quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Maria, Mãe de Deus

Iniciamos o novo ano civil com o Dia Mundial da Paz (49º), que contempla o tema: “Vence as indiferenças e conquista a paz”! Nesse mesmo dia, a solenidade litúrgica que encerra a oitava do Natal é a de “Santa Maria, Mãe de Deus”.
Em tempos de tantos vilipêndios à nossa fé, em especial a Maria e a Jesus, esta celebração é o momento de reafirmarmos a nossa vida cristã diante de tantas ofensas que hoje ocorrem em nossa sociedade dita “cristã”. Diante disso tudo, somos chamados ainda mais a aprofundar a nossa fé e pedir ao Senhor que a aumente e nos faça colocá-la em prática com a graça de Deus.
A afirmação dogmática de Maria, mãe de Deus, vem sendo trabalhada por vários Concílios Ecumênicos: em 325 o Concílio de Nicéia e em 381 o Concílio de Constantinopla procuraram responder a respeito do Mistério da consubstancialidade de Deus uno e trino, Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. No terceiro Concílio Ecumênico, o de Éfeso, em 431, foi declarado que Santa Maria é a Mãe de Deus. Muitos não compreendiam e até pessoas de igreja como Nestório, patriarca de Constantinopla, ensinavam de maneira errada: que no mistério de Cristo existiam duas pessoas: uma divina e uma humana, mas não é isso que testemunha a Sagrada Escritura. Jesus Cristo é verdadeiro Deus em duas naturezas e não duas pessoas, uma natureza humana e outra divina; e a Santíssima Virgem é, consequentemente, Mãe de Deus.
No século IV, ensinava o bispo Santo Atanásio: “A natureza que Jesus Cristo recebeu de Maria era uma natureza humana. Segundo a Divina Escritura, o corpo do Senhor era um corpo verdadeiro, porque era um corpo idêntico ao nosso”. Maria é, portanto, nossa irmã, pois nós todos somos descendentes de Adão. Fazendo a relação deste mistério da encarnação, no qual o Verbo assumiu a condição da nossa humanidade com a realidade de que nada mudou na Trindade Santa, mesmo tendo o Verbo tomado um corpo no seio de Maria, a Trindade continua sendo a mesma; sem aumento, sem diminuição; é sempre perfeita. Nela, reconhecemos uma só divindade. Assim, a Igreja proclama um único Deus em três pessoas. Por isso, a Santíssima Virgem, mãe de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, é a Mãe de Deus.
Neste primeiro dia do ano civil, a Igreja celebra a Solenidade da Virgem Maria, Mãe de Deus. Título mariano de grande importância para nós cristãos. Nós nos colocaremos na escola de Maria, a discípula perfeita, a primeira pregadora da Divina Misericórdia. Nesta meditação, vemos o sentido do “sim” de Maria, a abertura para Deus que a coloca numa disponibilidade aberta ao horizonte da fé voltado para o ilimitado.
Neste dia é a conclusão da Oitava do Natal, dia no qual a Igreja volta-se para a Virgem que gerou em seu seio e deu à luz o verdadeiro Deus feito homem. Chegou a plenitude dos tempos e “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher”, aquela mesma que os pastores encontraram velando o “recém-nascido deitado na manjedoura”. Somos gratos à Virgem Santa e, contemplando o seu Filhinho, reconhecemos nele o Deus perfeito e a proclamamos verdadeiramente Mãe de Deus: “Salve, ó Santa Mãe de Deus! Vós destes à luz o Rei que governa o céu e a Terra pelos séculos eternos!’ – assim canta a Igreja hoje, saudando a Toda Santa Virgem Maria. Nossos irmãos orientais, de rito bizantino, no Natal, cantam: “Ó Cristo, que podemos oferecer-vos como dom por vos terdes manifestado sobre a Terra na nossa humanidade? Com efeito, cada uma das vossas criaturas exprime a sua ação de graças, e a vós traz: os Anjos, o seu cântico; o céu, uma estrela; os Magos, os seus dons; os Pastores, a admiração; a terra, uma gruta; o deserto, uma manjedoura; e nós, uma Virgem Mãe”! Eis, pois, caríssimos irmãos, nosso presente ao Salvador: a mais bela flor de nossa raça, o mais belo membro da Igreja, a Virgem Maria.
Os evangelhos, sobretudo o de São João, sublinham e testemunham a vinda de Deus na carne humana. O papel de Maria recebe relevo nas mãos de São Lucas. Para São Mateus, ela faz o elo de ligação entre as duas alianças. São Marcos, ao sublinhar a humanidade de Cristo, ressalta sua origem, sua procedência histórica. Em tudo isto, podemos ler indiretamente e de modo implícito o papel particular de Maria no evento da salvação, que depois será confirmado nos séculos seguintes, quando os bispos reunidos em Concílio declaram Maria como a Mãe do Verbo encarnado, a mãe do Filho de Deus, e por isto a Mãe de Deus.
Ao recordar a Maternidade Divina de Nossa Senhora, a Igreja recorda também as condições maravilhosas dessa maternidade: ela aconteceu de modo virginal! Com efeito, a Mãe do Senhor concebeu virginalmente, virginalmente deu à luz e virgem permaneceu para sempre! A Virgem não somente concebeu, mas também virginalmente deu à luz um filho – eis a profecia de Isaías (cf. 7,14). A Igreja canta esse mistério com palavras admiráveis: Na sarça que Moisés via arder sem se consumir, admiramos o sinal da vossa incomparável virgindade, ó Mãe de Deus!” e ainda, pensando na porta selada, pela qual somente o Senhor passaria, como profetizou Ezequiel (cf. 44,2), a Igreja exclama: “A porta eterna do Templo eternamente fechado, feliz e pronta se abre somente ao Rei esperado”.
E, como penhor de que nossas preces serão ouvidas, supliquemos à Mãe de Deus toda Santa, toda Misericordiosa: “À vossa proteção recorremos, ó Santa Mãe de Deus! Protegei os pobres, ajudai os fracos, consolai os tristes, rogai pela Igreja, protegei o clero, ajudai-nos todos, sede nossa salvação! Santa Maria, sois a Mãe dos homens, sois a Mãe do Cristo que nos fez irmãos! Rogai pela Igreja, pela humanidade e fazei que, enfim, tenhamos paz e salvação”!

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

CELAM unifica três centros propondo uma Igreja em saída

O Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) unificou seus três setores pastorais e de estudos para a América Latina: o teológico, o bíblico e o observatório pastoral em um mesmo órgão, o Centro Bíblico Teológico Pastoral para a América Latina e o Caribe, cuja sigla é CEBITEPAL.
O Cardeal Ruben Salazar disse que "a consolidação do CEBITEPAL, à luz do Plano Global" é uma de suas prioridades como presidente do CELAM para o quadriênio 2015-2019.
O secretário-geral do CELAM e o reitor CEBITEPAL, monsenhor Juan Espinoza, explicou que o novo setor pretende ser um lugar onde os melhores professores da América Latina e do Caribe tenham um lugar para se encontrarem, para investigar e oferecer sua ciência. Mas também onde possam enriquecer a muitos estudantes, agentes pastorais leigos, religiosos, sacerdotes e bispos do continente.
O vice-reitor pastoral, padre Moises Perez também destacou que a CEBITEPAL "é uma realização do CELAM, que sempre teve uma vocação formativa”. O diretor da Escola Bíblica, padre Guillermo Acero, indicou que a profunda comunhão entre as três escolas, criará sinergias.
Sobre a unificação dos três órgãos, a Dra. Susana Nuin, diretora da Escola social enfatiza que com esta nova formação os caminhos da ITEPAL, com mais de 40 anos, da CEBIPAL e da OBSEPAL, com mais de uma década, buscam "manter e reforçar esta rica experiência formativa, reflexiva e investigativa, acrescentando o bônus de uma interdisciplinaridade e da interculturação que, pelas características do Centro, estão relacionadas com a dimensão latino-americana".
O diretor da Escola Teológica, Dr. Patricio Merino Beas, conclui a entrevista indicando que o CEBITEPAL com suas três escolas, pretende levar a cabo sua missão, em espírito de comunhão e participação, através do ensino, da pesquisa e de outros serviços, com as características próprias da teologia e a metodologia latino-americana.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Cristãos e muçulmanos em diálogo

“Este ano, a festa de Mouloud e a festa do Natal são celebradas a poucas horas de distância uma da outra. Este sinal nos convida, cristãos e muçulmanos, ao diálogo, para levar a paz ao mundo em nome de nossa fé comum em Abraão, antepassado de todos os fiéis”: é o que afirmam Dom Laurent Lompo, Arcebispo de Niamey (capital do Níger), e Dom Ambroise Ouedraogo, Bispo de Maradi, em sua mensagem natalina assinada por ambos, informou a agência Fides. 
Um conceito reiterado pelos dois Bispos, ordinários das duas circunscrições eclesiásticas do Níger, em sua mensagem à comunidade muçulmana para a festa de Mouloud (conhecida também como Maouloud ou Mawlid em outros países), ou seja, o nascimento do Profeta Maomé, que é celebrada este ano em 24 de dezembro. Isto não acontecia há 457 anos.
“É um sinal de Deus Todo-poderoso e nos convida à unidade na diversidade, como fiéis”, lê-se na mensagem enviada à Agência Fides. Os dois Bispos destacam que “a atualidade de nosso país nos convida, cristãos e muçulmanos, a encarnar o amor, o perdão, o respeito pelo outro no concreto das relações pessoais, para garantir a paz e incrementar a unidade nacional”. 
Também o Arcebispo de Dacar (Senegal) Dom Benjamin Ndiaye, em sua mensagem de Natal, fez votos que “a proximidade da festividade muçulmana de Maouloud e do Natal cristão, contribua para uma maior comunhão entre os fiéis, na oração e no amor fraterno”. 

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Papa Francisco na santa missa para as famílias

Basílica Vaticana
Domingo, 27 de dezembro de 2015
Sagrada Família de Jesus, Maria e José

As leituras bíblicas, que acabamos de ouvir, apresentam-nos a imagem de duas famílias que realizam a sua peregrinação à casa de Deus. Elcana e Ana levam o filho Samuel ao templo de Silo e consagram-no ao Senhor (cf. 1 Sm 1, 20-22.24-28). E da mesma forma José e Maria, juntamente com Jesus, vão como peregrinos a Jerusalém pela festa da Páscoa (cf. Lc 2, 41-52).
Muitas vezes os nossos olhos deparam com os peregrinos que vão a santuários e lugares queridos da devoção popular. Mesmo nestes dias, há muitos que se puseram a caminho para penetrar na Porta Santa aberta em todas as catedrais do mundo e também em muitos santuários. Mas o facto mais interessante posto em evidência pela Palavra de Deus é a peregrinação ser feita pela família inteira: pai, mãe e filhos vão, todos juntos, à casa do Senhor a fim de santificar a festa pela oração. É uma lição importante oferecida também às nossas famílias. Mais, podemos dizer que a vida da família é um conjunto de pequenas e grandes peregrinações.
Por exemplo, como nos faz bem pensar que Maria e José ensinaram Jesus a rezar as orações! E isto é uma peregrinação, a peregrinação da educação para a oração. E também nos faz bem saber que, durante o dia, rezavam juntos; depois, ao sábado, iam juntos à sinagoga ouvir as Sagradas Escrituras da Lei e dos Profetas e louvar o Senhor com todo o povo! E que certamente rezaram, durante a peregrinação para Jerusalém, cantando estas palavras do Salmo: «Que alegria, quando me disseram: “Vamos para a casa do Senhor!” Os nossos passos detêm-se às tuas portas, ó Jerusalém» (122/121, 1-2)!
Como é importante, para as nossas famílias, caminhar juntos e ter a mesma meta em vista! Sabemos que temos um percurso comum a realizar; uma estrada, onde encontramos dificuldades, mas também momentos de alegria e consolação. Nesta peregrinação da vida, partilhamos também os momentos da oração. Que poderá haver de mais belo, para um pai e uma mãe, do que abençoar os seus filhos ao início do dia e na sua conclusão? Fazer na sua fronte o sinal da cruz, como no dia do Batismo? Não será esta, porventura, a oração mais simples que os pais fazem pelos seus filhos? Abençoá-los, isto é, confiá-los ao Senhor, como fizeram Elcana e Ana, José e Maria, para que seja Ele a sua proteção e amparo nos vários momentos do dia? Como é importante, para a família, encontrar-se também para um breve momento de oração antes de tomar as refeições juntos, a fim de agradecer ao Senhor por estes dons e aprender a partilhar o que se recebeu com quem está mais necessitado. Trata-se sempre de pequenos gestos, mas expressam o grande papel formativo que a família possui na peregrinação de todos os dias.
No final daquela peregrinação, Jesus voltou para Nazaré e era submisso a seus pais (cf. Lc 2, 51). Também esta imagem contém um ensinamento estupendo para as nossas famílias; é que a peregrinação não termina quando se alcança a meta do santuário, mas quando se volta para casa e se retoma a vida de todos os dias, fazendo valer os frutos espirituais da experiência vivida. Sabemos o que Jesus então fizera: em vez de voltar para casa com os seus, ficou em Jerusalém no Templo, causando uma grande aflição a Maria e a José que não O encontravam. Provavelmente, por esta sua «escapadela», também Jesus teve que pedir desculpa a seus pais (o Evangelho não diz, mas acho que podemos supô-lo). Aliás, na pergunta de Maria, subjaz de certo modo uma repreensão, ressaltando a preocupação e angústia dela e de José. No regresso a casa, com certeza Jesus uniu-se estreitamente a eles, para lhes demonstrar toda a sua afeição e obediência. Fazem parte da peregrinação da família também estes momentos que, com o Senhor, se transformam em oportunidades de crescimento, em ocasiões de pedir e receber o perdão, de demonstrar amor e obediência.
No Ano da Misericórdia, possa cada família cristã tornar-se um lugar privilegiado desta peregrinação em que se experimenta a alegria do perdão. O perdão é a essência do amor, que sabe compreender o erro e pôr-lhe remédio. Ai de nós se Deus não nos perdoasse! É no seio da família que as pessoas são educadas para o perdão, porque se tem a certeza de ser compreendidas e amparadas, não obstante os erros que se possam cometer.
Não percamos a confiança na família! É bom abrir sempre o coração uns aos outros, sem nada esconder. Onde há amor, também há compreensão e perdão. A vós todas, queridas famílias, confio esta peregrinação doméstica de todos os dias, esta missão tão importante de que, hoje, o mundo e a Igreja têm mais necessidade do que nunca.

Fonte: Zenit.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Lutero e a Carta aos Romanos

contece daqui a dois anos o quinto centenário da Reforma Protestante e desde já se observa um renovado interesse por Lutero e pelos temas desse movimento. A próxima edição da revista La Civiltà Cattolica publicará um ensaio do padre Giancarlo Pani sobre a centralidade da carta de Paulo aos Romanos no pensamento de Lutero.

Lutero ensinava a ler e comentar a Bíblia na Universidade de Wittenberg, fundada havia pouco tempo pelo príncipe da Saxônia, Frederico, o Sábio. Depois de se dedicar à explicação dos Salmos, suas palestras focaram na Carta aos Romanos com uma leitura não puramente exegética, mas existencial, encontrando nas palavras de Paulo uma resposta para as suas inquietações.

Ao estudar a obra de Paul e os respectivos comentários de Santo Agostinho, Lutero chega às questões de justificação, graça e fé, centrais na reforma protestante.

O pe. Pani escreve: "Lutero quer destacar o maior pecado no homem. Não é só a rebelião contra a lei de Deus e o apego aos bens materiais, mas o acreditar que se pode vir a ser irrepreensível com os próprios esforços: não é raro ver judeus e hereges renunciarem aos bens materiais, mas poucos sabem renunciar às virtude, bens espirituais e méritos pessoais que são um impedimento muito maior para acolher a graça de Cristo. Esta é recebida apenas na fé e pela misericórdia de Deus. A salvação não vem do esforço do homem, como acham os "iustitiarii": um termo, este, talvez inventado e certamente valorizado extraordinariamente por Lutero, para indicar os que afirmam poder ser justos com o próprio esforço espiritual. A conclusão é lapidar: a santidade é um dom de misericórdia".

Curiosamente, para Lutero, a Carta aos Romanos era uma espécie de porta para a compreensão de toda a Escritura. "O primeiro mérito de Lutero é ter destacado, ainda que por vias tortuosas, o evangelho de Paulo, o mais antigo escritor do Novo Testamento e o primeiro intérprete da mensagem cristã. Para ele, a carta abre à inteligência de toda a Bíblia, que deve ser entendida toda de Cristo".

A reflexão de Lutero sobre as questões da justificação, da graça e da fé segue à de Paulo e Agostinho, mas nos vemos diante de algo diferente, se não revolucionário. A teologia luterana marcará de alguma forma o fim da Idade Média e dará início à era moderna, sacudindo os fundamentos da civilização. Escreve o pe. Pani: "Embora a exegese luterana da justificação somente pela fé tivesse raízes antiquíssimas na história do cristianismo, o seu efeito no século XVI foi avassalador. A interpretação, excluindo de forma absoluta todo mérito do homem para a salvação, questionava a piedade cristã que era a base da vida da Igreja e do compromisso dos leigos e membros das ordens religiosas, de caridade e de assistência".

Fonte: Zenit.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Onde será o Natal 2016?

Natal vem, Natal vai, no calendário da história.
Há muitos que estão cansados do Natal.
A que serve o presépio? Cantos Natalinos?
A manjedoura, o menino Jesus, Maria, José?
O canto de paz, quando a música da guerra
Semeia a morte?

O mundo louco decretou
Não haja mais Natal, nem de Jesus
e nem nasçam crianças!
Vamos esperar que a morte destrua a vida.
Acabamos com o Natal, festa de luz e de paz.
Os loucos estão soltos por aí. Eles querem ser
Os últimos,
Fechar as portas,
Cantar e dançar a dança do nada.
Deus não é louco de dar a vitória aos loucos.

A vida surge e ressurge a cada momento.
A vida no silêncio nos visita.
“Do Verbo divino
uma Virgem grávida
Vem a caminho
Pede-vos pousada...”

Eis o novo Natal
Jesus nasce e renasce
Onde?
Em ti.
Tu és o Natal;
Tu és meu Natal;
Eu sou o teu Natal;
Nós somos o Natal!

Natal é derrota do mal,
Vitória do bem.
Tu és a estrela que guia e ilumina
Tu és o perdão e a misericórdia,
Tu és a nova Belém, 
Onde o Cristo quer nascer.

Natal, silêncio de escuta,
Palavra que se faz carne,
Presença que dá paz e perturba.
Jesus veio sem ti,
Ele precisa de ti, de mim,
Para que o mundo seja
Casa de pão, de vida e de luz.

Natal
Não fechar as portas a quem
Pede um lugar para nascer,
Um sorriso,
Um canto,
Um beijo que redoa a coragem,
Que dá olhos de amor e de paz.
Feliz Natal! Doa-me o teu Jesus e recebe o meu Jesus!

Cairo, Egito, Natal 2015
Frei Patricio Sciadini OCD

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O Natal do Jubileu e a misericórdia no tempo novo

Se o Natal, para aqueles que acreditam, é sempre a festa de um Deus que não se cansa da humanidade, o deste ano se colore do caráter do Jubileu da misericórdia, convocado pelo papa Francisco para que a Igreja viva uma experiência renovada da misericórdia divina e a anuncie com entusiasmo e convicção a cada homem.

"Misericórdia - escreve o papa - é o ato último e supremo com que Deus vem ao nosso encontro... A misericórdia é o caminho que une Deus e o homem, porque abre o coração à esperança de ser amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado" (Misericordiae vultus, bula do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, 11 de abril de 2015, 2).

Para ajudar aqueles que o desejam a viver este Natal como um tempo de misericórdia, abrindo-se ao significado mais profundo dessa palavra, gostaria de refletir sobre os termos usados na Bíblia para dizer "misericórdia". A "língua santa" (leshon ha-qodesh), o hebraico da Bíblia, tem um número muito limitado de termos (5750), mas é capaz de expressar a realidade vasta e complexa da experiência humana fazendo uso de imagens que tornam densamente evocativa a ideia que se quer comunicar: por exemplo, para dizer "misericórdia", o hebraico usa "rachamim", termo que designa o ventre materno, o útero em que toda vida tem início.

É a ideia de uma gratuidade originária (a vida não somos que nós que nos damos: ela nos é dada!), de uma custódia primordial que acolhe, nutre e protege, e das trevas em que a criatura concebida vive em simbiose com quem a carrega em si e de quem recebe alimento, impulso e proteção. Dentro das relações que nos fazem humanos, a imagem lembra o sentimento íntimo de comunalidade que liga o concebido à mãe, o vínculo originário do amor que faz viver entre quem dá a vida e quem a recebe: sentimento de ternura e comoção profunda ("Meu coração se comove e sinto por ele uma profunda ternura": Jeremias 31,20).

A misericórdia assim compreendida evoca o mundo dos afetos originários, o amor visceral que une o gerado a quem lhe dá vida, o amor que, por natureza, é livre e não condicionado pela reciprocidade, movido unicamente pela vontade de bem pelo outro. Neste sentido, São Bernardo pode dizer que "Deus não nos ama porque somos bons e belos, mas nos torna bons e belos porque nos ama".
 
O outro termo que o hebraico usa para a ideia de misericórdia é "chesed": similar em significado a "rachamim", difere dele em sua gênese. Enquanto o amor visceral é originário e espontâneo, "chesed" é o resultado de uma deliberação e tem uma relação caracterizada por direitos e deveres: é o bem devido, ou, pelo menos, o que se espera como tal. É o amor com que o Senhor se destina ao seu povo, quase obrigando-se a isso, e pelo qual o salmista pode dizer: "Lembra-te, Senhor, da tua misericórdia e do teu amor, que são eternos" (Sl 25, 6).

É a bondade que se expressa no perdão, na compaixão e na piedade, com base na fidelidade a um compromisso que envolve dedicação plena, com vínculos de natureza ou por dever livremente assumido. Neste contexto, é compreensível que a ideia de misericórdia no Antigo Testamento se conecte à de aliança, promessa e cumprimento: todo o mundo espiritual da aliança entre o Senhor e seu povo traz o signo da misericórdia, de um amor que é livremente escolhido e querido até o fim, na fiel realização do projeto que implica para o bem do amado.

Expressa de uma forma intensa o profeta Oseias: "Farei de ti minha esposa para sempre, no direito e na justiça, no amor e na bondade; farei de ti minha esposa na fidelidade e conhecerás o Senhor" (2, 21s). É a segurança que no exílio e na difícil volta à terra dos pais o último Isaías testemunha: "Eu quero lembrar os benefícios do Senhor, as glórias do Senhor, quanto Ele tem feito por nós. Ele é grande em bondade para com a casa de Israel. Ele nos tratou segundo a sua misericórdia, de acordo com a grandeza da sua graça" (63,7).

O grego do Novo Testamento é o herdeiro do vocabulário hebraico da misericórdia: a expressão equivalente a "rachamim" é "splánchna", que literalmente significa "vísceras". Dela deriva o verbo usado na parábola do filho pródigo para expressar a reação do pai ao ver seu filho que retorna: "esplanchníste" - "teve compaixão" (Lucas 15,20). Ele é um Pai de "vísceras" maternas! Um Deus de amor livre e radiante, sempre pronto para começar de novo com aqueles que voltam a Ele de coração arrependido e com necessidade de misericórdia. Ele é um Deus "visceralmente" enamorado da sua criatura, como a mãe o é pelo filho do seu ventre, em um nível de perfeição e de pureza de amor que só o Criador e Redentor do homem pode alcançar.

A misericórdia evoca, assim, as ideias de gratuidade, custódia e confiabilidade incondicional, baseadas numa relação de amor originário, fonte de vida sempre nova, que todos, sem exceção, ansiamos e necessitamos.
O augúrio para este Natal do Ano Jubilar da Misericórdia, então, eu gostaria de formular desta maneira: que seja, para todos, um novo tempo da misericórdia recebida como dom e oferecida gratuitamente, na alegria singela e exigente de amar, deixando-nos amar pelo Deus que se aproxima de nós na pequenez de uma criança.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Cristãos refugiados perdoam jihadistas do "Estado Islâmico" pelo mal que lhes causaram

Através do Arcebispo de Erbil, D. Bashar Warda, a comunidade cristã que vive no campo de refugiados de Mar Elias, no Iraque, envia uma poderosa mensagem de Natal aos jihadistas do auto-proclamado “Estado Islâmico” que os perseguiram, ameaçaram e conduziram à situação em que se encontram: de mãos vazias, totalmente dependentes da caridade internacional.
Na referida mensagem, dirigida a “todos os povos e nações”, que sejam "livres ou em guerra, ricos ou pobres”, D. Bashar afirma acreditar que “o novo ano irá trazer a paz para a região”.
Dirigindo-se directamente aos jihadistas – responsáveis por mais de 1,5 milhões de deslocados internos no Iraque -, D. Warda oferece-lhes o perdão, o desejo de paz e o amor. “Àqueles que nos matam, violam e torturam - nós perdoamos-vos. Àqueles que querem a guerra - nós levamos a paz. Àqueles que nos odeiam - nós amamos-vos."
“O Natal – acrescenta o prelado – não significa apenas a troca de saudações” entre as pessoas, mas é também um tempo de “oração para que o homem” possa “estender a mão da paz e da reconciliação a todos” os outros.
Nesta mensagem, enviada directamente para a Fundação AIS – que apoia os refugiados neste campo de Mar Elias -, o Arcebispo de Erbil faz ainda um apelo: “basta de lutas, basta de guerras”. E acrescenta, traduzindo o sentimento de todos: “Estamos cansados de andar de um lado para o outro. Estamos cansados de não ter casa. Trabalhemos juntos para que todos os homens possam viver em paz nas suas casas.”
O Arcebispo de Erbil afirma ainda que a celebração do Natal, do nascimento de Jesus, é também a “celebração de um refugiado”.
"Hoje celebramos o nascimento de Jesus. Celebramos um refugiado, como nós. Celebramos uma família desalojada, como nós. Uma família forçada a dormir onde se guardam os animais. Uma família forçada, através da violência, a deixar a sua casa para viver numa terra estrangeira…" E conclui este raciocínio dizendo: “Estamos a viver hoje esta mesma história de Natal."
Dirigindo-se a todos os cristãos refugiados no campo de Mar Elias, D. Warda pediu-lhes para “ouvirem a voz de Deus” nos seus corações. “Ouçam. Não tenham medo. Deus é amor, Ele ouve carinhosamente os gemidos dos oprimidos, dos marginalizados e dos desalojados. Ele escolhe estar com eles onde quer que estejam… quem quer que sejam. Ele esteve na vossa pele e viveu as vossas aflições. Ele está convosco no vosso sofrimento e convida-nos a celebrar o Seu nascimento… e sonhar.”
O prelado continuou esta mensagem lançando um desafio: “vamos trabalhar juntos – a fim de que um dia já não sejamos desalojados. Jesus Cristo, um refugiado, é a vossa esperança. Ele é a minha esperança”.
Uma mensagem de vídeo estará disponível no Youtube a partir do dia 24 de Dezembro para ser partilhada nos media com o seguinte link:  https://youtu.be/GToGOoi3Pk

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Natal, Oásis de Misericórdia

“Natal, Oásis de Misericórdia” é o título da Mensagem de Natal do Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga. A Mensagem foi inspirada nas palavras do Papa Francisco que aparecem na Bula de proclamação do jubileu extraordinário da misericórdia: “onde houver cristãos –, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia”.
O Arcebispo apelou à atenção de todos os cristãos para as várias realidades que existem na atual “sociedade enferma” e que constituem verdadeiros “desertos humanos”, lê-se em nota da arquidiocese. “Desertos que habitam além do nosso imaginário ou à distância da televisão”, que aparecem todos os dias perto de nós. E convidou a ir ao encontro destes desertos como oásis que sacia a sede.
“Acordemos e ouçamos tantos gritos a pedir ternura, carinho, tempo, atenções, dinheiro! Podem estar em nossa casa, na nossa família, na mesma rua, na mesma aldeia ou cidade. Iremos precisar de muita valentia e coragem para recomeçar sempre”.
“Certamente o cansaço irá surgir, poderemos até vacilar, mas a esperança num mundo mais fraterno tem que persistir. Está nas nossas mãos, na mão de todos, construir esse mundo mais fraterno. As adversidades e o cansaço não podem ser obstáculos naquilo que é um direito essencial de todos, o da água abundante”, alertou.
Por fim, ele questiona se não seria interessante “descobrir algum ateu ou agnóstico, alguém afastado das obrigações cristãs a quem sejamos capazes de ouvir (...) prestando todos os esclarecimentos e propondo um encontro com Deus?”.
“Bom Natal nesta peregrinação do encontro diário com Cristo em todos os rostos humanos, sobretudo naqueles que se encontram mais desencantados com a vida e naqueles que se afastam ou vivem à margem de Deus”, concluiu.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

"Tecendo a santidade", livreto de pensamentos da serva de Deus Madre Tereza Margarida

“Eu espero no céu encontrar muitas almas revestidas de pureza pelos tricôs que eu faço, pois ofereço cada pontinho pela criancinha que vai usá-lo”.
A santidade, como sabemos, é ‘tecida’ dia a dia. Cada ato de virtude ou de amor é um ponto que vamos dando para concluir essa obra. Não que tenhamos algum mérito nisso, mas pela Benevolência do Pai e com Seu Olhar Misericordioso, Ele não vê tanto o ‘avesso’ do nosso trabalho, muitas vezes, mal feito e inacabado, mas contempla o lado ‘direito’, ou seja, vê nosso esforço e boa vontade.
Assim foi a vida de Nossa Mãe. Uma vida tecida de virtudes, praticadas no oculto, no escondido. Mas, soube dar a cada momento um valor de eternidade.
O livreto “Tecendo a Santidade” contém pequenos pensamentos, máximas, conselhos ou exortações da Serva de Deus, que foram recolhidos, a fim de se tornarem ‘pontinhos de luz’ em nosso dia a dia. E, possamos nós também, através de pequenos gestos de amor concluir a obra que o Pai nos confiou.
Abaixo a nota do bispo da Diocese de Campanha sobre o livro:
***
A Serva de Deus Tereza Margarida do Coração de Maria era uma artesã da Palavra. Como o tecelão que, no aparente emaranhado dos fios, realiza uma bela obra de arte, a Serva de Deus arquitetava projetos na mente e no coração. E ela os traduzia em palavras poéticas.
“Tecendo Santidade” é uma coletânea de “pensamentos” redigidos por Nossa Mãe. Quase sempre eram escritos em forma de bilhetes, de maneira breve. Outros, um pouco mais longos, eram como cartinhas de orientação, com bons conselhos e promessa de oração ou votos de bem-estar.
Pode-se imaginar quanto bem esses “pensamentos” produziam nas pessoas que os recebiam! Eram sinais da gentileza e da amabilidade de uma religiosa que, dentro do claustro carmelitano, respirava santidade. Seus “pensamentos” são imbuídos de uma espiritualidade simples, mas vigorosa.
A leitura do livreto “Tecendo Santidade” pode ajudar a todos. Não só os que conheceram a Serva de Deus, mas também aqueles que procuram “alimento espiritual”. Ela bebia na fonte da Palavra de Deus e nos escritos dos grandes místicos da Ordem Carmelitana. Por isso seus “pensamentos” são sempre atuais.
Agradecemos ao Carmelo São José, em Três Pontas, MG, proporcionar-nos essa boa leitura. E rogamos à Serva de Deus Tereza Margarida que nos ajude a trilharmos o caminho da alegria e da simplicidade, a fim de podermos tecer santidade.

† d. fr. Diamantino P. de Carvalho, ofm, Bispo da Diocese da Campanha
Campanha, 4 de novembro de 2015.   

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Papa nos convida a ver o Natal nos outros, na história e na Igreja

O Papa Francisco rezou, como todo domingo, a oração mariana do Angelus da janela do Palácio Apostólico, com os fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Neste quarto domingo do Advento, estavam presentes as crianças do Oratório Romano, que celebram hoje o Jubileu - para a bênção das imagens do Menino Jesus, que serão colocadas nos presépios de suas famílias, escolas e paróquias.
Antes de rezar o Angelus, o Papa disse:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo do Advento coloca em evidência a figura de Maria. A vemos quando, logo após a concepção na fé do Filho de Deus, enfrenta a longa jornada de Nazaré da Galiléia para as montanhas da Judéia para visitar e ajudar Isabel. O anjo Gabriel lhe havia dito que sua parente idosa, que não tinha filhos, estava no sexto mês de gestação (cf. Lc 1,26.36). Por isso, Nossa Senhora que carrega um dom e um mistério ainda maior, vai visitar Isabel e permanece com ela por três meses. No encontro entre as duas mulheres – imaginem - : uma anciã e a outra jovem; é a jovem, Maria, que primeiro cumprimenta. O Evangelho diz: "entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel" (Lc 1,40). Após a saudação, Isabel sentiu-se envolvida por uma grande surpresa - não se esqueçam desta palavra: surpresa. Isabel se sente envolvida por uma grande surpresa que ressoa em suas palavras: "A que devo a honra que a mãe do meu Senhor venha me visitar?" (V. 43). E elas se abraçam, se beijam, alegres estão estas duas mulheres: a anciã e a jovem, ambas grávidas.
Para celebrar o Natal de uma forma profícua, somos convidados a deter-nos sobre os "lugares" da surpresa. E quais são esses lugares de surpresa na vida cotidiana? São três. O primeiro lugar é o outro, no qual reconhecer o irmão, porque desde que aconteceu o Natal de Jesus, cada rosto assemelha-se ao Filho de Deus. Sobretudo quando é o rosto do pobre, porque Deus entrou no mundo pobre e para os pobres, as antes, deixou-se aproximar.
Outro lugar de surpresa em que, se olharmos com fé o encontraremos, o segundo, é a história. Tantas vezes nós pensamos que estamos olhando de modo correto, mas, em vez disso, corremos o risco de ver às avessas. Isso acontece, por exemplo, quando nos parece determinada pela economia de mercado, regulada pelas finanças e pelos negócios, dominada pelos poderosos. O Deus do Natal é sim um Deus que "baralha as cartas": Ele gosta! Como canta Maria no Magnificat, é o Senhor que depõe os poderosos de seus tronos e eleva os humildes, enche de bens os famintos com manda embora os ricos de mãos vazias (Lc 1,52-53). Esta é a segunda surpresa, a surpresa da história.
O terceiro lugar de surpresa é a Igreja: enxerga-la com a surpresa da fé significa não limitar-se a considerá-la apenas como uma instituição religiosa, mas senti-la como mãe que, embora com manchas e rugas - temos tantas! – deixa transparecer os traços da esposa amada e purificada por Cristo Senhor. Uma Igreja capaz de reconhecer os vários sinais do amor fiel que Deus continuamente lhe envia. Uma Igreja para a qual o Senhor Jesus nunca será uma posse a defender com ciúme: aqueles que fazem isso, erram; mas Aquele que vai ao encontro e sabe esperar com confiança e alegria, dando voz à esperança do mundo. A Igreja que chama o Senhor: "Vem Senhor Jesus!". A Igreja mãe que sempre tem as portas abertas e os braços abertos para acolher a todos. A Igreja mãe que tem sempre as portas abertas e os braçps abertos para acolher a todos. A Igreja mãe que sai das próprias portas para procurar com sorriso de mãe todos os longínquos e levá-los à misericórdia de Deus. É esta a surpresa do Natal!
No Natal, Deus nos dá tudo de si, dando-nos seu o seu Filho, o Único, que é toda a sua alegria. E somente com o coração de Maria, a humilde e pobre filha de Sião, que tornou-se a Mãe do Filho do Altíssimo, é possível exultar e alegrar-se pelo grande dom de Deus e pela sua surpresa imprevisível. Que ela nos ajude a ter a percepção da surpresa - estes três lugares de surpresa: o outro, a história e a Igreja - para o nascimento de Jesus, o dom dos dons, o dom imerecido que nos traz a salvação. O encontro com Jesus também nos fará sentir esta grande surpresa. Mas não podemos ter esta surpresa, não podemos encontrar Jesus se, não O encontramos nos outros, na história e na Igreja.
(Apelo)
Queridos irmãos e irmãs,
Também hoje dirijo um pensamento à amada Síria, expressando profunda gratidão pelo acordo alcançado apenas pela comunidade internacional. Encorajo todos a continuar com generoso impulso o caminho para a cessação da violência e uma solução negocial que conduza à paz. Penso também na vizinha Líbia, onde o recente empenho entre as partes para um governo de unidade nacional convida à esperança para o futuro.
Gostaria também de apoiar os esforços de colaboração que são chamados a Costa Rica e Nicarágua. Espero que um renovado espírito de fraternidade reforce ainda mais o diálogo e a cooperação mútua, bem como entre todos os países da Região.
Meus pensamentos neste momento se dirigem às caras populações da Índia, recentemente atingida por uma grave inundação. Rezemos por estes irmãos e irmãs que sofrem devido a essa calamidade e confiemos as almas dos defuntos à misericórdia de Deus. Rezemos por todos estes irmãos da Índia uma Ave Maria.
Saúdo com afeto a todos, queridos peregrinos vindos de vários países para participar deste encontro de oração. Hoje, a primeira saudação é para crianças de Roma. Mas essas crianças sabem fazer barulho! Eles vieram para a tradicional bênção do "meninos", organizada pelo Centro de Oratórios Romanos. Queridas crianças, escutem bem: quando rezarem diante do presépio, lembrem-se de rezar por mim, como eu me lembro de vocês. Obrigado e Feliz Natal!
Saúdo as famílias da comunidade "Crianças no céu" e os relacionados, na esperança e na dor, ao Hospital Menino Jesus. Queridos pais, eu lhe asseguro a minha proximidade espiritual e os encorajo a continuar o caminho da fé e da fraternidade.
Saúdo a polifonia vocal de Racconigi, o grupo de oração "Os jovens do Papa" - obrigado pelo apoio de vocês! E os fiéis de Parma.
Desejo a todos um bom domingo e um Natal de esperança e cheio de surpresa, da surpresa que nos dá Jesus, cheio de amor e de paz. Não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até logo!

Fonte: Zenit.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Preparemo-nos para o Natal sem separar o que é divino do que é humano

O Tempo do Advento vivido pela Igreja e oferecido ao mundo como apelo à conversão é cheio de ensinamentos, correspondentes às realidades de nossa fé. Séculos se passaram, gerações e gerações de homens e mulheres plantaram e alimentaram a esperança, aguardando o cumprimento das promessas de Deus. Os profetas foram arautos da benevolência de Deus, cujo carinho e cuidado se refletia na atenção com aquele povo limitado e ao mesmo tempo teimoso na expectativa da realização dos planos de Deus.
Os tempos amadureceram e Deus realizou suas promessas, de forma surpreendente para todos os atores envolvidos na magnífica trama, cujas cenas se repetem diante dos olhos do mundo, nos presépios, pinturas, filmes, encenações teatrais, todas tentativas justificadas de uma aproximação ao mistério, que supera continuamente os nossos esforços. Por mais que nos empenhemos em penetrar nas páginas dos evangelhos, sempre estas nos superarão, pois se trata de realidades pensadas desde toda a eternidade. Possuí-las completamente seria pretender-nos maiores do que o próprio Deus. Surpresas fazem parte da revelação, processo que se completou com o final da era apostólica, mas se torna dom para cada pessoa de fé. A nós, na presente geração, cabe a abertura ao mistério, deixar que o coração se abra à perene novidade de Deus. Ninguém pretenda que a Bíblia esteja fechada, mas acolha continuamente a beleza do que Deus pode e quer oferecer-nos. Basta começar a aventura que começa com a profissão de fé no amor eterno de Deus.
A plenitude dos tempos aconteceu com a vinda do Salvador do mundo, nascido de uma mulher, como ensina o Apóstolo São Paulo: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4, 4-5). Não é que os tempos amadureceram por si, mas o amor de Deus os fez completos, quando enviou o seu Filho ao mundo. A mulher que participou de perto, em nosso nome, da realização do mistério, é a Virgem Maria. Sua aventura pessoal foi de extrema simplicidade e, por isso mesmo, decisiva profundidade! Recebeu um anúncio, cujos detalhes certamente superam a aproximação da narrativa evangélica, especialmente nos descritos de São Lucas. Acredita-se que este evangelista tenha estado bem perto de Maria, com a qual teria dialogado, para descobrir coisas que só podiam vir das fímbrias do coração da Mãe.
Algumas atitudes de Maria nos fazem entrever a grandeza do mistério. Sua humanidade tinha sido muito preservada, certamente pela formação recebida de seus pais, Joaquim e Ana. Seu modo de agir e o canto do Magnificat revelam uma alma aberta para Deus, pronta para dar a grande resposta, em nome de todos os homens e mulheres, carentes da salvação que vem do alto. A viagem às montanhas de Judá foi feita com a presteza de quem se dispõe a servir e fazer o bem. Os três meses passados com Isabel, na preparação próxima do nascimento de João Batista foram vividos na dedicação, orvalhados de oração e diálogo, partilha sincera a respeito da obra realizada por Deus na alma daquelas duas mulheres, gerações diversas que se faziam uma coisa só, ligadas pelos laços do mistério.
Isabel, por sua vez, tinha amadurecido junto com seu esposo Zacarias, com a fé expectante e corajosa, capaz de enfrentar os sofrimentos, dos quais o maior terá sido a esterilidade, no meio de um povo desejoso de ver nascer em algum dos lares o Messias prometido. Uma de suas características, revelada esta pelas palavras pronunciadas à chegada de Maria, era a visão de fé, capaz de superar as aparências. De sua boca veio a primeira bem-aventurança: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Cf. Lc 1, 39-45). Seu marido, sacerdote judaico, participou intensamente da manifestação da obra de Deus. E Maria, retornando a Nazaré, foi plenamente acolhida por José, seu esposo, a quarta figura neste quadro maravilhoso.
Mais do que as palhas da manjedoura, o mistério repousou sobre a aventura de fé vivida por tais personagens, às quais outras tantas se ajuntaram, passando por magos, pastores, anjos e animais do presépio! A maravilha que descobriram e da qual participaram foi o fato de Deus se tornar homem. Descobriram que os primeiros vagidos daquela criança inocente, nascida na pobreza, eram melodia para os ouvidos e o coração da humanidade. A carta aos Hebreus, no trecho proclamado no quarto Domingo do Advento, afirma de forma consoladora e exigente: “Por essa razão, ao entrar no mundo, Cristo declara: “Não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste um corpo para mim. Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Então eu disse: Eis que eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade, como no livro está escrito a meu respeito” (Hb 10, 5-7).
Aquele que está acima dos céus, Deus infinito, que sabemos ser desde toda a eternidade Filho do Pai Eterno, assume uma carne, começa de pequeno, na escola da vontade do Pai. Sendo Filho, aprendeu a obedecer! (Cf. Hb 5,8). “Ele, existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome, para que, no Nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse: ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 6-11). Ele não se envergonha de nada do que é humano! Só Deus pode ser assim, no meio de um mundo que rejeita pessoas e situações marcadas pela fragilidade e pela pobreza. Em tempo de Jubileu da Misericórdia, preparemo-nos para o Natal sem separar o que é divino do que é humano. E a humanidade fica muito melhor, infinitamente restaurada, por saber que nele e só nele se encontra a esperança!
Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

sábado, 19 de dezembro de 2015

A vida missionária? Uma vida feliz ...

Na Audiência Geral do 2 de dezembro, dedicada à sua viagem à África, o Papa Francisco recordou o encontro com uma irmã italiana em Bangui, de 81 anos, com uma menina que a chamava de ‘avó’. A freira enfermeira e obstetra está na África desde os 24 anos. Francisco se comoveu e disse: "E, como esta freira, há muitas irmãs, padres, religiosos que queimam a vida para anunciar a Jesus Cristo. É bonito ver isso”.
Sempre falando de improviso, acrescentou: “Dirijo-me aos jovens: se você pensa no que quer fazer da sua vida, este é o momento de pedir ao Senhor que te faça sentir a Sua vontade. Mas não exclua, por favor, esta possibilidade de tornar-se missionário, para levar o amor, a humanidade, a fé em outros países. A fé se prega antes com o testemunho e depois com a palavra. Lentamente”. Na Uganda, em memória dos Mártires da Uganda e de Paulo VI, o Papa disse: "Sereis minhas testemunhas" (At 1,8) ... Tereis a força do Espírito Santo”, porque é o Espírito que anima o coração e as mãos dos discípulos missionários”. Toda a visita a Uganda aconteceu no fervor do testemunho animada pelo Espírito Santo.
O apelo do Papa pelas vocações missionárias deve ser continuado. Os missionários italianos entre os não-cristãos e na América Latina (sacerdotes, irmãos, irmãs, leigos voluntários) são ainda mais de 10.000, mas rapidamente diminuem; eu os encontrei nos países mais difíceis, como Somália, Eritreia, Etiópia, Zimbabwe, Líbia, Namíbia, Ruanda, Burundi, Congo, Papua Nova Guiné, Birmânia, Paquistão, etc. Os bispos locais queixam-se da sua diminuição e pedem reforços aos jovens.
Como é a vida missionária? Deixo-lhes a minha experiência pessoal. Quando eu ainda estava no ensino fundamental, Jesus me chamou para segui-lo e eu lhe disse que sim. Confiava em Jesus e hoje, aos 86 anos e depois dos 63 de sacerdócio e missão, posso dizer que tive uma vida serena, com muitos cansaços, perigos, perseguições e sofrimentos, mas uma vida cheia de entusiasmo e de alegria e não paro de agradecer a Jesus que me chamou.
Feliz por quê? Porque o sacerdote é "um outro Cristo", representa a Cristo, do qual todos os povos e todos os homens têm necessidade. A nossa vocação é o máximo de realização que podemos esperar da nossa pequena vida. Eu vivi e continuo a viver com um objetivo forte e claro: estar apaixonado por Jesus e fazê-lo conhecido e amado. Sei que Jesus me ama, me protege, está sempre comigo, não me abandona nunca, me guia, me perdoa, me dá tudo o que preciso e também muito mais... “O Senhor é o meu pastor, diz o salmo 26, nada me faltará... Se caminho por vales escuros, nenhum mal eu temerei, porque está comigo, oh, Senhor”.
Em minhas visitas às missões, eu conheci muitos missionários felizes de gastar a vida para fazer Jesus conhecido e amado. Eis, brevemente, o beato Clemente Vismara (1897-1988), beatificado no dia 26 de junho de 2011, na Piazza Duomo, em Milão, que é o ícone da missão ad gentes do século passado. Visitei-o na Birmânia em 1983, quando tinha 86 anos e me falava do seu futuro e da sua missão. Contava que tinha decidido fazer-se missionário depois de participar da primeira guerra mundial, onde ganhou também uma medalha de coragem militar: “Vivi três anos nas trincheiras e vi muitos massacres, destruição, ódio e violências gratuitas, até que me convenci: só por Deus vale a pena gastar a vida. E me tornei um missionário”.
Também os jovens de hoje estão em uma situação semelhante: a sociedade italiana está se autodestruindo e perdeu as suas raízes e a sua identidade cristã. Assim, está sendo assediada por um islã jovem e guerreiro que quer converter-nos a Deus e às leis islâmicas (Sharia) e nos ameaça de perto. Mesmo hoje só por Deus vale a pena gastar a vida. O jovem católico deve pedir ao Senhor Jesus: “O que devo fazer da minha vida?”. E se Jesus te chama, não lhe diga que não. Te prometeu o cêntuplo nesta vida e depois a vida eterna no paraíso. Confie nele.
Escrevi a biografia do Beato Clemente (Fatto per andare lontano, Emi 2013, italiano): é um romance de aventura, não inventado como aqueles de Emilio Salgari e muitos outros, mas todos verdadeiros e autênticos, como confirmado por mais de cem testemunhas da sua vida para o processo canônico de beatificação. Aventuras humanas fascinantes. Muitos leitores do livro me disseram que quem começa a ler, segue adiante até pela própria curiosidade de ver como termina a vida deste sargento maior da primeira guerra mundial, que se “torna caçador de tigres e de almas”, vive e trabalha durante 65 anos entre um povo tribal que está saindo da pré-história, em um ambiente florestal povoado por animais selvagens e por milhões de insetos, morando por seis anos em um galpão de lama e palha (quando chovia tinha que abrir o guarda-chuva em seu sofá), muitas noites passadas na floresta aberta (com o fogo aceso para afastar os animais selvagens), acostumado a comer com os moradores locais (arroz com pimentão, peixes, ervas e raízes picadas e cozidas), prisão e ditaduras persecutórias, ladrões de rua e traficantes de ópio (no "Triângulo Dourado", que produz 40% do ópio mundial), febre negra fulminante e hanseníase ... Mas a alegria no coração era grande e Jesus ajudava a superar todas as dificuldades.
Clemente visitava as aldeias pagãs e levava meninos e meninas para serem educados pelas freiras, com ajuda das viúvas expulsas dos vilarejos. Clemente se apaixonava pelos pobres, pelos pequenos, pelos deserdados, pelos que não tinham nada. Levava todos para as missões; fazia-os trabalhar segundo as possibilidade de cada um e lhes dava uma dignidade nova: manter-se com o próprio trabalho. Assim nasceu a Igreja local e Clemente fundou cinco novas paróquias partindo do zero, com dezenas de milhares de cristãos e todas as estruturas necessárias, até um hospital mantido pelas freiras de Maria Bambina...
Morreu aos 91 anos “sem nunca ter envelhecido”, diziam os irmãos; as pessoas chamavam-no de “o sacerdote que sorri sempre” e, no enterro, um mar de pessoas, também budistas e muçulmanos, choravam a sua morte; e no processo diocesano para a beatificação várias pessoas caminharam por dias para virem a Kengtung dar seu próprio testemunho. O lema do beato é “Fazer felizes os infelizes”, que é também o título do livro sobre a sua personalidade e a espiritualidade de Clemente (EMI, 2014). Sua espiritualidade é simples, mas fortíssima, fundamentada em uma verdade nascida pela experiência vivida do Evangelho: “A vida é bela só se for doada”. Toda uma vida gasta “para fazer felizes os infelizes”.
Este livro é dedicado aos jovens, especialmente aqueles que procuram um ideal para gastar bem a vida.
Feliz Natal de Jesus a todos do vosso Piero Gheddo

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

"O termo correto é 'reconciliação' da Igreja católica com o Pe. Cícero e não 'reabilitação' ", disse Dom Fernando Panico

O termo correto é "reconciliação da igreja católica com o Pe. Cícero e não reabilitação", afirmou hoje à Rádio Vaticano, Dom Fernando Panico, bispo da diocese de Crato (CE), referindo-se à carta da reconciliação, enviada pelo Papa Francisco à Diocese de Crato em outubro deste ano e assinada pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin.
O conteúdo da carta - disse Dom Fernando - responde a um anseio de mais de 9 anos, da diocese do Crato e de várias dioceses do Brasil, que esperavam uma posição do papa para reconhecer a santidade do pe. Cicero.
"Bom conselheiro, padre acolhedor, o bom amigo de todos, o padre que sabia ouvir, que saía de si mesmo e convidava os outros a fazer o mesmo", disse, elogiando as virtudes do sacerdote.
O bispo de Crato destacou à Radio Vaticano, que a carta, em si, não entrou no mérito da história pessoal do santo popular e da época dele, "um tanto conturbada".
Portanto - disse - o que recebemos do coração do papa Francisco foi uma mensagem de confiança, de esperança, de solidariedade com todo esse povo romeiro, dizendo ao povo romeiro, “continuem por esse caminho”: de estar atento aos outros, a não fechar-se em si mesmo” procurando imitar aquele que viveu o sacerdócio dando exemplo de virtudes humanas e sacerdotais.
Por fim, o bispo de Crato, afirmou que "a carta que chegou de Roma supera o pedido de reabilitação que nós fizemos". Assim sendo, o "termo propriamente que o papa usa e que nós devemos usar não é reabilitação, mas reconciliação da igreja católica com o Pe. Cícero".
No último domingo, 13 de dezembro, data da abertura da porta santa nas várias dioceses do mundo, Dom Fernando Panico deu a conheceu aos fieis, durante a homilia, os principais pontos da carta, ainda não publicada na íntegra.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

"Milagre" na China: 10 mil católicos clandestinos celebram o jubileu sem ser presos

"É um milagre! É uma proteção do Céu", consideram os entusiastas católicos chineses da comunidade clandestina de Zhengding (Hebei), que, neste domingo, se reuniram para celebrar o início do Jubileu e a abertura da Porta Santa.
O "milagre", explica a agência AsiaNews, é que a polícia, sempre diante da igreja, não fez nada para impedir o gesto e não prendeu ninguém. Além disso, quem presidiu a liturgia, das 8h30 às 12h30, foi o bispo dom Julius Jia Zhiguo, não reconhecido pelo governo e mantido em prisão domiciliar durante anos por se recusar a aderir à Associação Patriótica, o órgão do Partido Comunista que gerencia uma “Igreja Católica” independente do papa e de Roma.
Dom Jia Zhiguo é vigiado dia e noite e, com frequência, é levado para uma ou duas semanas "de férias" pela Associação Patriótica, ou seja, para cursos de doutrinação e lavagem cerebral. Mesmo controlado, o prelado conta com a estima da polícia e da população. Durante longo tempo, em sua casa, ele abrigou cerca de 200 crianças abandonadas e pessoas portadoras de deficiências, cuidando delas pessoalmente com a ajuda de algumas freiras e fiéis.
A abertura solene da Porta Santa em Zhengding foi precedida por uma procissão e uma série de leituras da Misericordiae Vultus, a bula com que o papa Francisco proclamou o Jubileu. Depois de aberta a Porta Santa, houve a cerimônia eucarística. “É incrível – disse uma freira - que tantas pessoas tenham podido se reunir durante tanto tempo sem ninguém ser preso”.
Faz anos que o governo chinês tenta eliminar as comunidades clandestinas que realizam atos religiosos considerados "criminosos" pelo Partido. Muitos sacerdotes envolvidos estão presos. Nos últimos meses, tem havido forte pressão contra sacerdotes e bispos clandestinos para se juntarem à Associação Patriótica, inclusive com tentativas de suborno.
 
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Francisco, o rebelde sozinho entre os "lobos"

Na manhã deste 14 de dezembro, a Cinemateca Vaticana celebrou o 46º aniversário da ordenação sacerdotal do papa Francisco projetando o primeiro episódio da produção argentina, “Francisco, o papa rebelde”.

É a primeira série de TV sobre o papa Francisco elaborada com base na sua única biografia autorizada, “El jesuita”, de Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin.

O aspecto inovador da produção é que, desde o primeiro episódio, há referências bem claras ao segundo caso Vatileaks, que envolve os jornalistas Gianluigi Nuzzi e Emiliano Fittipaldi, além de Francesca Chaouqui e do mons. Lucio Angel Vallejo Balda, processados por furtar e divulgar documentos financeiros da Santa Sé.

Os produtores da série negam toda ligação com o vazamento de documentos privados, até porque, dizem, "ninguém sabia ainda o que estava acontecendo no Vaticano quando foram iniciadas as filmagens".
As explicações são mais do que legítimas, mas a série desfrutará, pelo menos na Itália, de um interesse geral do público por conta dessa coincidência, capaz de chamar ainda mais a atenção da opinião pública para o escândalo da corrupção, tão denunciada pelo próprio papa diante de uma sociedade cada vez mais corrompida.
 
Fonte: Zenit.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Herodes, o Grande: um covarde com os dias contados

É abril do ano 750 de Roma (4 a.C.). Em Jericó, depois de seis meses de longa e dolorosa doença, morre o rei Herodes, o Grande.

Seu corpo, já em vida corroído por vermes, foi transportado com grandes honras ao Haerodium, o palácio-fortaleza que ele mesmo havia mandado construir.

Flávio Josefo nos diz que o funeral foi o mais esplêndido possível: "Herodes foi colocado numa liteira de ouro cravejada de pérolas e pedras preciosas de várias cores, coberta com um manto de púrpura; o morto estava vestido em púrpura e usava uma tiara sobre a qual fora posta uma coroa de ouro; à direita jazia seu cetro".

Foi por aquela coroa que Herodes causou o massacre dos inocentes.

Foi pelo poder que ele ordenou vinganças e assassinatos com crueldade sem limites. Era por isso que o povo o odiava e se regozijava com cada infortúnio que abalava a sua corte.

Durante toda a vida, Herodes foi um arrivista cruel e sem escrúpulos. Quando jovem, ele matou Malic, o homem que tinha envenenado seu pai (43 a.C.). Aprisionou
Fasael, seu irmão, que, em desespero, cometeu suicídio. Tampouco teve escrúpulos para matar sua esposa Mariamne I (29 a.C.) e, anos mais tarde, os dois filhos que tivera com ela, Alexandre e Aristóbulo (7 a.C.). Não satisfeito, cinco dias antes de morrer, ele mandou executar seu outro filho, Antípatro, nascido de Dóris, outra de suas esposas.

Nem com a morte se aproximando brilhou na alma desse rei cruel algum escrúpulo de consciência. Ao contrário: ele projetou sua última crueldade ordenando que sua irmã Salomé reunisse em Jericó todos os poderosos do reino para que fossem assassinados assim que ele próprio morresse.

Josefo conta a assim o episódio: sentindo-se perto da morte, Herodes "deliberou uma ação que estava além de toda lei. Reunidos de todas as aldeias da Judeia os homens mais ilustres, ordenou que fossem encerrados no local chamado Hipódromo; chamando então sua irmã Salomé e seu marido, disse-lhes: ‘Sei que os judeus festejarão a minha morte; no entanto, ainda posso ser chorado por outras razões e obter um funeral esplêndido se seguirdes as minhas orientações. Esses homens que estão presos, quando eu expirar, matai-os todos depois de cercá-los por soldados, para que todos na Judeia e todas as famílias, mesmo não querendo, derramem lágrimas por mim".

Felizmente, a irmã não obedeceu; uma vez morto Herodes, ela fez libertar todos os dignitários.

Ao longo de toda a vida, Herodes foi vítima do seu egoísmo brutal. Incapaz de amar, ele usou poder, dinheiro e posição social para tentar conseguir o que o dinheiro não compra: respeito, admiração, afeto, felicidade, amizade, aprovação...

Ele também ordenou imponentes construções para sentir-se um "grande" da história. Durante dez anos, trabalhou na reconstrução do Templo de Jerusalém – aquele em cuja frente, anos mais tarde, Jesus declararia: "Destruí esse templo e eu o levantarei em três dias". Devia ser belíssimo: os apóstolos, certo dia, ao pôr do sol, disseram fascinados ao Senhor: "Mestre, olha que pedras e que construções!" (Mc 13,1). Tudo, porém, foi destruído na famosa guerra judaica de 67-70 d.C.

Além do templo, Herodes também construiu edifícios pagãos em honra da deusa Roma e do divino Augusto na Samaria, em Cesareia e em outros lugares. Mas não era por sensibilidade religiosa ou busca espiritual. A corte de Herodes, em Jerusalém, era pagã e, em termos de corrupção e obscenidade, superava de longe as outras cortes orientais.

Ele construía, construía, construía... Mas esquecia que "se o Senhor não edifica a cidade, em vão fazem seu trabalho os construtores" (Salmo 126). Sem Deus, ele e seus edifícios teriam tido os seus dias contados.

Em Jerusalém, ele fez construir um teatro e um anfiteatro; embelezou a fortaleza Baris dos Macabeus, dando-lhe o nome de Antônia em homenagem ao seu protetor, Marco Antônio; construiu o imponente palácio real no noroeste da cidade; restaurou a cidade de Samaria, que chamou Sebaste em honra de Augusto (Augustus é o nome latinizado do grego Sebastos); construiu o palácio-fortaleza Haerodium, ao sul de Belém; fundou a nova capital Cesareia Marítima, na costa mediterrânea...

Todas essas "pedras sobre pedras" lhe valeram o título de "Grande". Herodes, o Grande.

Entende-se, com tudo isto, por que os Evangelhos nos dizem que Herodes ficou muito perturbado (Mt 2,3) quando alguns magos lhe anunciaram o nascimento do "rei dos judeus". A partir daquele momento, Herodes não teve mais paz.

Quem queria derrubá-lo do trono?

Seu frenesi de domínio soou um alarme e sua ferocidade concebeu a ideia da matança dos inocentes. Todas as crianças de até dois anos de idade foram exterminadas.

Jesus tinha acabado de nascer e as forças do mal já estavam desencadeadas contra Ele.

Os recém-nascidos de Belém, com seu martírio, nos levam à dramaticidade de um mundo que rejeita Deus e os seus prediletos: as crianças.

Está tingido de sangue o Natal que ornamos com iluminação alegre. A terrível história ainda não terminou: de tirano em tirano, a matança dos inocentes continua até hoje.

Fome, doenças, violência, exploração, aborto... Herodes, o “Grande”, pervive.

Mas Deus também está vivo.

E, como naquele tempo, Ele ainda envia os anjos para encorajar seus filhos a salvar os pequenos da escravidão assassina deste mundo. A história de perseguição e fuga da morte é a história de milhões de famílias de hoje também. É história sagrada que se repete: sagrada é a vida; mais sagrada ainda é a vida perseguida.

E se milhares de Herodes ainda emanam a morte, há também Alguém que vela por nós durante a noite, mesmo quando dormimos. E
milhares de Josés ainda ouvem os conselhos dos anjos de Deus, dispondo-se a salvar a vida de inocentes. Sonhadores, mas concretos; desarmados, mas ainda mais fortes que qualquer Herodes.

E quanto aos inocentes assassinados?

Onde abunda o mal dos homens, Deus torna a sua graça superabundante. Sempre!

Fonte: Zenit.