segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A vocação missionária da Igreja

A Igreja encontra a vocação e razão de existir no testemunhar e anunciar a Jesus a todos os povos. Toda e cada Igreja tem ineludível vocação missionária.

Chegou para Igreja da América Latina, até então objeto de missão, a hora de inverter o movimento e assumir a vocação missionária. Alguns dados estatísticos reforçam esse apelo. Quase metade dos católicos do mundo concentram-se no nosso Continente e ele contribui com só 1,5% do pessoal missionário. Os católicos perfazem atualmente no mundo o índice de 18%. 2/3 não são cristãos. Se olharmos para a Ásia, que agrupa mais da metade da população mundial, mas com somente 2,5% de católicos, a situação se mostra ainda mais interpelante.
A responsabilidade missionária da América Latina vem tanto por exigência da própria vocação eclesial quanto por imposição dos fatos que nos fazem, na expressão de João Paulo II, "o Continente da esperança missionária".
A nossa história de colonização fez-se à custa da escravidão dos africanos. Como dizia Vieira, “não há Brasil, sem Angola”. Temos, portanto, especial responsabilidade em relação à África. A América Latina sente-se devedora e culpada em relação ao Continente negro pelos milhões de filhos seus trazidos como escravos. Agora quer devolver em fé e libertação, o que roubara em escravidão. Tal fator histórico e ético sobreleva ao simples fato estatístico.
Nesse espírito, aceitei ir passar quase um mês em Moçambique na consciência de que restituía pequena migalha do que recebemos daquele Continente. Pude ver coisas lindas. O país estava a sair de quase 30 anos de guerra e sofrimentos. Os missionários permaneceram, com enorme heroísmo, firmes em seus lugares no meio a todos os perigos da guerra. Vi também um povo que vive da esperança. Apesar de tanto sofrimento, senti, especialmente no Norte, as pessoas muito acolhedoras. Quando nós as saudávamos pelas estradas ou ruas, abriam-nos amplo sorriso de acolhida. Encontram ainda energias para festejar, bailar, cantar.
Os desafios missionários revelam-se grandes, desde a doença da malária, que continua atingindo maciçamente os habitantes, e a extrema pobreza até o encontro com tradições culturais e línguas muito diferentes. A língua portuguesa funciona no mundo do asfalto e letrado. Mas o povo fala línguas regionais. Sem conhecê-las o missionário fica muito limitado. E o fato de aprender a língua significa para o moçambicano que o missionário não vem nem está lá com outros interesses que os do evangelho. O dominador não aprende a língua do dominado.
Em Moçambique abre-se para a Igreja do Brasil amplo campo missionário. Mas não pensemos que vamos somente dar, ensinar, ajudar. Certamente nos enriqueceremos com este contacto. Temos muito que aprender desse povo. Descobriremos intensa vida na Igreja moçambicana, sobejo heroísmo em seus fiéis, ardente zelo, vitalidade nas comunidades, liturgias lindas e longas, sem a sofreguidão de tempo, generosa entrega por parte dos missionários, real santidade escondida e que nunca será proclamada nos altares, mas não menos verdadeira e autêntica.
Por sua vez, o cristianismo tem maravilhosa tarefa de proclamar a libertação a este povo sofrido, oprimido e agora submetido às políticas escorchantes do FMI e do Banco Mundial. Além disso, pelo que ouvi, nas religiões tradicionais impera terrível medo dos espíritos, das exigências pesadas dos feiticeiros e existem elementos necessitantes da presença libertadora de Cristo. Onde estejamos, participemos na oração, na ajuda material e espiritual, no compromisso, vivendo a vocação batismal missionária.

Autor: João Batista Libânio
Fonte: Dom Total.

domingo, 30 de agosto de 2015

Os cristãos não são donos do poder no mundo, mas servidores e colaboradores da Verdade

Quanto mais cresce a sociedade, maior a necessidade de leis e normas que facilitem a convivência de pessoas diferentes, segundo as classes sociais, as culturas presentes naquele ambiente, os grupos que reivindicam seu espaço de participação e seus direitos. O equilíbrio entre as diversas forças tantas vezes é difícil de ser alcançado, pelo radicalismo das mesmas e a incapacidade para conviver com os opostos, a serem considerados como complementares e não inimigos. A presença dos cristãos em nosso tempo é continuamente desafiada, cabendo-lhes a coerência com o Evangelho de Jesus Cristo, a paixão pela verdade, a capacidade de ouvir e considerar as razões dos outros, a misericórdia e um ponto basilar da Doutrina Social da Igreja, que é a busca do Bem Comum. Sua vida há de ser exemplar, de forma que os que os veem de longe se aproximem e se sintam atraídos. Não somos donos do poder no mundo, mas servidores e colaboradores da Verdade.
 “Vede, eu vos ensinei leis e decretos, conforme o Senhor meu Deus me ordenou para que os pratiqueis na terra em que ides entrar e da qual tomareis posse. Guardai-os e ponde-os em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência diante dos povos. Ao tomarem conhecimento de todas essas leis, dirão: ‘Sábia e inteligente é, na verdade, essa grande nação’. Pois qual é a grande nação que tem deuses tão próximos como o Senhor nosso Deus, sempre que o invocamos? E qual a grande nação que tenha leis e decretos tão justos quanto toda esta Lei que hoje vos proponho?” (Dt 4, 5-8) Somos herdeiros do imenso tesouro dado por Deus a seu povo, conscientes de sermos guardiães de um relacionamento com o Senhor que nos possibilita uma vida digna, pensada por ele para toda a humanidade, no maravilhoso plano de amor expresso na Sagrada Escritura, na História Sagrada e na História da Igreja.
No entanto, na Antiga Aliança, aos Dez Mandamentos da Lei de Deus foram acrescentados muitos outros mandamentos, normas e preceitos, que tantas vezes dificultaram a vida religiosa fiel, especialmente dos mais simples. Tornou-se, no correr do tempo, muitas vezes insuportável carregar o peso da lei, enquanto esta deveria ser justamente o caminho para a realização e a felicidade. Jesus se confrontou com pessoas e grupos que tinham a tarefa de interpretar a Lei de Deus e as leis dela decorrentes, cuja pretensa competência suscitou discussões acirradas e perseguições àquele que é a Palavra de Deus feita Carne (Cf. Mc 7,1-23). Também no tempo da Igreja, que é nosso, corremos continuamente o risco de transformarmos as leis do Senhor em opressão, peso insuportável para as outras pessoas. O risco oposto também nos cerca, quando podemos relaxar no cumprimento da lei de Deus.
O justo equilíbrio é buscado na vida da Igreja com afã no correr dos séculos. A moral cristã é uma tarefa exigente, atenta à revelação de Deus nas Escrituras e às exigências da vida das pessoas. Seu ponto de partida não é a norma fria das leis a serem compridas, mas o encontro com Cristo, que exige muito mais do que a eventual vigilância ou muitas placas escritas ou não, expostas pelos cruzamentos da vida. Faz-se necessário escutar o Senhor, alimentar-se de sua Palavra, orar com frequência e confiança, buscar a necessária orientação de pessoas que têm a graça e a capacidade de contribuir no discernimento, alimentar-se dos Sacramentos, especialmente a Penitência e a Eucaristia, a fim de dar passos seguros, na crescente fidelidade ao Espírito Santo que conduz nossas almas.        
Há poucos dias recebi o texto da Oração pela Beatificação do Servo de Deus Dom Helder Câmara, o grande Arcebispo de Olinda e Recife. Anteriormente, numa viagem a Roma, tive a graça de acompanhar um emissário daquela Arquidiocese quando foi entregue o processo na Congregação das Causas dos Santos. A oração diz assim: “Nós vos agradecemos pelo dom de sua vida e vos bendizemos por suas virtudes. Exercendo o seu ministério em favor da justiça e da paz e dedicando sua vida à causa dos pobres, imitou o Bom Pastor, que deu a vida por suas ovelhas”. Um homem de imensa liberdade interior, com vida sóbria em seus hábitos, exigente consigo e pobre, capaz de edificar a todos com seu olhar ao mesmo tempo perspicaz e carregado de simplicidade evangélica. Sua vida, assim como de outros homens e mulheres santos, atrai pela coerência e fidelidade a Deus! Não foram coniventes com a mentira e a maldade, apontaram seu olhar para o alto, e são exemplos a serem seguidos. Fazem parte de uma grande nação, cuja herança perpassa os séculos.
Os legisladores e governantes, quando coerentes com sua própria consciência e quando honestos em sua busca da verdade, podem constatar que a Lei de Deus consignada nos Dez Mandamentos é o que existe de melhor para a humanidade de qualquer tempo. Mais ainda é consistente o que a Nova Lei em Cristo oferece à humanidade. Em nosso tempo, os cristãos lutam com firmeza pelo respeito à vida, desde sua concepção até seu ocaso natural, batalham pela fidelidade a projeto de Deus, que criou o homem e a mulher, são conscientes de que os esforços contra a corrupção em todos os níveis é dever de todos, unem-se a todos os esforços pela justiça e pela paz, sonham e trabalham por um mundo de maior respeito à dignidade de todos.
Estamos para iniciar, nesta semana, o mês dedicado à Bíblia, com o qual desejamos voltar continuamente ao Evangelho, num esforço redobrado de fidelidade à Palavra. Valha para todos nós a recomendação de São Tiago (Tg 1, 21-27), que nos oferece o caminho de coerência necessário para fermentarmos a sociedade de uma forma nova: “Recebei com mansidão a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar-vos. Todavia, sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Com efeito, aquele que ouve a Palavra e não a põe em prática é semelhante a alguém que observa o seu rosto no espelho: apenas se observou, sai  e logo esquece como era a sua aparência. Aquele, porém, que se debruça sobre a Lei perfeita, que é a da liberdade e nela persevera, não como um ouvinte distraído, mas praticando o que ela ordena, esse há de ser feliz naquilo que faz. Se alguém julga ser religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo: a sua religiosidade é vazia. Religião pura e sem mancha diante do Deus e Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas dificuldades e guardar-se livre da corrupção do mundo”.

Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

sábado, 29 de agosto de 2015

Cuba: continuam as obras para a missa do Papa na Havana

Monsenhor Rodolfo Loiz Morales, da Comissão Nacional da Arquidiocese da Havana disse à agência AIN que, depois de 40 dias de trabalho estão terminando a construção das estruturas onde o Papa Francisco oficiará uma missa no domingo, 20 de setembro, na Praça da Revolução José Martí. O estrado papal está sendo construído, duas tribunas destinadas aos jornalistas, um estrado para o coro e a orquestra, e a sacristia.
Além disso, dois grandes painéis estão sendo feitos, um na fachada da Biblioteca Nacional José Martí, O Cristo da Misericórdia; e outro em frente ao Teatro Nacional, uma colagem de fotos com gestos de caridade e de misericórdia protagonizados pelo Papa Francisco e Madre Teresa de Calcutá.
Na Praça da Revolução foi onde celebraram a santa missa, em 1998, João Paulo II; e em 2012, Bento XVI. Aí está fixada em um edifício, a imagem do conhecido guerrilheiro Ernesto Che Guevara, morto na Bolívia em 1967; e o monumento a José Martí.
Um coro sinfónico composto por 230 vozes do Instituto Superior das Artes (ISA) e uma pequena representação de coros de várias comunidades da Igreja Católica serão responsáveis pela música da missa.
Haverá uns 4.000 convidados especiais, e o presidente Raul Castro estará presente na cerimônia. Pouco antes de que a Havana tivesse concedido autorização para a viagem, o Vaticano insistiu que desejava livre circulação para os eventos papais na ilha.

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

CNBB publica nota sobre a situação do Brasil

Nota da CNBB a favor do Brasil P- Nº. 0579/15

“Os que querem enriquecer caem em muitas tentações e laços, em desejos insensatos e nocivos, que mergulham as pessoas na ruína e perdição. Na verdade, a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,9-10).

A população brasileira acompanha, apreensiva, a grave crise que atinge o país, procurando conhecer suas origens, resistir às suas consequências e, sobretudo, vislumbrar as soluções. A realidade é dura e traz de volta situações que, por algum tempo, haviam diminuído significativamente como o desemprego, a inflação e a pobreza.
Pagamos um alto preço pela falta de vontade política de fazer as reformas urgentes e necessárias, capazes de colocar o Brasil na rota do desenvolvimento com justiça social quais sejam as reformas política, tributária, agrária, urbana, previdenciária e do judiciário. O gasto com a dívida pública, o ajuste fiscal e outras medidas para retomada do crescimento colocam a saúde pública na UTI, comprometem a qualidade da educação, inviabilizam a segurança pública e inibem importantes conquistas sociais.
A corrupção, metástase que atinge de morte não só os poderes constituídos, mas também o mundo empresarial e o tecido social, desafia a política a seguir o caminho da ética e do bem comum. Combatê-la de forma intransigente supõe assegurar uma justa investigação de todas as denúncias que vêm à tona com a consequente punição de corruptos e corruptores. A corrupção, gerada pela falta de ética e incentivada pela impunidade, não pode ser tolerada.
É urgente resgatar a credibilidade da atividade política em que seja fortalecida a cultura inclusiva e democrática, pois um “método que não dá liberdade às pessoas para assumir responsavelmente sua tarefa de construção da sociedade é uma chantagem”, e “nenhum político pode cumprir o seu papel, seu trabalho, se se encontra chantageado por atitudes de corrupção” (Papa Francisco aos representantes da sociedade civil, no Paraguai, 11 de julho de 2015). A chantagem “é sempre corrupção”. Lamentavelmente, o cenário político brasileiro não está isento desta condenável prática.
É inaceitável que os interesses públicos e coletivos se submetam aos interesses individuais, corporativos e partidários. As disputas políticas exacerbadas podem comprometer a ordem democrática e a estabilidade das instituições. Garantir o estado de direito democrático é imperativo ético e político dos brasileiros, mormente dos que não viveram nem testemunharam as arbitrariedades dos tempos de exceção. O bem do Brasil exige uma radical mudança da prática política.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, através do Conselho Episcopal Pastoral-Consep, reunido em Brasília, nos dias 25 e 26 de agosto, reafirma o diálogo e a luta contra a corrupção como meios para preservar e promover a democracia. Nesse diálogo, devem tomar parte os poderes constituídos e a sociedade civil organizada. Com o Papa Francisco, lembramos que “o futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança” (Discurso aos participantes do II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Bolívia, 9 de julho de 2015).
O Espírito Santo nos ajude a dar a razão de nossa esperança e nos anime no compromisso de agir juntos pelo bem comum do povo brasileiro.

Dom Sergio da Rocha Arcebispo de Brasília-DF Presidente da CNBB

Dom Murilo S. R. Krieger Arcebispo de São Salvador da Bahia- BA Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner Bispo Auxiliar de Brasília-DF Secretário - Geral da CNBB

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Papa convida para o primeiro "Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação”

Durante a Audiência Geral na Praça de São Pedro, o Papa Francisco recordou que na próxima terça-feira, 1º de setembro, será realizado pela primeira vez o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação.
“Em comunhão com nossos irmãos ortodoxos e com todas as pessoas de boa vontade, queremos dar a nossa contribuição para solucionar a crise ecológica que a humanidade está vivendo”, disse o Papa.
Ele lembrou que "em todo o mundo, as realidades eclesiais programaram iniciativas de oração e de reflexão para fazer deste Dia um momento forte de encorajamento para assumirmos estilos de vida coerentes”.
"Junto com bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e leigos da Cúria, vamos realizar na Basílica de São Pedro, às 17h, uma Liturgia da Palavra, para a qual convido todos os romanos e peregrinos a participar”.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Água: um recurso limitado que exige uma gestão complexa

É necessário assegurar o mais rapidamente possível, em cada país, uma governança abrangente e coerente dos recursos hídricos, adotando um quadro normativo que garanta a sua gestão integrada. O bom gerenciamento da água não é apenas um pilar fundamental do uso sustentável dos recursos naturais, mas também um elemento decisivo para o bem-estar social e para o crescimento econômico.

Estas questões foram discutidas durante o encontro “Misteriosa é a água”, realizado no último sábado na 36ª edição do Encontro da Amizade entre os Povos, mais conhecido como o “Meeting de Rímini”, na Itália.

Participaram do debate profissionais como o engenheiro Mario Gargantini, que falou da gestão da água como recurso e enfatizou a abordagem integrada dessa gestão, superando a comum tripartição "defesa das águas e do solo", "objetivos de qualidade da água" e "gestão dos serviços hídricos". A este propósito, é significativo que as mais recentes políticas ambientais da União Europeia ponham grande ênfase na coordenação das estratégias e objetivos relacionados aos recursos hídricos, em contraste com as anteriores políticas de diretivas isoladas, focadas em questões específicas.

No caso da Itália, foram destacados dois fatores fundamentais de pressão: por um lado, a mudança climática e ambiental; por outro, a crescente exigência de água para o desenvolvimento econômico e industrial. De acordo com os estudos mais recentes, as mudanças climáticas fazem com que toda a região mediterrânea se veja diante de uma perspectiva de redução dos recursos hídricos e de variabilidade no acesso a eles, por causa de eventos extremos mais intensos e frequentes, como chuvas excessivas ou secas prolongadas. Ao mesmo tempo, a demanda de água aumentará não só nos países da margem norte do Mediterrâneo, mas também nas costas do sul, onde a disponibilidade de água já é escassa: a piora no acesso à água deverá fomentar ainda mais a migração para os países europeus.

Neste contexto de transformação do clima e dos cenários de desenvolvimento, o recente Fórum Mundial de Marselha reiterou a necessidade imprescindível da gestão integrada dos recursos hídricos na Europa.

Paralelamente aos desafios, no entanto, há também oportunidades para melhorar a segurança territorial e social e a eficiência dos processos produtivos, em especial na utilização eficiente dos recursos naturais, incluindo (e enfatizando) os hídricos.
Durante as discussões, Manuela Kron, da Nestlé Itália, relatou que a empresa reduziu o seu consumo de água em cerca de 25% durante o ano de 2014, além de contratar 1.000 profissionais das áreas de agricultura, agrimensura e agronomia para implementar uma política de agricultura sustentável e de economia de água.

Maurizio Carvelli, da Fundação CEUR, encerrou os debates observando que as mudanças climáticas exigem urgentes planos de adaptação e prevenção para enfrentar os desafios, entre os quais ele cita a desertificação, a degradação dos solos e as secas mais frequentes. Gerir a água também significa compreender o seu papel no desenvolvimento humano: uma gestão coordenada reduziria, inclusive, potenciais conflitos pelo controle da água em regiões áridas, promovendo um melhor uso social e econômico deste recurso vital.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

A Assunção de Maria nas Escrituras?

Antes de mais nada, devemos ter em mente que os Evangelhos não tiveram a pretensão de descrever a vida de Jesus, Maria ou qualquer outro personagem das Escrituras, mas a Boa Nova da Salvação. Porém, a Igreja possui autoridade suficiente para interpretar as Escrituras, pois nem tudo está explicito. No caso da Assunção de Maria, historicamente celebrada desde o séc. VII e definida como dogma católico em 1950 por Pio XII, faremos um caminho de hermenêutica do que ainda pode estar desconhecido.
Nada de explicito encontramos nas Escrituras com relação à Morte, Ressurreição e Assunção aos céus da Virgem Maria. Não visando aumentar nossa devoção, mas para iluminar a nossa veneração à Virgem Maria assunta aos céus, façamos nosso caminho com o Evangelista Lucas.
O Evangelho de Lucas se presta muito bem para esclarecer o que estamos aprofundando em paralelo com outros textos sagrados.
Em Lc 1-2, Maria é a principal protagonista do evento da Encarnação do Senhor. Sem ela não se compreende a Encarnação do Salvador do Mundo. Quando Lucas narra este acontecimento, tem em mente episódios do Antigo Testamento para dar respaldo a obra salvífica de Deus. Pois bem, destes episódios sobressai nas entrelinhas a Arca da Aliança. Este objeto confeccionado por Moisés a mando de Deus, desapareceu «misteriosamente». Lucas aplica à Maria no Novo Testamento, mas a figura da Arca possui aspectos cristológicos e mariológicos, ou seja, se relacionam a Cristo e à Maria.
A partir da confrontação dos textos, o leitor entenderá melhor os paralelos a seguir:
* A Arca foi confeccionada com madeira de Acácia, madeira incorruptível (cf. Ex 25,10-22) // Maria, a fiel e crente, vivente em Cristo não por ser só mãe, mas Serva do Senhor (cf. Lc 1,38) não passará pela corrupção do sepulcro (cf. At 2,26-28; Sl 16,10).
* A Arca era revestida de ouro por dentro e por fora (cf. Ex 25,10-22) // Maria é a cheia de graça (cf. Lc 1,26).
* A glória de Deus desceu sobre a Arca (cf. Ex 40,34-35) // Maria coberta pela sombra do Altíssimo (cf. Lc 1,35).
* A Arca ficava na parte interna do Templo/Tenda/Tabernáculo chamado Santo dos Santos (cf. 2Cro 5,2) // O útero de Maria é o Santo dos Santos e o Filho de Maria é «Santo e Filho do Altíssimo» (cf. Lc 1,35).
* Só os sacerdotes podiam carregar a Arca, era intocável (cf. Nm 17,10; Dt 10,8; 31,9.26; Js 3,6.11.14-15; 6,8) // Maria é Virgem perpétua (cf. Lc 1,26; Ez 44,45; [textos que não aludem a nenhum outro filho de Maria: Lc 2,41-52; Jo 19,25-27].
* Através da Arca, Deus falava com Moisés e ao povo de Israel (cf. Ex 25,22; 1Sm 4,4).
* Na Arca continha três milagres de Deus: o Bastão de Aarão que floresceu [escolha do sacerdote] (cf. Nm 16 e 17,7-8), o Maná do Deserto (cf. Ex 16,31-33) e as Tábuas da Lei  (cf. Hb 9,4) // Maria gerou a Jesus, o Sumo e Eterno Sacerdote; o Pão da vida (Ex 16,32-34; Jo 6,48-51) e o NT (Hb 9,15).
* Quando Deus queria falar com Moisés, a nuvem descia sobre a Arca (cf. Nm 4,5) // O anjo diz a Maria: O espirito santo descera sobre Ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sobra (cf. Lc 1,35).
* Davi Dança diante da Arca (cf. 2Sm 6,14) // João Batista pula de alegria no ventre de Isabel após a chegada e a saudação de Maria (cf. Lc 1,39-41).
* Davi diz: Como pode ser que a Arca do Senhor venha a mim? (cf. 2Sm 6,9) // Isabel diz a Maria: Como pode ser que a Mãe do meu Senhor venha a mim? (cf. Lc 1,43).
* A Arca fica três meses na casa do sacerdote Obed-Edom em Jerusalém (cf. 2Sm 6,10-12; 1Cro 13,14) //Maria fica com Isabel, na casa do sacerdote Zacarias, três meses (cf. Lc 1,39-51).
* O profeta Jeremias afirma que a Arca desapareceu (cf. 2Mac 2) // Em Ap 11 se afirma que a Arca está no céu (Ap 11,19).
Lucas afirma que Maria é a Arca da Aliança e, em Ap 11, que a Arca sendo um objeto físico está no céu, portanto, não teria acontecido o mesmo com Maria, a cheia de graça?
Depois desta explanação com a Palavra de Deus, é preciso mais alguma coisa a se explicitar?
Assunta ao céus a Arca da Aliança, Maria, a Nova Arca da Aliança também assunta.

Prof. Dr. Pe. Rafael Maria, é Doutor em Mariologia e ministra dois «Cursos de Mariologia» pelo site: www.cursoscatolicos.com.br.
Possui Diplomas em Counseling, Postulação para Causa dos Santos e Tutor de Ensino a Distância pela PUC- RS. Informações: d.rafaelmariaosb@hotmail.com
Facebock: Dom Rafael Maria,osb

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Papa no Angelus: “Quem é Jesus para mim?”

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje conclui-se a leitura do sexto capítulo do Evangelho de João, com o discurso sobre o "Pão da Vida", pronunciado por Jesus no dia seguinte do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. No final do discurso, o grande entusiasmo do dia anterior se apagou, porque Jesus tinha dito ser o Pão que desceu do céu, e que ele iria dar a sua carne como alimento e seu sangue como bebida, aludindo claramente ao sacrifício da sua própria vida. Estas palavras provocaram decepção no povo, que as julgou indignas para um Messias, palavras não "vencedoras". Assim, alguns observavam Jesus como um Messias que devia falar e agir de modo que a sua missão tivesse sucesso, de imediato. Mas precisamente sobre isso eles se enganavam: no modo de entender a missão do Messias! Até mesmo os discípulos não conseguem aceitar aquela linguagem inquietadora do Mestre. E a passagem de hoje refere-se a esse desconforto: " Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir?"(Jo 6,60)”.
Na verdade, eles tinham entendido bem o discurso de Jesus, tão bem que não queriam escutá-lo, porque é um discurso que põe em crise a sua mentalidade. As palavras de Jesus sempre nos colocam em crise, por exemplo diante do espírito do mundo, do mundanismo. Mas Jesus oferece a chave para superar as dificuldades, uma chave composta de três elementos. Primeiro, a sua origem divina: Ele desceu do céu e subirá "para onde estava antes" (62 v.). Segundo: as suas palavras só podem ser compreendidas através da “ação do Espírito Santo”, Aquele "que dá a vida" (v. 63). É precisamente o Espírito Santo que nos faz compreender bem Jesus. Terceiro: a verdadeira causa da incompreensão das suas palavras é a falta de fé: "Entre vocês há alguns que não acreditam" (v 64), disse Jesus. De fato, desde então, diz o Evangelho: "muitos dos seus discípulos haviam desistido " (v 66). Perante estas deserções, Jesus não poupa e nem atenua as suas palavras, ao contrário, obriga a fazer uma escolha precisa: ou estar com Ele ou separar-se d´Ele, e diz aos Doze: "Também vós quereis ir embora?" (V. 67 ).
Então, Pedro faz sua confissão de fé em nome dos outros Apóstolos: "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna" (68 v.). Ele não diz "onde iremos?", mas "a quem iremos?". O problema básico não é ir e deixar a obra iniciada, mas é a quem ir. Daquela interrogação de Pedro, entendemos que a fidelidade a Deus é uma questão de fidelidade a uma pessoa, com a qual se une por caminhar junto na mesma estrada. E esta pessoa é Jesus. Tudo o que temos no mundo não satisfaz a nossa fome de infinito. Precisamos de Jesus, de estar com Ele, de nos alimentar à sua mesa, das suas palavras de vida eterna! Crer em Jesus significa fazer d´Ele o centro, o sentido da nossa vida. Cristo não é um acessório opcional é o "pão vivo", o alimento essencial. Unir-se a Ele, em um verdadeiro relacionamento de fé e amor, não significa ser acorrentado, mas profundamente livre, sempre a caminho. Cada um de nós pode se perguntar: Quem é Jesus para mim? É um nome, uma ideia, apenas uma figura histórica? Ou é realmente aquela pessoa que me ama, que deu a sua vida por mim e caminha comigo? Para você quem é Jesus? Você está com Jesus? Você tenta conhecê-lo na sua Palavra? Lê o Evangelho, todos os dias uma passagem do Evangelho para conhecer Jesus? Carrega um pequeno Evangelho no bolso, bolsa, para lê-lo em qualquer lugar? Porque quanto mais estamos com Ele, mais cresce o desejo de permanecer com Ele. Agora, peço gentilmente, façamos um momento de silêncio, e cada um de nós em silêncio, em seu coração, se interrogue: "Quem é Jesus para mim?". Em silêncio, cada um responda em seu coração.
Que a Virgem Maria nos ajude a "ir" sempre a Jesus para experimentar a liberdade que Ele nos oferece, e que nos permita limpar nossas escolhas das sujeiras mundanas e dos medos.
(Apelo)
Com profunda preocupação, sigo o conflito no leste da Ucrânia, que novamente se deteriorou nas últimas semanas. Renovo o meu premente apelo para que sejam respeitados os compromissos assumidos para se chegar à paz e com a ajuda das organizações e pessoas de boa vontade, se responda à emergência humanitária no país. Que o Senhor conceda a paz à amada terra ucraniana, que está prestes a celebrar amanhã a festa nacional. A Virgem Maria interceda por nós!”

(Depois do Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

Saúdo cordialmente todos os peregrinos romanos e os de vários países, em particular os novos seminaristas do Pontifício Colégio Norte-Americano, em Roma para os estudos teológicos.
Saúdo o grupo desportivo de San Giorgio su Legnano, os fiéis de Luzzana e de Chioggia; os jovens da diocese de Verona.
E não se esqueça, esta semana, de parar todos os dias por um momento e se interrogar: "Quem é Jesus para mim?". E cada um responda em seu coração.
Desejo a todos um bom domingo. E por favor, não se esqueçam de rezar por mim! Bom almoço e até logo!

Fonte: Zenit.

domingo, 23 de agosto de 2015

Declaração de 60 representantes islâmicos para combater a mudança climática

Chama-se "Declaração sobre as Alterações Climáticas" e é assinada por um grupo de mais de 60 acadêmicos, líderes políticos e religiosos do mundo islâmico. Através dela exige-se dos Governos Mundiais, em vista da conferência climática da ONU sobre clima que acontecerá dezembro em Paris (conhecida como Cop21), a negociação e assinatura de um acordo ambicioso que permita limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, ou que pelo menos respeite o limite dos 2 graus considerado o ponto de não retorno pelos climatologistas.
A declaração foi assinada em Istambul durante a International Islamic Climate Change Symposium, evento inspirado pela Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco e pela Jornada Mundial de oração pelo cuidado com a Criação recentemente proclamada, que será celebrada no próximo dia 1º de setembro pela Igreja Católica, junto com a ortodoxa.
No texto, os líderes de uma dúzia de países islâmicos pedem a rápida eliminação dos combustíveis fósseis e a transição para as energias renováveis ​​para atingir 100% de energia limpa, a fim de combater as alterações climáticas, reduzir a pobreza e buscar um desenvolvimento sustentável. Entre os participantes do simpósio, a secretário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, Christiana Figueres, destacou como “os ensinamentos do Islã, que enfatizam os deveres dos seres humanos como guardiães da Terra, ofereceram orientações para realizar ações corretas sobre a mudança climática".

Fonte: Zenit.

sábado, 22 de agosto de 2015

Não deixar de manifestar nossas próprias convicções, ainda que soem diferentes

Palavra do Senhor! Palavra da Salvação! Palavra de Vida Eterna! São expressões que ressoam continuamente em nossos ouvidos! No entanto, estamos mais acostumados com palavras que nos chegam através dos muitos meios de comunicação de nosso tempo. Ficamos até acostumados com as notícias da última alta do dólar, as chacinas do dia a dia, a crise política e econômica, as muitas "operações" efetuadas pelos órgãos de segurança. Nada nos assusta nem causa reação ou escândalo, quase vacinados diante das imagens e sons que entram em nossas casas e corações. As pessoas são capazes de permanecer impávidas diante de noticiários sanguinários e sanguinolentos, às vezes continuando suas refeições ou tratando de amenidades.
Entretanto, quando a Igreja fala da verdade o Evangelho, ou prega as consequências morais e éticas do seguimento de Jesus, alguns consideram intervenção indevida, agressão à laicidade do Estado, que sabemos não ter necessidade de ser ateu para ser laico! Num mundo paganizado, falar dos Sacramentos, ou da prática de Missa dominical, ou ter convicções claras e correspondentes à Verdade revelada, tudo pode parecer anacrônico e fantasioso. Falar de família monogâmica, formada a partir da união de homem e mulher, fiel e fecunda, como a Igreja insistirá fortemente neste período que antecede o Sínodo dos Bispos, soa retrocesso, diante do que se pensa "progresso", outro nome da destruição da família e da desagregação de laços consistentes, que sabemos ser essenciais para a garantia da dignidade humana pessoal e a sustentação da vida, como foi pensada por Deus, tudo isso receberá ataques de toda ordem.
Não é de hoje! Quando o Povo de Deus, tendo atravessado o Rio Jordão e vencido as primeiras etapas de ocupação da Terra Prometida, foi convocado a uma grande Assembleia, no lugar chamado Siquém, Josué (Cf. Js 1, 1-9), cuja liderança se consolidava, falou a todas as tribos de Israel com palavras provocantes: "Se vos desagrada servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram no outro lado do rio ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (Js 24, 15). Mesmo escolhido por Deus para uma grande missão, aquele povo sempre esteve sujeito à tentação e à queda, pelas suas próprias limitações e pelo contato com o paganismo. Com frequência, através de seus enviados, o Senhor lhe pedia a renovação dos compromissos. A resposta à palavra de Josué corresponde a um verdadeiro refrão, que ocorre em variações em outros textos da Escritura Sagrada: "Longe de nós abandonarmos o Senhor para servir a deuses alheios. Pois o Senhor, nosso Deus, foi quem nos tirou, a nós e a nossos pais, da terra do Egito, da casa da escravidão. Foi ele quem realizou esses grandes sinais diante de nossos olhos e nos guardou por todos os caminhos por onde peregrinamos, e no meio de todos os povos pelos quais passamos...  Portanto, nós também serviremos ao Senhor, porque ele é nosso Deus" (Js 24, 16-18).
Quando veio Jesus, sua pregação e seus milagres arrebanharam multidões, como mostram os textos evangélicos. No entanto, muitos ficaram escandalizados com suas palavras e seus gestos. Sua presença se tornou verdadeira provocação a pessoas acomodadas, que se tinham ajeitado numa prática religiosa superficial, o que lhe granjeou significativo grupo de inimigos, inclusive no meio das autoridades civis e religiosas do tempo. Aquele que é a Verdade (Cf. Jo 14,4-5; Jo 18, 33-38) foi rejeitado por muitas pessoas, mesmo sendo estas tocadas por seu amor (Mc 10, 17-23). Tendo chamado discípulos do meio da multidão, esta marcada por expectativas messiânicas algumas vezes confusas, ou limitada formação religiosa, o Senhor Jesus sabia que seria necessária uma grande paciência para formá-los, trabalhando para a maturidade apostólica, que só viria com a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Jesus e a vinda do Espírito Santo no Pentecostes.
Uma das crises dos discípulos ocorreu após a Multiplicação dos Pães e o Discurso a respeito do Pão da Vida, quando Jesus pronuncia palavras cuja consequência desfrutamos e a Igreja o fará até a volta do Senhor: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo" (Jo 6, 50-51). Trata-se do anúncio da Eucaristia! Justamente os discípulos entraram em pânico, junto com outras pessoas: "Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?" (Jo 6, 60). Como fez Moisés com o Povo de Deus no Sinai, ou Josué em Siquém, é hora da decisão: "Jesus disse aos Doze: 'Vós também quereis ir embora?' Simão Pedro respondeu: 'A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus'" (Jo 6, 67-69).
Diante das provocações do tempo em que vivemos, é possível alinhavar algumas atitudes ao mesmo tempo respeitosas e corajosas. Não nos escandalizemos com a diversidade existente em nosso mundo. Antes, na pessoa que é diferente ou pensa de modo diverso de nós, identificar os canais de diálogo fecundo, cooperando, o que quer dizer trabalhando juntos, pelo bem comum. Não deixar de manifestar nossas próprias convicções, ainda que soem diferentes, como nos ambientes de trabalho, tantas vezes eivados de conceitos espúrios ou meias verdades tiradas da última mensagem recebida em redes sociais, consideradas a última palavra. Respeitar o diferente, mas dizer com simplicidade e força que a própria consciência mostra outra visão da vida e do mundo. Ora, para tanto, buscar a necessária formação, nas várias possibilidades oferecidas pelas Paróquias ou Pastorais e Movimentos Eclesiais. E é na vida em Comunidade, especialmente na Paróquia, que se fortalecem as convicções.
A todos os irmãos e irmãs chegue o convite a dizer com São Pedro, que, com suas fragilidades parecidas com as nossas, não foi propriamente um herói da primeira hora, pronunciou palavras tão fortes, que repetiremos no coração todas as vezes em que ressoar, em nossas missas "Palavra do Senhor" ou "Palavra da Salvação": "Só tu tens palavras de Vida Eterna!"

Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Nigéria: mais de 10 milhões de crianças sem instrução escolar

Mais de dez milhões de crianças da Nigéria não têm acesso à educação. A principal causa desta grave lacuna é a violência perpetrada há cinco anos pelo grupo extremista islâmico Boko Haram, embora a evasão e o abandono escolar precoce sejam uma realidade há décadas no país mais populoso da África.

O alarme é do Unicef. O Fundo das Nações Unidas para a Infância observa que esta taxa é a mais elevada do mundo e que o fenômeno afeta mais mulheres do que homens. A ação do grupo jihadista tem agravado o problema, somando-se a razões sociais e econômicas históricas. O próprio nome “Boko Haram” significa “a educação ocidental é pecado”, de um ponto de vista radical do islã.

Apesar deste perigo, as autoridades do estado de Borno, onde os terroristas mantêm suas principais fortalezas, decidiu começar o ano escolar regular, destacando que a educação é um dos principais instrumentos para a construção da paz e para o desenvolvimento.


Fonte: Zenit.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Síria: Estado Islâmico decapita renomado arqueólogo em Palmira

O auto proclamado Estado Islâmico (EI) decapitou na terça-feira Khaled Asaad, 82 anos, um dos principais arqueólogos da histórica cidade de Palmira, na Síria.
Asaad foi chefe de antiguidades de Palmira durante 50 anos. Ele foi preso em julho e durante esse tempo sofreu vários interrogatórios. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) relata que ontem Asaad foi decapitado com uma faca em uma praça pública.
“Imaginem só que um especialista destes, que deu um serviço tão memorável ao local e à História tenha sido decapitado, e que o seu corpo ainda está pendurado numa das colunas antigas do centro da cidade”, lamentou Abdulkarim Ma'mun, chefe de antiguidades da Síria, a quem a família informou sobre o acontecimento.
Asaad trabalhou com numerosas delegações internacionais que se aventuraram a escavar em Palmira e participou da campanha para que a cidade síria fosse incluída na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO.
O Estado Islâmico tomou Palmira em maio, após retirada das tropas governamentais sob intensa ofensiva dos jihadistas.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

"Peregrinos, continuem a vir à Terra Santa! Ela é mais segura do que a Europa!"

"Peregrinos, continuem a vir à Terra Santa! Aqui é mais seguro que na Itália e na Europa", pediu dom Giacinto Boulos Marcuzzo, vigário patriarcal de Jerusalém, aos fiéis de todo o mundo. Pelo site Terrasanta.net, o prelado que vive em Nazaré enfatiza que o "medo aprisionador" dos peregrinos é "absolutamente infundado", já que a maioria das pessoas confunde "os massacres e sequestros que acontecem na Síria, no Iraque, na Líbia e agora até na Tunísia" com a situação da Terra Santa, onde há, na realidade, "uma tranquilidade geral".

O bispo pede que "a Terra Santa não seja abandonada" e recorda que as peregrinações são um modo de apoiar os cristãos na terra de Jesus: 30% deles, especialmente em Jerusalém e Belém, vivem do turismo religioso. "Isto significa, na prática, que, quando há peregrinações, pelo menos 30% dos cristãos locais trabalham normalmente, mas, quando há uma crise de peregrinações, esses 30% ficam expostos ao desemprego e, direta ou indiretamente, à emigração".

O vigário patriarcal de Jerusalém salientou ainda que a presença dos peregrinos é "água rejuvenescedora" para a fé, além de conforto para as comunidades cristãs: ao verem "um ônibus de peregrinos chegar, elas pensam mais ou menos isto: ‘Ah, eles não se esqueceram! Eles ainda amam a nossa terra e participam, pelo menos durante alguns dias, da nossa vida!’. Fortalecidos pela sua presença e pelo seu amor, nós também seguimos em frente".

E o que podemos fazer para ajudar os cristãos da Terra Santa? "A nossa experiência sugere a seguinte resposta: a forma mais fácil e mais eficaz para ajudar a Terra Santa é a peregrinação! A peregrinação é boa para todos: para o peregrino e para o cristão local".

Um apelo semelhante foi lançado há poucos dias pelo Custódio da Terra Santa, o padre Pierbattista Pizzaballa, que, em comunicado, relatou em detalhes que as peregrinações à terra de Jesus têm tido "um declínio dramático" de mais de 40%. A causa é, principalmente, o "medo das guerras no Oriente Médio e dos ataques terroristas perpetrados por grupos fundamentalistas, que ensanguentam também os países do Ocidente".

"Interpretando a voz das diversas comunidades cristãs que vivem em Israel e na Palestina, eu gostaria de lhes dizer: não abandonem a Terra Santa! Não há nenhuma razão sensata para não se organizar uma peregrinação aos Lugares Santos. A segurança é garantida nos santuários e nas áreas frequentadas pelos peregrinos. E nós, cristãos da Terra Santa, precisamos mais do que nunca da presença e do apoio dos peregrinos que vêm de todo o mundo para rezar aqui".

"Jerusalém e os Lugares Sagrados do cristianismo permanecem até hoje como um sinal fundamental da fé, como testemunho da vida, morte e ressurreição de Jesus. Todos os cristãos olham para a Terra Santa e encontram nela as raízes e o sentido autêntico da sua missão no mundo. A Terra Santa é uma escola do Evangelho. Aqui se pode aprender a olhar, ouvir, meditar, desfrutar do silêncio para compreender o significado mais profundo e misterioso da passagem de Jesus. O ambiente nos remete a lugares, trajes, cores, perfumes... Os mesmos que Jesus conheceu quando se revelou ao mundo”.

O pe. Pierbattista dedica então um pensamento aos cristãos, sempre "uma minoria", "uma presença pequena, mas de coração ardente", que nunca foi embora. A fim de salvaguardar a sua presença e, se possível, reforçá-la, "pedimos que as dioceses, paróquias e movimentos não nos abandonem. A peregrinação à Terra Santa é um testemunho de paz e de diálogo".

A mensagem do pe. Pizzaballa foi ecoada também por Avital Kotzer Adari, diretora do Escritório Israelense de Turismo em Milão: "A Terra Santa é essencial para o peregrino que vem conhecer as raízes da sua fé e da fé dos seus pais, que fazem uma experiência verdadeiramente única de espiritualidade, de viver em segurança os locais onde as pedras contam a história da nossa Terra Santa".

Fonte: Zenit.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A vida humana começa na concepção?

O candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Marco Rubio, teve um debate bastante duro com o jornalista Chris Cuomo no programa da CNN "New Day". Marco Rubio, categoria 1971, desde sempre com posições claramente pró-vida, é atualmente senador da Flórida. Chris Cuomo, um ano mais velho, é filho de Mario Cuomo, líder há décadas do Partido Democrático, e irmão de Andrew, atualmente governador do Estado de Nova Iorque. Os Cuomo envolvidos em política apoiaram a interrupção voluntária da gravidez.
No programa o debate entrou no tema do escândalo da Planned Parenthood (PP) (o Colosso dos abortos, acusado de lucrar na venda de órgãos e tecidos de bebês abortados) que está fortemente presente na mídia americana e que levou 13 Estados a questionar a PP e 3 Estados a decidir o corte dos financiamentos públicos para a organização. Quando Marco Rubio defendeu a dignidade do embrião dizendo “A ciência decidiu que é uma vida humana”, Cuomo rebateu: "Não a partir do momento da concepção! ”. "Claro que sim! O que mais pode ser? Não pode se transformar em um animal, não pode se tornar um burro, a única coisa que pode se tornar é um ser humano. É um ser humano, não pode ser outra coisa", foi a réplica de Rubio.
Através da revista Forbes [1] Arthur Caplan, diretor do departamento de ética médica no Centro Médico Langone da Universidade de Nova Iorque, criticou a declaração de Rubio. De acordo com Caplan a ciência não estabeleceu quando começa a vida humana e para demonstrá-lo apresentou uns 11 argumentos:
1. Caso a vida começasse no momento da concepção seria necessário parar a fecundação in vitro, a pesquisa com as células estaminais (embrionárias, n.d.r), a contracepção de emergência.
2. Matar uma mulher grávida deveria levar à acusação de duplo homicídio
3. Uma mulher não poderia ver utilizado o seu testamento biológico quando está grávida.
4. A ciência não oferece uma linha certa do que seja a concepção: quando um espermatozoide alcança o óvulo, quando penetra a parede da célula ovo, quando começa a recombinação, quando se forma um novo genoma, ou, até mesmo, quando é que esse começa a funcionar?
5. Mais de 70% dos embriões morrem antes de serem implantados no útero materno, portanto, a maior parte das concepções não levam a um ser humano, a concepção, na maioria dos casos, não leva a nada.
6. A Academia Nacional de Ciências dos EUA afirmou em 1981 que a existência de uma vida humana no momento da concepção é uma questão que a ciência não pode dar respostas.
7. Os fatos indicam que o ponto de partida é após a concepção.
8. A concepção cria mais de uma vida, os gêmeos, dois, três, mas em seguida, uma das vidas é absorvida no corpo de outra.
9. No momento da concepção não está claro quantas vidas existem, só se entende mais tarde.
10. Até depois da anidação uma parte das gestações terminam espontaneamente.
11. A concepção é sim o começo, mas o começo só do possível e não do atual.
Em seu artigo Caplan não diz nada de novo. Trata-se de argumentos muito comuns dentre os que apoiam a interrupção voluntária da gravidez. Vamos responder sinteticamente a cada um.
1. Argumento que parece irrelevante. Uma descrição não recebe validez pelas implicações sociais, mas só a partir da correspondência com a realidade. Se tivesse que prevalecer o utilitarismo, então, um escravagista poderia ter afirmado que os negros não são seres humanos porque, caso contrário, a escravidão teria sido abolida com grande prejuízo para a economia.
2. Vale tanto quanto o número 1. Até a nível psicológico a afirmação se demonstra contra-intuitiva. Suponha que a sua mulher espera um filho seu e um ladrão dê um tiro nela. Entra em coma, os médicos dizem-lhe que é morte cerebral, mas que há a possibilidade de dar à luz a criança, mantendo artificialmente as funções vitais. Depois de um mês os médicos lhe comunicam que, infelizmente, a criança não resistiu. Quantas perdas, quantas dores diferentes você experimentou?
3. As mesmas considerações do ponto 1. Além disso o testamento biológico é um péssimo instrumento para a proteção da autonomia do próprio paciente que o lavrou, por exemplo, para a proteção de um outro ser humano.
4. Embora sob pressão da indústria contraceptiva a Associação dos ginecologistas americanos (e por trás dela as outras associações e instituições médicas) tenham mudado o significado do termo concepção para o momento da anidação do embrião no útero materno, todavia, na linguagem cotidiana usada tanto pelos pacientes quanto pelos ginecologistas, entende-se, com isso, a fecundação (fertilização), termo que cientificamente (como evidenciado na nomenclatura da Associação dos Ginecologistas americanos) indica a fusão das membranas do espermatozoide e do ovócito. No monumental manual de embriologia de Scott Gilbert diz: "A fecundação é o processo em que duas células sexuais (gametas) se fundem para criar um novo indivíduo com potencialidades genéticas derivadas de ambos os pais”. Em quanto processo, a fecundação começa com a fusão das membranas dos gametas (singamia) e termina com a fusão do material genético paterno e materno (cariogamia), mas o começo é um, a singamia, o processo que marca a passagem de duas células para um organismo: uma unidade ontológica, não um conjunto de peças, com uma composição genética única (a probabilidade de que os pais habituais deem à luz dois filhos idênticos em dois atos sexuais diferentes menos que 1 por 70.000 milhões) e intrínseca orientação e determinação do desenvolvimento.
5. Se o critério da mortalidade fosse decisivo, então, isso significaria que, nos tempos e lugares onde a mortalidade neonatal e infantil são elevadas as crianças não são seres humanos. Suponham que uma mulher grávida no sexto mês seja coloca em um avião rumo a Kinshasa: enquanto esteja nos céus italianos, onde a tecnologia neonatal é desenvolvida, ela tem dentro de si um ser humano, mas, de acordo com o que Caplan afirma, quando sobrevoa as costas Africanas, onde a probabilidade de sobrevivência de um tal pré-maturo é igual a zero, então, dentro de si não tem mais um ser humano? O argumento implica que, nos braços da morte, não vivem seres humanos e, portanto, seria possível utilizá-los para pesquisas científicas, ou como fonte de órgãos.
6. O conceito foi colocado incorretamente. No documento citado, a Academia Nacional das Ciências EUA, disse: "A proposta S158 (proposta de lei do Senado N. 158 n.d.r) que o termo" pessoa "tenha que incluir" toda vida humana” não tem base na nossa compreensão científica. Definir o momento em que o embrião em via de desenvolvimento torna-se uma “pessoa” deve permanecer uma questão de valores morais e religiosos”. [3] Uma vez que o conceito de pessoa é de natureza filosófica, propriamente falando a Academia das Ciências é declarada incompetente. Misturar o conceito biológico de "vida humana" com o filosófico de “pessoa” é muito perigoso. A própria Igreja, reconhecendo a natureza filosófica do conceito de pessoa, não usou mais a sua autoridade na definição de embrião “pessoa”, considerando suficiente proporcionar o ensino de que o embrião deve ser tratado desde o começo como pessoa e repassando aos negacionistas o ónus da prova: “como um indivíduo humano não seria uma pessoa humana?” (EV, 60).
7. O argumento parece apodítico, impreciso e esquivo: quais fatos? “Depois”? Quando? No nascimento? No desenvolvimento da auto-consciência? Qual o nível de auto-consciência? Para alcançar a autonomia? Qual nível de autonomia? Qual limite, indica o prof. Caplan, além do qual tem-se um ser humano?
8. O processo da possível geminação não nega que um embrião seja um ser humano. Pelo contrário, é usualmente proposto para negar o status de pessoa ao embrião à luz da definição clássica de Boécio. É ainda um argumento ineficaz também neste sentido: a geminação consiste em uma reprodução não sexuada (filiação) do primeiro ser humano (embrião) com formação de um segundo ser humano (que não é idêntico ao embrião parental), enquanto o referido processo possível de "reabsorção" dá origem ao fenômeno do quimerismo, totalmente inconsistente para negar a condição humana do nascituro, exceto se argumentar que os indivíduos com órgãos transplantados de vivos ou cadáveres não sejam mais seres humanos. As milhares de pessoas que vivem com o coração, rim, a medula transplantados, que tomam remédios anti-rejeição e são monitorados pelo quimerismo após transplante não são seres humanos? E o que são?
9. Assim formulada parece irrelevante. Antes de cada censo, não sabemos quantos seres humanos estão presentes em uma área, mas isso não faz aqueles que estão presentes seres não humanos. Bombardear uma área não transforma os que perecem seres não humanos pelo fato de ignorar o número dos que vivem lá.
10. Vale como o ponto 5. Com o acréscimo de que, justamente porque factível os médicos operam sobre fatores que podem determinar a morte do concebido procurando evita-la e ninguém, nem sequer o professor Caplan, acho, diria que ao fazer isso os médicos se comportam como veterinários.
11. Esta afirmação está correta somente se damos para o ser humano a definição de um ser com características diferentes do embrião, por exemplo, se definimos como ser humano um adulto autoconsciente e autônomo. Mas isso é justamente o que o prof. Caplan não provou no seu discurso.
Caplan em seu artigo não esgotou os argumentos pró-aborto, outros existem na literatura [4-6] que são rejeitados com razões sólidas [7-9]. Não podemos ficar surpresos que o sistema acadêmico americano produza um pensamento bioético tão superficial e pouco preciso. Parece, portanto, que Rubio tenha razão ao argumentar que o embrião deve ser considerar, a todos efeitos, uma vida humana.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Papa no Angelus: “O céu começa justamente na comunhão com Jesus”

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Nestes domingos a liturgia propõe, a partir do Evangelho de João, o discurso de Jesus sobre o Pão da vida, que é Ele mesmo e que é também o sacramento da Eucaristia. A passagem de hoje (Jo 6,51-58) apresenta a última parte deste discurso, e faz referência a algumas pessoas que se escandalizaram porque Jesus disse: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia"(Jo 06:54). O estupor de quem ouvia é compreensível. Jesus, de fato usa o estilo dos profetas para provocar nas pessoas - e também em nós – questionamentos e, no final, provocar uma decisão. Primeiro as perguntas: o que significa “comer a carne e beber o sangue” de Jesus? É só uma imagem, uma maneira de dizer, um símbolo, ou indica alguma coisa de real? Para responder, é necessário intuir o que acontece no coração de Jesus enquanto parte os pães para a multidão faminta. Sabendo que deverá morrer na cruz por nós, Jesus se identifica com aquele pão partido e partilhado e isto se torna para ele o “sinal” do Sacrifício que o espera. Este processo tem o seu ápice na Última Ceia, onde o pão e o vinho tornam-se realmente o seu Corpo e o seu Sangue. É a Eucaristia, que Jesus nos deixa com um objetivo muito preciso: que nós possamos nos tornar uma só coisa com ele. Ele diz: "Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele" (v. 56). "Permanecer": Jesus em nós e nós em Jesus. A comunhão é assimilação: comendo-o nos tornamos semelhantes a Ele. Mas isto requer o nosso "sim", a nossa adesão de fé.
Às vezes ouvimos, sobre a missa, este questionamento: "Mas para que serve a Missa? Eu vou à igreja quando sinto vontade ou, rezo melhor sozinho. Mas a Eucaristia não é uma oração privada ou uma bela experiência espiritual, não é uma simples comemoração daquilo que Jesus fez na Última Ceia. Nós dizemos, para entender bem, que a Eucaristia é um "memorial", ou seja, um gesto que atualiza e torna presente este o evento da morte e ressurreição de Jesus: o Pão é realmente o seu corpo oferecido por nós, o vinho é realmente o Seu sangue derramado por nós.
A Eucaristia é Jesus que se doa inteiramente a nós. Alimentar-se dele e permanecer nele através da Comunhão eucarística: se o fizermos com fé, transformará a nossa vida, a transformará em um dom a Deus e aos outros. Alimentar-se daquele "Pão da Vida" significa entrar em sintonia com o coração de Cristo, assimilar as suas escolhas, os seus pensamentos, os seus comportamentos. Significa entrar em um dinamismo de amor e se tornar pessoas de paz, pessoas de perdão, de reconciliação, de partilha solidária. O próprio Jesus fez isto.
Jesus conclui seu discurso com estas palavras: "Quem come deste pão viverá eternamente" (Jo 6,58). Sim, viver em comunhão real com Jesus nesta terra nos faz desde já passar da morte para a vida. O céu começa justamente na comunhão com Jesus”.
No céu já nos espera Maria, nossa Mãe – nós celebramos ontem este mistério. Que ela nos alcance a graça de nutrirmo-nos sempre com fé de Jesus, Pão da vida.

(Depois do Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

Saúdo a todos com afeto, romanos e peregrinos: famílias, grupos paroquiais, associações, jovens.
Saúdo o grupo folclórico "Organización de arte y cultura mexicana", os jovens de Verona que estão passando por uma experiência em Roma, e os fiéis de Beverare.
Uma saudação especial aos numerosos jovens do Movimento Juvenil Salesiano, reunidos em Turim nos lugares de São João Bosco para celebrar o bicentenário do seu nascimento. Vos encorajo a viver no quotidiano a alegria do Evangelho, para gerar esperança no mundo.
Desejo a todos um bom domingo. E por favor, não se esqueçam de rezar por mim! Bom almoço e até logo!

Fonte: Zenit.

domingo, 16 de agosto de 2015

O desabafo de um velho pai

Foi uma conversa difícil, dois homens de meia idade, cansados no final do expediente, fazendo aquilo que a nossa geração, a nossa criação, ou mesmo o nosso temperamento, tudo isso tornou ainda mais difícil. Abrir o coração. O meu querido amigo desabafava a respeito do seu filho, que, aos vinte e poucos anos, não somente se declarara homossexual como, de inopino, o convidara a comparecer ao seu casamento homoafetivo.

Eis o desabafo do meu amigo:

“Eu sempre soube”, disse-me ele. “Este não é o problema. O problema é que eu seja convidado a participar da vida sexual do meu filho desse jeito. Que posso dizer? Também tenho limites humanos. Ele sabe bem do meu temperamento: não se trata de homofobia. De modo algum. Tenho mais dois filhos, um outro rapaz e uma moça. Sempre acolhi em minha casa todos os que eles traziam, amigos, namorados, sei lá. Quem chegou com um filho meu em minha casa foi acolhido; mas eu nunca quis saber que tipo de relacionamento íntimo havia ali. Não que não tenhamos aconselhado, eu e a minha esposa, todos aqueles conselhos que se dão aos filhos adolescentes; respeite o outro, respeite a si mesmo, cuidado com todas as consequências do sexo. Mas eles sabem que eu sempre pedi, quando eles eram menores, que na minha casa houvesse respeito recíproco, e que as respectivas vidas sexuais deles, se eles optassem por tê-las, fossem vividas em outros lugares. E eles muitas vezes, reconheço, respeitaram isto.
Mas há uma diferença, que eles não querem admitir, entre saber, acolher, respeitar e ser chamado a participar. Não quero participar, e nem a minha esposa me compreende. Não entendo porque todos hoje acham que um pai é um grosseirão malvado se não quiser participar assim da expressão genital da sexualidade dos filhos. Mesmo os professores, a TV, até eventualmente alguns padres que conheço me criticam. O que posso fazer além disso? Sentar com a minha filha para compartilhar as vicissitudes do ciclo menstrual dela? Gostaria de ser poupado disto, mas não consigo: sou a todo momento obrigado a participar. Vejo os jovens de ambos os sexos discutindo entre si os ciclos de suas amigas como se isto fosse alguma coisa muito natural, e confesso que isto não me faz feliz: não queria ser obrigado a tomar conhecimento do ciclo feminino de ninguém.
A sorte é que os jovens pensam que os velhos são meio surdos a toda conversa que não é dirigida pessoal e diretamente a eles. Que bom que pensem assim. Então apenas recebo e sirvo com alegria aquela multidão de adolescentes que invade minha casa nos finais de semana, alegro-me com eles, ouvindo suas conversas, respondendo com obviedades vagas (que eles tampouco escutam) e guardando minhas próprias opiniões e sentimentos para mim. Se me sinto responsável pela educação sexual deles? Acho que eles já não precisam, nem querem; dado o que sabem de mim, já não confiariam em muito do que eu dissesse. São, aliás, muito mais bem informados do que eu, ou pelo menos pensam que são.
Eles, quer dizer, meus filhos e seus amigos, creem num certo 'sexo seguro', e se sentem maduros e responsáveis por manter a sua sexualidade dentro dos métodos anticoncepcionais e preservativos, e limitada a poucos parceiros, por quem, acreditam, sentem a maior parte do tempo um afeto honesto, e 'infinito enquanto dura'. Consideram-se justificados perante Deus e os homens por viverem assim. Minha esposa trata-me com a condescendência de quem tem por perto um ser de outra era, incapaz de adaptação, e confunde as minhas dificuldades e limites com o que ela julga ser uma 'dureza de coração' da minha parte. Não é. É somente a minha necessidade de manter a minha própria lucidez no meio desse turbilhão.
Sou quem sou, eles são quem são. Não deveria ser simples assim? Não quero mudá-los, mas eles querem mudar-me. Aceito-os sem fazer perguntas, com toda sinceridade, amo-os sem limitações. Mas não quero expor a minha intimidade; além disso, simplesmente não consigo aceitar com naturalidade a exposição aberta da sexualidade dos meus filhos e de seus amigos. Não, eles já não são crianças, são adolescentes ou jovens adultos. Nenhum deles precisa da minha opinião ou do meu conselho para tomar suas decisões. Tampouco precisam da minha participação ou do meu consentimento para colocá-las em prática. Por que têm uma necessidade tão profunda de me expor sua sexualidade, ou melhor, compartilhar comigo a genitalidade de seus relacionamentos? Quem foi o psicólogo de araque que disse que isto era necessário?
Então escuto, permaneço calado, amo-os, sirvo-os, pago suas despesas, sorrio com sinceridade e amo com muita sinceridade cada amigo, namorado, peguete, colega, sei lá o que, que eles me apresentam. Jamais os tratei sem toda a delicadeza e afeto com que trato os meus próprios filhos; esforço-me mesmo para vê-los como filhos também. Mas por que eu devo ser obrigado a passar pelo ritual de ouvir da boca dos meus filhos, a cada vez que me apresentam alguém, qual é a natureza da relação sexual que eles têm com aquela pessoa? Não basta que eu saiba em silêncio, não basta que eles saibam que eu sei, não basta que eu acolha todas estas pessoas, ainda devo ser expressamente informado com todas as letras, e manifestar meu consentimento alegre e entusiasmado? E ainda devo ouvir da minha esposa e até do meu pároco que se eu não me comportar assim é porque eu sou um homem ultrapassado, de coração duro e incompreensivo com os filhos, incapaz de 'respeitar as escolhas' que eles fazem? Não é muito o que peço, ora.
Respeitem o meu silêncio, o meu pudor e o espaço do nosso lar de família, tragam quem quiserem e vivam o que quiserem; peçam-me que receba e acolha qualquer um, peçam-me que não faça perguntas ou comentários descabidos, e tudo isto está muito bem. Consigo até perceber o quanto constrangedor é ouvir piadas grosseiras, de amigos e parentes, sobre a sexualidade dos outros, muitas vezes partindo de quem sabe exatamente quais são as opções de meu filho. Já tive oportunidade de brigar com velhos amigos, e até de romper amizades, por censurá-lo abertamente ao ouvir de sua boca, numa conversa de boteco, mais uma piada imbecil sobre homossexuais.
Mas pedir-me que forneça os espaços para que vivam a sua sexualidade aqui, de modo a tornar inevitável que eu de algum modo participe dela, dando o meu consentimento expresso e o meu apoio logístico para que ela aconteça, isto me faz ter vontade de sumir devagarzinho, de evaporar e ressurgir no planeta marte. Que faço? Confesso a você que não sei. Atualmente, tenho rezado o terço igual a uma beata velha. Não posso negar que sinto um pouco de vergonha de admitir isto, parece fraqueza, e é de fato. E a minha herança religiosa é uma das coisas que meus filhos não aceitam. E por isso rezo em silêncio, muitas vezes no carro, muitas vezes no trabalho. Quase em segredo, quase como uma atividade bandida. Rezo por mim, rezo por eles. Sei que eles não estão excluídos do amor de Deus, embora se irritem quando eu falo do assunto. Deus os ama, e eu também. Mas tudo parece ser tão banal!”

O que dizer diante de um desabafo assim?

O que dizer diante de um desabafo assim? Ouvi calado o meu colega, e nem sequer derramamos lágrimas juntos: confesso que também tenho um pudor quanto a certas exibições emocionais públicas. Quando o interpelei se, no fundo, ele não estava sendo preconceituoso com a declaração de seu filho e a sua negativa de comparecer ao “casamento” dele com seu companheiro, já que não hesitaria em comparecer ao casamento de sua filha com algum marmanjo, ele me respondeu: “Que se casem, ora. Posso negar que isto me incomoda? Só Deus sabe o quanto sonhei ver as qualidades daquele meu filho renascerem nos filhos dele, para que eu tivesse, em meus netinhos, a infância dele de volta. E que estes netinhos crescessem num lar similar ao que ele próprio teve em sua infância. Estarei errado em ficar triste porque este sonho que eu tinha jamais se realizará? Sim, eu sei que existe a adoção por duplas homossexuais, mas isto é apenas um jeitinho; trata-se de suprir uma infecundidade essencial, não de fazer frutificar uma infecundidade acidental. Pode parecer bobagem, mas eu um dia quis que as coisas fossem diferentes. E o pior é que agora todos querem que eu me sinta culpado por ter sonhado com isto. E que eu afirme publicamente que a minha dor real não é real!
E há uma outra coisa; creio que o relacionamento matrimonial tradicionalmente significa a declaração da própria incompletude, e a abertura do coração para o diferente, o que não sou eu: do jeito que eu acredito, há no matrimônio um compartilhamento de uma parte de mim com uma parte do outro que, se complementando, geram uma terceira pessoa com a graça de Deus. Como posso participar de um ato em que publicamente é declarado, por meios enviesados, que nada disso faz parte do meu próprio matrimônio, já que duas pessoas que jamais conhecerão nada disso estão recebendo do Estado exatamente a mesma designação que um dia eu recebi com a minha esposa?
Tudo bem que eles optem por viver assim, e tudo bem que eu aceite, como aceito, conviver com ambos acolhendo aquele amigo que meu filho escolheu, tratando-o como membro da minha família e como um filho também. Mas equiparar este relacionamento ao meu próprio matrimônio, como se fossem a mesma coisa, significa para mim mudar o que sou, o que penso de mim mesmo, da minha esposa, dos meus filhos e do modo como meu matrimônio se relaciona com Deus.

Se sou obrigado a expressar publicamente que já não é nem mesmo permitido ver diferença entre o que um dia tive e o que eles agora querem ter, então sou eu quem já não pode mais ser quem é, e o discurso de pluralismo que todos me falam é simplesmente falso: neste tal 'mundo plural' não haveria espaço para mim, nem para o Deus em que creio.

 Este Deus que os ama muito. Mas que eu não posso simplesmente acomodar como um passageiro de segunda classe em meu próprio matrimônio sem negar a mim mesmo. Como ir a tal ato sem que tudo isto me passe pela mente, fazendo-me sentir um desconforto profundo?”
Não é fácil para ninguém; esta é a única coisa que me ocorre dizer ao meu amigo. E prometer a ele as minhas pobres orações.

Fonte: Zenit.

sábado, 15 de agosto de 2015

Ponto de viragem histórica em Cuba: a reabertura da embaixada dos EUA

Ares de festa e de degelo na Havana. Depois de 54 anos é reaberta hoje a Embaixada dos Estados Unidos, com uma cerimônia que contou com a presença do secretário de Estado, John Kerry, na companhia de três marines idosos que, em 1961 abaixaram a bandeira com estrelas e listras, fechando, de fato, a sede diplomática de Washington no País caribenho.
A embaixada está formalmente em funcionamento desde 20 de julho, mas Cuba e os EUA decidiram combinar a cerimônia com a visita de John Kerry na ilha. A primeira de um secretário de Estado depois de 70 anos, quando Edward Stettinius participou da sucessão democrática para a presidência de Fulgencio Batista e Ramón Grau San Martin em março de 1945. Tendo em vista a histórica jornada, também Fidel Castro - formalmente aposentado – quis reaparecer na cena pública com um artigo no jornal oficial Granma.
O ex-líder cubano, no entanto, não poupou críticas contra o embargo dos EUA. "Vocês têm um débito de indenização com Cuba equivalente aos danos que somam muitos milhões de dólares, como denunciado pelo nosso País com argumentos e dados irrefutáveis durante seus discursos na ONU", disse em seu artigo. Um sinal de que muitas medidas ainda devem ser tomadas. Neste sentido, é também um sinal o fato da escolha do Governo cubano de içar 138 bandeiras nacionais diante da embaixada americana, ocultado a fachada. E como um corolário para as bandeiras um famoso lema castrista “pátria ou morte, venceremos”.
Antes de partir para Cuba, John Kerry na TV Univision tem dispensado otimismo e lançou uma mensagem a Havana: "Sempre mais pessoas viajarão. Haverá mais intercâmbios. Mais famílias poderão encontrar-se. E espera-se que também o governo de Cuba queira tomar decisões para começar a mudar as coisas”.

Fonte: Zenit.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Grande expectativa por visita do Papa à ONU

Falta pouco mais de um mês para a chegada do Papa Francisco na sede das Nações Unidas em Nova Iorque. O arcebispo Bernardito Auza, representante do Vaticano na ONU, disse em entrevista à Rádio Vaticano que durante seu trabalho, ouvindo as intervenções oficiais dos países membros da organização - especialmente os países em desenvolvimento - e as grandes organizações internacionais que lidam com a economia e o comércio, ele “percebeu uma crescente consciência sobre a importância de uma economia mais integral”.
Ele garante que o apelo do Papa para um modelo de desenvolvimento econômico, “mais atento aos pobres, à ecologia, é justamente o espírito que a ONU quer colocar no centro da agenda sobre desenvolvimento sustentável até 2030”.
No que diz respeito à relevância e o impacto da encíclica ‘Laudato Si' na comunidade internacional, Dom Auza disse que estava muito feliz pelas reações positivas. O documento, continuou ele, suscitou grande interesse das Nações Unidas; nas negociações intergovernamentais da agenda pós 2015 sobre desenvolvimento sustentável, muitas delegações citaram a encíclica, que foi muito bem acolhida pela ONU.
O prelado considera que "a influência inspiradora" da encíclica é muito evidente. A respeito da Conferência de Paris sobre a mudança climática, ele garante que "a inspiração, a filosofia, a teologia moral que move os Estados, homens e mulheres a alcançar um acordo, o Papa já as deu nesta encíclica”.
Por fim, comentando sobre a visita do Santo Padre à ONU, o observador do Vaticano disse: “Na ONU falamos todos os dias". A primeira indicação desta expectativa são os "milhares de pedidos de bilhetes que, infelizmente, não podemos dar”. “Estamos trabalhando para ver como responder da melhor maneira possível a tantas expectativas e pedidos de poder ver, mesmo que de longe, o Santo Padre”, afirmou o prelado.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

China ordenará seu segundo bispo com a aprovação do Papa

A China está se preparando para ordenar o segundo bispo com a aprovação do Papa Francisco. A ordenação episcopal terá lugar na província de Henan, onde o padre Cosmos Ji Chengyi assumirá a sede de Zhumadian.

Na semana passada, aconteceu a ordenação de Dom Joseph Zhang yinlin como bispo coadjutor de Anyang, tornando-se o primeiro bispo ordenado em mais de três anos.

Na China existem entre 8 e 12 milhões de católicos divididos em duas comunidades, uma Igreja oficial liderada pela Associação Patriótica Católica Chinesa, que se reporta ao Partido Comunista, e outra subterrânea que está em comunhão com Roma.

O porta-voz da diocese de Henan padre Li Jianlin, disse terça-feira que tanto Dom Zhang como o padre Ji têm a aprovação da Santa Sé. Além disso, ele explicou que a Igreja local está se preparando para a ordenação e ainda não há um horário estabelecido.

"Os católicos estão emocionados porque esta é a primeira vez desde a fundação da província de Henan que haverá uma cerimônia de ordenação reconhecida por ambos os lados", disse padre Li, referindo-se a aprovação de Pequim e do Vaticano.

O último bispo foi ordenado em 07 de julho de 2012: Dom Thaddeus Ma Daqin como auxiliar de Xangai. Mas agora, o prelado está sob prisão domiciliar no seminário de Sheshan, depois de apresentar sua demissão em protesto contra a Associação Patriótica Católica Chinesa, controlada pelo Governo.

Um especialista do Holy Spirit Study Centre, órgão da Diocese de Hong Kong, acredita que tais ordenações são "sinais positivos de que o governo chinês está mais aberto". Nos últimos meses foram registrados alguns sinais de reaproximação nas difíceis relações diplomáticas entre a China e a Santa Sé.


Fonte: Zenit.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O que sabemos sobre as seitas?

A Rede Iberoamericana para o Estudo das Seitas (RIES), com sede na Espanha, fundada há dez anos por especialistas católicos no campo e que atualmente reúne uns vinte especialistas da Espanha, Portugal e América Latina, oferece vários serviços de consultoria, formação e informação sobre o complexo mundo das seitas e das novas formas de religiosidade.
No mês de setembro, membros da RIES no Uruguai ministrarão um curso sobre "seitas, psicologia da religião, nova era e espiritualidades alternativas”. O curso contará com a participação especial do Pe. Luis Santamaria – da Espanha - , consultor da Conferência Episcopal Espanhola e conhecido especialista na matéria.
Desta vez, entrevistamos o psicólogo Álvaro Farías, membro do RIES no Uruguai, para conhecer mais sobre a problemática das seitas e sobre o curso que está sendo organizado.


Por que você considera importante a capacitação nestes temas?

- Alvaro Farias: Porque é um tema cada vez mais complexo, que afeta toda a sociedade e tornou-se um problema pastoral para as igrejas e um problema de saúde mental que exige maior urgência e seriedade. A formação é uma forma de prevenção. Além de que, a demanda de consultas aumenta a cada ano e no nosso curso anterior participaram psicólogos, jornalistas, médicos, advogados, docentes, pastores e uma grande diversidade de pessoas preocupadas pelo tema, tanto a nível profissional quanto familiar. O interesse no tema nos mostra que é um problema social sobre o que não se conhece muito e reina uma confusão, especialmente no mundo das novas terapias.

 Como a Igreja responde a este fenómeno?

- Alvaro Farias: Existem vários pronunciamentos magisteriais desde João Paulo II sobre o assunto e, especialmente, nos documentos do CELAM, de Puebla a Aparecida, onde a questão é um desafio pastoral que exige grande atenção dos pastores e de todos os agentes pastorais. Mas embora existam orientações, documentos e material de informação, os fieis não são suficientemente formados no tema e o proselitismo sectário é mais eficaz onde a evangelização é mais fraca e onde a formação é inexistente.
Daí iniciativa que a iniciativa do RIES tem sido, nos últimos anos, reunir especialistas católicos no tema e oferecer um serviço permanente no tema em todos os níveis, desde as conferências episcopais até os colégios, universidades, paróquias e famílias que solicitam consultoria, formação e ajuda.

Agora está sendo organizado um novo curso no Uruguai. A quem está voltado?

- Alvaro Farias: O próximo curso começa no dia 1 de setembro, e, embora esteja pensado para todo tipo de público, fazemos uma ênfase especial nos agentes pastorais, porque são eles que estão na primeira linha de contenção e aqueles que mais devem ter informação para orientar no discernimento. Muitas vezes recebi em meu escritório pessoas afetadas pelas seitas ou parentes de pessoas que estão em uma seita e, na sua maioria, são pessoas de origem católica que, em suas buscas espirituais ou terapêuticas, começaram pelo reiki ou o yoga para depois acabar em uma seita. Muitas vezes, a pergunta que me faço é: será que ninguém soube alertá-los sobre onde estavam se metendo? E a resposta que acabo me dando é que não. Ninguém lhes alertou, ninguém cuidou deles, ninguém soube como intervir no discernimento e geralmente é devido à grande desinformação que existe no nosso país e na Igreja, em tudo o que seja relacionado ao tema das seitas.

 Poderia citar-nos um exemplo desse tipo de casos?

- Alvaro Farias: Obviamente não posso dar exemplos clínicos, meu trabalho como psicólogo me obriga a confidencialidade. Mas poderia citar-lhes um fenômeno que estamos estudando de perto: O "Projeto Yoga Udelar”. É um projeto que entrou na Universidade da República - estatal e laica - através da ordem estudantil sobre yoga e meditação. Até aqui alguém poderia dizer: "E então, qual é o problema?". O Yoga poderá ser um exercício físico e mental saudável, mas acima de tudo é uma disciplina derivada do hinduísmo. Neste projeto usam-se conceitos provenientes do esoterismo, da Nova Era e do Hinduísmo incluindo uma doutrinação espiritual. O pior é que ninguém sabe, que quem lidera este projeto no Uruguai é fiel discípulo de Gregorian Bivolaru, um guru romeno que tem mandado de prisão internacional por usar os praticantes de ioga para produzir filmes pornográficos e pelo tráfico de pessoas.
Isso acontece no Uruguai, mas a desinformação é tal que ninguém se incomodou. Quantos católicos praticam reiki, biodecodificação, leem livros de mefatísica e incontáveis terapias promovidas pela Nova Era? Bastaria perguntar nas paróquias e colégios católicos e nos surpreenderíamos.
Ninguém cai em uma seita como nos filmes, mas sim participando de seminários e retiros de origem duvidosa. As atividades aparentemente inócuas são muitas vezes a porta de hipotecar a saúde mental de muitas pessoas. Outra questão mais complexa é a confusão religiosa na qual muitos estão imersos por falta de formação.

 Que tipo de perigos existem com relação à saúde mental?

--Álvaro Farias: A questão das seitas é abordada a partir de diferentes perspectivas. Eu como psicólogo abordo-a a partir da psicologia. As vítimas de grupos sectários são vítimas de um processo de manipulação que significa violência psicológica sistemática. É a mais sutil e pouco percebida das formas de violência, mas também é uma das mais prejudiciais e destrutivas.

 Sabemos que durante o curso participará um especialista espanhol. Quem é?

--Álvaro Farias: Sim, vem o Pe. Luis Santamaría del Rio, padre católico espanhol, membro fundador de RIES e especialista no tema seitas e Nova Era. É também consultor da Comissão Episcopal de Relações Interconfessionais da Conferência Episcopal Espanhola, membro da Sociedade Espanhola de Ciências das Religiões (SECR), da Academia Americana de Religião (AAR) e da Sociedade Internacional para o Estudo das Novas Religiões (ISSNR).
É uma grande alegria para nós tê-lo aqui, pois tem uma visão ampla do assunto a partir da perspectiva teológica e pastoral, e é um grande conhecedor dos aspectos doutrinais do fenômeno "Nova Era". Além disso, a sua experiência no campo e sua relação com especialistas de todo o mundo, nos dará uma visão mais abrangente do fenômeno.

 Como é possível contatar a RIES na Europa e na América Latina?

--Álvaro Farias: A RIES tem duas secretarias para coordenar toda a rede. Na Espanha o e-mail é ries.secr@gmail.com e na América Latina é ries.america@gmail.com.
Temos duas contas de Twitter: @InfoRies e @infosectas e uma página no Facebook: www.facebook.com/Infosectas
Também temos seções em diferentes sites, com muitos artigos e entrevistas com vários membros da RIES em portais católicos. Tentamos ajudar, aconselhar e informar sobre todas as áreas possíveis, tanto em âmbitos católicos como seculares, já que o problema das seitas não é um tema das Igrejas, mas um drama social que afeta a todos, independentemente de suas crenças.

Fonte: Zenit.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O Príncipe que quer dar voz aos cristãos do Oriente Médio

Depois de ser recebido no Vaticano pelo Papa Francisco, o príncipe Gharios, líder legítimo da casa de Ghassan, a única dinastia cristã do Oriente Médio, deu uma entrevista à ZENIT na qual lançou um apelo para defender e salvaguardar o cristianismo do Oriente Médio .
O príncipe argumentou que temos de estar perto das pessoas, e que temos de "sujar as mãos" e lutar até o último suspiro, a fim de envolver todo o mundo para proteger os cristãos no Oriente Médio. Nascido no Brasil, o príncipe mudou-se para Los Angeles. Abriu uma residência na Jordânia para ajudar as pessoas carentes de toda a região.
A família de sua avó paterna era greco-ortodoxa e o avô maronita. Quando chegaram no sul do Brasil, não havia nenhuma igreja maronita em sua cidade, por isso participaram de uma Igreja Católica Romana. Crescido em uma família italiana, o príncipe Gharios tem o orgulho de pertencer à Igreja católica romana.
O príncipe Gharios recebeu muitos reconhecimentos formais e informais de governos e autoridades de todo o mundo. Em 2014, recebeu um reconhecimento especial do Congresso dos Estados Unidos. Recebeu o título de Cavaleiro do Santo Sepulcro, uma das honras pontifícias, e também recebeu o reconhecimento de Sua Santidade o Papa Tawadros II da Igreja copta Ortodoxa, bem como de vários líderes religiosos e líderes políticos muçulmanos e cristãos.
Ghassan é uma das mais antigas dinastias árabes. Convertidos ao cristianismo nos primeiros séculos depois de Cristo. Sobreviventes das perseguições, permaneceram como cristãos nas comunidades melquitas e sírias. Estão presentes na Jordânia, Síria e Líbano. Os Ghassanides são bem conhecidos no Oriente Médio. Pertencem às comunidades dos Ghassan o patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, e o vigário patriarcal para a Jordânia, Mons. Maroun Lahham. ZENIT entrevistou o príncipe Gharios de Ghassan.


 Na Jordânia surgiu o seu papel de porta-voz dos cristãos perseguidos. O que o convenceu a apoiar esta missão?

Príncipe Gharios: Em primeiro lugar, a urgência da questão. Com o aumento das perseguições e o ritmo das migrações não temos muito tempo. Poderia acontecer que daqui a 20 anos desapareçam os cristão no Oriente Médio. E precisamos recordar que estas terras foram o berço do cristianismo. Aqui estão as igrejas mais antigas, e infelizmente correm o risco de serem apagadas na frente dos nossos olhos. Estou plenamente de acordo com o Papa Francisco quando critica a “globalização da indiferença” e apoia “o ecumenismo do sangue”. Não posso ignorar os apelos do Papa, não só porque as minhas raízes são cristãs, mas porque sinto o dever de tutelar não só o meu povo, mas todos os cristãos.

Poderia falar um pouco mais sobre a situação dos cristãos perseguidos e as ameaças a que estão submetidos?

Príncipe Gharios: Não existe só a perseguição, mas também razões econômicas obrigando a emigração dos cristãos para outros Países. Ajudar os refugiados sírios, palestinos e iraquianos juntamente com o povo do Líbano e Egito. Ouvir as histórias de suas tragédias e ver as suas lágrimas me deu uma compreensão única. Senti a gravidade e a urgência da situação, por isso temos de agir agora. Tenho a impressão de que o cristianismo do Oriente Médio seja como um paciente com parada cardíaca. É necessário uma forte sacudida com o desfibrilador, para salvar o paciente.

 Quais são seus planos para ajudá-los? Existe alguma ação concreta que pode ser feita? Vocês receberam o apoio de outras denominações cristãs, bispos ou patriarcas do Oriente?

Príncipe Gharios: É urgente criar uma única voz para os cristãos no Oriente Médio. A ideia é a de criar um Conselho que reúna todas as denominações cristãs do Oriente Médio com o compromisso de defender e representar os interesses cristãos na região. A primeira tarefa será a de levar ajuda e alívio para os refugiados cristãos. O Conselho será baseado nos mesmos critérios das Nações Unidas, a fim de gozar da representação das Nações Unidas e de ser reconhecido como organização de Observadores da ONU. O projeto é unificar as vozes e as exigências cristãs do Oriente Médio sem interferir na independência e liberdade de cada denominação. O Conselho organizado dessa forma poderá otimizar o diálogo inter-religioso na região envolvendo conjuntamente também os muçulmanos e judeus. Neste contexto, o diálogo ecumênico vai crescer muito. É importante que os cristãos do Oriente Médio, falem com uma só voz, resultado da cooperação dos Bispos, Patriarcas, comunidades cristãs das diversas confissões. Falei sobre esse projeto e já tive o apoio de muitos líderes, especialmente do Patriarcado Latino de Jerusalém, da Igreja Maronita e da Igreja Copta Ortodoxa. Do ponto de vista político, tenho grande respeito e admiração por Sua Majestade o Rei Abdullah II (rei da Jordânia, ndr) e pelo seu falecido pai, o rei Hussein, e um relacionamento muito bom com alguns príncipes e princesas da casa real. Estão seriamente empenhados em defender e servir o seu povo. Sobre a tolerância, o respeito e a convivência, a Jordânia é um exemplo não só para o Oriente Médio, mas para todo o mundo.

 Em maio e junho, você esteve em Roma para encontrar membros da Cúria vaticana e também o Papa Francisco. Com quem se encontrou e quais foram os comentários e reações?

Príncipe Gharios: Tive dois encontros breves com o Papa Francisco, e não vejo a hora de discutir a situação e as minhas propostas diretamente com ele. Encontrei-me com o cardeal Kurt Koch (presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos) e o Cardeal Leonardo Sandri (prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais). Ambos são homens santos. O cardeal Koch mostrou-se muito interessado nas nossas ideias.

 Quais os próximos passos?

Príncipe Gharios: Estamos reunindo consensos e apoio para o Conselho Cristão do Oriente Médio. Continuarei a trabalhar em todo o mundo para proteger os cristãos no Oriente Mèdio e também para promover o legado dos Ghassanides. Precisamos de toda a ajuda que puderem obter e das orações porque a tarefa que nos propusemos é colossal. As pessoas interessadas podem contactar-nos visitando o site: www.ghassan.org ou escrevendo para: info@princegharios.com

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Papa no Angelus: "Se você tem o coração fechado, a fé não entra"

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Neste domingo continuamos com a leitura do sexto capítulo do Evangelho de João, onde Jesus, depois de ter realizado o grande milagre da multiplicação dos pães, explica às pessoas o significado do "sinal" (Jo 6,41-51).
Como fez com a Samaritana, a partir da experiência da sede e do sinal da água, Jesus parte da experiência da fome e do sinal do pão, para revelar Ele mesmo e convidar a crer n`Ele.
O povo o procura, o povo o escuta, porque ficou entusiasmado com o milagre - queriam fazê-lo rei! -. Mas quando Jesus afirma que o verdadeiro pão, dado por Deus, é Ele mesmo, muitos se escandalizam, não entendem, e começam a murmurar entre si: "Eles comentavam: Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como pode então dizer que desceu do céu?" (Jo 6,42). E começam a murmurar. Então Jesus responde: "Ninguém pode vir a mim, se não o atrai o Pai que me enviou", e acrescenta: "quem crê, possui a vida eterna” (vv 44.47).
Esta palavra nos impressiona e nos faz refletir. Esta introduz na dinâmica da fé, que é uma relação: a relação entre o ser humano - todos nós - e a pessoa de Jesus, onde o Pai desempenha um papel decisivo, e, claro, o Espírito Santo - que aí está subentendido. Não basta encontrar Jesus crer n`Ele, não basta ler a Bíblia, o Evangelho - isto é importante! Mas não basta -; nem basta mesmo assistir a um milagre, como o da multiplicação dos pães. Quantas pessoas estiveram em estreito contato com Jesus e não acreditaram n`Ele, pelo contrário, o desprezaram e o condenaram. E eu me pergunto: por que isso? Não foram atraídas pelo Pai? Não, isso aconteceu porque seus corações estavam fechados à ação do Espírito de Deus. Se você tem o coração fechado, a fé não entra. Deus Pai sempre nos atrai rumo a Jesus: Somos nós a abrir ou a fechar o nosso coração. Ao invés, a fé, que é como uma semente no profundo do coração, desabrocha quando nos deixamos ‘atrair’ pelo Pai rumo a Jesus, e ‘vamos até Ele’ com ânimo aberto, com o coração aberto, sem preconceitos; então reconhecemos em seu rosto o Rosto de Deus e em suas palavras a Palavra de Deus, porque o Espírito Santo nos fez entrar na relação de amor e de vida que existe entre Jesus e Deus Pai. E aí recebemos o dom, o presente da fé.
Com esta atitude de fé, podemos compreender o sentido do "Pão da vida" que Jesus nos dá, e que Ele expressa assim: "Eu sou o pão vivo, descido do céu. Se alguém come deste pão viverá eternamente e o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo" (Jo 6,51). Em Jesus, em sua ‘carne’ – ou seja, na sua humanidade concreta – está presente todo o amor de Deus, que é o Espírito Santo. Quem se deixa atrair por esse amor caminha rumo a Jesus e vai com fé, e recebe d´Ele a vida, a vida eterna.
Aquela que viveu essa experiência de forma exemplar foi a Virgem de Nazaré, Maria: A primeira pessoa que acreditou em Deus, acolhendo a carne de Jesus. Aprendemos dela, nossa Mãe, a alegria e a gratidão pelo dom da fé. Um dom que é "privado", um dom que não é propriedade privada, mas é um dom a ser partilhado: um dom "para a vida do mundo"!

(Depois do Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,
Setenta anos atrás, 6 e 9 de agosto de 1945, ocorreram os terríveis bombardeios atômicos a Hiroshima e Nagasaki. À distância de tanto tempo, esse trágico evento ainda suscita horror e repulsão. Ele tornou-se o símbolo do desmedido poder destrutivo do homem quando faz uso destorcido dos progressos da ciência e da técnica, e constitui uma advertência perene para a humanidade, a fim de que repudie para sempre a guerra e proíba as armas nucleares e toda arma de destruição em massa. Essa triste data nos chama, sobretudo, a rezar e a empenhar-nos pela paz, para difundir no mundo uma ética de fraternidade e um clima de serena convivência entre os povos. De todas as terras se eleve uma só voz: não à guerra, não à violência, sim ao diálogo, sim à paz! Com a guerra sempre se perde. A única maneira de vencer uma guerra é não fazê-la.
Sigo com grande preocupação as notícias que chegam de El Salvador, onde nos últimos tempos se agravaram as dificuldades da população por causa da penúria, da crise econômica, dos aguçados contrastes sociais e da crescente violência. Encorajo o querido povo salvadorenho a fim de que a justiça e a paz refloresçam na terra do Beato Oscar Romero.
Saúdo a todos, romanos e peregrinos; em particular aos jovens de Mason Vicentino, Villaraspa, Nova Milanese, Fossò, Sandon, Ferrara, e os ministros de Calcarelli.
Saúdo os motociclistas de San Zeno (Brescia), empenhados em prol das crianças internadas no Hospital Bambini Gesù.

Desejo a todos um bom domingo. E por favor, não se esqueçam de rezar por mim! Bom almoço e até logo!

Fonte: Zenit.

domingo, 9 de agosto de 2015

Brasil: "O amor é nossa missão" é tema da Semana Nacional da Família

Comunidades de todo o Brasil celebrarão a Semana Nacional da Família, que iniciará neste domingo, 09, Dia dos Pais, e prosseguirá até 15 de agosto. Para auxiliar nas atividades de oração e reflexão, a Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF) prepararam o subsídio "Hora da Família". O texto propõe sete encontros voltados às famílias, jovens, crianças, casais de namorados e noivos.
A edição do "Hora da Família" está em sintonia com o tema do Encontro Mundial das Famílias, que acontecerá no mês de setembro, na Filadélfia, com presença do papa Francisco. O tema de ambos os eventos é "O amor é a nossa missão: a família plenamente viva".
O bispo de Osasco (SP) e presidente da Comissão para a Vida e a Família, dom João Bosco Barbosa convida a todos a celebrar a família. "Quero lembrar que o amor é a nossa primeira missão. Por isso, gostaríamos que você conhecesse o subsídio 'Hora da Família', como uma forma de animar toda a vida familiar na sua diocese, paróquia e comunidade", exorta.
Dom João explica, ainda, que o subsídio Hora da Família busca abranger todos os aspectos da vida familiar, especialmente aqueles que são mais desafiadores.
No site da Pastoral Familiar estão disponíveis materiais de apoio para a Semana Nacional da Família.
Celebrar a família
Segundo o assessor nacional da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF), padre Moacir Silva Arantes, a Semana Nacional da Família é um momento valioso para testemunhar publicamente os valores da família.
É preciso reconhecer o valor da vida e da família. Só assim perceberemos como vale a pena lutar, trabalhar, esforçar-se em favor de ambas. Aproxima-se, neste segundo semestre, a Semana Nacional da Família. É uma oportunidade de demonstrarmos, como Igreja e como cidadãos, não só aquilo que cremos, mas também aquilo que desejamos para nossas famílias, para nossas cidades e para nosso país", pontua o sacerdote.
Confira os encontros
1º Encontro - Gerados no amor de Deus
2º Encontro - Sexualidade: Dom de Deus
3º Encontro - Homem e mulher construindo um matrimônio santo
4º Encontro - Criando o futuro
5º Encontro - Todo o amor dá frutos
6º Encontro - Família, esperança de Deus para o mundo
7º Encontro - Igreja, mãe e mestra
Celebração - Reconciliação e Paz
Celebração - Fidelidade e perseverança
Celebração - Fecundidade conjugal e familiar
Celebração - Vida consagrada e familiar

Fonte: Zenit.

sábado, 8 de agosto de 2015

"É necessário que os homens assumam de forma madura sua forma de amar, para ser pais"

Jesus nos contou de forma maravilhosa que Deus é Pai. A paternidade e a maternidade estão presentes em nossa natureza humana, e toda pessoa recebe esta missão, ainda que de formas diferentes. Ninguém nasceu para a esterilidade, pois todos nascemos para gerar, e não poderia ser de outro modo, pois somos imagens e semelhança de Deus, que é Pai e Mãe, ao mesmo tempo. Deus nos pede respeitosamente nossas entranhas paternas e maternas, como pediu à Virgem Maria, para continuar a gerar a vida. E é necessário que os homens assumam de forma madura sua forma de amar, para ser pais.
No entanto a paternidade está em crise, o que leva à crise de lideranças maduras e corajosas no mundo. E quando faltam pais, idolatra-se a imagem de uma eterna juventude. Não basta ao homem gerar filhos, sem ser realmente pai. A ausência dos pais se expressa na ausência física, na ausência afetiva, com medo de expressar carinho e afeto e na ausência normativa, já que os pais devem claros em seus critérios sem receio de estabelecer limites. Sejam homens capazes de amar com vigor e ternura, para que se estabeleça o adequado equilíbrio de relações entre as pessoas, a partir da magnífica polaridade entre homem e mulher, criada pelo próprio Deus.
Nas pessoas consagradas, o caminho é peculiar. No início, encanta-os ser irmãos. Depois, alguém os vê com traços de pai, e estes entendem ter recebido também a vocação paterna. E isto dá um sentido bonito ao celibato. Para os padres, cujo dia foi celebrado há pouco, ser pai pastor é a oportunidade maravilhosa que Deus lhes presenteia para amar muitos filhos e filhas. Encanta pôr à disposição de Deus a sensibilidade, os afetos, a imaginação, a inteligência, a poesia, a beleza, a serviço do Espírito que gera vida em cada Batismo, Absolvição, Eucaristia, Confirmação, Unção, Matrimônio. Mas também para eles é longo o caminho para chegar a amar com gratuidade, pureza de mente e coração, sem pretender tomar posse e sem a rigidez que provém do medo de amar e ser amados.
No dia dos pais, com o qual se abre a Semana Nacional da Família, realizada em todo o Brasil, desejamos valorizar a vocação paterna e os muitos testemunhos encontrados em nossas Paróquias e Comunidades. Neste ano, o tema da Semana da Família é "O amor é a nossa missão. A família plenamente viva". E a vitalidade da família quer ser por nós reconhecida a partir do exercício da paternidade, na vocação masculina de gerar vida, fundamental em nosso mundo e na Igreja.
Fomos todos chamados a amar. E este amor começa em Deus, que é sua fonte, sem o qual todo amor humano desfalece. Queremos convidar todos os homens a acolherem com coração aberto o fato de serem amados por Deus e por ele chamados a amar. Amar é dar a vida pelos outros, com clareza e firmeza. Não há maior manifestação possível de virilidade do que sair de si mesmos para fazer o bem, buscando corajosamente o bem dos outros, começando pela prole que os homens têm a graça de gerar, participando da obra criadora de Deus. Sua missão é feita de um olhar acolhedor para a paternidade do próprio Deus, e lhes cabe enfrentar as múltiplas dificuldades da vida com ousadia e firmeza.
O amor há de ser vivido na família, e nos voltamos hoje de modo especial para os homens que receberam a vocação da paternidade. Cabe-lhes, por fidelidade à vocação recebida, a iniciativa do amor. Dar o primeiro passo para edificar a família e buscar o trabalho que lhes possibilite prover às necessidades do lar. Para tanto, devem descobrir cada dia mais o sentido da gratuidade. Está na natureza humana a superação das relações de troca com preço. É magnífico saber que pais de verdade não cobram pagamento dos que lhes são confiados. Isso faz com que, por mais simples que sejam suas vidas, sejam pessoas totalmente entregues à missão recebida. Vivem um ofício de amor, com o qual acolhem a todos e preferem cada pessoa, conhecendo a esposa e cada um dos filhos. Permanecem no amor (Cf. Jo 15, 9-11), acompanhando cada um dos membros da família, fiéis e perseverantes. Acompanhar é permanecer no amor, prolongar no tempo e no espaço a acolhida e a animação. É a atitude de quem assume a posição de pai, com atenção e serviço.
Em Deus Pai, a acolhida é atitude permanente. Ele não só acolhe como é acolhedor. E isto aprendemos com o ensinamento e a vida de Jesus, que faz conhecer o Pai, começando dos noivos de Caná, até chegar ao bom ladrão do Calvário. Ele nos ensina a ser filhos do Pai celeste. "Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5, 43-48). A Família, Igreja Doméstica, tem como vocação ser o rosto de Jesus, de braços abertos e coração palpitante, com boas vindas escrita nos umbrais da casa. E o "dono da casa" é chamado a ser sinal do Pai e do Filho, conduzido pela força do Espírito Santo. A Igreja Doméstica será de verdade uma casa de acolhimento na medida em que seus moradores acreditarem na força do Espírito que a ninguém nega sua presença e que a cada um acolhe no mais íntimo do coração, como “doce hóspede da alma”.
Justamente porque o mundo em que vivemos é frio e calculista e são muitíssimos os que se sentem sem apoio, queremos voltar "para casa", reencontrando no lar, fundado no Sacramento do Matrimônio, a fonte de realização sonhada por todos. Neste dia dos pais, olhamos com gratidão para aqueles que já vivem com intensidade sua magnífica vocação e rezamos pelos que, tendo-a recebido de graça, ainda não descobriram toda a sua grandeza. Nosso presente é dizer que são presente de Deus para nossas famílias!

 Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará