domingo, 31 de julho de 2016

Francisco: o cristão “gosta de arriscar e sair, não forçado por sendas já traçadas, mas aberto e fiel às rotas indicadas pelo Espírito”

Na manhã de ontem, sábado, o Santo Padre Francisco presidiu a Celebração Eucarística no Santuário João Paulo II, em Łagiewniki, para sacerdotes, religiosas e religiosos,leigos consagrados e seminaristas. Eis o texto da homilia na íntegra:
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“A passagem do Evangelho, que ouvimos (cf. Jo 20, 19-31), fala-nos de um lugar, um discípulo e um livro.
O lugar é aquele onde se encontravam os discípulos, na tarde de Páscoa; dele, apenas se diz que as suas portas estavam fechadas (cf. v. 19). Oito dias depois, os discípulos ainda estavam naquela casa, e as portas ainda estavam fechadas (cf. v. 26). Jesus entra lá, coloca-Se no meio e leva a sua paz, o Espírito Santo e o perdão dos pecados: numa palavra, a misericórdia de Deus. Dentro deste lugar fechado, ressoa forte o convite que Jesus dirige aos seus: «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (v. 21).
Jesus envia. Ele, desde o início, deseja que a Igreja esteja em saída, vá pelo mundo. E quer que o faça assim como Ele próprio fez, como Ele foi enviado ao mundo pelo Pai: não como poderoso mas na condição de servo (cf. Flp 2, 7), não «para ser servido mas para servir» (Mc 10, 45) e para levar a Boa-Nova (cf. Lc 4, 18); e assim são enviados os seus, em todos os tempos. Impressiona o contraste: enquanto os discípulos fechavam as portas com medo, Jesus envia-os em missão; quer que abram as portas e saiam para espalhar o perdão e a paz de Deus, com a força do Espírito Santo.
Esta chamada é também para nós. Como não ouvir nela o eco do grande convite de São João Paulo II: «Abri as portas»? Mas, na nossa vida de sacerdotes e pessoas consagradas, pode haver muitas vezes a tentação de permanecer um pouco fechados, por medo ou comodidade, em nós mesmos e nos nossos setores. E, no entanto, a direção indicada por Jesus é de sentido único: sair de nós mesmos. Trata-se de realizar um êxodo do nosso eu, de perder a vida por Ele (cf. Mc 8, 35), seguindo o caminho do dom de si mesmo. Por outro lado, Jesus não gosta das estradas percorridas a metade, das portas entreabertas, das vidas com via dupla. Pede para se meter à estrada leves, para sair renunciando às próprias seguranças, firmes apenas n’Ele.
Por outras palavras, a vida dos seus discípulos mais íntimos, como nós somos chamados a ser, é feita de amor concreto, isto é, de serviço e disponibilidade; é uma vida onde não existem – ou, pelo menos, não deveriam existir – espaços fechados e propriedades privadas para própria comodidade. Quem escolheu configurar com Jesus toda a existência já não escolhe os próprios locais, mas vai para onde é enviado; pronto a responder a quem o chama, já não escolhe sequer os tempos próprios. A casa onde habita não lhe pertence, porque a Igreja e o mundo são os espaços abertos da sua missão. O seu tesouro é colocar o Senhor no meio da vida, sem nada mais procurar para si. Assim foge das situações gratificantes que o colocariam no centro, não se ergue sobre os trémulos pedestais dos poderes do mundo, nem se reclina nas comodidades que enfraquecem a evangelização; não perde tempo a projetar um futuro seguro e bem retribuído, para evitar o risco de ficar à margem e sombrio, fechado nos muros estreitos dum egoísmo sem esperança nem alegria. Feliz no Senhor, não se contenta com uma vida medíocre, mas arde em desejo de dar testemunho e alcançar os outros; gosta de arriscar e sair, não forçado por sendas já traçadas, mas aberto e fiel às rotas indicadas pelo Espírito: contrário a deixar correr a vida, alegra-se por evangelizar.
No Evangelho de hoje, sobressai em segundo lugar a figura do único discípulo nomeado: Tomé. Na sua dúvida e ânsia de querer entender, este discípulo bastante teimoso assemelha-se-nos um pouco e até aparece simpático a nossos olhos. Sem o saber, dá-nos um grande presente: deixa-nos mais perto de Deus, porque Deus não Se esconde de quem O procura. Jesus mostrou-lhe as suas chagas gloriosas, faz-lhe tocar com a mão a ternura infinita de Deus, os sinais vivos de quanto sofreu por amor dos homens.
Para nós, discípulos, é muito importante pôr a nossa humanidade em contacto com a carne do Senhor, isto é, levar a Ele, com confiança e total sinceridade, tudo o que somos. Jesus, como disse a Santa Faustina, fica contente que Lhe falemos de tudo, não Se cansa das nossas vidas que já conhece, espera a nossa partilha, até mesmo a descrição das nossas jornadas (cf. Diário, 6 de setembro de 1937). Assim, buscamos a Deus com uma oração que seja transparente e não esqueça de Lhe confiar e entregar as misérias, as fadigas e as resistências. O coração de Jesus deixa-Se conquistar pela abertura sincera, por corações que sabem reconhecer e chorar as suas fraquezas, confiantes de que precisamente nelas agirá a misericórdia divina. Que nos pede Jesus? Ele deseja corações verdadeiramente consagrados, que vivam do perdão recebido d’Ele para o derramarem com compaixão sobre os irmãos. Jesus procura corações abertos e ternos para com os fracos, nunca duros; corações dóceis e transparentes, que não dissimulam perante quem tem na Igreja a tarefa de orientar o caminho. O discípulo não hesita em questionar-se, tem a coragem de viver a dúvida e levá-la ao Senhor, aos formadores e aos superiores, sem cálculos nem reticências. O discípulo fiel realiza um discernimento atento e constante, sabendo que o coração há de ser educado diariamente, a partir dos afetos, para escapar de toda a duplicidade nas atitudes e na vida.
No termo da sua busca apaixonada, o apóstolo Tomé chegou não apenas a acreditar na ressurreição, mas encontrou em Jesus o tudo da vida, o seu Senhor; disse-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» (v. 28). Far-nos-á bem rezar, hoje e cada dia, estas palavas esplêndidas, como que a dizer-Lhe: Sois o meu único bem, o caminho da minha viagem, o coração da minha vida, o meu tudo.
Por fim, no último versículo que ouvimos, fala-se de um livro: é o Evangelho, onde não foram escritos muitos outros sinais realizados por Jesus (v. 30). Depois do grande sinal da sua misericórdia – poderíamos supor –, já não foi necessário acrescentar mais. Mas há ainda um desafio, há espaço para sinais feitos por nós, que recebemos o Espírito do amor e somos chamados a difundir a misericórdia. Poder-se-ia dizer que o Evangelho, livro vivo da misericórdia de Deus que devemos ler e reler continuamente, ainda tem páginas em branco no final: permanece um livro aberto, que somos chamados a escrever com o mesmo estilo, isto é, cumprindo obras de misericórdia. Pergunto-vos, queridos irmãos e irmãs: Como são as páginas do livro de cada um de vós? Estão escritas todos os dias? Estão escritas a meias? Estão em branco? Nisto, venha em nossa ajuda a Mãe de Deus: Ela, que acolheu plenamente a Palavra de Deus na vida (cf. Lc 8, 20-21), nos dê a graça de sermos escritores viventes do Evangelho; a nossa Mãe da Misericórdia nos ensine a cuidar concretamente das chagas de Jesus nos nossos irmãos e irmãs que passam necessidade, tanto dos vizinhos como dos distantes, tanto do doente como do migrante, porque, servindo quem sofre honra-se a carne de Cristo. Que a Virgem Maria nos ajude a gastarmo-nos completamente pelo bem dos fiéis que nos estão confiados e a cuidarmos uns dos outros como verdadeiros irmãos e irmãs na comunhão da Igreja, a nossa santa Mãe.
Queridos irmãos e irmãs, cada um de nós guarda no coração uma página muito pessoal do livro da misericórdia de Deus: é a história da nossa chamada, a voz do amor que fascinou e transformou a nossa vida, fazendo com que, à sua Palavra, largássemos tudo para O seguir (cf. Lc 5, 11). Reavivemos hoje, com gratidão, a memória da sua chamada, mais forte do que qualquer resistência e fadiga. Continuando a Celebração Eucarística, centro da nossa vida, agradeçamos ao Senhor, porque entrou nas nossas portas fechadas com a sua misericórdia; porque, como Tomé, nos chamou por nome; porque nos dá a graça de continuar a escrever o seu Evangelho de amor”.
Fonte: Zenit.

sábado, 30 de julho de 2016

O Papa reza em silêncio perante o horror vivido em Auschwitz



“Macht arbeit frei”, “O trabalho vos fará livres”, ainda se lê na inscrição acima da porta de entrada do campo de concentração nazista de Auschwitz. Um lugar que não deixa ninguém indiferente, um lugar onde os seres humanos fizeram e sofreram grandes horrores. Um lugar em que muitos anos depois, ainda é possível perceber e sentir a dor sofrida lá. Até aí foi, hoje, o Santo Padre, em uma visita feita em profundo silêncio e atitude de recolhimento. Sem discursos ou protocolos. É a primeira vez que Francisco visita este lugar e ele quis fazê-lo desta forma, sem palavras que distraiam.
Assim, o Santo Padre entrou no campo de Auschwitz-Birkenau, a pé, e caminhando sozinho cruzou a entrada. Depois subiu a um pequeno carro elétrico e foi à “praça do chamado” e, sentado, rezou durante alguns minutos. De lá foi à entrada do “Bloco 11” e saudou dez sobreviventes. Com muita ternura e atenção as ouvia e abraçava.
O último que o cumprimentou deu-lhe uma vela que o Pontífice acendeu e ofereceu como presente no campo de concentração. E de novo, um momento de oração diante do Muro da Morte, onde depositou a vela.
Um dos momentos mais pungentes foi quando o Santo Padre entrou na cela da fome, a cela do martírio de São Maximiliano Kolbe, sacerdote polonês que ofereceu sua vida pela de outro prisioneiro. Em silêncio e sentado, Francisco orou de novo neste pequeno e escuro lugar de tortura, onde deixavam os presos morrerem de fome e sede. Em seguida, assinou o Livro de Honra, onde escreveu em espanhol: “Senhor, tem piedade de seu povo! Senhor, perdoa tanta crueldade!”.
Para completar a visita, o Papa Francisco também foi ao outro lado do campo, conhecido como Birkenau. Trata-se de 175 hectares de terra. Lá, os nazistas construíram a maior parte das instalações de extermínio: 4 crematórios com câmaras de gás e 2 câmaras de gás provisórias. Foram construídos 300 alojamentos de madeira para abrigar presos condenados a trabalhos forçados e morte lenta. O número de detidos em agosto de 1944 chegou a 100 mil.
Hoje mil pessoas estavam esperando lá a chegada do Papa. Francisco caminhou ao lado dos túmulos memoriais com inscrições em diferentes línguas das vítimas. E mais uma vez um momento de oração silenciosa. Depois acendeu uma vela. Para concluir, cumprimentou 25 justos entre as nações, pessoas não judias que ofereceram ajuda de maneira altruísta e singular às vítimas da perseguição nazista.
A intensa e comovedora visita do Santo Padre a este lugar de horror e destruição terminou com o Salmo 130, o De Profundis, cantado em hebraico pelo rabino, e depois lido em polonês por um sobrevivente.
As tropas nazistas invadiram a Polônia em 1º de setembro de 1939, e 17 dias depois as tropas soviéticas também entraram no país, dividindo o território da Segunda República Polaca. Na parte adjacente do Terceiro Reich, o comando nazista muda o nome da cidade polonesa de Oswiecim para “Auschwitz” e cria em torno o campo de concentração.
O acampamento esteve ativo até o dia de sua libertação, 27 de janeiro de 1945. Nos quase cinco anos que esteve aberto, morreram neste lugar mais de um milhão de judeus europeus, 23.000 ciganos, 15.000 prisioneiros de guerra soviéticos e dezenas de milhares de cidadãos de outras nacionalidades.
No início, os nazistas enviaram à morte, especialmente presos políticos poloneses, cerca de 150 mil. Ao longo do tempo, também enviaram para este campo prisioneiros de outras nacionalidades e na primavera de 1942 começaram com o extermínio dos judeus.
Tanto João Paulo II quanto Bento XVI visitaram este lugar. O papa polonês o fez em sua primeira viagem à Polônia como Papa, em 7 de Junho de 1979. Na missa realizada no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, São João Paulo II recordou que “Nunca uma nação pode se desenvolver em detrimento de outra, a preço de servidão do outro, a preço de conquista, ultraje, exploração e morte”. E falou deste lugar como o “Gólgota do mundo moderno.”
Por sua parte, Bento XVI visitou-o em 28 de Maio de 2006. Em seu discurso, lembrou que “o Papa João Paulo II esteve aqui como filho do povo polonês”. Eu – disse Bento XVI – hoje estou aqui como filho do povo alemão, e precisamente por isso devia vir aqui. Também assegurou que “era e é um dever perante a verdade e perante o direito de todos os que sofreram, um dever perante Deus, estar aqui como sucessor de João Paulo II e como filho do povo alemão, como filho do povo sobre o qual um grupo de criminosos chegou ao poder por meio de promessas mentirosas, em nome da grandeza, da recuperação da honra da nação e da sua importância, com previsões de prosperidade, e também através do terror e da intimidação; assim, usaram e abusaram do nosso povo como instrumento do seu frenesi de destruição e dominação”.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Francisco: “Deus nos salva tornando-se pequeno, próximo, concreto”

O Santo Padre visitou o santuário mariano mais importante da Polônia, na sua segunda jornada neste país. Lá, celebrou a eucaristia por ocasião do 1050º aniversario do Batismo desta nação. O Papa deixou na manhã Cracóvia e dirigiu-se a Częstochowa.
De caminho ao aeroporto fez uma visita não programada. Foi ao hospital local para cumprimentar o arcebispo emérito de Cracóvia o cardeal Francisek Macharski, gravemente enfermo. Em seguida realizou outra parada, esta sim programada, no convento das irmãs da Apresentação da Beata Virgem Maria, onde rezou em silêncio com as religiosas e alguns estudantes da escola que dirigem.
O Pontífice chegou por volta das 9.30, hora local, no papamóvel, para cumprimentar os fieis ali reunidos, que o esperavam para a celebração eucarística. Antes, entrou no mosteiro e rezou na capela da “Virgem Negra” junto com uns 300 padres do Instituto Religioso da Ordem de São Paulo Primeiro Eremita.
Ato seguido deu começo à missa concelebrada pelos bispos da Polônia e milhares de sacerdotes poloneses e de outras nacionalidades. Ao começar, quando o Santo Padre estava incensando o altar, tropeçou e caiu no chão, mas se levantou rapidamente e tudo continuou com normalidade.
Confira a homilia na íntegra:
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Das leituras desta Liturgia emerge um fio divino, que passa para a história humana e tece a história da salvação.
O apóstolo Paulo fala-nos do grande desígnio de Deus: «Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» (Gal 4, 4). A história, porém, diz-nos que, quando chegou esta «plenitude do tempo», isto é, quando Deus Se fez homem, a humanidade não estava particularmente preparada, nem era um período de estabilidade e de paz: não havia uma «idade de ouro». A cena deste mundo não era merecedora da vinda de Deus; antes pelo contrário, já que «os seus não O receberam» (Jo1, 11). Assim a plenitude do tempo foi um dom de graça: Deus encheu o nosso tempo com a abundância da sua misericórdia; por puro amor – por puro amor –, inaugurou a plenitude do tempo.
Impressiona, sobretudo, o modo como se realiza a entrada de Deus na história: «nascido de uma mulher». Não há qualquer entrada triunfal, qualquer manifestação imponente do Todo-Poderoso. Não Se manifesta como um sol ofuscante, mas entra no mundo da forma mais simples, chega como uma criança através da mãe, com aquele estilo de que nos fala a Sagrada Escritura: como a chuva sobre a terra (cf. Is 55, 10), como a menor das sementes que germina e cresce (cf. Mc 4, 31-32). Assim – ao contrário do que esperaríamos e talvez quiséssemos – o Reino de Deus, hoje como então, «não vem de maneira ostensiva» (Lc 17, 20), mas na pequenez, na humildade.
O Evangelho de hoje retoma este fio divino que atravessa delicadamente a história: da plenitude do tempo passamos ao «terceiro dia» do ministério de Jesus (cf. Jo 2, 1) e ao anúncio da «hora» da salvação (cf. v. 4). O tempo restringe-se, e a manifestação de Deus acontece sempre na pequenez. Assim «Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos» (v. 11), em Caná da Galileia. Não há um gesto estrondoso realizado diante da multidão, nem uma intervenção que resolva um problema político flagrante, como a subjugação do povo à dominação romana. Pelo contrário, numa pequena aldeia, tem lugar um milagre simples, que alegra o casamento duma jovem família, completamente anónima. E contudo a água transformada em vinho na festa de núpcias é um grande sinal, porque revela o rosto esponsal de Deus, de um Deus que Se põe à mesa connosco, que sonha e realiza a comunhão connosco. Diz-nos que o Senhor não Se mantém à distância, mas é vizinho e concreto, está no nosso meio e cuida de nós, sem decidir em nosso lugar nem Se ocupar de questões de poder. De facto prefere encerrar-Se no que é pequeno, ao contrário do homem que tende a querer possuir algo sempre maior. Deixar-se atrair pelo poder, a grandeza e a visibilidade é tragicamente humano, resultando uma grande tentação que procura insinuar-se por todo o lado. Ao passo que é requintadamente divino dar-se aos outros, eliminando as distâncias, permanecendo na pequenez e habitando concretamente a quotidianidade.
Por conseguinte, Deus salva-nos fazendo-Se pequeno, vizinho e concreto. Antes de mais nada, Deus faz-Se pequeno. O Senhor, «manso e humilde de coração» (Mt 11, 29), prefere os pequeninos, a quem é revelado o Reino de Deus (cf. Mt 11, 25); são grandes a seus olhos e, sobre eles, pousa o seu olhar (cf. Is 66, 2). Prefere-os, porque se opõem àquele «estilo de vida orgulhoso» que vem do mundo (cf. 1 Jo 2, 16). Os pequenos falam a mesma língua d’Ele: o amor humilde que os torna livres. Por isso, Jesus chama pessoas simples e disponíveis para serem seus porta-vozes, e confia-lhes a revelação do seu nome e os segredos do seu Coração. Pensemos em tantos filhos e filhas do vosso povo: nos mártires, que fizeram resplandecer a força desarmada do Evangelho; nas pessoas simples, e todavia extraordinárias, que souberam testemunhar o amor do Senhor no meio de grandes provações; nos arautos mansos e fortes da Misericórdia, como São João Paulo II e Santa Faustina. Através destes «canais» do seu amor, o Senhor fez chegar dons inestimáveis a toda a Igreja e à humanidade inteira. E é significativo que este aniversário do Batismo do vosso povo tenha coincidido precisamente com o Jubileu da Misericórdia.
Além disso, Deus é vizinho, o seu Reino está próximo (cf. Mc 1, 15): o Senhor não quer ser temido como um soberano poderoso e distante, não quer permanecer num trono celeste ou nos livros da história, mas gosta de mergulhar nas nossas vicissitudes de cada dia, para caminhar connosco. Ao pensarmos no dom dum milénio abundante de fé, é bom antes de tudo dar graças a Deus, que caminhou com o vosso povo, tomando-o pela mão – como faz um papá com o seu menino –, e acompanhando-o em tantas situações. Isto mesmo é o que nós, também enquanto Igreja, sempre somos chamados a fazer: ouvir, envolver-se e tornar-se vizinho, partilhando as alegrias e as canseiras das pessoas, de modo que o Evangelho se comunique da forma mais coerente e frutuosa, ou seja, por irradiação positiva, através da transparência da vida.
Por fim, Deus é concreto. Das leituras de hoje sobressai que tudo, na ação de Deus, é concreto: a Sabedoria divina age «como arquiteto» e «brinca» (cf. Prv 8, 30), o Verbo faz-Se carne, nasce duma mãe, nasce sob o domínio da Lei (cf. Gal 4, 4), tem amigos e participa numa festa: o Eterno comunica-Se transcorrendo o tempo com pessoas e em situações concretas. Também a vossa história, permeada de Evangelho, Cruz e fidelidade à Igreja, regista o contágio positivo duma fé genuína, transmitida de família para família, de pai para filho e, sobretudo, pelas mães e as avós, a quem muito devemos agradecer. De modo particular, pudestes palpar a ternura concreta e providente da Mãe de todos, que vim aqui venerar como peregrino e que saudamos, no Salmo, como «a honra do nosso povo» (Jdt 15, 9).
É precisamente para Ela que nós, aqui reunidos, levantamos o olhar. Em Maria, encontramos a plena correspondência ao Senhor: e assim, na história, entrelaça-se com o fio divino um «fio mariano». Se existe qualquer glória humana, qualquer mérito nosso na plenitude do tempo, é Ela: é Ela aquele espaço, preservado liberto do mal, onde Deus Se espelhou; é Ela a escada que Deus percorreu para descer até nós e fazer-Se vizinho e concreto; é Ela o sinal mais claro da plenitude do tempo.
Na vida de Maria, admiramos esta pequenez amada por Deus, que «pôs os olhos na humildade da sua serva» e «exaltou os humildes» (Lc 1, 48.52). E nisso tanto Se deleitou, que d’Ela Se deixou tecer a carne, de modo que a Virgem Se tornou Progenitora de Deus, como proclama um hino muito antigo que há séculos vós Lhe cantais. A vós que ininterruptamente vindes ter com Ela, acorrendo a esta capital espiritual do país, continue a Virgem Mãe a mostrar o caminho e vos ajude a tecer na vida a teia humilde e simples do Evangelho.
Em Caná, como aqui em Jasna Góra, Maria oferece-nos a sua proximidade e ajuda-nos a descobrir o que falta à plenitude da vida. Hoje, como então, fá-lo com solicitude de Mãe, com a presença e o bom conselho, ensinando-nos a evitar arbítrios e murmurações nas nossas comunidades. Como Mãe de família, quer-nos guardar juntos, todos juntos. O caminho do vosso povo superou, na unidade, tantos momentos duros; que a Mãe, forte ao pé da cruz e perseverante na oração com os discípulos à espera do Espírito Santo, infunda o desejo de ultrapassar as injustiças e as feridas do passado e criar comunhão com todos, sem nunca ceder à tentação de se isolar e impor.
Nossa Senhora, em Caná, mostrou-Se muito concreta: é uma Mãe que tem a peito os problemas e intervém, que sabe individuar os momentos difíceis e dar-lhes remédio com discrição, eficácia e determinação. Não é patroa nem protagonista, mas Mãe e serva. Peçamos a graça de assumir a sua sensibilidade, a sua imaginação ao servir quem passa necessidade, a beleza de gastar a vida pelos outros, sem preferências nem distinções. Que Ela, causa da nossa alegria e portadora da paz por entre a abundância do pecado e as turbulências da história, nos obtenha a superabundância do Espírito para sermos servos bons e fiéis.
Pela sua intercessão, que se renove, também para nós, a plenitude do tempo. De pouco serve a passagem do antes ao depois de Cristo, se permanece uma data nos anais da história. Possa realizar-se, para todos e cada um, uma passagem interior, uma Páscoa do coração para o estilo divino encarnado por Maria: agir na pequenez e acompanhar de perto, com coração simples e aberto.
 Fonte: Zenit.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Papa Francisco já chegou à Polônia. “Quando eu falo de “guerra”, falo de guerra seriamente, não de “guerra de religiões”

O Papa chegou à Polônia por volta das 16 horas e foi recebido pelo Presidente polonês, Andrzej Duda, acompanhado pela esposa, e o Cardeal Stanislaw Dziwisz, Arcebispo de Cracóvia e duas crianças.
Antes de partir do Vaticano, na manhã desta quarta-feira, Francisco foi à Basílica de São Pedro, onde se deteve em oração diante do túmulo de São João Paulo II.
Como de costume, às vésperas de uma Viagem Apostólica, Francisco esteve, na noite desta terça-feira, 26, na Basílica de Santa Maria Maior, para rezar diante da imagem de Nossa Senhora “Salus Popoli Romani”, a fim de pedir proteção para mais esta sua viagem.
Palavras do Papa no voo
No voo, como de costume, o Papa dialogou com os jornalistas de 15 países.
O Padre Lombardi perguntou ao Santo Padre sobre como vive estes últimos acontecimentos no mundo e como vê o encontro com os jovens neste contexto atual.
“Uma palavra que – sobre isto dizia Padre Lombardi –  se repete tanto é “insegurança”. Mas a verdadeira palavra é “guerra”. Há tempos dizemos que “o mundo está em guerra em partes”. Esta é a guerra. Houve aquela de 1914 com os seus métodos; depois a de 39 a 45; uma outra grande guerra no mundo, e agora existe esta. Não é tão orgânica, talvez; organizada, sim, mas orgânica, digo; mas é guerra. Este santo sacerdote que morreu precisamente no momento em que fazia a oração por toda a Igreja, é “um”; mas quantos cristãos, quantos inocentes, quantas crianças… Pensemos na Nigéria, por exemplo: “Mas, lá é a África!”. Esta é a guerra! Não tenhamos medo de dizer esta verdade: o mundo está em guerra, porque perdeu a paz”.
“A juventude sempre nos fala de “esperança”. Esperemos que os jovens nos digam algo que nos dê um pouco mais de esperança, neste momento. Pelo fato de ontem, também eu gostaria de agradecer a todos aqueles que expressaram seu pesar, de modo especial o Presidente da França que quis telefonar para mim, como um irmão. Agradeço a ele”.
“Uma só palavra gostaria de dizer para esclarecer. Quando eu falo de “guerra”, falo de guerra seriamente, não de “guerra de religiões”: não. Existe guerra de interesses, existe guerra pelo dinheiro, existe guerra pelos recursos da natureza, existe guerra pelo domínio dos povos: esta é a guerra. Alguém pode pensar: “Está falando de guerra de religiões”: não! Todas as religiões, queremos a paz. A guerra, a querem os outros. Entendido?”.
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Homilética: XVIII Domingo do Tempo Comum

Ciclo C
Textos: Ecle 1,2; 2, 21-23; Col 3, 1-5.9-11; Lc 12, 13-21
Ideia principal“Guardai-vos de toda cobiça”. Diante dos bens materiais, nem desprezo, nem apego, mas o “tanto quanto” de santo Inácio de Loiola.
Síntese da mensagem“A avareza rompe o saco”. Esta frase proverbial parte da imagem de um ladrão que ia pondo num saco quanto roubava e quando, para que coubesse mais, apertou o que tinha dentro do saco, rompeu-se. A cobiça rompe o saco é uma forma mais antiga do que a avareza rompe o saco, como mostra a sua presença em obras como La Lozana Andaluza 252, El Guzmán de Alfarache, essa novela picaresca de Mateo Alemán, El Quijote I 20, II 13 y 26. Uma forma sinônima aparece no El Criticón de Baltasar Gracián:por não perder um bocado, perdem-se centos. O coração do cobiçoso não repousa nem sequer de noite (Evangelho). Busquemos as coisas do alto (2 leitura), poia as daqui debaixo não saciam e são perecedouras (1 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugardiante dos bens materiais não cabe o desprezo. Jesus não está nos convidando a desprezar os bens da terra (evangelho). São bons e lícitos, e se conseguidos honestamente nos ajudam a levar uma vida digna e sem apuros, em ordem a ter uma casa confortável e um trabalho remunerado, alimentar e sustentar a família, oferecer uma boa educação aos filhos e ajudar os necessitados. A riqueza em si não é boa nem má: o que pode ser mau é o uso que fazemos dela e a atitude interior diante dela. Se Jesus chamou tonto ou insensato o rico do evangelho, não é porque fosse rico, ou porque tivesse trabalhado pelo seu bem-estar e o da sua família, mas porque tinha programado a sua vida prescindindo de Deus e esquecendo também a ajuda aos outros. A cobiça leva os homens a expressar um profundo amor pelas posses, o que os constitui em idólatras.
Em segundo lugardiante dos bens materiais seria muito mal para nós nos apegar ou idolatrá-los. Basta abrir a Sagrada Escritura: Judas foi cobiçoso e entregou o seu Mestre; Davi cobiçou Betsabè e cometeu assassinato; Jacó cobiçou os direitos do seu irmão e o incitou a desprezá-los; os filhos de Jacó cobiçaram o amor do pai e por inveja quiseram matar o seu irmão José; Ananias e Safira mentiram e morreram. A cobiça é um pecado tão antigo como sutil. No mundo em que vivemos, materialista por excelência, não é nada esquisito que nos vejamos tentados pela cobiça. A Palavra de Deus nos fala da origem da cobiça, dos seus efeitos e de como enfrentá-la. Este refrão que ligado à fabula de Esopo que fala do cachorro e o reflexo no rio. Um cachorro que ia com um pedaço de carne no seu focinho e ao passar por uma ponte viu a sua imagem refletida na água… pensou que era outro cachorro que tinha um pedaço maior e quis tomar dele… O resultado: ficou sem nada. Qohelet (1 leitura) nos convida a relativizar os diversos afãs que costumamos ter com o seu tom pessimista: “vaidade, tudo é vaidade”, que também podemos traduzir assim:“vazio, tudo é vazio”. A riqueza não nos dá tudo na vida, nem é o principal: a morte relativiza tudo. É sábio reconhecer os limites do que é humano e ver as coisas no justo valor que têm, transitório e relativo. Tanta preocupação e tanta angustia, inclusive do trabalho, não pode nos levar a nada sólido. A nossa vida é como a erva que esta fresca de manhã e de tarde já está seca (Salmo). Jesus no evangelho nos convida ao desapego do dinheiro porque não é um valor absoluto nem humanamente nem cristãmente. Por cima do dinheiro está a amizade, a vida de família, a cultura, a arte, a comunicação interpessoal, o são disfrute da vida, a ajuda solidaria para com os outros. Tem que ter tempo para sorrir, jogar, “perder tempo” com os familiares e amigos.     
Finalmentediante dos bens materiais a dica de santo Inácio de Loiola: “tanto quanto”. A regra do “tanto quanto” é importante para todos os mortais. Não se trata de uma doutrina filosófica, nem de um planejamento econômico, nem de um projeto político, mas poderia servir para tudo. O grande santo Inácio de Loiola, nos seus Exercícios Espirituais, apresenta isto com as seguintes palavras: “O homem é criado para louvar, fazer reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem e para ajudá-lo na prossecução do fim para o qual foi criado. De onde se segue, que o homem tanto há de usar delas, quanto o ajudem para o seu fim, e tanto deve privar-se delas, quanto o impeçam para isto. Com isto é preciso fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não está proibido; de tal forma, que não queiramos, da nossa parte mais saúde do que doença, riqueza do que pobreza, honra do que desonra, vida longa que curta, e, por conseguinte no resto; somente desejando e elegendo o que mais nos conduz para o fim que somos criados” (Exercícios, n° 23). Esta regra, de alguma forma é usada por todas as pessoas, mas não no sentido no que exige Santo Inácio, porque todos buscam as criaturas, tanto quanto possam enriquecer, deleitar, distrair, divertir. É uma ótica totalmente diversa, já que a maioria emprega a filosofia do tanto quanto, só em conquistas terrenas, humanas, materiais, esquecendo de aplicar esta fórmula nas nossas relações com Deus, no negócio mais importante: a salvação da alma. Só quanto temos Cristo como Senhor das nossas vidas, podemos estar seguros de que morreremos mais e mais ao pecado e viveremos mais e mais para Ele, interessando-nos pela salvação da alma.  
Para refletir: Onde coloco a minha felicidade: nas coisas materiais e perecedouras ou nas coisas eternas e incorruptíveis? Poderia afirmar de verdade que uso e desejo tudo é de proveito para a minha salvação eterna? Peco de cobiça, aceitando subornos, aproveitando-me do débil para o meu benefício, defendendo o injusto, ardendo de inveja, vivendo sempre descontente com o que tenho?
Para rezar: Deus Todo-poderoso que impulsionastes santo Antônio Abade a abandonar as coisas deste mundo para seguir em pobreza e solidão o Evangelho do vosso Filho, pedimos-vos que, a exemplo dele saibamos nos desprender interiormente e exteriormente de tudo o que nos impede de vos amar e de vos servir com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças. Por Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor. Amém.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
Fonte: Zenit.

terça-feira, 26 de julho de 2016

24.º Congresso Mariológico Mariano Internacional realiza-se de 6 a 11 de setembro em Fátima

Este congresso é o mais importante momento internacional de reflexão na área da mariologia, com temática em específico a incidir no acontecimento de Fátima

O 24.º Congresso Mariológico Mariano Internacional realiza-se de 6 a 11 de setembro em Fátima e será presidido pelo Enviado Especial do Santo Padre, o cardeal português, D. José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos.
Promovido pela Pontifícia Academia Mariana em colaboração com o Santuário de Fátima e com as sociedades mariológicas dos diversos países, o congresso -que se realiza de quatro em quatro anos-vai ter como tema “O acontecimento Fátima cem anos depois. História, mensagem e atualidade”, conforme a aprovação do Papa Francisco.
O objetivo do Congresso, no qual participam especialistas da mariologia e estudiosos provenientes de diferentes partes do mundo, é eminentemente científico.
Durante o congresso, que integra o programa de celebrações do Centenário das Aparições de Nossa Senhora, serão apresentados e discutidos os resultados de um estudo rigoroso, crítico e atualizado da documentação inerente à história do evento mariofânico ocorrido em Fátima. Por outro lado, os participantes procurarão definir linhas de investigação para o estudo e aprofundamento da mensagem de Fátima que, pelos seus densos conteúdos, representa uma “profecia” repleta de esperança para a Igreja, a humanidade e o mundo contemporâneo.
Este intenso trabalho de interpretação, confrontação e atualização é conduzido à luz tanto dos relatórios apresentados por vários especialistas durante as sessões gerais como dos contributos propostos durante os trabalhos de grupo, organizados segundo as diferentes esferas linguísticas.
Pelo facto de numerosos institutos de vida consagrada e movimentos eclesiais se inspirarem na mensagem de Fátima e a difundirem em todo o mundo, um outro aspeto característico do Congresso é precisamente a participação de representantes destas instituições como, por exemplo, o Apostolado Mundial de Fátima.
Este congresso é o mais importante momento internacional de reflexão na área da mariologia, com temática em específico a incidir no acontecimento de Fátima.
Em 1967, por ocasião do cinquentenário dos acontecimentos de Fátima, teve lugar em Portugal, com iniciativas em Lisboa e em Fátima, a 5.ª edição deste Congresso Mariológico Mariano Internacional, sobre o tema “De Primordiis Cultus Mariani – Mariologia patrística”.
Toda a informação necessária para a participação no congresso, nomeadamente o programa e o formulário de inscrição, pode ser encontrada em pami.fatima.pt 
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

JMJ2016: «Peregrino» é a aplicação da Jornada Mundial da Juventude

Cracóvia, Polónia, 22 jul 2016 (Ecclesia) – A organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) apresentaou a aplicação para dispositivos móveis ‘Peregrino’, que foi descarregado por cinco mil utilizadores na primeira hora.
A aplicação ‘Peregrino’ foi pensada para os participantes na JMJ, que decorre em Cracóvia entre os dias 26 e 31 de julho, e para os moradores da cidade, disponibilizando um guia móvel, um mapa e informações relevantes.
Disponível em nove línguas, a aplicação é gratuita e pode ser descarregada para os sistenas Android, IOS e Windows, com informações sobre a localização dos eventos mais importantes da JMJ, permitindo definir o percurso para lá chegar, e sobre os locais mais interessantes para visitar em Cracóvia.
De acordo com a Rádio Vaticano, a aplicação oferece ferramentas básicas para a conversação, os textos litúrgicos, livros de oração e horários para ajudar os jovens a comunicar.
A Jornada Mundial da Juventude decorre na cidade polaca de Cracóvia, entre 26 e 31 de julho; a anteceder este encontro mundial de jovens, decorreram na última semana, nas 40 dioceses do país, as pré-jornadas, com a participação de jovens de todo o mundo, que visitaram locais emblemáticos da Polónia.
João Cláudio, que integra um grupo de Portugal, visitou este sábado o campo de execução de Palmiry, onde foram mortos mais de 1700 polacos, nomeadamente os que faziam parte da elite política, cultural e social do país, durante a Segunda Grande Guerra, pelas forças nazis.
A Jornada Mundial da Juventude termina no Campo da Misericórdia, situado a 10 quilómetros do centro de Cracóvia, onde, de acordo com a organização, vão estar mais de 2 milhões de jovens para a Vigília de Oração com o Papa Francisco e a Missa de Encerramento e Envio dos Jovens, respetivamente a 30 e 31 de julho
O ‘Campus’ está situado na localidade de Brzegi e está organizado em torno do altar, onde se destaca ao centro a imagem de Cristo Misericordioso e nas laterais os dois patronos da JMJ, São João Paulo II e Santa Faustina.
A Rotunda da Misericórdia, que dá acesso ao ‘Campus’, já está concluída e, de acordo com a voluntária portuguesa para o setor da comunicação, Leopoldina Reis Simões, tem no centro uma escultura em pedra com símbolo oficial da Jornada Mundial da Juventude, que destaca os protagonistas deste encontro, Cristo e os jovens
As JMJ nasceram por iniciativa de João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.
ada JMJ realiza-se, anualmente, a nível diocesano no Domingo de Ramos, alternando com um encontro internacional a cada dois ou três anos numa grande cidade: em 1987, Buenos Aires (Argentina); em 1989, Santiago de Compostela (Espanha); em 1991, Czestochowa (Polónia); em 1993 em Denver (EUA); em 1995, Manila (Filipinas); em 1997, Paris (França); em 2000, Roma (Itália); em 2002, Toronto (Canadá); em 2005, Colónia (Alemanha); em 2008, Sidney (Austrália); em 2011, Madrid (Espanha) e Rio de Janeiro (Brasil), em 2013.
PR

domingo, 24 de julho de 2016

Festa e silêncio

Silêncio. O programa da viagem do Papa Francisco à Polónia, para a Jornada Mundial da Juventude, inclui um momento simbólico de silêncio, no antigo campo de concentração nazi de Auschwitz. Significativamente, já depois da euforia da receção dos jovens em Cracóvia, o pontífice argentino vai deslocar-se a um dos locais mais marcantes do Holocausto, não prevendo quaisquer discursos, porque o próprio gesto falará mais alto do que tudo o resto. Será o próprio Papa a explicar, por certo, o motivo que o levou a delinear um programa que alterna silêncio e festa, passado e futuro, memória e esperança, o Mal e o Bem.
Na Polónia estão já muitos jovens portugueses e outros milhares vão juntar-se a eles nos próximos dias, numa viagem que tem a proteção de dois Papas: Francisco e São João Paulo II, o Papa polaco que criou as JMJ, cuja figura, modelo de fé e de espiritualidade, é um apelo ao essencial, ao mais íntimo, ao combate da fé em tempos difíceis.
É muito significativa também esta coincidência: como nas anteriores edições da Jornada Mundial da Juventude, os participantes são desafiados a evitar a “embriaguez” da multidão e a recordar que eles não deixam de ser uma gota no oceano. Uma gota, sim, mas que pode fazer toda a diferença.
A única jornada que vivi de perto foi a de Madrid, em 2011. O ambiente na Polónia, imagino, será muito diferente, com uma sensação de mundo católico, de euforia, com menos manifestações alheias/hostis à religião.
Há cinco anos, lembro-me que a Jornada de Madrid ficou como um momento de esperança de uma geração que não se rende perante sinais de desnorte e mesmo descarrilamento social - mantendo-se hoje os atentados e as consequências do desgoverno financeiro internacional, sobretudo no aumento da precariedade e do desemprego.
Agora, os jovens vão olhar para Francisco, que aos 79 anos parece ter a força que falta a muitos outros, pronto para mais uma celebração de fé, de amor e de esperança. Entre silêncio e festa, porque cada gesto conta.

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

sábado, 23 de julho de 2016

Assis: Vaticano divulgou programa do Papa à terra de São Francisco

O Papa Francisco vai visitar a 04 de agosto a Porciúncula, em Assis, onde se encontra a Basílica de Santa Maria dos Anjos, no contexto do 8.º centenário do “perdão de Assis”.
De acordo com a Sala de Imprensa da Santa Sé, no programa da deslocação do Papa destacam-se os momentos de oração pessoal, uma meditação pública e o encontro com os frades franciscanos que estão na enfermaria provincial.
40 minutos depois de descolar do heliporto do Vaticano, às 15h40 (menos uma hora em Lisboa), o Papa chega a Assis e aterra no campo de futebol ‘Migaghelli’ onde vai ser recebido pelo bispo de Assis-Nocera Umbra-Gualdo Tadino, D. Domenico Sorrentino, e autoridades civis, o presidente da Região da Umbria e os responsáveis políticos de Assis e Perúgia.
Depois, Francisco viaja para a Basílica de Santa Maria dos Anjos e na capela da Porciúncula faz uma oração em silêncio apresentando após esse momento uma catequese a partir do Evangelho de São Mateus (18,21-35).
No convento da Ordem dos Frades Menores o Papa vai cumprimentar os bispos presentes e os Superiores Gerais da ordem mendicante e após essa receção vai à enfermaria onde vai estar com os religiosos doentes e os seus assistentes.
Segundo o programa às 18h00 o Papa argentino vai saudar os fiéis na praça em frente à Basílica de Santa Maria dos Anjos e passado 15 minutos regressa ao campo de futebol "Migaghelli’’ para regressar aos Vaticano onde chega às 19h00 (menos uma hora em Lisboa).
O Papa Francisco já visitou Assis a 4 de outubro de 2013, sendo o primeiro pontífice, em oito séculos, a visitar a 'sala do despojamento' de São Francisco, o santo que o inspirou na escolha do nome para o pontificado.
visita ao local que é considerado o centro do franciscanismo acontece no contexto do Ano Santo da Misericórdia, proclamado pelo pontífice argentino.
A pequena igreja da Porciúncula (pequena porção, em italiano) foi a terceira a ser restaurada por São Francisco de Assis, antes de fundar a Ordem dos Frades Menores (franciscanos) em 1209.
Em 1216, numa visão, São Francisco obteve o chamado “perdão de Assis”, uma indulgência aprovada posteriormente pelo Papa Honório III.
OC/CB

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Igreja celebra festa de Santa Maria Madalena e reflete sobre a «dignidade da mulher»

A Igreja Católica celebra hoje Santa Maria Madalena, até agora uma memória obrigatória na liturgia e que passa a ser assinalada no Calendário Romano Geral com o grau de ‘Festa’, por decisão do Papa Francisco.
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou um novo decreto, datado de 3 de junho, “por desejo expresso do Santo Padre”, para promover e explicar esta mudança.
texto sublinha que Maria Madalena foi a primeira “testemunha” e “anunciadora” da ressurreição de Cristo.
A decisão “inscreve-se no atual contexto eclesial, que exige uma reflexão mais profunda sobre a dignidade da mulher”, pode ler-se no documento.
A mudança promovida pelo Papa acontece “no contexto do Jubileu da Misericórdia” para sublinhar “a relevância” da figura de Maria Madalena, “que mostrou um grande amor a Cristo e foi por Cristo tão amada”.
O prefácio para a Eucaristia, já traduzido para português, reforça esta ideia: "Aparecendo Jesus a Maria Madalena no jardim, Ela que tanto o amara quando era vivo, viu-O morrer na cruz, procurou-O no sepulcro; e foi a primeira a adorá-l’O depois de ressuscitar dos mortos".
D. Artur Roche, secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, refere emtexto publicado pelo Vaticano que “é justo que a celebração litúrgica desta mulher tenha o mesmo grau de festa dado à celebração dos apóstolos”.
A data litúrgica de Maria Madalena era até agora uma “memória obrigatória”, celebrações em honra de Nossa Se­nho­ra ou dos Santos que estão numa categoria inferior às “festas” e às “solenidades” no calendário litúrgico reformado pelo Concílio Vaticano II.
O Papa Francisco apresentou em 2013 uma reflexão sobre esta santa, partindo do relato do Evangelho segundo São João que retrata Madalena a chorar junto do sepulcro vazio, num momento de “escuridão na sua alma” por ver deitadas por terra “todas as suas esperanças”, antes da aparição de Jesus ressuscitado.
Maria de Magdala, declarou, era a “mulher pecadora” que ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos, uma “mulher explorada e também desprezada por aqueles que se julgavam justos”.
Também Bento XVI expôs numa intervenção pública as lições deixadas aos cristãos de todos os tempos por Maria Madalena, “discípula” de Jesus, “testemunha do poder do seu amor misericordioso, que é mais forte que o pecado e a morte”.
O Papa emérito recordou esta mulher, “que nos Evangelhos desempenha um lugar de primeira ordem”, falando em Les Combes, localidade dos Alpes italianos.
A figura da Madalena foi motivo de debate ao longo dos séculos, em particular por causa de passagens de escritos gnósticos que aludem a uma proximidade entre Jesus e Maria Madalena e alguma hostilidade em relação a ela por parte de São Pedro e Santo André.
O Evangelho de S. Lucas, recordou Bento XVI, apresenta-a entre as mulheres que seguiram Jesus depois de ter “sido curada de espíritos malignos e doenças”, precisando que dela “tinham saído sete demónios”.
“A história de Maria de Magdala recorda a todos uma verdade fundamental: discípulo de Cristo é quem, na experiência da fraqueza humana, teve a humildade de pedir-lhe ajuda, foi curado por ele, e seguiu-o de perto, tornando-se testemunha do poder do seu amor misericordioso”, disse então.
OC

quinta-feira, 21 de julho de 2016

JMJ2016: Francisco vai visitar «em silêncio» antigo campo de concentração de Auschwitz

O porta-voz do Vaticano apresentou hoje o programa da viagem do Papa à Polónia, de 27 a 31 de julho, que inclui passagens pelos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, bem como a participação na 31ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
A visita aos antigos campos de concentração nazis está marcada para a manhã do dia 29 de julho, a partir das 09h30 locais (menos uma em Lisboa), com duração prevista de duas horas.
Durante a sua permanência no local, o Papa rezará junto ao chamado “muro da morte”, no Bloco 11, e na cela de São Maximiliano Kolbe, precisamente 75 anos depois da sua condenação à morte.
Francisco vai encontrar-se com 10 sobreviventes do Holocausto e 25 ‘justos entre as nações’ - pessoas que ajudaram judeus a fugir do regime nazi -, além de percorrer a pé o monumento internacional às vítimas do campo.
A cerimónia incluiu a homenagem a uma família católica - em processo de beatificação - que foi “exterminada” por ter ajudado judeus, adiantou o padre Federico Lombardi, em conferência de imprensa.
João Paulo II e Bento XVI visitaram Auschwitz em 1979 e 2006, respetivamente.
Ao regressar da viagem à Arménia, em junho, Francisco manifestou aos jornalistas a sua intenção de rezar “em silêncio” no campo de concentração de Auschwitz, considerando-o “um lugar de horror”.
“Sozinho, entrar e rezar para que o Senhor me dê a graça de chorar”, adiantou.
A 15ª viagem do pontificado e primeira viagem do Papa Francisco à Polónia, em toda a sua vida, tem início a 27 de julho com um encontro com o presidente da República da Polónia, Andrzej Duda, e outras autoridades políticas no Castelo de Wawel, coração histórico da cidade.
Segue-se a reunião privada com a Conferência Episcopal Polaca e um momento de oração na Catedral de Cracóvia, antes de pernoitar na sede da arquidiocese.
No dia 28, destaque para a Missa que Francisco irá celebrar na área do Santuário Mariano de Czestochowa, perante centenas de milhares de pessoas, por ocasião dos 1050 anos do Batismo da Polónia, após um percurso em helicóptero.
Neste mesmo dia, o Papa vai saudar os participantes da 31.ª JMJ, durante um encontro no Parque de Blonia, um dos maiores da Europa, onde entra simbolicamente num carro elétrico “ecológico”, acompanhado por jovens com deficiência, explicou o porta-voz do Vaticano.
Próximo daquele local, vai ser montada uma “Área da Reconciliação”, com centenas de confessionários abertos aos jovens que queiram confessar-se, e também uma tenda para a adoração ao Santíssimo Sacramento.
A agenda de dia 29 inclui uma visita ao Hospital Pediátrico Universitário (UCH) de Prokocim, de Cracóvia, e uma Via-Sacra com os jovens no Parque de Blonia, em que as várias estações vão ser centradas nas 14 Obras de Misericórdia.
No dia 30, o programa de Francisco na Polónia inclui uma visita ao Santuário da Divina Misericórdia, em Cracóvia, e ao Santuário de São João Paulo II, onde celebrará uma Missa com sacerdotes e consagrados de toda a Polónia.
O Papa vai confessar cinco jovens, em representação de todos os continentes.
horário que foi delineado prevê ainda um almoço com 12 jovens, na sede da Arquidiocese de Cracóvia.
A JMJ 2016 termina em Brzegi, num “Campus da Misericórdia” com mais de 200 hectares e onde decorrerão a vigília e a Missa conclusiva do evento, que deverá ser acompanhada por cerca de 2 milhões de pessoas.
Durante a vigília, jovens de vários países vão ter oportunidade de expressar ao Papa as suas preocupações e dificuldades.
Em relação às questões levantadas nos últimos dias sobre a segurança no evento, o porta-voz do Vaticano assinalou que se vive na Polónia um clima de “normalidade e de tranquilidade”, sem “preocupações particulares”.
A 31.ª JMJ tem como tema “Bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia” e deverá contar com a participação de cerca de sete mil jovens portugueses.
JCP/OC

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Família: Filósofo italiano descarta corte entre Francisco e João Paulo II na questão dos divorciados

 O filósofo italiano Rocco Buttiglione, especialista no pontificado de São João Paulo II, assina hoje um artigo de opinião no Jornal do Vaticano em que manifesta a sua surpresa perante críticas feitas ao Papa Francisco após a exortação ‘A Alegria do Amor’.
“Na ‘Amoris laetitia’ não há qualquer ética das circunstâncias, mas o clássico equilíbrio tomista que distingue o juízo sobre o facto do juízo sobre quem o realiza no qual devem ser avaliadas as circunstâncias atenuantes ou liberatórias”, refere.
O titular da Cátedra ‘João Paulo II’ de filosofia e história das instituições europeias na Universidade Pontifícia Lateranense (Roma) alude, em particular, à parte em que o atual Papa diz que, em certas condições e circunstâncias, “divorciados recasados podem receber a Eucaristia”.
“O Papa não mudou a doutrina da Igreja”, sustenta o autor.
exortação pós-sinodal ‘Amoris laetitia’ foi publicada após duas assembleias do Sínodo dos Bispos (2014 e 2015) dedicadas às questões da família e do matrimónio.
Rocco Buttiglione recorda a importância de ter em conta o que exortação apostólica “não diz”, bem como o facto de existir uma “variedade de situações e circunstâncias humanas demasiado grandes”.
“[Amoris laetitia] Não diz que os divorciados recasados podem tranquilamente receber a comunhão. O Papa convida os divorciados recasados a iniciar (ou prosseguir) um caminho de conversão”, sublinha o filósofo italiano.
Buttiglione escreve que o caminho que o Papa propõe aos divorciados recasados é “exatamente o mesmo que a Igreja propõe a todos os pecadores” e defende que Francisco em nada “contradiz a grande batalha de João Paulo II contra o subjetivismo na ética”.
“São João Paulo II nunca duvidou de que as circunstâncias influenciassem a avaliação moral de quem realiza uma ação, tornando-o mais ou menos culpado do ato objetivamente mau que cometia. Nenhuma circunstância pode tornar bom um ato intrinsecamente mau mas as circunstâncias podem aumentar ou diminuir a responsabilidade moral de quem o realiza”, precisa.
O autor admite que São João Paulo II e o Papa Francisco não dizem “a mesma coisa” mas entende que “não se contradizem sobre a teologia do matrimónio”.
“Não há dúvida de que o divorciado recasado esteja objetivamente numa condição de pecado grave; o Papa Francisco não o readmite à Comunhão mas, como todos os pecadores, à Confissão. Nela ele contará as eventuais circunstâncias atenuantes e ouvirá se e em quais condições pode receber a absolvição”, explica.
OC

terça-feira, 19 de julho de 2016

Índia: Bispo denuncia aumento de fundamentalismo religioso



D. Paul Alappatt, bispo de Ramanathapuram [Índia], denunciou em declarações à fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) o agravamento do “fundamentalismo religioso” desde que Narendra Modi foi empossado primeiro-ministro indiano, em maio de 2014.
De visita à sede internacional da AIS, em Köningstein, na Alemanha, o prelado afirmou que os grupos radicais hindus “sentem agora que podem fazer o que quiserem, que a lei não irá agir contra eles”.
Esse sentimento de impunidade levou a “um aumento” de ataques contra as minorias, “porque há grupos que querem que a Índia se torne um Estado hindu”.
D. Paul Alappatt, cuja diocese fica situada na região central do país, adverte que “a situação é muito tensa” e que “tem havido vários ataques”.
“Há momentos de oração, em especial nas aldeias, em que as pessoas se juntam para rezar. E eles dizem que são conversões e atacam-nos. É um problema de lei e ordem. Não é tanto um problema de conversão, mas apenas um pretexto”, lamenta o prelado, em declarações à fundação pontifícia.
Na Diocese de Ramanathapuram, acrescenta, “há muita gente sem recursos”, reconhece o bispo local.
“Estou muito agradecido à AIS. Para ajudar os pobres e os marginalizados vamos às franjas da sociedade. Levamos religiosas e leigos para viver com eles, para os educar, para lhes dar mais capacidades, para fazer trabalho social e de assistência”, conclui.
OC

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Papa convida humanidade a redescobrir valor da «hospitalidade»

O Papa disse hoje no Vaticano que a humanidade tem de redescobrir o valor da “hospitalidade” e questionou a falta de “tempo” para “ouvir” os outros, mesmo nas famílias.
“A hospitalidade surge verdadeiramente como uma virtude humana e cristã, uma virtude que no mundo de hoje corre o risco de ser descurada”, advertiu, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, para a recitação da oração do ângelus.
Francisco sublinhou que na sociedade atual se multiplicam “lares e asilos”, mas nem sempre se vive nestes ambientes uma “hospitalidade real”.
“Dá-se vida a várias instituições que enfrentam várias formas de doença, solidão, marginalização, mas diminui a probabilidade para quem é estrangeiro, marginalizado, excluído”, incapaz de encontrar alguém disposto a escutá-lo, a ouvir a sua “história dolorosa”.
O Papa acrescentou que mesmo nas próprias casas, entre as famílias, é possível encontrar “serviços e cuidados de vários tipos”, mas não escuta e acolhimento.
O pontífice desafiou, por isso, a “perder tempo” para ouvir os maridos, as mulheres, os filhos, os avós.
“Peço-vos que aprendam a escutar”, apelou.
A intervenção partiu de um episódio relatado no Evangelho segundo São Lucas, quando Jesus entra numa aldeia e é acolhido numa casa por duas irmãs, Marta e Maria, a primeira das quais se concentra na preparação de tudo o que é necessário para receber o visitante.
“Marta corre o risco de se esquecer da coisa mais importante, isto é, da presença do hóspede, de Jesus”, explicou o Papa.
Francisco realçou que o mais importante é “ouvir”, estar ao lado de quem veio fazer companhia.
“Se formos rezar, por exemplo, diante do crucifixo, e falamos, falamos, falamos, e depois vamos embora, não ouvimos Jesus, não o deixamos falar ao nosso coração. Ouvir. Esta é uma palavra-chave, não se esqueçam”, prosseguiu.
OC