segunda-feira, 31 de março de 2014

A confissão não é um tribunal de condenação, mas experiência de perdão e misericórdia

O Santo Padre Francisco recebeu em audiência nesta sexta-feira aos participantes à XXV edição do Curso sobre Foro interno, organizado pela Penitenciaria Apostólica. O curso acontece anualmente como oportunidade para formar confessores e ajudá-los a melhor exercer o importante ministério da reconciliação, como recordou o Papa.
O curso começou dia 22 e terminou nesta sexta-feria, 28 de março. Cerca de 500 sacerdotes e seminaristas aprofundaram sobre o sacramento da reconciliação. O cardeal Mauro Piacenza deu início ao curso.
O Papa Francisco agradeceu aos presentes pelo “precioso serviço” e animou-os a levar adiante com compromisso renovado, fazendo tesouro da experiência adquirida e com sábia criatividade ajudar cada vez mais a Igreja e os confessores no ministério da misericórdia.
Recordou que o verdadeiro protagonista da reconciliação é o Espírito Santo. “O perdão que o Sacramento concede é a nova vida transmitida pelo Senhor Ressuscitado através do Seu Espírito". Por isso, o Santo Padre lembrou que eles são chamados a ser 'homens do Espírito Santo', testemunhas e anunciadores, felizes e fortes, da ressurreição do Senhor". E a tarefa do confessor, continuou Francisco, é “fazer sentir a sua presença quando ouve o penitente”.
O Papa convidou os confessores a “trabalhar muito” sobre a própria humanidade para nunca ser obstáculo e favorecer o apromixar-se dos batizados à misericórdia e ao perdão. Recordou também que o confessor é como um “médico chamado a curar” e “como juiz a absolver”. Portanto, a sua tarefa principal é doar generosamente aos irmãos a reconciliação que “transmite a vida do ressuscitado e renova a graça batismal”.
E recomendou que os confessores são convidados a “evitar os dois extremos opostos: o rigorismo e o laxismo”, e a recordar sempre que “a confissão não é um tribunal de condenação, mas experiência de perdão e misericórdia”.
Por fim, para tonar ainda mais acessível o sacramento da reconciliação o Pontífice indicou que, em cada paróquia, os fiéis saibam quando podem encontrar sacerdotes disponíveis para ouvir o seu arrependimento.

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Francisco: "Abramos o coração a Deus e não sejamos como os doutores do dever"

Nos tempos de Jesus, havia uma classe dirigente que tinha se afastado do povo, que o tinha "abandonado", incapaz de qualquer coisa que não fosse o seguimento da própria ideologia, escorregando na corrupção. As palavras foram ditas pelo Santo Padre na missa celebrada esta manhã no altar da Cátedra de São Pedro, em presença de 493 parlamentares italianos, incluídos novos ministros e os presidentes do Senado e da Câmara, Piero Grasso e Laura Boldrini.
Interesses partidários, lutas internas: era isto o que consumia as energias de quem mandava na época de Jesus, a ponto de, quando o Messias se revelou perante os seus olhos, não o reconhecerem; mais ainda, eles acusaram Jesus de ser um curandeiro das filas de Satanás.
O Santo Padre afirmou, na homilia, que as leituras de hoje podem ser definidas como um diálogo entre os lamentos de Deus e as justificativas dos homens. "Deus, nosso Senhor, se lamenta. Ele se lamenta por não ter sido escutado ao longo da história". Francisco acrescentou que esse lamento de Deus acontece "porque Ele teve um trabalho muito, muito grande para tirar do coração do seu povo a idolatria, para torná-lo dócil à sua Palavra. Mas eles seguiam esse caminho durante algum tempo e depois voltavam atrás. E foi assim durante séculos e séculos, até o momento em que chegou Jesus". E o mesmo aconteceu com Ele, com Jesus, disse o Santo Padre. "O povo de Deus estava sozinho e aquela classe dirigente, a dos doutores da lei, saduceus, fariseus, estava fechada em suas ideias, em sua pastoral, em sua ideologia. E aquela classe foi a que não escutou a Palavra do Senhor".
Eles "se dão desculpas por não terem ouvido o chamado do Senhor. Não podiam ouvir, porque estavam tão fechados, tão distantes do povo", observou Francisco, dizendo ainda que Jesus olha para o povo e se comove, porque o vê como "ovelhas sem pastor". E Jesus vai aonde estão os pobres, os doentes, todos, as viúvas, os leprosos, para curá-los. E Jesus lhes fala "com uma palavra que provoca admiração no povo, fala diferente daquela classe dirigente que tinha se afastado do povo".
O Santo Padre recordou que aquela classe dirigente era feita de pecadores, como todos, mas que "eles eram mais do que pecadores: o coração daquela gente, daquele grupo, tinha endurecido tanto com o tempo, tanto, que era impossível escutar a voz do Senhor. E de pecadores, eles resvalaram mais ainda, se transformaram em corruptos. É tão difícil que um corrupto consiga voltar atrás! O pecador sim, porque nosso Senhor é misericordioso e aceita todos nós. Mas o corrupto está obcecado com as suas coisas. E aqueles eram corruptos". E por isso davam desculpas, explicou o Santo Padre, "porque Jesus, com a sua simplicidade, mas com a força de Deus, os incomodava. E, pouco a pouco, eles acabam se convencendo de que tinham que matar Jesus. Até que um deles disse: 'É melhor que um só homem morra pelo seu povo'".
Francisco destacou que eles "resistiram à salvação de amor de Cristo e assim escorregaram da fé, de uma teologia de fé para uma teologia do dever: 'tendes que fazer isto, isto, isto...'". O papa explicou que, "na dialética da liberdade, temos o Senhor bom, que nos ama, que nos ama muito! Mas na lógica da necessidade não há espaço para Deus: você só deve fazer, deve fazer, deve fazer... Eles viraram homens de boas maneiras, mas de maus costumes".
Ao terminar, o Santo Padre enfatiza que aquelas pessoas que tentam se justificar não entendem a misericórdia nem a piedade. No entanto, "aquele povo, que tanto amava Jesus, precisava de misericórdia e de piedade e ia pedi-la ao Senhor". O papa convidou os presentes a pensarem, neste tempo de quaresma, sobre o convite de Cristo ao amor, a essa dialética da liberdade onde existe o amor, e a perguntar: "Eu estou neste caminho? Ou caio no perigo de me justificar e de seguir por outro caminho?".
Francisco pediu que rezemos ao Senhor para receber a graça "de seguir adiante pelo caminho da salvação, de nos abrir para a salvação que vem somente de Deus, da fé, não daquilo que aqueles 'doutores do dever' propunham, eles que tinham perdido a fé; [peçamos a graça de] nos abrir para a salvação do Senhor".

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Um sacerdote, um padre, que não está a serviço de sua comunidade não faz bem




Queridos irmãos e irmãs,

Já tivemos oportunidade de referir que os três sacramentos, do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia, constituem juntos o mistério da “iniciação cristã”, um único grande evento de graça que nos regenera em Cristo. É esta a vocação fundamental que une todos na Igreja, como discípulos do Senhor Jesus. Há depois dois sacramentos que correspondem a duas vocações específicas: trata-se da Ordem e do Matrimônio. Esses constituem dois grandes caminhos através dos quais o cristão pode fazer da própria vida um dom de amor, a exemplo e em nome de Cristo, e assim cooperar à edificação da Igreja.
A Ordem, caracterizado nas três grades do episcopado, presbiterato e diaconato, é o Sacramento que habilita ao exercício do ministério, confiado pelo Senhor Jesus aos apóstolos, de apascentar o seu rebanho, no poder do seu Espírito e segundo o seu coração. Apascentar o rebanho de Jesus não com o poder da força humana ou com o próprio poder, mas aquela do Espírito e segundo o seu coração, o coração de Jesus que é um coração de amor. O sacerdote, o bispo, o diácono deve apascentar o rebanho do Senhor com amor. Se não o faz com amor não serve. E nesse sentido, os ministros que são escolhidos e consagrados para este serviço prolongam no tempo a presença de Jesus, se o fazem com o poder do Espírito Santo em nome de Deus e com amor.
1. Um primeiro aspecto. Aqueles que são ordenados são colocados como líderes da comunidade. São “a cabeça” sim, porém para Jesus isso significa colocar a própria autoridade a serviço, como Ele mesmo mostrou e ensinou a seus discípulos com estas palavras: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça o vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por uma multidão” (Mt 20,25-28 // Mc 10,42-45). Um bispo que não está a serviço da comunidade não faz bem; um sacerdote, um padre que não está a serviço da sua comunidade não faz bem, erra.
2. Uma outra característica que sempre deriva desta união sacramental com Cristo é o amor apaixonado pela Igreja. Pensemos no trecho da Carta aos Efésios, na qual São Paulo diz que Cristo “amou a Igreja e se entregou por ela para a santificar, purificando-a com a água, mediante a palavra, para a apresentar a si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, ou qualquer outra coisa “(5:25-27). Por força da Ordem, o ministro dedica-se totalmente à sua comunidade e a ama de todo o coração coração: é a sua família. O bispo, o padre amam a Igreja em sua própria comunidade, fortemente. Como? Assim como Cristo ama a Igreja. O mesmo dirá São Paulo do casamento: o marido ama sua esposa como Cristo ama a Igreja. É um grande mistério de amor: o ministério sacerdotal e o matrimônio, dois sacramentos, que são a maneira pela qual as pessoas costumam ir para o Senhor.
3. Um último aspecto. O apóstolo Paulo aconselha seu discípulo Timóteo a não descuidar, mais do que isso, a reavivar sempre o dom que há nele. O dom que lhe foi dado através da imposição das mãos (cf. 1 Tm 4, 14, 2 Tm 1,6). Quando não se alimenta o ministério, o ministério do bispo, o ministério do sacerdote com a oração, com a escuta da Palavra de Deus, e com a celebração diária da Eucaristia e também com a presença do sacramento da Penitência, é inevitável perder de vista o o sentido autêntico do próprio serviço e a alegria que deriva de uma comunhão profunda com Jesus.
4. O bispo que não reza, o bispo que não escuta da Palavra de Deus, que não celebra todos os dias, que não se confessa regularmente, e o mesmo para o padre que não faz estas coisas, com o tempo, perdem a sua união com Jesus e vivem uma mediocridade que não é boa para a Igreja. Por isso, devemos ajudar os bispos e padres a rezarem, a ouvirem a Palavra de Deus que é o alimento diário, a celebrarem a Eucaristia todos os dias e irem à confissão regularmente. Isto é tão importante porque diz respeito à santificação dos sacerdotes e bispos.
5. Gostaria de terminar com uma coisa que me vem à mente: mas como se deve fazer para se tornar um sacerdote, onde são vendidos os acessos ao sacerdócio? Não. Não se vendem. Esta é uma iniciativa do Senhor. O Senhor chama. Ele chama cada um daqueles que Ele quer que se torne sacerdote. Talvez existam alguns jovens aqui que sentiram este chamado em seu coração, o desejo de se tornar padre, o desejo de servir aos outros nas coisas de Deus, o desejo de estar por toda a vida a serviço para catequizar, batizar, perdoar, celebrar a Eucaristia, cuidar dos doentes … e toda a vida dessa forma. Se algum de vocês já sentiu isso no coração, é Jesus quem a colocou ai. Prestem atenção a este convite e rezem para que ele possa crescer e dê fruto em toda a Igreja.


(Trad.: Canção Nova) - Fonte: Zenit.

terça-feira, 25 de março de 2014

Santo Padre cria a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores

O papa Francisco criou hoje a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, que tinha sido anunciada no último dia 5 de dezembro, e convidou para formar parte dela as seguintes pessoas:


- Dra. Catherine Bonnet (França)

- Sra. Marie Collins (Irlanda)
- Prof. Sheila Hollins (Reino Unido)

- Cardeal Sean Patrick O'Malley, OFM Cap (Estados Unidos)
- Prof. Claudio Papale (Itália)

- Hanna Suchocka (Polônia)
- Pe. Humberto Miguel Yáñez, SJ (Argentina)
- Pe. Hans Zollner, SJ (Alemanha)

Entre os escolhidos, há uma vítima: a irlandesa Marie Collins sofreu abusos sexuais por parte de um sacerdote quando era criança. A mulher, hoje com 66 anos, relatou a sua história diante de 200 bispos em um simpósio organizado pelo Vaticano no ano de 2012, em Roma.
Outro membro destacado da nova comissão é o arcebispo de Boston, o cardeal Sean Patrick O'Malley, um dos oito purpurados que o pontífice indicou para assessorá-lo na reforma da cúria romana. O’Malley é uma das vozes mais relevantes da Igreja na luta contra a pedofilia.
De acordo com a Sala de Imprensa da Santa Sé, a principal tarefa destas pessoas é preparar os estatutos da comissão, que determinarão as suas atribuições e funções. A comissão será posteriormente integrada por outros membros, a ser escolhidos nas diversas áreas geográficas do mundo.
Dando continuidade ao compromisso dos seus predecessores e tendo escutado a opinião de vários cardeais, outros membros do episcopado e especialistas no assunto, “o papa Francisco decidiu formar uma comissão dedicada à tutela dos menores”, explicou o porta-voz da Santa Sé, pe. Federico Lombardi.
O pontífice deixa claro que “a Igreja deve considerar a proteção das crianças entre as suas prioridades mais altas” e promover iniciativas neste campo. “Hoje, o papa indicou os nomes de várias personalidades altamente qualificadas e reconhecidas pelo seu compromisso com esta questão”, prosseguiu Lombardi.
“Este grupo inicial deve agora trabalhar rapidamente para colaborar em diferentes tarefas, incluindo a elaboração da estrutura final da comissão, indicando a sua finalidade e responsabilidades e propondo os nomes de outros candidatos, especialmente de outros continentes e países, que podem ser chamados a trabalhar na comissão”.
“Na certeza de que a Igreja tem que desempenhar um papel crucial neste campo, olhando para o futuro sem esquecer o passado, a comissão adotará um enfoque múltiplo para promover a proteção dos menores, que incluirá a educação para evitar o abuso das crianças, a ação penal contra os crimes cometidos, os deveres e responsabilidades civis e canônicos e o desenvolvimento das ‘melhores práticas’ que foram identificadas e desenvolvidas na sociedade em seu conjunto”, explica o porta-voz da Santa Sé.
“Desta forma, e com a ajuda de Deus, esta comissão contribuirá com a missão do Santo Padre de responder à sagrada responsabilidade de garantir a segurança dos jovens”, concluiu o pe. Lombardi.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Divorciados recasados e a comunhão: o pensamento do Cardeal Kasper

De 5 a 19 de outubro de 2014 será realizado em Roma, o Sínodo Extraordinário sobre as famílias. Para melhor prepara-lo foi formulado – solicitado pelo papa Francisco - um questionário com 38 perguntas, enviado para todas as dioceses do mundo.
O Secretário do Sínodo dos Bispos, o cardeal Lorenzo Baldisseri, explicou que é esperado das dioceses "não apenas o que o bispo pensa", mas "um resumo do que as pessoas pensam e como vivem".
Neste contexto, e em preparação para o Sínodo, o cardeal Walter Kasper fez um longo e detalhado relatório sobre o Evangelho da Família para o Consistório extraordinário de 20 e 21 de Fevereiro.
Sábado, 1 de março, o texto do Cardeal Kasper foi publicado pelo jornal romano Il Foglio. O que causou grande rebuliço, não apenas porque a publicação não foi autorizada pelo autor, mas principalmente devido à questão dos divorciados e recasados, e ao acesso à comunhão, que gerou uma grande discussão.
Antes mesmo de ler e entender o que realmente estava pensando o cardeal alemão, choveram críticas e controvérsias. Mas o que realmente disse Kasper? O texto completo do relatório foi publicado na semana passada pela Edições Queriniana em um livreto de 78 páginas, intitulado O Evangelho da Família.
No quinto capítulo, intitulado O problema dos divorciados recasados, o Cardeal Kasper escreve: "Se pensarmos na importância da família para o futuro da Igreja, o número crescente de famílias desestruturadas demonstra uma grande tragédia. É um grande sofrimento. Não basta considerar o problema apenas do ponto de vista e da perspectiva da Igreja como instituição sacramental; precisamos de uma mudança de paradigma e devemos também considerar a situação a partir da perspectiva de quem sofre e pede ajuda".
É claro, afirma o cardeal, que "não se pode propor uma solução diferente ou contrária às palavras de Jesus. A indissolubilidade do matrimônio sacramental e a impossibilidade de um novo matrimônio durante a vida do outro parceiro faz parte da tradição de fé vinculatória da Igreja, que não pode ser abandonada ou desfeita fazendo referência a uma compreensão superficial da misericórdia a um preço baixo".
A questão é, portanto, como a Igreja pode corresponder ao binômio inseparável da fidelidade e da misericórdia de Deus em sua atividade pastoral em relação aos divorciados recasados no rito civil. A Familiaris Consortio no número 24 e a Sacramentum Caritatis no número 29, falam de uma forma amorosa desses cristãos, assegurando-lhes a pertença à Igreja e convidando-os a participar da vida desta.
“As situações são diversas e devem ser distinguidas com cuidado. Uma solução geral para todos os casos, portanto, não pode existir." A Congregação para a Doutrina da Fé, em 1994, abordou a questão, e o Papa Bento XVI sintetizou a posição durante o Encontro Internacional das Famílias em Milão, em 2012, reiterando que "os divorciados recasados não podem receber a comunhão sacramental, mas podem receber a espiritual."
O Cardeal Kasper argumenta que mesmo a resposta dos Padres da Igreja não sendo unívoca, contudo, é claro que “a Igreja continuou a buscar uma maneira além do rigor e do laxismo, fazendo referência à autoridade de ligar e desligar (Mt 16,19; 18,8, Jo 20,23) conferida pelo Senhor". "No Credo - diz ele - professamos: creio na remissionem peccatorum. Isso significa que: para aqueles que se converteram, o perdão é sempre possível. Se é para o assassino, é também para o adúltero".
Neste contexto, o cardeal lista algumas opções aos Padres Sinodais: "Se um divorciado recasado: 1. Se arrepende do falimento no primeiro casamento, 2. Se esclareceu as obrigações do primeiro matrimonio, se é definitivamente impossível que volte atrás, 3. Se não pode abandonar, sem quaisquer outras culpas, o novo matrimonio civil, 4. E se esforça para viver da melhor maneira conforme suas possibilidades o segundo matrimonio a partir da fé e da educação dos filhos na fé, 5. Se deseja os sacramentos como uma fonte de força em sua situação, devemos ou podemos negar, depois de um tempo de reorientação (metanoia), o sacramento da penitência e então, a comunhão?".
"Eu espero - prossegue o cardeal - que no caminho de tal discretio, durante o processo sinodal, possamos encontrar uma resposta comum para testemunhar de forma credível a Palavra de Deus em situações humanamente difíceis, como mensagem de fidelidade, mas também como mensagem de misericórdia, vida e alegria".
Por fim, Kasper escreve: "Não podemos limitar a discussão à situação dos divorciados recasados e a outras situações pastorais difíceis não mencionadas no presente contexto. Devemos ter um ponto de partida positivo e redescobrir e anunciar o Evangelho da família com toda a sua beleza".
"A verdade convence pela sua beleza", continuou o cardeal, que exorta: "Devemos colaborar, com palavras e ações, para que as pessoas encontrem a felicidade na família e, desta forma, possam dar testemunho de alegria a outras famílias. Devemos entender novamente a família como Igreja doméstica, torna-la a via privilegiada da nova evangelização e da renovação da Igreja, uma Igreja que está a caminho com as pessoas e para as pessoas".
"Em família - disse o prelado – as pessoas estão em casa, ou pelo menos procurando uma casa na família. Nas Famílias a Igreja encontra a realidade da vida. Por isso, as famílias são um teste da pastoral e urgência da nova evangelização. A família é o futuro. E para a Igreja é o caminho do futuro".


(Trad.:MEM) - Fonte: Zenit.

sábado, 22 de março de 2014

Terceiro Domingo de Quaresma

Texto: Êxodo 17, 3-7; Romanos 5, 1-2.5-8; João 4, 5-42

Ideia principal: A Quaresma é um tempo para ter sede do Deus vivo. Deus oferece-nos a água restauradora  e vivificante no Lado aberto do Salvador. E na Páscoa ficaremos saciados sem necessidade de ir a outras fontes.

Resumo da mensagem: no domingo passado Jesus nos convidava a subir ao Monte Tabor. Hoje nos oferece a água viva, que é Ele mesmo. Mas temos que lhe pedir, como fez o povo de Israel com Moisés (primeira leitura) e a samaritana (evangelho). Pedir com Fé e esperança (segunda leitura).  A Sua água, que brotará do Lado de Cristo aberto na Páscoa, sacia os nossos desejos de felicidade (evangelho).

Pontos principais:

Em primeiro lugar, a água é um dos símbolos que aparece com mais frequência na Sagrada Escritura, cuja contrapartida no homem é a sede. Símbolo um pouco difícil de perceber em toda a sua força, já que vivemos em um país que, em geral a água é abundante. Não é difícil obtê-la. Basta abrir a torneira. Na Palestina, ao contrario, quando havia escassez era um dos produtos mais apreciados, o primeiro e o mais fundamental para a sobrevivência do homem. A água é também a condição de fecundidade da terra. Sem ela, temos desertos áridos, zona de fome e de sede, e como consequência, se não há poços ou tanques, a morte de homens, animais e vegetais. Possuir fontes de água na Palestina é signo de riqueza e de benção divina.
Em segundo lugar, A Bíblia usa com frequência a imagem da água para expressar o mistério da relação entre Deus e o homem. Deus é a fonte da vida para o homem e lhe dá forças para florescer no amor e na fidelidade. Distanciar-se dele é morrer de sede. Perguntemos a Samaritana do evangelho de hoje. Longes de Deus, o homem não é senão terra árida, sem água, destinado a morrer. A alma sente saudades de Deus porque tem o jarro do coração vazio (evangelho). Mas se Deus está com o homem, este se transforma em um horto, possuindo em si a fonte mesma que lhe faz viver. A água é assim o símbolo do Espírito de Deus, capaz de transformar um deserto em um florescente pomar e um povo infiel em um verdadeiro Israel (primeira leitura). E com essa água poderemos regar também a nossa família e os nossos sonhos.
Finalmente, Jesus veio trazer-nos as suas águas vivificantes, como à samaritana. Ele é a rocha de onde sai essa água. O que nós temos que fazer é golpear com a fé e com a esperança essa rocha (primeira leitura). Essa rocha para nós é o lado aberto de Jesus que destila água viva e curadora nos sacramento. Necessitamos levar o balde da nossa vida, mesmo que esteja furado e seco, e Jesus o concertará como fez com a samaritana (evangelho). Jesus, com ternura e delicadeza, foi elevando pouco a pouco esta mulher ao nível da fé, para que ela pudesse erguer-se até o seu lado aberto e beber.
Para reflexionar: Aonde posso encontrar a Jesus hoje como água viva? Tenho o balde preparado para receber essa água vivificante, santificadora e curadora? Aonde vou saciar a minha sede: nos poços contaminados deste mundo ou na fonte de Cristo que a Igreja conserva intacta e viva nos sacramentos e na piedade popular?    

Qualquer sugestão ou duvida podem comunicar-se com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

sexta-feira, 21 de março de 2014

Tripé da Quaresma: ascese, amor cristão e a oração

O substantivo amor e o verbo amar estão muito desgastados nos nossos dias, especialmente a partir da chamada “revolução sexual” dos anos 60 do século XX. Daí a importância de deixarmos claro que, na língua grega, há três termos para designar amor: éros, philia e ágape.
Éros ficou conhecido como um tipo de amor concupiscente ou meramente sentimental e carnal. É, neste sentido, o erotismo prática comum numa sociedade que perdeu quase por completo seus referenciais éticos fundados especialmente na Lei Natural Moral, ou seja, na Lei do Criador escrita na natureza para guiar o ser humano nesta vida em demanda do céu, nossa morada definitiva.
A partir dessa definição, escreve o Papa Bento XVI que “O éros degradado a puro ‘sexo’ torna-se mercadoria, torna-se, simplesmente, uma ‘coisa’ que se pode comprar e vender; antes, o próprio ser humano torna-se mercadoria” (Encíclica Deus Caritas est n. 5). Ora, essa mercantilização do corpo é prostituição, uma das fontes do tráfico humano denunciado, enfaticamente, pela Campanha da Fraternidade deste ano.
Philia, por sua vez, recorda o amor de amizade, de benevolência, capaz de despertar a reciprocidade do outro. Já é um grande avanço em relação ao éros, mas, mesmo assim – salvo a exceção feita no Evangelho de São João para caracterizar o amor entre Cristo e seus discípulos – ainda não atinge o píncaro do amor cristão como a grande novidade que Nosso Senhor veio ensinar e praticar. Afinal, é fácil amar quem nos ama, tão fácil que também os pagãos fazem isso (cf. Mt 5, 46-47).
Todavia, a grande novidade do Cristianismo é o ágape. Este é o amor fraterno, serviçal, desinteressado, que se dirige diretamente àquele que amamos sem esperar nada em troca. Aqui está o auge, o clímax, o cume do amor. Com esses pressupostos, vai a Bíblia nos afirmar que Deus é amor (1Jo 4,8). E mais: Ele é o amor que nos amou primeiro a ponto de enviar o seu próprio Filho para morrer por nós (1Jo 4,10) quando ainda éramos pecadores (cf. Ef 2, 1-10).
Daí ao comentar a passagem do Evangelho na qual o Senhor Jesus recomenda o amor incondicional – “Quem procura salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á” (Lc 17,33) – o Papa Bento reflete do seguinte modo: “Assim descreve Jesus o seu caminho pessoal, que o conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do grão de trigo que cai na terra e morre e, desse modo, dá muito fruto. Partindo do centro de seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, ele, com tais palavras, descreve, também, a essência do amor e da existência humana em geral” (idem n. 6).
Antes de concluirmos nossa reflexão, importa fazer, com Bento XVI, um importante esclarecimento quanto ao éros e ao ágape: “no fundo, o ‘amor’ é uma única realidade, embora com distintas dimensões; caso a caso, pode uma ou outra dimensão sobressair mais. Mas quando as duas dimensões [éros e ágape] se separam completamente uma da outra, surge uma caricatura ou, de qualquer modo, uma forma redutiva de amor” (ibidem n. 8).
Por fim, Bento XVI demonstra que o verdadeiro sentido do ágape “Consiste, precisamente, no fato de que eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou nem conheço sequer”, mas, a partir de um encontro íntimo com o Senhor, “aprendo a ver aquela pessoa já não somente com meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo”. Contudo, se me falta esse contato íntimo com Deus, vejo o outro sempre como estranho, contento-me apenas em ser “piedoso” e “cumprir meus deveres religiosos” sem se importar com o meu irmão. Nesse caso, trata-se de uma relação “correta” ou legalista com Deus, mas sem amor. Só a minha disponibilidade para ir ao encontro do próximo e demonstrar-lhe amor é que me torna sensível também diante de Deus” (ibidem n. 18).
Peçamos, pois, ao Divino Espírito Santo, nosso Mestre Interior, que nos mostre a forma mais acertada de praticarmos, no dia a dia, a caridade, que, junto com a penitência e a oração, é tão recordada pela Mãe Igreja no tempo quaresmal.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Pobres, família e jovens: os objetivos do papa Francisco

A Pontifícia Comissão para a América Latina realizou nesta terça-feira uma conferência no auditório São Pio X, a poucas quadras do Vaticano. Durante o evento, seu presidente, o cardeal Marc Ouellet, apontou as três preocupações principais do papa Francisco em seu primeiro ano de pontificado: os pobres, as famílias e os jovens. Foi um encontro para homenagear e também para reiterar ao Santo Padre o próprio compromisso.
O cardeal canadense focou em alguns aspectos da exortação apostólica Evangelii Gaudium, sublinhando a amplitude de visão do papa, que assombrou "e inquietou certos ambientes que o acusaram de marxismo", quando o pontífice considera, na verdade, que "só Cristo pode responder aos desafios da pobreza e da injustiça".
No tocante à família, que será nada menos que o tema central do próximo sínodo dos bispos, o cardeal Ouellet mostrou a sua confiança na "capacidade do papa de escutar, decidir e renovar". Francisco “saberá discernir os meios adequados para relançar a pastoral não só da família, mas toda a pastoral da Igreja”.
Quanto à terceira prioridade, os jovens, o cardeal assegurou que o Santo Padre se ambientou no mundo em que eles vivem, tal como é demostrado pelo sucesso do perfil do papa no Twitter: ali, "a rede de seguidores do papa retransmite e multiplica a sua mensagem apostólica".
Além disso, declarou o cardeal, o papa se adapta à linguagem dos jovens, fazendo entender que Jesus não é uma ideia, um sonho ou um ídolo virtual, mas sim "uma pessoa real, com quem se pode viver uma amizade que muda a vida".
O cardeal Ouellet também ressaltou a capacidade do Santo Padre de combinar a ideia conciliar do povo de Deus que peregrina por este mundo com a imagem da Santa Mãe Igreja, hierárquica e mariana. Uma eclesiologia que se compromete a "servir em espírito de humildade, de misericórdia e de compaixão". Com as surpresas do primeiro ano de pontificado, o papa despertou toda a Igreja para fazer com que ela se levante e saia às ruas em missão.
Durante o encontro, também tomou a palavra o professor Guzmán Carriquiry, secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, que falou sobre o contexto específico dessa região do planeta e destacou que a eleição do papa Francisco interpela de maneira direta a comunidade do continente americano.
Como já tinha sido enfatizado pelo documento de Aparecida, o Santo Padre chama aos fiéis a serem "bons samaritanos", a se voltarem para os excluídos, para aqueles que vivem na marginalização, na escravidão, mas também para aqueles que são vítimas "dos ídolos do dinheiro, do poder, do prazer efêmero", observou Carriquiry.
O professor uruguaio considera que os fiéis da América Latina são chamados a ser "protagonistas da caridade política" e devem trabalhar em parceria com todos os homens de boa vontade, "a fim de transformar as estruturas sociais e econômicas, as atividades políticas e as leis que atentam contra a dignidade humana", levando sempre em consideração "o bem comum da sociedade".
São muitos os desafios que aguardam os cristãos da América Latina, enfatizou o secretário da comissão. Eles devem apontar para "uma revolução educativa e para um investimento em capital humano, para uma reconstrução do tecido social e familiar, para uma política séria de infraestruturas materiais, energéticas e financeiras", bem como "para um investimento destinado a dar valor agregado à nossa riqueza natural e um desenvolvimento econômico com equidade e melhor distribuição da renda e dos benefícios".
Mas não podem ser esquecidos, entre os desafios do presente e do futuro, "a luta contra a pobreza, que não deve se reduzir ao assistencialismo, e a coexistência pacífica, que se contraponha à violência", em especial no caso do narcotráfico e da distribuição das drogas. Em essência, concluiu Guzmán Carriquiry, é necessário "um caminho rumo a um amadurecimento democrático maior", para se possibilitar "um salto qualitativo no processo de integração" entre os países e povos da América do Sul.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 19 de março de 2014

O hipócrita se disfarça de santo



A quaresma é um tempo para "arrumar a própria vida" e "para se aproximar de Deus", destacou o papa Francisco na homilia da missa desta manhã na Casa Santa Marta. O Santo Padre alertou para o risco de nos sentirmos "melhores do que os outros": os hipócritas "se maquiam de bons" e não entendem que "ninguém é justo por si mesmo", que todos "temos a necessidade de ser justificados".
Conversão: o pontífice começou o sermão destacando que esta é a palavra-chave da quaresma, um tempo favorável "para nos aproximarmos" de Jesus. E, comentando a primeira leitura, do livro de Isaías, ele disse que nosso Senhor chama à conversão duas "cidades pecadoras", Sodoma e Gomorra, demostrando que todos "temos que mudar de vida". A quaresma é um tempo para "arrumar a vida" nos aproximando de nosso Senhor. Ele "nos quer perto de si" e nos garante que "nos espera para nos perdoar", mas quer "uma aproximação sincera" e nos avisa do perigo da hipocrisia.
"O que os hipócritas fazem? Eles se maquiam, se maquiam de bonzinhos: fazem cara de propaganda, rezam olhando para o céu, se mostram, se consideram mais justos do que os outros, desprezam os outros. ‘Mas eu sou muito católico’, dizem eles, ‘porque o meu tio foi um grande benfeitor, a minha família é esta e eu sou... eu aprendi... eu conheci tal bispo, tal cardeal, tal padre... Eu sou...'. Eles se consideram melhores do que os outros. Esta é a hipocrisia. Nosso Senhor nos diz: 'Não, isso não'. Ninguém é justo por si mesmo. Todos nós temos a necessidade de ser justificados. E o único que nos justifica é Jesus Cristo".
Por isso, prosseguiu, temos que nos aproximar do Senhor "para não ser cristãos disfarçados, que, por trás das aparências, na realidade, não são cristãos". Como, então, não ser hipócritas e aproximar-se de Deus? A resposta vem do próprio Deus na primeira leitura: "Lavai-vos, purificai-vos, afastai dos meus olhos o mal das vossas ações, deixai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem". Este é o convite. Mas Francisco pergunta: "Qual é o sinal de que estamos no bom caminho?".
"'Socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva’. Ocupar-se do próximo: do doente, do pobre, de quem tem necessidade, do ignorante. Os hipócritas não sabem fazer isto, não podem, porque são tão cheios de si que estão cegos para olhar para os outros. Quando caminhamos um pouco e nos aproximamos de nosso Senhor, a luz do Senhor nos faz ver essas coisas e a ajudar os nossos irmãos. Este é o sinal, este é o sinal da conversão”.
"Isto não é toda a conversão", já que a conversão "é o encontro com Jesus Cristo", mas "o sinal de que estamos com Cristo é este: atender os nossos irmãos, os mais pobres, os doentes, como nosso Senhor nos ensina" e como lemos no capítulo 25 do evangelho de Mateus.
"A quaresma serve para arrumarmos a vida, ordená-la, mudar de vida, para nos aproximarmos do Senhor. O sinal de que estamos longe do Senhor é a hipocrisia. O hipócrita não tem necessidade do Senhor, ele se salva por si mesmo, pensa ele, e se disfarça de santo. O sinal de que nos aproximamos de nosso Senhor com a penitência, pedindo perdão, é cuidarmos dos nossos irmãos necessitados. Que nosso Senhor dê luz e valentia para todos nós: luz para conhecermos o que acontece dentro de nós e valentia para nos convertermos, para nos aproximarmos de nosso Senhor. É bonito estar perto do Senhor".

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Caminhar com Francisco




Juntos com Francisco, há um ano, estamos trilhando os caminhos missionários da Igreja pelo mundo afora. Um ano de incontáveis novidades e de muitos acontecimentos. Neste período, reacendeu uma chama que ilumina os cantos mais diferentes do mundo, especialmente o coração das pessoas. Um fenômeno de presença amorosa, simples, próxima e evangélica, que indica um percurso novo para a vida missionária da Igreja. As palavras, gestos, atitudes e encaminhamentos, no exercício do ministério de sucessor do Apóstolo Pedro, fazem do Papa Francisco um sinal que convoca todos para um novo tempo. Sua presença faz crescer no mundo a coragem e o empenho desafiador de resgatar o sempre novo tesouro da alegria do Evangelho da vida. Uma volta à fonte e um banhar-se nela, saciando a sede e lavando-se, para recompor a força que devolve serenidade misericordiosa aos olhares, alento para os pés cansados no caminhar, livra semblantes da poeira de tudo o que já ficou obsoleto.
O que está acontecendo, diante das necessidades urgentes - a recuperação de referências morais, religiosas, culturais, políticas e todas as outras carências gritantes - produz perguntas, ainda sem as respostas completas. Reacende esperanças, aguça curiosidades e prova que a força maior vem de Deus, da fidelidade a Ele. Essa lealdade desdobra-se em serviço à vida de todos, particularmente dos pobres e dos que estão nas periferias, especialmente aquelas existenciais. Ao celebrar este primeiro ano de pontificado, a Igreja é desafiada a trilhar as direções indicadas pelo Papa Francisco, conclamando todos para um projeto novo, de Igreja e humanidade. Para se efetivar, esse projeto depende daqueles que o testemunham, seguindo o exemplo do Papa, com vigor espiritual e simplicidade evangélica, que capacita intuições corajosas e criativas. Percepções e discernimentos diferentes das que viabilizam artimanhas políticas ou conchavos partidários. São, na verdade, fundamentadas no amor que desconcerta e refaz, aprende e ensina, convence sobre o bem, inspira o gosto pela justiça, deixa envergonhado quem não se faz solidário.
A surpresa da escolha do nome, Francisco, inspirado pela lembrança, a mais forte, significativa e sempre transformadora de não se esquecer dos pobres, é explicada pelos gestos e palavras do Papa Bergoglio. O Santo Padre, durante peregrinação a Assis, sublinhou que ser cristão é uma relação vital com a pessoa de Jesus, revestir-se Dele e a Ele se assemelhar. No horizonte, o ensinamento inspirado em São Francisco de Assis que se fez como os últimos, os pobres, não por um amor à pobreza em si mesma, mas porque seguindo os pobres, e a eles amando, se segue e se ama a Cristo. Um princípio que implica em novos ordenamentos, faz crescer a fé autêntica, aponta o horizonte de um resgate humanitário e cultural. É, neste sentido, remédio indispensável para que a humanidade seja curada de seus graves problemas existenciais, morais e políticos. Um verdadeiro raio de luz que indica uma possibilidade aparentemente simples, até por isso com o risco de ser desconsiderada pela soberba da racionalidade contemporânea.
O Evangelho de Jesus é o ponto de partida, único e insubstituível, com sua luz simples em meio a tantas luzes, argumento de amor entre tantos argumentos. Permite cultivar um jeito de ser com validade universal no horizonte das mais diversificadas culturas contemporâneas. O Papa Francisco, conforme sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, está sinalizando para a Igreja sua renovação e fortalecimento missionário, e ao mundo contemporâneo um caminho novo para a cultura da vida e da paz, ao propor que a resposta pode ser encontrada na busca e vivência de uma fraternidade mística. Trata-se de uma fraternidade “contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom”. O Papa alerta, com a força do Evangelho e a leveza de seu testemunho, sobre a ferida gritante da desumanização, mostrando um caminho para mudança dos cenários catastróficos que afligem a humanidade, onde a Igreja deve estar sempre presente como servidora, casa de todos, cultivando a fidelidade ao amor pelo qual cada um será julgado. Um ano de pontificado, Ação de Graças por tudo, é motivo de alegria poder assumir o desafio de caminhar com o Papa Francisco.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

sexta-feira, 14 de março de 2014

É o "dinamismo do amor" o que alimenta a fé

“Nós anunciamos Cristo… Por esta razão, eu me fatigo e luto com a força de Cristo que age em mim poderosamente” (cf. Col 1, 28-29). “Eu trabalhei mais que todos eles, mas não fui eu, e sim a graça de Deus que está comigo” (1 Cor 15, 10b). São Paulo evidenciava o "dinamismo do amor", a efusão do Espírito prometida por Jesus aos apóstolos no cenáculo: “Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós” (cf At 1, 8).
A nova Evangelização requer dinamismo. Dinamismo é a vontade de sair de novo, a confiança de sair de novo, fundada não na própria habilidade, mas na fé em Deus. Dinamismo significa trabalhar com entusiasmo, com alegria, com energia real, gloriosa, com o poder do Espírito. Significa trabalhar de forma criativa, perseverante nos esforços até a realização da obra de Deus. Significa não se render diante de um "não"; não ceder nunca ao medo e às preocupações. Um dinamismo que cresce quando tudo parece opor-se à evangelização, inversamente proporcional aos problemas pelos quais passamos.
Olhemos para o dinamismo de Jesus: ele não para diante de nada; mesmo no gesto extremo do "cálice da morte", ele vai até o fim. Jesus nunca fez as coisas pela metade, não se rendeu nunca. Jesus nos deu o seu Espírito para definir uma tarefa para cada um de nós: fazer discípulos, salvar almas. E essa tarefa tem que se desenvolver de forma dinâmica. Esta é nossa missão. “Jesus respondeu: Quem põe a mão no arado e olha para trás, não é digno do Reino de Deus” (Lc 9, 62). Jesus se descontenta com o servo nervoso, preocupado, que pega o seu único talento e o esconde: “Lançai-o fora, às trevas” (Mt 25, 30).
Jesus não gosta da figueira estéril: “Cortai-a; para que desperdiçar a terra?” (cf. Lc 13, 7). É necessário trabalhar com o dinamismo de um vencedor. Desde que nos tornamos crentes, somos homens dinamizados pelo amor, que vivem uma vida diferente, mais intensa, mais plena. Em nós, vive Cristo. Não conta mais a nossa vida, mas a dele, a dele em nós, através de nós.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 13 de março de 2014

A misericórdia de Cristo salva o homem do pecado

Uma reflexão sobre o poder da misericórdia de Cristo, que salva de todo pecado o ser humano que busca a Deus, e uma consideração sobre a diferença entre a linguagem que comunica a sabedoria de Deus e a que se detém na "sabedoria do mundo". Durante os exercícios espirituais para o Papa Francisco e a Cúria Romana, na casa Divino Mestre em Ariccia, Pe. Angelo De Donatis centrou suas meditações, na tarde de ontem e hoje de manhã, nas duas questões acima citadas, conforme informações da Rádio Vaticana.
Verificou-se também que todos os participantes do retiro, primeiro fora do Vaticano, pagaram do próprio bolso a hospedagem.
Jesus não era um grande comunicador porque usava palavras “que queriam persuadir a qualquer custo", mas porque transmitia a sabedoria de Deus, única maneira de chegar ao fundo dos corações. No encontro desta manhã, Pe. Donatis propôs ao Papa e seus colegas uma reflexão sobre a linguagem e suas armadilhas. O homem de hoje, constatou, ainda está procurando a linguagem justa, a de Cristo, que não é a linguagem da força e do poder, mas da fraqueza, que todos compreendem, sobretudo, aqueles que sofrem. A linguagem da caridade com a qual Jesus comunica ao homem a grandeza de Deus e que permite ao ser humano dar testemunho de Cristo.
O amor entendido como misericórdia foi a chave de leitura da meditação proposta por Parde Donatis ontem à tarde, inspirada na passagem do Evangelho de Marcos em que a hemorroíssa é curada, simplesmente por ter tocado o manto de Jesus, colocando todas as suas esperanças no gesto. Considerada impura por sua religião -disse o pregador- a mulher derrota o mal, porque acredita plenamente em Jesus. Ainda hoje isso acontece- afirmou Donatis- quando a religião não ajuda a salvar o homem que está morrendo por um pecado. Quem salva –recordou- é Cristo, sua misericórdia, e ter fé significa ter um contato vivo com Ele. Constroem-se andaimes enormes para se chegar a Cristo, mas não se consegue alcança-Lo -continuou Pe. Donatis- talvez porque se seguem as coisas mundanas e se pensa pouco sobre o significado do Batismo, ou seja, no momento em que a Igreja nos acolheu quando estávamos mortos e nos restituiu vivos, graças ao sangue de Jesus.
Nós - concluiu o pregador dos exercícios espirituais- não fazemos nada para nos salvar, Deus faz tudo. Por isso, devemos agradecê-Lo e nos lembrar de caminhar não na frente de Cristo, mas com Ele.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Um ano atípico e a família no centro dos debates sócio-eclesiais

Além de estarmos num ano bissexto, é ano de Copa do Mundo, de Eleições presidenciais e, a nível eclesial, de envolvimento na preparação, no caminho e no acompanhamento da 3ª Assembleia extraordinária do Sínodo dos bispos! É preciso fôlego e dedicação para não perder nenhum “lance” da vida sócio-política e familiar, pois os desafios estão em toda parte! Por um lado os resultados devem ser imediatos e satisfatórios, pois em jogo estão, para os vencedores, um campeonato mundial e os cargos de representantes políticos do povo. Por outro, estes resultados não são, ou não deveriam, ser pautados pela ânsia do êxito, pela pressa em tirar conclusões baseadas talvez mais na “casuística”, como afirmou o Papa aos cardeais no consistório extraordinário sobre a família, do que no aprofundamento que gera uma “pastoral inteligente, corajosa e cheia de amor” (Papa Francisco, 20 de fevereiro de 2014).
Embora haja uma avalanche de “torcedores” e “juízes” que já queiram determinar o resultado do “jogo” ou o seu desenrolar, reza o ditado popular que “o jogo só acaba com o apito final”! Se isso é verdade para a Copa do Mundo e para as próximas Eleições, quanto mais em relação à reflexão que a Igreja faz sobre a família e a autocompreensão desta no contexto da atualidade. Não se está diante do “ganhar ou perder” ou do “vai ou racha”, mas da capacidade de adaptação da família, que, através de um processo gradual, segundo a pedagogia divina, colhe do novo e do velho e continua avançando como a forma privada e pública mais adequada de realização da pessoa e da sociedade. Mesmo o debatido discurso do Cardeal Walter Kasper, durante o consistório, aponta nesta direção.
A Comissão para a Vida e a Família da CNBB, através da Comissão Nacional da Pastoral Familiar, participou do processo de consulta iniciado pelo envio do questionário de preparação do Sínodo às Igrejas particulares, fomentando a contribuição de todos comprometidos com a causa da família em suas diversas situações. Durante este ano e no próximo, o trabalho destas Comissões será orientado a suscitar o empenho de todos no caminho de preparação para o Sínodo, e para o esforço de se colher os frutos da dedicação em desenvolver uma pastoral familiar reconhecida como necessária para a vida da Igreja, em buscar respostas aos mais diversos desafios que se apresentam às famílias na atualidade, e a estar em comunhão com os trabalhos e as conclusões da Igreja universal.
Portanto, os projetos desenvolvidos por estas comissões estarão em grande sintonia com o momento eclesial e social da atualidade. Em particular, destacam-se a Semana Nacional da Família, que já começa a ser preparada por nossas comunidades, com o auxílio do subsídio Hora da Vida[1], cujo tema é “A espiritualidade cristã na família: um casamento que dá certo”, o 4º Simpósio e 6ª Peregrinação das Famílias a Aparecida, com o tema “Família: caminhar com a luz e a sabedoria do Evangelho” e XIV Congresso Nacional da Pastoral Familiar, em São Luís-MA. Deseja-se, assim, para citar mais uma vez o Papa Francisco, pôr “em evidência o plano luminoso de Deus para a família” e ajudar “os esposos a viverem-no com alegria ao longo dos seus dias, acompanhando-os no meio de tantas dificuldades.” (20 de fevereiro de 2014).

[1] Este pode ser adquirido junto aos casais coordenadores da Pastoral Familiar, ou através da loja da Pastoral Familiar: www.lojacnpf.org.br

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 10 de março de 2014

A Igreja é divina e humana

Há homens e mulheres, irmãos na fé católica, que ficam perplexos quando um (a) filho(a) da Igreja (leigo(a), religioso(a), sacerdote ou bispo) comete algum erro.
É, pois, a esses cristãos atônitos que dedico, com apreço, o presente artigo a fim de deixar claro o seguinte: a Igreja, como Corpo místico de Cristo prolongado na história (cf. Cl 1,24; 1Cor 12,12-21), é divina, mas formada por filhos pecadores é também humana, segundo a parábola do joio e do trigo (cf. Mt 13,24-30) ao relatar que no campo do Senhor, junto ao trigo (os bons) cresce o joio (os maus).
Aqui já se coloca um impasse: por que Deus permite que os pecadores permaneçam na sua Igreja? – Responde São Tomás de Aquino (†1274) que é pelas seguintes razões: a) o pecado de uns, longe de desanimar, deve incentivar os fiéis a serem mais santos em resposta supridora ao pecado; b) o Senhor quer dar a cada um desses pecadores a oportunidade de se converterem, especialmente por meio do Sacramento da Confissão; c) mesmo com o mau exemplo dos errantes, a Igreja não deixa de exercer a missão que Nosso Senhor lhe confiou: o ouro da graça divina pode passar por mão sujas, mas não perde o seu pleno valor.
Sim, desde o início do Cristianismo, de um modo particular a partir de Santo Agostinho (†430), a Igreja, lembrando as parábolas do joio e do trigo, já citada, e da rede que recolhe bons e maus peixes (cf. Mt 13,47-50), demonstra que sempre houve problemas nas comunidades: incesto (cf. 1Cor 5,1); injúrias ao apóstolo Paulo (cf. 2Cor 2,5-11), renegação da doutrina (cf. Hb 6,4-8; 10,26-31), falhas morais diversas (cf. Gl 1,6; 3,1;5,4), esfriamento da fé (cf. Ap 2-3) etc.
Todavia, não obstante às falhas de seus filhos, em Mt 28,20, o Senhor Jesus promete estar com a Igreja até o fim dos tempos. Daí comentar Dom Estevão Bettencourt, OSB, o seguinte: “Jesus promete à sua Igreja uma assistência vigilante... Igreja caracterizada pela sucessão apostólica; Jesus não promete estar com os mais santos ou os mais cultos, mas, sim, com os Apóstolos e seus legítimos sucessores [os Bispos] até o fim dos tempos. Muitas pessoas procuram o Cristo na comunidade mais simpática ou mais emocionante (critérios subjetivos). O que importa é não perder a comunhão com essa linhagem [dos Apóstolos em seus sucessores], mesmo que nela se encontre figuras humanas pouco dignas (o joio não impede o trigo de frutificar)” (A Igreja divina e humana. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2004, p. 6).
Isso posto, vê-se que só se afasta do colo da Mãe Igreja aquele(a) que desconhece em profundidade a fé que diz professar ou que se deixa levar por sentimentalismos capazes de colocar o bispo X ou o padre Y no lugar de Deus. Isso, se feito conscientemente, é pecado. E pecado grave.
Em sentido contrário, quem entende que a Igreja é divina e humana concorda, neste ponto, com o filósofo Jacques Maritain ao escrever que “Os católicos não são o Catolicismo. As faltas, as lerdezas, as carências e as sonolências do católico não comprometem o Catolicismo... A melhor apologética [defesa] não consiste em justificar os católicos quando erram, mas, ao contrário, em assinalar esses erros e dizer que não afetam a substância do Catolicismo e só contribuem para melhor trazer à tona a força de uma religião sempre viva apesar deles... Não nos considereis a nós pecadores. Vede, antes, como a Igreja sana as nossas chagas e nos leva trôpegos para a vida eterna... A grande glória da Igreja é ser santa com membros pecadores” (Religion et culture. Paris, 1930, p. 60).
Possam essas reflexões levar-nos a confiar na mensagem transmitida pela Mãe Igreja por meio de seus ministros (às vezes pouco dignos) e rezar sempre pela nossa conversão e pela dos nossos irmãos. Afinal, somos chamados a ser santos como o Pai celeste é santo (cf. Lv17,1; Mt 5,48; 1Pd 1,5s).

Fonte: Zenit.

sábado, 8 de março de 2014

Papa Francisco: A vida de fé sem vida de caridade é hipócrita

"Eu me envergonho da carne do meu irmão, da minha irmã?", perguntou o Santo Padre na homilia desta manhã, na Casa Santa Marta. O papa destacou que a vida de fé está estreitamente unida com a vida de caridade para com os pobres. Sem essa vida de caridade em união com a vida de fé, o que se professa é pura hipocrisia.
Francisco explicou que o cristianismo não é uma regra sem alma, não é um manual de observações formais para pessoas que mostram a face aparentemente bela da hipocrisia para esconder um coração vazio de caridade. Ele também recordou que o cristianismo é a própria carne de Cristo, que se aproxima, sem vergonha, daqueles que sofrem. Para aprofundar neste ponto, o pontífice usou como referência o Evangelho de hoje, em que Jesus dialoga com os doutores da lei que criticam os discípulos porque eles não respeitam o jejum, em contraste com eles e com os fariseus, que jejuam e fazem questão de demonstrá-lo. O Santo Padre ressaltou que os doutores da lei tinham transformado a observação dos mandamentos em uma "formalidade", reduzindo a "vida religiosa" a "uma forma de ética" e esquecendo-se das raízes, ou seja, "uma história de salvação, de escolha e de aliança".
Assim, o papa Francisco afirmou: "Receber do Senhor o amor de um Pai, receber do Senhor a identidade de um povo e depois transformá-la em um mero sistema de ética é rejeitar esse dom de amor. Essas pessoas hipócritas são pessoas boas, fazem tudo o que tem que ser feito. Parecem boas! São 'especialistas em ética', mas 'especialistas em ética' sem bondade, porque perderam o senso de pertença a um povo! Nosso Senhor dá a salvação dentro de um povo, no pertencimento a um povo".
Francisco observou também que o profeta Isaías já tinha descrito com clareza qual era o jejum verdadeiro aos olhos de Deus: "dissolver os injustos grilhões", "tornar livres os oprimidos", mas também "compartilhar o pão com o faminto, acolher em casa os indigentes que não têm teto", "vestir quem está nu". E matizou: "Este é o jejum que nosso Senhor quer! O jejum que se preocupa com a vida do irmão, que não se envergonha, e isso é o próprio Isaías quem diz, que não se envergonha da carne do irmão. A nossa perfeição, a nossa santidade se realiza com o nosso povo, o povo em que nós somos escolhidos e introduzidos. O nosso maior ato de santidade está precisamente na carne do irmão e na carne de Jesus Cristo. O ato de santidade de hoje, nosso, aqui, no altar, não é um jejum hipócrita: é um não envergonhar-se da carne de Cristo que vem hoje aqui! É o mistério do Corpo e do Sangue de Cristo. É compartilhar o pão com o faminto, cuidar dos doentes, dos idosos, de quem não pode nos dar nada em troca: isto é não se envergonhar da carne!".
Isto quer dizer que o "jejum mais difícil", afirmou o papa, é "o jejum da bondade". É o jejum de que é capaz o Bom Samaritano, que se inclina para ajudar o homem ferido, mas não o jejum do sacerdote, que olha para o mesmo desafortunado e passa direto, talvez por medo de se contaminar. E esta é, portanto, "a pergunta que a Igreja nos faz hoje: eu me envergonho da carne do meu irmão, da minha irmã?".
Francisco indagou ainda: "Quando eu dou esmola, deixo a moeda cair sem tocar na mão do meu irmão? E se toco na mão dele por acaso, me limpo logo em seguida? Quando eu dou uma esmola, olho nos olhos do meu irmão, da minha irmã? Quando eu sei que uma pessoa está doente, vou visitá-la? Saúdo aquele doente com ternura? Existe um sinal que talvez nos ajude. É uma pergunta: eu sei acariciar os doentes, os idosos, as crianças? Ou perdi o sentido da carícia? Esses hipócritas não sabiam acariciar! Eles tinham se esquecido... Não ter vergonha da carne do nosso irmão: ela é a nossa carne! É conforme fizermos isso com o nosso irmão, com a nossa irmã, que seremos julgados".

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Não existe estilo cristão sem cruz ou sem Jesus




Humildade, doçura, generosidade: este é o estilo cristão, um caminho que passa pela cruz e que leva à alegria. Esta foi a ideia central da homilia do papa Francisco na manhã de hoje, na Casa Santa Marta.
No Evangelho proposto pela liturgia desta quinta-feira, Jesus diz aos discípulos: "Quem quiser me seguir, negue a si mesmo, tome a sua cruz todo dia e me siga". Francisco destacou que este é "o estilo cristão", porque Jesus mesmo percorreu este caminho antes de nós. E explicou: "Nós não podemos pensar a vida cristã fora deste caminho. Sempre teremos este caminho que Ele trilhou primeiro: o caminho da humildade, o caminho também da humilhação, de negar a si mesmo e depois ressurgir. Mas este é o caminho. O estilo cristão sem cruz não é cristão. E se a cruz é uma cruz sem Jesus, ela não é cristã. O estilo cristão carrega a cruz com Jesus e vai em frente. Não sem cruz, não sem Jesus".
O papa recordou ainda que Jesus "deu o exemplo" e, mesmo "sendo igual a Deus", "se humilhou e se fez servo por nós". Francisco acrescentou que "este estilo nos salvará, nos dará alegria e nos tornará fecundos, porque este caminho de negar a si mesmo é para dar vida, é contra o caminho do egoísmo, de estar apegado a todos os bens só para mim... Este caminho é aberto aos outros, porque esse caminho que Jesus trilhou, de anulação, esse caminho foi para dar vida. O estilo cristão é precisamente esse estilo de humildade, de doçura, de mansidão. Quem quer salvar a própria vida a perderá, porque se o grão de trigo não morre, não pode dar fruto".
Francisco destacou: E "tudo isto com alegria, porque a alegria é Ele mesmo quem nos dá. Seguir Jesus é alegria, mas seguir Jesus com o estilo de Jesus, não com o estilo do mundo". O papa observou que seguir o estilo cristão significa percorrer o caminho de nosso Senhor, "cada um do jeito que pode, para dar vida aos outros, não para dar vida a si mesmo. É o espírito da generosidade". O nosso egoísmo nos faz querer parecer importantes diante dos outros. Mas o livro da Imitação de Cristo "nos dá um conselho belíssimo: 'Ama o fato de não seres conhecido e de seres julgado como nada'. É a humildade cristã, que Jesus praticou primeiro".
Para terminar, o pontífice explicou que "esta é a nossa alegria e esta é a nossa fecundidade: estar com Jesus. Outras alegrias não são fecundas; só pensam em ganhar o mundo inteiro, mas, no final, perdem a vida. No início da quaresma, peçamos que nosso Senhor nos ensine um pouco desse estilo cristão de serviço, de alegria, de rebaixamento de nós mesmos e de fecundidade com Ele, como Ele quer".

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Elementos para viver a Quaresma: fé autêntica, conversão e abertura de coração aos irmãos

Queridos irmãos e irmãs, bom dia
Começa hoje, Quarta-Feira de Cinzas, o itinerário quaresmal de quarenta dias que nos conduzirá ao Tríduo pascal, memória da paixão, morte e ressurreição do Senhor, coração do mistério da nossa salvação. A Quaresma nos prepara para este momento tão importante, por isto é um tempo “forte”, um ponto de reviravolta que pode favorecer em cada um de nós a mudança, a conversão. Todos nós temos necessidade de melhorar, de mudar para melhor. A Quaresma nos ajuda e assim saímos dos hábitos cansados e do preguiçoso costume ao mal que nos engana. No tempo quaresmal, a Igreja nos dirige dois importantes convites: adotar uma consciência mais viva da obra redentora de Cristo; viver com mais empenho o próprio Batismo.
A consciência das maravilhas que o Senhor fez para a nossa salvação dispõe a nossa mente e o nosso coração a uma atitude de gratidão para Deus, por quanto Ele nos deu, por tudo aquilo que realiza em favor do seu povo e de toda a humanidade. Daqui parte a nossa conversão: essa é a resposta grata ao mistério maravilhoso do amor de Deus. Quando nós vemos este amor que Deus tem por nós, sentimos a vontade de nos aproximarmos Dele: esta é a conversão.
Viver a fundo o Batismo – eis o segundo convite – significa também não se habituar às situações de degradação e de miséria que encontramos caminhando pelos caminhos das nossas cidades e dos nossos países. Há o risco de aceitar passivamente certos comportamentos e de não se surpreender diante das tristes realidades que nos cercam. Nós nos acostumamos com a violência, como se fosse uma notícia cotidiana deduzida; habituamo-nos aos irmãos e irmãs que dormem pelas ruas, que não têm um teto para abrigar-se. Habituamo-nos aos refugiados em busca de liberdade e dignidade, que não são acolhidos como se deveria. Habituamo-nos a viver em uma sociedade que pretende fazer pouco de Deus, na qual os pais não ensinam mais aos filhos rezar nem fazer o sinal da cruz. Eu pergunto a vocês: os vossos filhos, as vossas crianças sabem fazer o sinal da cruz? Pensem. Os vossos netos sabem fazer o sinal da cruz? Vocês ensinaram a eles? Pensem e respondam no vosso coração. Sabem rezar o Pai Nosso? Sabem rezar à Nossa Senhora com a Ave Maria? Pensem e respondam. Este costume a comportamentos não cristãos e de comodismo narcotiza o nosso coração!
A Quaresma vem a nós como tempo providencial para mudar a rota, para recuperar a capacidade de reagir diante da realidade do mal que sempre nos desafia. A Quaresma seja vivida como tempo de conversão, de renovação pessoal e comunitária mediante a aproximação a Deus e a adesão confiante ao Evangelho. Deste modo, permite-nos também olhar com olhos novos para os irmãos e as suas necessidades. Por isto a Quaresma é um momento favorável para se converter ao amor para com Deus e para com o próximo; um amor que saiba fazer propriamente a atitude de gratuidade e de misericórdia do Senhor, que “fez-se pobre para enriquecer-nos com a sua pobreza” (cfr 2 Cor 8, 9). Meditando sobre os mistérios centrais da fé, a paixão, a cruz e a ressurreição de Cristo, perceberemos que o dom sem medida da Redenção nos foi dado por iniciativa gratuita de Deus.
Dar graças a Deus pelo mistério do seu amor crucificado; fé autêntica, conversão e abertura de coração aos irmãos: estes são elementos essenciais para viver o tempo da Quaresma. Neste caminho, queremos invocar com particular confiança a proteção e a ajuda da Virgem Maria: seja Ela, primeira crente em Cristo, a nos acompanhar nos dias de oração intensa e de penitência, para chegar a celebrar, purificados e renovados no espírito, o grande mistério da Páscoa do seu Filho.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Senhor, defendei os sacerdotes e religiosas da idolatria e da vaidade, da soberba e do dinheiro

Muitas vezes, o próprio coração impede de dizer sim à vocação: cheio de soberba, inveja, idolatria. Por isso, o Papa, na homilia desta segunda-feira, na capela da casa Santa Marta, pediu orações, para que o Senhor envie sacerdotes e religiosas livres da idolatria e da vaidade, do poder e do dinheiro.
Hoje, destacou o Papa, muitos jovens sentem em seus corações este chamado para se aproximar de Jesus, e ficam entusiasmados”, “não têm vergonha de se ajoelharem” diante d’Ele, para dar uma demonstração pública de sua fé em Jesus Cristo”. Ainda hoje existem muitos jovens que têm vocação, mas às vezes há algo “que os impede”: “o coração está cheio de outras coisas, não são muito corajosos para esvaziá-lo, voltam para traz, e a alegria se torna tristeza”.
É a mesma situação narrada no Evangelho de hoje: o homem rico que se lança de joelhos diante de Jesus para pedir-lhe o que deveria fazer para herdar a vida eterna. Ele era um homem que “tinha um grande desejo de ouvir as palavras de Jesus”: era “um homem bom, porque desde a sua juventude tinha observado os mandamentos, “mas isso não era suficiente para ele: queria mais. O Espírito Santo o impulsionava”.
Então, Jesus olha para ele e lhe faz uma proposta de amor: “Venda tudo e vem comigo pregar o Evangelho”. Parece fácil para alguns, mas para aquele jovem, quando escutou essa chamada, “fechou a cara e foi embora triste”, porque possuía muitos bens.
“O seu coração inquieto, por causa do Espírito Santo que lhe impulsionava a chegar perto de Jesus e a segui-lo, era um coração cheio, destacou Bergoglio, mas ele não teve a coragem de esvaziá-lo.” O coração dele estava ligado ao dinheiro e não tinha a liberdade de escolher. “O dinheiro escolheu por ele”.
Muitos jovens hoje vivem um dualismo como este narrado no Evangelho. “Devemos rezar, exortou Francisco, para que o coração destes jovens possa se esvaziar, se esvaziar de outros interesses, de outros amores, para que o coração se torne livre.
Francisco então sugeriu uma oração pelas vocações”: “Senhor, envie-nos religiosas, envie-nos sacerdotes, defenda-os da idolatria, da idolatria da vaidade, da idolatria do orgulho, da idolatria do poder, da idolatria do dinheiro.”
É uma oração para rezar muitas vezes, insistiu o Pontífice: “Ajudai, Senhor, esses jovens, para que eles sejam livres e não sejam escravos, para que tenham o coração só para Vós, e assim o chamado do Senhor possa chegar e possa dar frutos. Mas atenção, esta oração não é para fazer nascer vocações: existem vocações. O problema é ajudar para que cresçam, para que o Senhor possa entrar naqueles corações e dar esta alegria indizível e cheia de glória que tem cada pessoa que segue de perto a Jesus.”


(Fonte: Zenit. Trad.:MEM)

segunda-feira, 3 de março de 2014

Priorizar a catequese com adultos

A Segunda Semana Brasileira de Catequese foi dedicada à catequese com adultos, sendo o seu lema: COM ADULTOS, CATEQUESE ADULTA. Vários conferencistas discorreram sobre essa tema, apresentando pesquisas, sugestões e perspectivas para uma eficiente catequese com adultos. Entre eles quero lembrar Dom Juventino Kestering que, entre tantos argumentos na sua conferência, destacou: “Muitos católicos não receberam claramente o primeiro anúncio de Jesus Cristo, nem passaram pelo processo de crescimento e amadurecimento pessoal da fé, através de uma verdadeira experiência catequética. Esses católicos não sentem uma vinculação atual com a Igreja. São atraídos por outras religiões ou anônimos e sem pertença a uma comunidade” (Estudos da CNBB 84, p.265).
É um fato irrefutável em nossa Igreja: há sempre católicos que se afastam dela. Sem desprezar os vários motivos que os pesquisadores apontam, quero refletir sobre o conteúdo da catequese de algumas comunidades, sem generalizar.

CONVERSÃO E FÉ

A catequese, respeitando a pedagogia por idade, não pode ser um verniz que é aplicado apenas na superfície, há de penetrar na vida das pessoas, provocando uma conversão interior. O conteúdo há de ser algo que responda a pergunta: “vocês entenderam o que vos fiz?” (cf. Jo 13,12). O ministério catequético é sempre o de instrução acompanhado do testemunho, devendo ter clareza no conteúdo para provocar uma transformação espiritual.
Os elementos da catequese são ordenados não só para conhecer Jesus Cristo, pois os demônios também o conhecem (cf. Mc 5,7-13) e continuam sendo demônios, mas provocar uma adesão a Cristo, “num processo de conversão permanente, que dura toda a vida” (cf. Diretório Geral da Catequese, 56). Por isso, a fim de atender seus princípios, necessita de uma ordenação sistemática e orgânica para entrar na revelação que Deus faz de si mesmo, contida na Sagrada Escritura, guardada na memória da Igreja e transmitida a todos, de geração em geração. Aqui podemos perguntar: o que o catequista está transmitindo é o que foi revelado por Deus (catequese bíblica)? Há sintonia entre o catequista e o Magistério da Igreja (catequese eclesial)? O catequista vive o que transmite, frequentando os sacramentos, encarnando em si a Palavras de Deus, amando o próximo, tendo uma vida de testemunho? Para que a catequese provoque adesão permanente a Cristo é preciso que entenda a pergunta-ordem de Cristo: “Vocês entenderam? [...] Como eu vos fiz, também o façais” (cf.Jo 13,12.15).

A CATEQUESE É CRISTOLÓGICA

O Pai é revelado pelo Filho. Só se chega ao Pai através do Filho: “Quem me vê, vê o Pai... eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,9-10). Então, para se chegar ao mistério revelado, que é a finalidade da catequese, ela tem que ser cristológica. Cristo é o objeto e o sujeito da catequese. “A finalidade da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo: somente ele pode levar ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade” (Catequese Hoje, n. 5).
A Catequese entra na vida de Jesus, caminha com Ele, come com Ele, bebe comEle, sofre com Ele, aprende na escola de Jesus. A catequese não é só instrução, transmissão de doutrina, mas uma experiência de vida em Cristo, por isso é entender a vida através da vida de Cristo, é ver a vida através da vida d’Ele. É muito difícil abandonar o Cristo depois de conhecê-lo por inteiro. No discurso do Pão da vida, aqueles que não conseguiram entrar no mistério de Cristo, debandaram-se; e Pedro, em nome dos que já haviam aderido totalmente a Ele, dá a resposta pela fé: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (cf. Jo 6,60-69).
Se a catequese não entrar na vida, no Reino de Deus que já está no meio de nós, e que foi pregado por Cristo, torna-se um verniz que evapora e desaparece. E poderíamos perguntar: será que muitos que deixaram a Igreja não o fizeram por falta de uma catequese fundada em Cristo?

CONCLUSÃO À TÍTULO DE REFLEXÃO

Certa ocasião, perguntei a uma jovem que ia receber o sacramento da Confirmação: você gostou da catequese? E ela respondeu: “gostei muito”. Continuei: de que você gostou mais? E ela: “das gincanas, das dinâmicas”. Insisti: o que essas gincanas e dinâmicas transmitiram-lhe? E a resposta: “não me lembro, mas eram muito divertidas”.
Uma catequese sem conteúdo são palavras jogadas ao vento. Não educam para a fé, facilitando o êxodo. É preciso sair de si mesmo, da individualidade do catequista, para entrar na comunidade de Cristo, seguindo-O até o Calvário.

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Leia também o artigo anterior: Catequese para Adultos: uma catequese em tempos de mudança
José Barbosa de Miranda é Diácono Permanente na Arquidiocese de Brasília. Bacharel em Teologia pela PUC-Goiânia. Pós-graduado em Catequese pelo Centro Universitário Salesiano – UNISAL – São Paulo. Professor na Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília. Colaborador na formação dos noviços do Seminário São Luiz Orione, de Brasília.
Para dúvidas e comentários converse com o autor desse artigo enviando um email para: mirandajosebarbosa@hotmail.com

domingo, 2 de março de 2014

O reino de Deus e sua justiça



Nos dias de Carnaval voltam às ruas fantasias de reis e rainhas, para que o “reinado” de “Momo” se estabeleça, e “tudo acabar na quarta-feira”. Volta então o quotidiano, com suas lutas, tristezas ou alegrias. Muitas pessoas precisarão de muitos fins de semana, com farras, bebibas ou baladas para se desafogarem, seja qual for o tempo do ano. E a vida vai adiante, como se fossem necessários espasmos de exuberância, barulho ou exagero. É o reino da sensibilidade e da superficialidade, ao qual arriscamos ficar acostumados. Nasce no coração de muitas pessoas a pergunta a respeito de uma maior continuidade de sentimentos, marcada pela serenidade. A resposta não está no barulho ou na correria, mas dentro do coração e mais alto, no ponto de chegada das escolhas a serem feitas. Quando estas se realizam em torno de valores consistentes, tudo muda. Divertir-se passa a ser partilha de vida, a alegria brota de dentro e contagia, as festas deixam de ter o gosto amargo da ressaca ou da vergonha e a felicidade verdadeira se instala.
Jesus se proclamou Rei e anunciou que seu reino não é desse mundo. Sua paixão era o Reino de Deus. Fala de Reino dos Céus, usa inúmeras parábolas para dele aproximar as pessoas, mostra-o presente dentro e perto de nós, suscita vigilância em seus discípulos para a sua chegada. Um dia, é nossa esperança e certeza, Ele virá glorioso para julgar os vivos e os mortos e o seu Reino não terá fim. Até lá, os cristãos têm a tarefa ao mesmo tempo exigente e gloriosa de anunciar este Reino. Sua vida há de ser de tal modo coerente que as pessoas se sintam atraídas a ponto de aderirem ao Senhor e ao seu Reino. Não é necessário competir ou guerrear com os reinos do mundo, mas implantar os valores do Evangelho, que acolhem e elevam todas as realidades humanas, dando-lhes sentido e rumo.
Da própria natureza (Mt 6,24-34) o Senhor tira comparações para explicar o Reino de Deus. Quando tanta gente tem necessidade de se enfeitar ou se maquiar, em busca de fantasias para o ano inteiro, o Senhor faz voltar os olhos para as flores do campo, que se vestem melhor do que Salomão ou todos os reis da terra. São simples, tirando da terra só e tão somente o que precisam para serem vivas e bonitas. Nelas o Pai do Céu inscreveu uma harmonia que nenhum artista consegue imitar. Olhando-as, nasce nas pssoas apaixonadas pelo Reino de Deus um bom gosto diferente. Em torno de si, a casa, a roupa ou o ambiente começam a ficar diferentes, para melhor, porque elas existem. Sem exageros, saem plantando uma ordem nova, sem imposições, recolhendo o que existe de bom, integrando pessoas e coisas. Sua presença não pesa, mas constroí relacionamento com os outros. Seu jeito de viver, antes de analisar ou criticar, recolhe o bem e a beleza.
Sabemos que muitas pessoas “curtem” a natureza, mas a contribuição dos cristãos é diferente. A poesia da vida nasce do relacionamento com Deus e a justiça de seu Reino. A natureza não é divinizada, mas acolhida e amada por pessoas que fizeram escolhas de vida, recebendo o chamado a seguir Jesus e os valores do Reino de Deus. Não vão em busca de forças extraordinárias, mas descobrem o extraordinário da vida no relacionamento com Deus.
Também o “reino” animal é carregado de lições que apontam para o “Reino de Deus”. Os pássaros dos céus, que não semeiam, não colhem nem ajuntam em armazéns (Cf. Mt 6, 26), são sinais do amor com que Deus cuida dos seus. Olhar para eles e descobrir as lições que o Senhor nos oferece é sabedoria! Confiança, liberdade, entrega! Asas que se abrem e muitas pessoas até encontram jeito de “voar”, com instrumentos esportivos que possibilitam sentir o gostinho de tais alturas! Entretanto, maiores altitudes podem ser alcançadas mesmo com os pés no chão, por quem se entrega confiante nos braços do Pai, vivendo bem cada momento presente, ouvindo o apelo do Senhor: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá sua própria preocupação! Para cada dia bastam seus próprios problemas” (Mt 6, 34).
Indo além de plantas ou pássaros, Jesus remete seus discípulos de todos os tempos à escolha que decide tudo: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33). Não somos ingênuos, pensando que Deus estará à nossa disposição para oferecer roupa e alimento, mas sabemos que sua Providência Santíssima age e se realiza também através de nossas escolhas diárias. Buscar a justiça do Reino de Deus quer dizer coerência com a verdade e retidão no agir. Se assim nos decidimos, o espaço está aberto para que Deus realize sua obra. A culpa da falta de comida ou de roupa, casa, abrigo, apoio, não está em Deus, mas nas estruturas injustas que se instalaram entre nós e que não correspondem em nada com o plano por Ele estabelecido. O paraíso terrestre, descrito no livro do Gênesis, continua sendo a referência para quem quer conhecer o projeto original! De lá para cá, muito estrago foi feito e muitas tarefas se apresentam para quem quer optar pelo que Deus pensa.
Na próxima semana, a Igreja inicia a Quaresma e lança em todo o Brasil a Campanha da Fraternidade, que toca num tema atual e desafiador, o tráfico humano. Não corresponde ao plano de Deus as pessoas serem transformadas em mercadorias, ou prostituídas. Atenta contra o Reino de Deus crianças ou jovens e adultos serem negociados para transplante de órgãos. Causa vergonha, revolta, e comoção que grita por soluções o tráfico de pessoas para trabalho escravo! Tudo isso clama por Reino de Deus! Desejamos contribuir para que nasça uma nova consciência social e todas as pessoas de boa vontade se unam para vencer esta terrível chaga social. A Campanha da Fraternidade quer ser mesmo uma Campanha de opinião pública, para suscitar novas práticas de relacionamento entre as pessoas.
A justiça do Reino de Deus exige que as pessoas sejam mais tratadas do que as plantas ou os animais! Sem desvalorizar a natureza, é hora de dar um salto de qualidade no relacionamento social. Afinal, no último dia da criação, na belíssima visão do Livro do Gênesis, foram criados o homem e a mulher e só deles se disse “à sua imagem e semelhança” (Cf. Gn 1, 26-31). Não permaneçamos inativos ou imóveis diante de ações que vilipendiam a beleza da obra de Deus. Esperamos um tempo novo e desejamos construí-lo juntos!

Fonte: Zenit.