e também o nosso serviço de pastores na Igreja nunca expressassem o orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo, nem humilhassem aqueles que a mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis! A misericórdia pode ajudar a mitigar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido apenas a frieza do julgamento. Seja o estilo da nossa comunicação capaz de superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –, mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar quem caiu. O Evangelho de João lembra-nos que «a verdade [nos] tornará livres» (Jo 8, 32). Em última análise, esta verdade é o próprio Cristo, cuja misericórdia repassada de mansidão constitui a medida do nosso modo de anunciar a verdade e condenar a injustiça. É nosso dever principal afirmar a verdade com amor (cf.Ef 4, 15). Só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação e defesa.
Alguns pensam que uma visão da sociedade enraizada na misericórdia seja injustificadamente idealista ou excessivamente indulgente. Mas tentemos voltar com o pensamento às nossas primeiras experiências de relação no seio da família. Os pais amavam-nos e apreciavam-nos mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades e os nossos sucessos. Naturalmente os pais querem o melhor para os seus filhos, mas o seu amor nunca esteve condicionado à obtenção dos objectivos. A casa paterna é o lugar onde sempre és bem-vindo (cf. Lc 15, 11-32). Gostaria de encorajar a todos a pensar a sociedade humana não como um espaço onde estranhos competem e procuram prevalecer, mas antes como uma casa ou uma família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros.
Para isso é fundamental escutar. Comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento. Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de omnipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum.
Escutar nunca é fácil. Às vezes é mais cómodo fingir-se de surdo. Escutar significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Na escuta, consuma-se uma espécie de martírio, um sacrifício de nós mesmos em que se renova o gesto sacro realizado por Moisés diante da sarça-ardente: descalçar as sandálias na «terra santa» do encontro com o outro que me fala (cf. Ex 3, 5). Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois exercitar-se a praticá-lo.
Também e-mailssms, redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas. Não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor. As redes sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os grupos. O ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral. Rezo para que o Ano Jubilar, vivido na misericórdia, «nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação» (Misericordiae Vultus, 23). Em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos mas é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha.
A comunicação, os seus lugares e os seus instrumentos permitiram um alargamento de horizontes para muitas pessoas. Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade. Gosto de definir este poder da comunicação como «proximidade». O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha e faz festa. Num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade.
Vaticano, 24 de Janeiro de 2016.
Franciscus

sábado, 23 de janeiro de 2016

“Pe. Brochero conheceu todos os cantos da sua paróquia. Não ficou na sacristia penteando ovelhas”, disse Francisco


O Santo Padre Francisco aprovou a promulgação do decreto de canonização do Beato padre Brochero. A informação foi dada pela Assessoria de Imprensa da Santa Sé, afirmando que a autorização foi dada ontem, quinta-feira, 21, na audiência privada que concedeu ao cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos.
O sacerdote argentino, nascido no dia 16 de março de 1840 e morto no dia 26 de janeiro de 1914, era um pastor ‘com cheiro de ovelha’ que levou no lombo de mula o Evangelho e o progresso aos mais necessitados da sua região.
Foi beatificado em setembro de 2013, em uma missa celebrada pelo cardeal Angelo Amato, na cidade que tem o nome do sacerdote, com a participação de 200 mil fieis. Para a ocasião, o papa Francisco presenteou um sino e estabeleceu o dia 16 de março como festa litúrgica do beato cura Brochero.
A postuladora da causa do beato, a Dra. Silvia Correale, disse hoje a ZENIT que “isso significa que no final do mês de fevereiro ou março haverá um consistório para decidir a data e o lugar da cerimônia da canonização do beato Brochero”.
“É um dia – acrescentou a postuladora – de grande alegria para todos na Argentina e na sua Igreja, porque chega o reconhecimento oficial de uma vida que já se sabia que era a de um santo”. Considerou também que a rapidez do milagre depois da beatificação “mostra um sinal da providência de Deus”.
“Foi uma graça que o Senhor permitiu que acontecesse em uma diocese em uma periferia do país, e que a invocação fosse popular, porque envolveu todas as paróquias, cidades, fizeram correntes de oração pela internet, online, e o milagre foi em uma garota de uma família simples, Camila Brusotti”.
A junta médica validou a cura e a recuperação sem explicação científica da menina Camila, que tinha ficado à beira da morte depois de ser espancada pela sua mãe e o seu padrasto, que lhe causaram um infarto massivo no hemisfério cerebral direito com uma hemiplegia, que a tornou incapaz de recuperar a mobilidade do corpo.
O prognóstico médico era o do estado vegetativo e, embora ainda não esteja totalmente recuperada, os médicos disseram que a sua reabilitação é muito boa e a recuperação a nível cognitivo chega quase a 100%, o que lhe permite ir à escola.
O santo padre Francisco, por ocasião da cerimônia de beatificação escreveu uma carta ao presidente da Conferência Episcopal Argentina na qual escrevia: “Me faz bem imaginar hoje a Brochero pároco na sua mula malacara, percorrendo longos caminhos áridos e desolados dos 200 quilômetros da sua paróquia, procurando casa por casa os bisavós e tataravós de vocês, para perguntar-lhes se precisavam de algo e para convidá-los a fazer os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola. Conheceu todos os cantos da sua paróquia. Não ficou na sacristia penteando ovelhas”.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Papa: “religiosidade popular é uma verdadeira forma de evangelização”

Peregrinação aos santuários é uma das expressões mais eloquentes da fé do povo de Deus e que manifesta a piedade de gerações de pessoas que, com simplicidade, acreditaram e confiaram na intercessão da Virgem Maria e dos santos. Foi o que afirmou o Papa Francisco, na audiência desta quinta-feira com os participantes do Encontro Internacional dos agentes de peregrinação, padres, reitores de santuários e trabalhadores, que comemoram seu Jubileu em Roma de 19 a 21 de janeiro.
Em seu discurso, o Santo Padre disse que “esta religiosidade popular é forma genuína de evangelização, que precisa ser cada vez mais promovida e valorizada, sem minimizar a sua importância”. Segundo o Papa, seria errado dizer que alguém que faz uma peregrinação vive uma espiritualidade não pessoal, mas “de massa”. Quem entra em um Santuário – afirmou o Papa – “deve sentir-se em casa, esperado, amado e olhado com olhos de misericórdia.
A palavra-chave enfatizada pelo Papa em seu discurso foi “acolhimento”. Com o acolhimento podemos “jogar tudo”, lembrando que Jesus falou de acolhimento, mas sobretudo o praticou. Ele disse que o acolhimento é realmente decisivo para a evangelização e por vezes basta uma palavra, um sorriso, para que uma pessoa se sinta acolhida e amada.
Além disso, o Santo Padre explicou que o peregrino deve ser bem recebido tanto materialmente como espiritualmente. “É importante que o peregrino que cruza o limiar do santuário se sinta tratado como um familiar e não como um hóspede”. Ele também destacou que “o santuário é a casa do perdão”, onde cada um se encontra com a ternura do Pai, que tem misericórdia para com todos, sem excluir ninguém. Por fim, o Papa convidou os sacerdotes que exercem ministério nos santuários a “terem um coração impregnado de misericórdia e a adotarem atitudes próprias de um pai”.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Pietro Maso: “Eu era o mal e o Papa Francisco teve compaixão por mim…”


“Não há santo sem passado, nem pecador sem futuro”, disse o Papa Francisco na homilia da missa em Santa Marta nesta terça-feira (19). Palavras de esperança para quem cometeu algum erro, quem pecou ou até mesmo matou, movido por paixões impuras. Tal como o bíblico rei Davi ou como Pietro Maso.
Pietro Maso chocou a Itália em 17 de abril de 1991, ao assassinar seus pais Antonio e Rosa em Montecchia, na província de Verona. Um dos crimes mais hediondos da história do país, cujo julgamento se tornou um caso nacional. Fazendo eco das palavras do Santo Padre pronunciadas no dia 19 de janeiro, numa providencial coincidência, a revista “chi” antecipou alguns trechos da longa entrevista exclusiva, publicada na edição de hoje 20 de janeiro.
Pietro, agora com 45 anos de idade, traça a sua vida, 22 anos de prisão e a redescoberta da fé, e lança luz sobre o motivo do assassinato brutal, realizado com um cano de ferro e a ajuda de três cúmplices. “Não foi por dinheiro, como foi dito”, explica, revelando ao público outra notícia: o telefonema do Papa Francisco recebido em 2013, depois de uma carta enviada ao Pontífice na qual expressou todo o seu arrependimento.
“Eu era o mal e o Papa Francisco teve compaixão por mim”, escreveu Pietro numa carta que foi entregue pelo seu diretor espiritual, Dom Guido Todeschini. “Depois de alguns dias, o Papa me telefonou. Ele e Dom Guido são pessoas santas”. Assim começa a entrevista, a primeira desde que foi libertado da prisão – primeiro em Verona, depois, em Milão – onde permaneceu por mais de duas décadas. Ele foi condenado a trinta anos.
No relatório psiquiátrico realizado pelo especialista Vittorino Andreoli, lê-se sobre uma “hipertrofia narcisista” com o pai e mãe, percebida como um ‘cofrinho’ do qual se retira alguma coisa apenas quando necessário ou quando quebrado. Com a redução da pena por bom comportamento, o italiano ficou preso por 22 anos.
“Era 10 horas da manhã – conta o ex presidiário – quando o telefone tocou. Eu estava com Stephanie, minha namorada, eu respondo e escuto: ‘Aqui é o Francisco, o Papa Francisco’. Tomado pela emoção, disse em voz alta: ‘Santidade’. Era 2013”. Antes do telefonema, eu lhe enviei uma carta: “Peço perdão pelo que fiz; peço orações pelos meus colegas de trabalho que me aceitaram, apesar do que eu fiz e peço oração por aqueles que trabalham pela paz”, escreveu Pietro ainda atrás das grades.
Don Guido Todeschini fez questão de entregá-la ao Papa, que não hesitou em telefonar alguns dias depois. Pietro foi capaz de dizer ao Santo Padre a frase que tinha formulado durante os anos sombrios da prisão, que decretara a mudança total de sua vida, graças a um processo de reaproximação da fé.
Pietro se arrependeu e depois de cumprir sua sentença, ele decidiu comentar a verdadeira razão deste trágico assassinato. Não foi para tomar posse da herança dos pais, como falaram no momento do julgamento: “Eu não matei meus pais por dinheiro, porque o dinheiro eu teria tido de qualquer maneira”, diz ele na entrevista. “Eu disse que o motivo era dinheiro porque quando cometemos o assassinato, um amigo meu fez um empréstimo e vivíamos com aquele dinheiro. Eu tentei matar meus pais outras vezes, tentativas fracassadas, acompanhado de gente louca, mas nunca pensei em matar por dinheiro”.
“Eu – continua ele – sempre fui doente e desde criança meus pais diziam: ‘Não vai trabalhar porque você está doente’, ‘não vai sair porque você está doente’; ‘ nós pensamos em tudo’”. É como ser gay e seus pais não sabem. Olham para você de forma diferente quando você tem 13, 14 anos e você está doente e não entende o porquê. Você não pode falar livremente porque seus pais não querem. Então, você fica em casa sofrendo porque não encontra compreensão. Na verdade, você deveria sair de casa. Talvez isso pudesse ser a resposta para o que eu fiz”.
Mas o passado é passado e, como diz o Papa Francisco, “não há pecador sem futuro”. Pietro Maso olha para a frente. Desde que seu casamento com Stefania acabou, ele se mudou para Valência, na Espanha. Lá, ele decidiu abrir um centro de reabilitação, uma casa que acolhe aqueles que fizeram algo de errado e estão na rua. Porque, disse ele na entrevista: “Eu quero dar um significado diferente para a minha vida. Somente quem é estrangeiro pode entender outro estrangeiro, somente quem foi presidiário pode entender outro presidiário, somente quem fez algo errado pode entender quem cometeu erros. Eu não valho nada, mas essa ideia merece mais do que eu”.
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Rev. Kruse: “a intercomunhão entre católicos e protestantes é uma meta realista”


A poucos passos da Via Veneto, uma vez centro da vida social capitolina e hoje local de escritórios e bancos, surge a Igreja da Comunidade Evangélica Luterana de Roma. Austera fuori, porém, é hospitaleira e agradável no seu interior, com belos mosaicos e ricas decorações.
“Estamos aqui há cerca de um século, quando a comunidade construiu o edifício em um terreno comprado com ajuda econômica do rei da Prússia, onde antes estava a Vila Ludovisi”, explicou a ZENIT o pastor Jens-Martins Kruse que fala também que a comunidade remonta a 1817 e que nos primeiros cem anos o culto evangélico acontecia dentro dos muros da Embaixada da Prússia junto à Santa Sé, hoje sede dos Museus capitolinos, no Campidoglio.
Por isso, acrescenta o pastor, “o 2017 será para nós motivo de dupla comemoração: além dos 500 anos da reforma luterana, festejaremos também os 200 anos da nossa presença em Roma”. Uma presença que se consolidou ao longo dos anos.
Parece muito distante o tempo em que o culto protestante era proibido em Roma. Hoje o rev. Kruse, líder de uma comunidade com cerca de 500 membros, que define de “muito viva”, fala que “se sente em casa”. Ele acredita que a presença de outras comunidade cristã faça de Roma a “capital de todas as Igreja do mundo”, o que o torna “orgulhoso de levar a voz luterana neste concerto do ecumenismo”.
Concerto que tocou uma nota particularmente feliz em novembro passado, com a visita do Papa Francisco a esta igreja. “Foi – lembra o rev. Kruse – um encontro lindo, porque toda a comunidade pôde perceber que o Papa Francisco interpreta o espírito do Evangelho. Foi um encontro entre amigos, em nome da confiança e do amor: rezamos juntos e pudemos ouvir uma extraordinária homilia sobre uma passagem do Evangelho”.
Em 2010, o pastor também saudou Bento XVI (“com quem falou em alemão de uma forma muito fraterna”, afirma). O rev. Kruse destaca, portanto, “a importância ecumênica” da sua comunidade, logo depois da visita dos Papas. Mas a recente visita de Francisco tem um valor extremamente histórico, “porque, pela primeira vez, um papa ficou disponível para responder as perguntas das pessoas presentes”.
Foi assim que uma mulher luterana, casada com um católico, levantou a questão da intercomunhão entre protestantes e católicos, ou seja, a possibilidade de receber a Eucaristia nas celebrações comuns. “É um objetivo realista especialmente com este Papa – esclarece o rev. Kruse – , porque ele compreendeu que existe o grave problema daqueles casais mistos que não podem participar juntos da Ceia do Senhor”.
De acordo com o pastor Kruse, “na concepção da Eucaristia não há grande diferença entre católicos, luteranos e anglicanos: todos pensamos que o pão e o vinho sejam o corpo e o sangue de Jesus Cristo”. Respondendo à pergunta daquela senhora, o Pontífice pediu para referir-se ao Batismo e para “tirar as consequências” desde sacramento comum.
O rev. Kruse interpreta estas palavras como um convite a todos os fiéis “para assumir as próprias responsabilidades diante de Deus, para decidir segundo a sua consciência, se é possível a participação juntos, entre católicos e protestantes, na Eucaristia”. Porque, acrescenta o rev. Kruse, “não existem razões teológicas para que isso não ocorra”.
Do que poderia acontecer no futuro ao que já acontece hoje. São tantas as comunidades de católicos e protestantes que rezam juntas, especialmente nesta semana dedicada tradicionalmente à oração pela unidade dos cristãos. Uma das intenções comuns é pelos cristãos perseguidos. “O testemunho destes mártires nos ensina a unidade – afirma o rev. Kruse – , porque eles são assassinados não porque pertençam à Igreja católica ou protestante, mas porque são cristãos”.
Sua coragem para testemunhar a fé, mesmo diante de ameaças de morte é o outro ensinamento chega até nós daquelas terras de perseguição. “Em toda a Europa se difunde um desinteresse com relação à Igreja”, reconhece o rev. Kruse, que convida, portanto, os cristãos “a anunciarem o Evangelho sem medo e a vive-lo na vida cotidiana. Como diz sempre o Papa Francisco, devemos sair das nossas igrejas para dar testemunho à sociedade”.
De acordo com o pastor, uma oportunidade neste sentido serão as celebrações para os 500 anos da reforma luterana, em 2017. Aniversário que suscita, porém, também a recordação de um cisma salpicado de episódios violentos e de rancores não ainda totalmente esquecidos. O percurso da reconciliação se constrói passo a passo.
Um importante foi feito no verão passado pela Evangelischen Kirche in Deutschland (EKD), condenando publicamente a demolição de imagens religiosas que aconteceram há 500 anos, como resultado da turbulência sobre a iconoclastia protestante. “Eu acredito que todas as Igrejas, como primeiro passo rumo à unidade, precisam reconhecer os seus erros históricos e pedir o perdão – diz o rev. Kruse -. Para nós é importante admitir que prejudicamos os nossos irmãos católicos”.
De acordo com o pastor luterano, o exemplo foi dado primeiro, em 1972, pelo card. Johannes Willebrands, presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, “quando pediu perdão às igrejas luteranas”. Neste sentido seria possível inserir também o que foi afirmado pelo pregador da Casa pontifícia, pe. Raniero Cantalamessa, em uma sua recente pregação de Advento. Ele disse que muitas vezes nós, entendido como católicos, “contribuímos para fazer Maria inaceitável para os irmãos protestantes, honrando-a de forma, às vezes, exagerada e desconsiderada”.
O rev. Kruse observa, de fato, que “na Igreja católica romana há, às vezes, uma forma que para nós é um pouco exagerada de venerá-la, porque parece que maria seja considerada como mais importante do que Jesus”. E acrescenta: “Respeitamos esta tradição, mas como luteranos recordamos sempre que rezamos a Deus e que não temos necessidades de intermediários na nossa relação com Ele”. Maria permanece, portanto, importante para os protestantes, “em quanto mãe de Jesus Cristo”, disse o Rev. Kruse, que recorda como Lutero honrasse Maria cantando diariamente o Magnificat.
E é justamente sobre a figura do artífice da Reforma que nós colocamos o nosso olhar, no final da entrevista. O rev. Kruse, faltando um ano para o 500º aniversário daquele evento, admite que para muitos dos seus correligionários, será uma ocasião “para exaltar Lutero e a sua Reforma”. Uma abordagem que considera errado. O convite do pastor é, de fato, o de desfrutar esta celebração, além de “dar mais um passo rumo ao ecumenismo”, também para “refletir serenamente sobre a figura de Lutero, reconhecendo na sua mensagem o que é hoje importante para a nossa fé e o que não é”. Afinal, conclui, “a Igreja Luterana não nasce com Lutero, mas com Jesus Cristo no dia de Pentecostes”.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Expectativa em Fátima pela canonização de Francisco e Jacinta, e a beatificação de Lúcia

O processo diocesano para a beatificação da Irmã Lúcia de Jesus, uma das três videntes das aparições da Virgem Maria em Fátima, deve ser concluído ainda este ano, foi o que disse a vice-postuladora da causa, Irmã Ângela Coelho, à assessoria de imprensa do Santuário de Fátima, no âmbito de uma entrevista concedida semana passada.
O processo destinado à beatificação da Irmã Lúcia, que morreu no dia 13 de Fevereiro de 2005, no convento carmelita da cidade Portuguesa de Coimbra, ainda está na fase diocesana.
Irmã Ângela Coelho disse que há uma grande expectativa sobre o processo de canonização de Francisco e Jacinta Marto, que foram beatificados no dia 13 de maio de 2000 por João Paulo II, porque existe a esperança de que possa ter finalizado para o centenário das aparições, que será celebrado em Fátima  com a presença do Papa Francisco.
A vice-postuladora do processo da Irmã Lúcia esclareceu o fato: “Não tenho certezas, mas estamos trabalhando nisso, sem deixar de reconhecer a complexidade da história de vida de Lúcia”.
Acrescentou que o processo da Irmã Lúcia acabaria este ano e depois seria traduzido ao italiano para ser apresentado à Congregação para as Causas dos Santos.
A religiosa indicou que além da análise da correspondência de Lúcia, “também estão sendo interrogadas as testemunhas do processo, as pessoas que ela conhecia e com quem convivia”.
“Há mais de 70.000 cartas recebidas e respondidas pela Irmã Lúcia desde a década de 80, de todas as partes do mundo e das mais variadas origens, de cidadãos anônimos à papas, cardeais, embaixadores e outros”, disse.
Irmã Ângela Coelho disse que “trata-se de um processo complexo no qual viveu: duas guerras mundiais; a guerra civil espanhola, a ascensão e queda da União Soviética e pelas preocupações que tinha”.
Na realidade, ‘a Senhora vestida de branco, com uma luza mais brilhante do que o sol, durante as aparições, começadas no dia 13 de maio de 1917, permitiu-lhes ter uma visão do inferno, convidou-lhes à devoção ao Coração Imaculado de Maria, e disse-lhes quando o Zar Nicolas II Romanov estava no poder: “Russia irá expandir os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão perseguidos, o Santo Padre terá que sofrer muito, várias nações serão destruídas”. Previu também o fim da Primeira guerra mundial e o começo do segundo conflito mundial, e prometeu que a “Rússia se converterá e, finalmente, o meu Imaculado Coração triunfará”. Além da terceira parte do segredo de Fátima, atribuído ao atentado que sofreu São João Paulo II por mãos de Ali Agca.
“Eu acho que na sua cela – acrescentou o vice-postulador – esta – esta religiosa carregava a dor do mundo do século XX”, assim que, “toda a atenção que dispensamos e a seriedade e consideração com que fazemos este trabalho são fundamentais”. E acrescentou: “O tempo que estamos usando para realizar o processo beneficia Lúcia, mas também a Mensagem de Fátima”.
Irmã Ângela Coelho esclareceu que “neste processo estão trabalhando 15 teólogos de várias nacionalidades, que se dedicaram de corpo e alma a este trabalho de estudo”. Além do mais procuraram “superar alguns obstáculos com a finalidade de facilitar o trabalho de Roma”.
“Sempre tivemos cuidado – concluiu – sobre a necessidade de uma declaração inequívoca: é um santo e a igreja tem que dar-se conta disso e deve ter esta certeza ao beatificá-la”.
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Papa no Angelus: Jesus não é um comandante que nos obriga a seguir cegamente suas ordens

Às 12 horas de ontem, domingo, 17 de janeiro, o Santo Padre Francisco se aproximou da janela de seu escritório no Palácio Apostólico Vaticano para rezar o Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
Estas são as palavras do Papa antes da oração mariana:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo apresenta o prodigioso evento ocorrido em Cana, um vilarejo da Galiléia, durante uma festa de casamento em que participam também Maria e Jesus, com seus primeiros discípulos (cf. Jo 2,1-11). A Mãe faz notar ao Filho que o vinho acabou, e Jesus, apesar de ter dito que sua hora não havia chegado, atende o pedido da Mãe e dá aos cônjuges o melhor vinho de toda a festa. O evangelista destaca que “este foi o início dos sinais realizados por Jesus; Ele manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele “(v. 11).
Milagres, portanto, são sinais extraordinários que acompanham a pregação da Boa Nova, a fim de despertar ou reforçar a fé em Jesus. No milagre de Caná, podemos ver um ato de benevolência por parte de Jesus para com os recém-casados, um sinal da bênção de Deus sobre o matrimônio. O amor entre o homem e a mulher é, portanto, uma boa maneira de viver o Evangelho, isto é, percorrer com alegria no caminho da santidade.
Mas o milagre de Caná não diz respeito apenas aos esposos. Toda pessoa humana é chamada a encontrar o Senhor de sua vida. A fé cristã é um dom que recebemos no Batismo e que nos permite encontrar Deus. A fé passa por momentos de alegria e de tristeza, de luz e de escuridão, como em toda experiência autêntica do amor. A narração das bodas de Cana convida-nos a redescobrir que Jesus não se apresenta a nós como um juiz pronto a condenar as nossas culpas, nem como um comandante que nos obriga a seguir cegamente suas ordens, se manifesta como Salvador da humanidade, como nosso irmão mais velho, filho do Pai, como aquele que responde às expectativas e promessas de alegria que habitam no coração de cada um de nós.
Então, podemos nos perguntar: realmente conheço o Senhor assim? Eu o sinto próximo a mim e à minha vida? Lhe estou respondendo à altura daquele amor esponsal que Ele, todos os dias, manifesta a mim e a todos os seres humanos? Trata-se de perceber que Jesus nos busca e nos convida a dar-lhe espaço no fundo do nosso coração. E neste caminho de fé com Ele, não estamos sozinhos: recebemos o dom do Sangue de Cristo. As grandes ânforas de pedra cheias de água que Jesus transforma em vinho (v. 7) são um sinal da passagem da antiga para a nova aliança: em vez da água utilizada para o ritual de purificação, recebemos o Sangue de Jesus, derramado sacramentalmente na Eucaristia e de maneira cruenta na Paixão e na Cruz. Os Sacramentos que emanam do Mistério pascal, infundem em nós a força sobrenatural e nos permitem experimentar a infinita misericórdia de Deus.
A Virgem Maria, modelo de meditação das palavras e das obras do Senhor, nos ajude a redescobrir com fé a beleza e a riqueza da Eucaristia e dos outros Sacramentos, que tornam presente o amor fiel de Deus por nós. Podemos assim enamorar-nos sempre mais e mais do Senhor Jesus, nosso Esposo, e encontrá-Lo com as lâmpadas acesas da nossa fé alegre, tornando-se suas testemunhas no mundo.
Depois do Angelus
Queridos irmãos e irmãs,
Hoje ocorre o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado que, no contexto do Ano Santo da Misericórdia, também é comemorado como o Jubileu do Migrante. Tenho o prazer de saudar com grande afeto as comunidades étnicas aqui presentes, provenientes das várias regiões da Itália, especialmente de Lazio. Queridos migrantes e refugiados, cada um de vocês carrega uma história, uma cultura, valores preciosos e, muitas vezes, infelizmente, experiências de miséria, opressão e medo. A presença de vocês nesta praça é um sinal de esperança em Deus. Não deixem que roubem de vocês a esperança e a alegria de viver, que emerge da experiência da divina misericórdia, também agradeço às pessoas que os acolhem e os ajudam. A passagem pela Porta Santa e a Missa que em breve vocês participarão, preencherá o coração de vocês de paz. Nesta Missa eu gostaria de agradecer, e vocês agradeçam comigo, aos detentos da Prisão de Opera, pelo presente das hóstias confeccionadas por eles que serão utilizadas nesta celebração. Vamos saudá-los com um aplauso…todos juntos.
Saúdo com afeto a todos, peregrinos que vieram da Itália e de outros países: em particular, a associação cultural Napredak, Sarajevo; os estudantes espanhóis de Badajoz e Palma de Mallorca e os jovens de Osteria Grande (Bologna).
Juntos, voltemos a Deus uma oração pelas vítimas dos ataques ocorridos nos últimos dias na Indonésia e Burkina Faso. Que o Senhor os acolha em sua casa e sustente o compromisso da comunidade internacional para construir a paz.
Desejo a todos um bom domingo. E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até logo!
Fonte: Zenit.