sábado, 30 de abril de 2016

Papa Francisco: “Se você diz que está em comunhão com o Senhor, então caminhe na luz. Mas vida dupla, não! Isso não!”

Comentando o trecho da Carta de São João, no qual o Apóstolo coloca os fiéis diante da responsabilidade de não ter uma vida dupla, o Papa Francisco refletiu na manhã de ontem, em sua homilia na Capela da Casa Marta, no significado de caminhar na luz.
“Se dizemos que não temos pecado, fazemos de Deus um mentiroso”, afirmou Francisco, ressaltando a eterna luta do homem contra o pecado e pela graça:
“Se você diz que está em comunhão com o Senhor, então caminhe na luz. Mas vida dupla, não! Isso não! Aquela mentira que nós estamos tão acostumados a ver, e também a cair, não? Dizer uma coisa e fazer outra. Sempre a tentação… A mentira nós sabemos de onde vem: Na Bíblia, Jesus chama o diabo de ‘pai da mentira, o mentiroso. E por isso, com tanta doçura, com tanta mansidão, este avô diz à Igreja ‘adolescente’: ‘Não seja mentirosa! Você está em comunhão com Deus, então caminha na luz. Faça obras de luz, não dizer uma coisa e fazer outra, não faça uma vida dupla”.
“Meus Filhos” é o início da carta de São João: esta introdução carinhosa – com o tom que um avô usa com seus netos mais jovens – reflete a doçura das palavras do Evangelho do dia, quando Jesus define como “leve” o seu fardo e promete descanso aos fadigados e oprimidos. Do mesmo modo, o apelo de João – afirma Francisco – é para não pecar, “mas se alguém o fez, não se desencoraje”,
“Temos um Paráclito, uma palavra, um advogado, um defensor junto ao Pai: é Jesus Cristo, o Justo. Ele nos dá a graça. A gente tem vontade de dizer ao avô, que nos aconselha assim: “Mas não é muito feio ter pecados?. Não, o pecado é feio! Mas se você pecou, olha, estão te esperando para te perdoar! Sempre! Porque Ele – o Senhor – é maior do que os nossos pecados”.
Esta – conclui Francisco – “é a misericórdia de Deus, a grandeza de Deu”. Ele sabe que “não somos nada, que somente Dele vem a força, e assim, sempre nos espera”:
“Caminhemos na luz, porque Deus é luz. Não caminhar com um pé na luz e outro nas trevas. Não seja mentiroso. E outra: todos pecamos, ninguém pode dizer: “Este é um pecador, esta é uma pecadora. Eu, graças a Deus, sou justo”. Não, somente um é o Justo, aquele que pagou por nós. E se alguém peca, Ele espera, nos perdoa, porque é misericordioso e sabe que somos plasmados, recorda que nós somos pó. Que a alegria que esta Leitura nos dá nos leve avante na simplicidade e na transparência da vida cristã, principalmente quando nos dirigimos ao Senhor, com a verdade”.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Todos os anos matam legalmente 23 milhões de bebês na China (63.000 por dia)

No seu relatório sobre os direitos humanos do ano de 2015, o Departamento de Estado da União Americana relatou que na China a cada ano são abortados 23 milhões de bebês, o equivalente a cerca de 63.000 crianças por dia, 2.626 a cada hora e 44 minutos. Até agora, o número “oficial” falava de 13 milhões.
Na China a política governamental do filho único (só era possível ter uma criança por família, duas no máximo caso a primeira fosse menina) foi ligeiramente alterada em Outubro de 2015. É conhecida a prática da esterilização forçada, o assassinato de pequenos e os assassinatos extra-uterinos consentidos pelo próprio governo chinês. Em novembro de 2015 o jornal The New York Times publicou a história de alguns destes abusos.
Em contraste, de acordo com o diretor do Ministério da Saúde da Rússia, o número de abortos no país caiu oito por cento em 2015 e 24,5 por cento em relação a 2011. O governo atribuiu a redução ao maior apoio e consulta a mulheres grávidas.
Com informações da família de Family Watch International.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Papa Francisco: “Você pode conhecer toda a Bíblia, toda a teologia, mas o amor… vai por outro caminho!”

Na audiência geral de quarta-feira, 27, o Santo Padre recebeu cerca de 25 mil fiéis na Praça de São Pedro. A sua reflexão esteve baseada na parábola do Bom Samaritano.
“O primeiro ensinamento na parábola é este: não é automático que quem frequenta a casa de Deus e conhece a sua misericórdia sabe amar o próximo. Você pode conhecer toda a Bíblia, toda a teologia, mas o amor… vai por outro caminho! Diante do sofrimento de tanta gente que sofre fome, violência e injustiças, não podemos ser meros espectadores. Ignorar o sofrimento do homem significa ignorar Deus!”, afirmou o Papa.
Francisco prosseguiu destacando o centro da parábola: o samaritano, o desprezado, aquele que também tinha seus afazeres, faz de tudo para salvar esse homem, ‘moveu-se de compaixão’. “Esta é a diferença”, disse, “os outros dois viram, mas seus corações ficaram impassíveis enquanto o coração do bom samaritano estava ‘sintonizado’ com o coração de Deus. Em seus gestos e ações, identificamos o agir misericordioso de Deus: é a mesma compaixão com que o Senhor vem ao encontro de cada um de nós.
“Ele não nos ignora, conhece nossas dores, sabe que precisamos de ajuda e consolação. Ele vem perto de nós e nunca nos abandona”.
O samaritano doou-se completamente ao homem que necessitava, empregando cuidado, tempo e até dinheiro. “E isto nos ensina que a compaixão, o amor, não é um sentimento vago, mas significa cuidar do outro, comprometer-se, identificar-se com ele: “Amarás o próximo como a ti mesmo”, é o mandamento do Senhor.
Concluindo a parábola, Jesus perguntou Jesus “Qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”. E a resposta é indiscutível: “Aquele que teve compaixão dele”.
Francisco explicou que o ‘próximo’ foi o samaritano, porque se aproximou do moribundo. “Não devemos classificar os outros e ver quem é próximo e quem não o é. Podemos nos tornar próximos de quem quer que esteja em necessidade, e o seremos se tivermos compaixão em nosso coração”.
“Esta parábola – concluiu – é um lindo presente, e um compromisso, para todos nós.  “Vai e faze tu a mesma coisa”, disse Jesus ao Doutor da lei. Somos todos chamados a percorrer o mesmo caminho do samaritano, que retrata Cristo: “Jesus se inclinou sobre nós, se fez nosso servo, e assim nos salvou, para que nós possamos nos amar, 
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

O Papa presidirá a vigília de oração para “enxugar as lágrimas”

Enxugar os rostos molhados pelas lágrimas de um sofrimento físico ou espiritual levando consolo e esperança. Este é o objetivo da vigília de oração para “secar as lágrimas”, presidida pelo Papa Francisco no dia 5 de maio às 18h na Basílica de São Pedro.
Em tal ocasião será exposto para a veneração dos fieis o relicário da Nossa Senhora das Lágrimas de Siracusa. Do 29 de agosto ao 1º de setembro de 1953, quando uma imagem de gesso usada como cabeceira da cama de casal do jovem casal, Angelo Lannuso e Antonina Giusto, que representa o coração imaculado de Maria, derramou lágrimas humanas. O relicário contém parte destas lágrimas milagrosas.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Orientações doutrinais para um discernimento pastoral

Reflexão sobre a Amoris Laetitia do Prof. Mons. Ángel Rodríguez Luño, decano da faculdade de teologia da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma
NCR COL REESE amoris 4.8
Publicamos abaixo um artigo enviado a ZENIT pelo Prof. Mons. Ángel Rodríguez Luño, decano da faculdade de teologia da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma.
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A Exortação Apostólica Amoris laetitia oferece as bases para dar um novo e muito necessário impulso à pastoral familiar em todos os seus aspectos. O capítulo VIII se re­fere às delicadas situações em que a debilidade hu­mana mais se evidencia. A linha proposta pelo Papa Francisco pode resumir-se com as palavras que compõem o título do capítulo: “Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”. Somos convidados a evitar os julgamentos sumários e as atitudes de rechaço e exclusão, e a assumir, em vez disso, a tarefa de discernir as diferentes situações, empreendendo com os interessados um diálogo sincero e cheio de misericórdia. “Trata-se de um itinerário de acompanhamento e discernimento que ‘orienta estes fiéis na tomada de consciência da sua situação diante de Deus. O diálogo com o sacerdote, no foro interno, concorre para a formação dum juízo correto sobre aquilo que dificulta a possibilidade duma participação mais plena na vida da Igreja e sobre os passos que a podem favorecer e fazer crescer. Uma vez que na própria lei não há gradualidade (cfr. Fa­miliaris consor­tio, 34), este discernimento não poderá jamais prescindir das exigências evangélicas de verdade e caridade propostas pela Igreja. ‘”[1]. Parece útil recordar alguns pontos que convém ter em conta para que o processo de discernimento seja conforme o ensinamento da Igreja[2], o que o Santo Padre pressupõe e de modo algum desejou alterar.
Pelo que concerne aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, a Igreja ensinou sempre e em todo lugar que “quem tem consciência de estar em peca­do grave deve receber o sacramento da Reconciliação antes de comungar”[3]. A estrutura fundamental do sacramento da Reconciliação “compreende dois elementos igualmente essenciais: de um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação; de outro lado, a ação de Deus por intermédio da Igreja.”[4]. Se faltasse completamente a contrição perfeita ou imperfeita (atrição), que inclui o propósito de mudar de vida e evitar o pecado, os pecados não poderiam ser perdoados, e não obstante fosse dada a absolvição, esta seria inválida[5].
O processo de discernimento deve ser coerente também com a doutrina católica sobre a indissolubilidade do matrimônio, cujo valor e atualidade o Papa Fran­cisco enfatiza fortemente. A ideia de que as relações sexuais no contexto de uma segun­da união civil são lícitas implica que essa segunda união fosse considerada um verdadeiro matrimônio, e nesse caso se entraria em contradição objetiva com a doutrina sobre a indissolubilidade, segundo a qual o matrimônio válido e consumado não pode ser dissolvido, nem sequer pelo poder vicarial do Romano Pontífice[6]; se, em vez disso, se reconhecesse que a segunda união não é verdadeiro matrimônio, porque o verdadeiro matrimônio é e continua sendo somente o primeiro, então se aceitaria um estado e uma condição de vida que “contradizem objetivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atuada na Eucaristia”[7]. Se, ademais, a vida more uxorio na segunda união fosse considerada moral­mente aceitável, se negaria o princípio fundamental da moral cristã, segundo o qual as relações sexuais são lícitas somente dentro do matrimônio legítimo. Por essa razão, a Carta da Congregação para a Doutrina da Fé de 14 de setembro de 1994 dizia: “O fiel que convive habitualmente more uxorio com uma pessoa que não é a legítima esposa ou o legítimo marido, não pode receber a comunhão eucarística. Caso aquele o considerasse possível, os pastores e os confessores – dada a gravidade da matéria e as exigências do bem espiritual da pessoa e do bem comum da Igreja – têm o grave dever de adverti-lo que tal juízo de consciência está em evidente contraste com a doutrina da Igreja”[8].
O Papa Francisco recorda justamente que podem existir ações gravemente imorais sob o ponto de vista objetivo que, no plano subjetivo e formal, não sejam imputáveis ou não o sejam plenamente, devido à ignorância, ao medo ou a outros ate­nuantes que a Igreja sempre levou em conta.  À luz desta possibilidade, não se poderia afirmar que quem vive em uma situação matrimonial assim chamada “irregu­lar” objetivamente grave esteja necessariamente em estado de pecado mortal[9]. A questão é delicada e difícil, porque sempre se reconheceu que “de internis neque Ecclesia iudicat”, sobre o esta­do mais íntimo da consciência nem sequer a Igreja pode julgar. Por isso, a Declaração do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos acerca do cânon 915, citada pelo Papa Francisco[10], na qual se dizia que a proibição de receber a Eucaristia compreende também os fiéis divorciados que voltaram a casar, foi muito cuidadosa em preci­sar o que deve entender-se por pecado grave no contexto desse cânon. O texto da Declaração diz: “A fórmula ‘e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto’ é clara e deve ser compreendida de modo a não deformar o seu sentido, tornando a norma inaplicável. As três condições requeridas são: a) o pecado grave, entendido objetivamente, porque da imputabilidade subjetiva o ministro da Comunhão não poderia julgar; b) a perseverança obstinada, que significa a existência de uma situação objetiva de pecado que perdura no tempo e à qual a vontade do fiel não põe termo, não sendo necessários outros requisitos (atitude de desacato, admonição prévia, etc.) para que se verifique a situação na sua fundamental gravidade eclesial; c) o carácter manifesto da situação de pecado grave habitual.”[11].
A mesma Declaração esclarece que não se encontram nessa situação de pecado grave habitual os fiéis divorciados que voltaram a casar que, não podendo interromper a convivência por causas graves, se abstêm dos atos próprios dos cônjuges, permanecendo a obrigação de evitar o escândalo, posto que o fato de não viverem more uxorio é oculto[12]. Fora esse caso, em atenção pastoral a esses fiéis, será preciso considerar também que parece muito difícil que aqueles que vivem em uma segunda união tenham a certeza moral subjetiva do estado de graça, pois somente mediante a interpretação de sinais objetivos esse estado poderia ser conhecido pela própria consciência e pela do confessor. Ademais, seria preciso dis­tinguir entre uma verdadeira certeza moral subjetiva e um erro de consciência que o confessor tem a obrigação de corrigir, como se disse antes, já que na administração do sacramento o confessor é não somente pai e médico, mas também mestre e juiz, tarefas todas essas que certamente há de cumprir com a máxima misericórdia e delicadeza, e bus­cando antes de tudo o bem espiritual de quem busca a confissão.
Os aspectos doutrinais mencionados, que pertencem ao ensinamento multissecular de a Igreja, e muitos deles ao Magistério ordinário e universal, não devem im­pedir os sacerdotes de empenhar-se com espírito aberto e coração grande em um diálogo cordial de discernimento. Como escreveu o Papa Francisco, trata-se de “evitar o grave risco de mensagens equivocadas, como a ideia de que algum sacerdote pode conceder rapidamente ‘exceções’, ou de que há pessoas que podem obter privilégios sacramentais em troca de favores. Quando uma pessoa responsável e discreta, que não pretende colocar os seus desejos acima do bem comum da Igreja, se encontra com um pastor que sabe reconhecer a seriedade da questão que tem entre mãos, evita-se o risco de que um certo discernimento leve a pensar que a Igreja sustente uma moral dupla”[13]. Pelo contrário, sabendo que a variedade das circunstâncias particu­lares é muito grande, como muito grande é também sua complexidade, os princípios doutrinais antes mencionados deveriam ajudar a discernir o modo de ajudar às pesso­as interessadas em empreender um caminho de conversão que lhes conduza a uma maior integração na vida da Igreja e, quando seja possível, a recepção dos sacra­mentos da Penitência e da Eucaristia.
Mons. Angel Rodríguez Luño, Professor ordinário de teologia moral fondamental naPontificia Università della Santa Croce, em Roma.
Trad.: Viviane da Silva Varela.

[1]             Francisco, Exortação Apostólica Pós-sinoidal Amoris laetitia, 19-III-2016, n. 300. A nota interna é do n. 86 da Relação final do Sínodo de 2015.
[2]             O Santo Padre assim o disse explicitamente em Amoris laetitia, n. 300.
[3]             Catecismo da Igreja Católica, n. 1385.
[4]             Catecismo da Igreja Católica, n. 1448.
[5]             Cfr. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1451-1453; Concilio de Trento, Sess. XIV,Doutrina do sacramento da penitência, cap. 4 (Dz-Hü 1676-1678).
[6]             São João Paulo II, em seu discurso à Rota Romana, de 21-I-2000, n. 8, declarou que essa doutrina é definitiva.
[7]             São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris consortio, 22-XI-1981, n. 84.
[8]             Congregação para a Doctrina da Fé, Carta aos bispos da Igreja Católica acerca da recepção da Co­munhão eucarística por parte dos fiéis divorciados que voltaram a se casar, 14-IX-1994, n. 6.

[9]             Cfr. Francisco, Amoris laetitia, n. 301.
[10]           Cfr. Ibid., n. 302.
[11]           Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, Declaração acerca da admissibilidade à Sagrada Comunhão dos divorciados que voltaram a se casar, 24-VI-2000, n. 2.
[12]           Cfr. ibidem. Não é demais ter em conta que não se pode exigir que os fiéis que vivem em uma se­gunda união civil garantam absolutamente que nunca mais terão relações. Basta que tenham o sin­cero e firme propósito de absterem-se. Às vezes somente um dos cônjuges pode ter esse propósito. Nesse caso, segundo as circunstâncias e a idade, pode ser suficiente para que possa receber os sacramentos, tratando sempre de evitar o escândalo.
[13]           Francisco, Amoris laetitia, n. 300.
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

A homilia do Papa no jubileu dos adolescentes

«Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35).
Queridos adolescentes, que grande responsabilidade nos confia hoje o Senhor! Diz-nos que as pessoas reconhecerão os discípulos de Jesus pelo modo como se amam entre si. Por outras palavras, o amor é o bilhete de identidade do cristão, é o único «documento» válido para sermos reconhecidos como discípulos de Jesus. O único documento válido. Se este documento perde a validade e não se volta a renová-lo, deixamos de ser testemunhas do Mestre. Por isso vos pergunto: Quereis acolher o convite de Jesus para ser seus discípulos? Quereis ser seus amigos fiéis? O verdadeiro amigo de Jesus distingue-se essencialmente pelo amor concreto; não um amor «nas nuvens», não; o amor concreto que brilha na sua vida. O amor é sempre concreto. Quem não é concreto e fala de amor, faz uma telenovela, um romance televisivo. Quereis viver este amor que Ele nos dá? Quereis ou não? Procuremos então frequentar a sua escola, que é uma escola de vida, para aprender a amar. E este é um trabalho de todos os dias: aprender a amar.
Antes de mais nada, amar é belo, é o caminho para sermos felizes. Mas não é fácil: é exigente, requer esforço. Pensemos, por exemplo, quando recebemos um presente: isto torna-nos felizes; mas, para preparar aquele presente, houve pessoas generosas que dedicaram tempo e esforço; e, assim, dando-nos algo de presente, deram-nos também um pouco de si mesmas, algo de que souberam privar-se. Pensemos também na prenda que vos deram os vossos pais e animadores, permitindo-vos vir a Roma para este Jubileu que vos é consagrado. Projetaram, organizaram, prepararam tudo para vós: e isto dava-lhes alegria, embora tenham talvez renunciado a uma viagem para eles. Esta é a dimensão concreta do amor. De facto, amar quer dizer dar… e não só coisas materiais, mas algo de nós mesmos: o próprio tempo, a própria amizade, as próprias capacidades.
Olhemos para o Senhor, que é imbatível em generosidade. D’Ele recebemos tantos dons, e todos os dias deveremos agradecer-Lhe… Gostava de vos perguntar: Agradeceis ao Senhor todos os dias? Mesmo que nos esqueçamos, Ele não Se esquece de nos oferecer cada dia um dom especial; não se trata de um presente que se possa ter materialmente nas mãos e usar, mas de um dom maior, um dom para a vida. Que nos oferece o Senhor? Oferece-nos uma amizade fiel, dom de que nunca nos privará. O Senhor é o amigo para sempre. Mesmo se O dececionas e te afastas d’Ele, Jesus continua a amar-te e a permanecer junto de ti, continua a crer em ti mais de quanto crês tu em ti próprio. Esta é a dimensão concreta do amor que Jesus nos ensina. E isto é muito importante! Pois a principal ameaça, que impede de crescer como se deve, é ninguém se importar de ti – e isto é triste -, é quando sentes que te deixam de lado. Ao contrário, o Senhor está sempre contigo e sente-Se contente em estar contigo. Como fez com os seus jovens discípulos, fixa-te nos olhos e chama-te para O seguir, «fazer-te ao largo» e «lançar as redes» confiado na sua palavra, ou seja, a pôr a render os teus talentos na vida, juntamente com Ele, sem medo. Jesus espera pacientemente por ti, aguarda uma resposta, espera o teu «sim».
Queridos adolescentes, na vossa idade, surge também em vós, de modo novo, o desejo de vos afeiçoardes e de receberdes afeto. Se fordes assíduos à escola do Senhor, Ele ensinar-vos-á a tornar mais belos também o afeto e a ternura. Colocar-vos-á no coração um intuito bom: querer bem sem me apoderar, amar as pessoas sem querer possuí-las, mas deixando-as livres. Pois o amor é livre! Não existe verdadeiro amor que não seja livre! É a liberdade que nos deixa o Senhor, quando nos ama. Ele sempre está perto de nós. De facto, existe sempre a tentação de poluir o afeto com a pretensão instintiva de agarrar, «possuir» aquilo de que se gosta; e isto é egoísmo. A própria cultura consumista agrava esta tendência. Mas, se se aperta muito uma coisa, esta mirra-se, estraga-se: depois fica-se dececionado, com o vazio dentro. Se ouvirdes a voz do Senhor, revelar-vos-á o segredo da ternura: cuidar da outra pessoa, o que significa respeitá-la, protegê-la e esperar por ela. E essa é a dimensão concreta da ternura e do amor.
Nestes anos de juventude, sentis também um grande desejo de liberdade. Muitos dir-vos-ão que ser livre significa fazer aquilo que se quer. Mas a isto é preciso saber dizer não. Se tu não sabes dizer não, não és livre. Livre é aquele que sabe dizer sim e sabe dizer não. A liberdade não é poder fazer sempre aquilo que me apetece: isto torna-nos fechados, distantes, impede-nos de ser amigos abertos e sinceros; não é verdade que, quando eu estou bem, tudo está bem. Não, não é verdade. Ao contrário, a liberdade é o dom de poderescolher o bem: esta é a liberdade. E é livre quem escolhe o bem, quem procura aquilo que agrada a Deus, ainda que custe; não é fácil. Mas penso que vós, jovens, não tendes medo dos esforços, sois corajosos! Só com opções corajosas e fortes é que se realizam os sonhos maiores, os sonhos pelos quais vale a pena gastar a vida. Opções corajosas e fortes. Não vos contenteis com a mediocridade, com «deixar correr» ficando cómodos e sentados; não vos fieis de quem vos distrai da verdadeira riqueza que sois vós, dizendo que a vida só é bela se se possuir muitas coisas; desconfiai de quem quer fazer-vos crer que valeis quando vos mascarais de fortes, como os heróis dos filmes, ou quando vestis pela última moda. A vossa felicidade não tem preço, nem se comercializa; não é uma “app” que se descarrega do telemóvel: nem a versão mais atualizada vos poderá ajudar a tornar-vos livres e grandes no amor. A liberdade é outra coisa.
Com efeito, o amor é o dom livre de quem tem o coração aberto; o amor é umaresponsabilidade, mas uma responsabilidademaravilhosa, que dura toda a vida; é ocompromisso diário de quem sabe realizar grandes sonhos. Ai dos jovens que não sabem sonhar, que não ousam sonhar! Se um jovem, na vossa idade, não é capaz de sonhar, já se aposentou, não serve. O amor nutre-se de confiança, respeito, perdão. O amor não se realiza falando dele, mas quando o vivemos: não é uma poesia suave que se aprende de memória, mas uma opção de vida a pôr em prática! Como podemos crescer no amor? Também nisto o segredo é o Senhor: Jesus dá-Se-nos a Si mesmo na Missa, oferece-nos o perdão e a paz na Confissão. Aí aprendemos a acolher o seu Amor, a assumi-lo, a repô-lo em circulação no mundo. E quando parece exigente amar, quando é difícil dizer não àquilo que é errado, erguei os olhos para a cruz de Jesus, abraçai-a e não largueis a sua mão que vos conduz para o alto e vos levanta quando caís. Na vida, sempre se cai, porque somos pecadores, somos fracos. Mas temos a mão de Jesus que nos ergue, que nos levanta. Jesus quer-nos de pé! Aquela bela palavra que Jesus dizia aos paralíticos: «Levanta-te». Deus criou-nos para estarmos de pé. Existe uma bela canção que os alpinos cantam quando sobem. A canção diz assim: «na arte de subir, importante não é o não cair, mas o não permanecer caído»! Ter a coragem de levantar-se, de nos deixarmos reerguer pela mão de Jesus. E esta mão muitas vezes chega até nós pela mão de um amigo, pela mão dos pais, pela mão daqueles que nos acompanham na vida. O próprio Jesus em pessoa está ali. Levantai-vos! Deus quer-nos de pé, sempre de pé!
Sei que sois capazes de gestos de grande amizade e bondade. Sois chamados a construir o futuro assim: juntamente com os outros e para os outros, jamais contra outro qualquer! Não se constrói «contra»: isto chama-se destruição. Fareis coisas maravilhosas, se vos preparardes bem já desde agora, vivendo plenamente esta vossa idade tão rica de dons, e sem ter medo do esforço. Fazei como os campeões desportivos, que alcançam altas metas treinando-se, humilde e duramente, todos os dias. O vosso programa diário sejam as obras de misericórdia: treinai-vos com entusiasmo nelas, para vos tornardes campeões de vida, campeões de amor! Assim sereis reconhecidos como discípulos de Jesus. Assim tereis o bilhete de identidade de cristãos. E garanto-vos: a vossa alegria será completa.
Fonte: Zenit.

domingo, 24 de abril de 2016

Ucrânia: Igreja Católica em Portugal associa-se a coleta internacional pelas vítimas da guerra

A Igreja Católica em Portugal associa-se nas missas dominicais deste fim-de-semana a uma coleta internacional a favor das vítimas da guerra na Ucrânia, convocada pelo Papa Francisco e que vai envolver todas as dioceses do mundo.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, esta quarta-feira, o coordenador da Capelania Nacional dos Imigrantes Ucranianos de Rito Bizantino destaca um gesto que mostra que os católicos portugueses e a Igreja em geral “não esquecem os seus irmãos”.
“O apoio material faz muita falta, mas tenho a certeza que este gesto fará também com que o povo ucraniano não se sinta só no meio desta guerra, e saiba que na Europa ainda existem pessoas, cristãos verdadeiros, que não estão fechados ao sofrimento e às necessidades dos outros”, realça o padre Ivan Hudz.
O conflito na Ucrânia arrasta-se desde novembro de 2014, em particular no leste do país, colocando em confronto grupos separatistas pró-russos e as forças de Kiev pelo controlo de território.
Desde a queda de Viktor Ianukovitch, que tinha decidido renunciar a um acordo comercial com a União Europeia, a população da península da Crimeia optou pela secessão com a Ucrânia e outras regiões têm manifestado a mesma pretensão.
O conflito já terá causado mais de 8 mil mortos e 16 mil feridos e, segundo a Cáritas Internationalis, provocou pelo menos um milhão de desalojados e deixou um número ainda maior de pessoas sem acesso a uma alimentação condigna, 300 mil das quais necessitam de ajuda imediata.
O Papa renovou esta quarta-feira no Vaticano no seu apelo à generosidade dos católicos na coleta especial em favor da população da Ucrânia.
“A população da Ucrânia sofre há muito tempo com as consequências de um conflito armado, esquecido por muitos. Como sabeis, convidei a Igreja na Europa a apoiar a iniciativa que lancei para ir ao encontro desta tragédia humana”, disse Francisco, durante a audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro.
A Conferência Episcopal Portuguesa já anunciou a sua adesão à iniciativa, pedindo o contributo das comunidades cristãs do país e da sociedade em geral para ajudar “as graves e urgentes necessidades” da população ucraniana. 
“Ultimamente vemos que os media não falam mais da guerra mas ela continua, as desgraças acontecem todas as semanas, há famílias que perderam tudo”, realça o padre Ivan Hudz, que acompanha uma comunidade de cerca de 60 mil ucranianos emigrantes em Portugal.
Apesar de longe, estas pessoas não esquecem as suas raízes e os familiares que deixaram no seu país.
Todos os meses, enviam apoios para a Ucrânia, “carrinhas com comida, com roupa”, apoiando também “soldados” hospitalizados “que precisam de próteses”, entre outras necessidades.
“Aqui não se olha para ortodoxos ou católicos, olha-se primeiro para a pessoa. Claro que temos sempre dificuldades com as questões burocráticas, com o passar das fronteiras, é difícil entrar”, realça o sacerdote, que destaca a importância de assegurar depois que as verbas que vão ser recolhidas “cheguem mesmo a quem mais precisa”.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que tem em curso projetos de apoio aos cristãos ucranianos, oferece o livro “Os novos santos da Ucrânia" para conhecer alguns dos homens e mulheres que constituíram a base da Igreja na Ucrânia, sendo apenas necessário enviar o pedido para o endereço de e-mail apoio@fundacao-ais.pt
JCP/PR

sábado, 23 de abril de 2016

“A reforma da Cúria está sendo feita e é um processo gradual”

O segundo homem da Secretaria de Estado da Santa Sé, mons. Angelo Becciu, falou em uma entrevista realizada por TV2000.
O substituto da Secretaria de Estado para os Assuntos Gerais acrescentou que não é fácil reformar uma estrutura tão articulada. Porque se trata do Estado da Cidade do Vaticano, da Sé Apostólica, da Cúria, com leis internas, que é preciso respeitar, e compromissos internacionais que se deve ter em consideração.
Isto é, a reforma refere-se a muitas estruturas com finalidades diferentes e reguladas por parâmetros. Um processo que leva tempo e deve ser feito de forma gradual.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Papa Francisco: “A palavra de Deus ensina-nos a distinguir entre o pecado e o pecador”

Milhares de peregrinos estiveram presentes hoje na praça de São Pedro para a Audiência Geral das Quartas-Feiras do Pontífice. Vários brasileiros, membros da Comunidade Obra de Maria, também estiveram presentes. O Papa cumprimentou-os ao final.
Eis o resumo que o pontífice fez em português:
“A palavra de Deus ensina-nos a distinguir entre o pecado e o pecador: com o pecado, não devemos descer a compromissos, ao passo que os pecadores – isto é, nós todos – são como doentes que necessitam de ser curados e, para isso, o médico precisa de se encontrar com eles, visitá-los, tocá-los. É claro que o doente, para ser curado, tem de reconhecer que tem necessidade do médico. Ouvimos narrar o caso daquela mulher pecadora que veio chorar seus pecados aos pés de Jesus, quando Ele Se encontrava à mesa em casa de um fariseu chamado Simão. Este, embora tenha convidado Jesus, não se quer comprometer nem arriscar a reputação com o Mestre, enquanto a mulher se confia plenamente a Jesus com amor e veneração. Pois bem! Entre o comportamento do fariseu e o da pecadora, o Senhor toma partido por esta. Livre de preconceitos que impeçam a misericórdia de se expressar, o Mestre deixa-a fazer o que lhe dita o coração: Ele, o Santo de Deus, deixa-Se tocar por ela, sem medo de ficar contaminado. Mais ainda, dirigindo-Se à mulher, diz-lhe: «Os teus pecados estão perdoados». E assim põe termo àquela condição de isolamento a que pecadora fora condenada pelos juízos impiedosos de Simão e seus correligionários fariseus. Agora a mulher pode ir «em paz». O Senhor viu a sinceridade da sua fé e da sua conversão. Por isso, acrescenta diante de todos: «A tua fé te salvou». Ressalta à vista de todos a conversão da pecadora, demonstrando que, em Jesus, habita a força da misericórdia de Deus, capaz de transformar os corações”.
Recordando os peregrinos brasileiros presentes, Francisco disse: “De coração, saúdo os peregrinos brasileiros da Comunidade Obra de Maria e todos os presentes de língua portuguesa. Sede bem-vindos! Que nada vos impeça de viver e crescer na amizade do Senhor Jesus, e testemunhar a todos a sua grande bondade e misericórdia! Desça generosamente a sua Bênção sobre vós e vossas famílias”.
 Fonte: Zenit.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

DOCAT – a Doutrina Social da Igreja Católica para os Jovens

Na Jornada Mundial da Juventude da Cracóvia o Papa Francisco presenteará os peregrinos, assim como o Papa Bento XVI fez na Jornada de 2011 em Madrid. Desta vez o presente não será o YOUCAT, mas o DOCAT, que contém a Doutrina Social da Igreja.
A expressão “Doutrina Social da Igreja” designa o conjunto de orientações da Igreja Católica para os temas sociais. Ela reúne os pronunciamentos do magistério católico sobre tudo que implica a presença do homem na sociedade e no contexto internacional. Trata-se de uma reflexão feita à luz da fé e da tradição eclesial. O ensinamento social católico tem o valor de um instrumento de evangelização. Anuncia e atualiza a mensagem de Jesus Cristo em campos fundamentais da vida do homem. Grandes temas da doutrina social são: a família, o trabalho, a vida econômica, a política, a comunidade internacional, a proteção do meio ambiente e a promoção da paz.
Transformar a sociedade com a força do Evangelho sempre foi um desafio para os cristãos. E é nessa esteira que surge para nós o DOCAT, com um estupendo e desafiante prefácio escrito pelo Papa Francisco. O conteúdo do DOCAT ensina numa linguagem dialógica com perguntas e respostas, atraente e ilustrativa como os jovens cristãos podem mudar o mundo através da ação social e política com critérios enraizados nos ensinamentos do Evangelho. O livro que teve também a participação de jovens de diferentes países na sua elaboração e ilustração, e segue a mesma estrutura dos 12 Capítulos e as 3 partes do Compêndio da Doutrina Social lançado em 2004 no pontificado de São João Paulo II.
Papa Francisco nos diz: “Um cristão que não é revolucionário em nossos tempos, não é um cristão de verdade”. O DOCAT é portanto, segundo o Papa, para os jovens um manual para a revolução, uma resposta para a pergunta “o que deve ser feito”. Este manual estará disponível gratuitamente durante a JMJ para todo o mundo no formato de aplicativo – “DOCAT App”. Com apenas um clique em seus smartphones os jovens estarão dentro do DOCAT! Depois da JMJ estima-se que o “DOCAT livro” esteja finalmente disponível para jovens de todo o mundo, traduzido inicialmente para mais de 15 idiomas.
São João Paulo II, em sua primeira Exortação Apostólica em 1979, já convidava os jovens a terem um olhar sobre “a importância duma catequese que inclua as exigências morais e pessoais requeridas pelo Evangelho, que se traduz também no rico património da Doutrina Social da Igreja”. Na sua Mensagem para a XXII JMJ, o Papa Emérito Bento XVI nos escreveu dizendo: “Queridos Jovens, vos convido a aprofundar a Doutrina Social da Igreja, para que a vossa ação no mundo seja inspirada e iluminada pelos seus princípios.”  E nessa mesma esteira, nosso querido Papa Francisco nos revela seu sonho: “Eu sonho com uma nova geração de Cristãos – um milhão de jovens – que serão os evangelizadores da Doutrina Social da Igreja Católica.
Somos essa geração! A Igreja é viva, é jovem e olha para nós com esperança! Com seu cuidado materno, catequético e doutrinário podemos todos juntos e com Cristo fazer grandes coisas! A humanidade espera colher os frutos dessa geração que é convidada a ser mais enraizada na fé e nas obras de misericórdia.
Se você quer fazer parte da história de lançamento do DOCAT na JMJ 2016  sendo um dos 200 voluntários a convite do Papa Francisco, temos alguns critérios simples do perfil, que você pode verificar no site do YOUCAT Brasil –www.youcat.org.br
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

V domingo da Páscoa

Textos: Atos 14, 21b-27; Ap 21, 1-5a; Jo 13, 31-33a.34-35

Ideia principal: A caridade é a contrassenha e a novidade do cristianismo.
Síntese da mensagem: Nas leituras de hoje o adjetivo novo saiu cinco vezes. Quatro vezes na segunda leitura, e uma vez no evangelho. O antigo- antônimo de novo- já terminou (2 leitura). É o chamado a viver uma vida nova na fé. Mas sobretudo, viver o mandamento novo da caridade. Aqui está a novidade e a contrassenha do cristão: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, este presente da caridade é fruto da Páscoa e procede do coração de Cristo entregado para a nossa salvação. Só Cristo pôde nos oferecer este presente, que trouxe diretamente do céu e o confiou a nós antes de partir de novo para o Pai, uma vez terminada a sua missão aqui na terra. Para isso, Cristo no batismo teve que mudar o nosso coração de pedra e colocar em nós um coração de carne, teve que purificar e limpar as nossas veias e artérias, dilatar o nosso ventrículo e aurícula. Nesse dia colocou em nós uma válvula divina para podermos amar como Ele nos ama: com um amor universal, misericordioso, delicado, bondoso. E graças à Eucaristia, outro dos dons do Cristo Pascal, o Espírito nos comunicará a força do amor de Cristo. Perguntemos aos santos e aos mártires: a Santo Estevão, a Santa Inês, a Santo Inácio de Antioquia, a São Maximiliano Maria Kolbe, a Santa Maria Goretti, ao beato Miguel Pro, etc.
Em segundo lugar, onde reside a novidade deste mandamento? Antes de Cristo, claro que existia o amor. Assim lembra Jesus ao letrado que lhe perguntou pelo primeiro mandamento da lei: “Amarás ao Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente. Este é o preceito mais importante; mas o segundo é equivalente: amarás ao próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37-39). Contudo, se existia esse mandamento, era pura teoria, um ideal abstrato. Era simplesmente algo distinto. Certamente, teve homens que se amaram também antes de Cristo; mas, por que? Porque eram parentes, porque eram aliados, amigos, pertenciam ao mesmo clã ou ao mesmo povo: ou seja por algo que os ligava entre si, distinguindo-os de todos os demais. Agora tem que ir além: amar os que nos perseguem, amar os inimigos, os que não nos cumprimentam e nem nos amam. Isto é, amar o irmão por si mesmo e não pelo útil que ele possa resultar para nós. É a palavra “próximo” a que mudou o conteúdo: dilatou-se até compreender não só quem está perto de nós, mas também cada homem ao qual podemos nos aproximar. Novo é, portanto, o mandamento de Cristo porque novo é o seu conteúdo. Novo também, porque Jesus acrescentou isto: Amai-vos, como Eu vos amei”. Não podia existir um modelo ato perfeito de amor no Antigo Testamento. E, como nos amou Jesus? Com um amor generosíssimo, sem limites, um amor universal, e misericordioso; amor que sabe transformar o mal em ocasião de amor maior, como fez Jesus na sua Paixão e Morte.
Finalmente, o Catecismo da Igreja Católica no número 1856 assinala a importância vital da caridade para a vida cristã. Nesta virtude se encontram a essência e o núcleo do cristianismo, é o centro da pregação de Cristo e é o mandado mais importante (cf. Jo 15, 12; 15,17; Jo 13, 34). Não se pode viver a moral cristã deixando de um lado a caridade. A caridade é a virtude rainha, o mandamento novo que Cristo nos deu, portanto é a base de toda espiritualidade cristã. É o distintivo dos autênticos cristãos. A caridade é a virtude sobrenatural pela qual amamos Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor a Deus. É a virtude por excelência porque o seu objeto é o mesmo Deus e o motivo do amor ao próximo é o mesmo: o amor a Deus. Porque a sua bondade intrínseca, é a que nos une mais a Deus, fazendo-nos parte de Deus e dando-nos a sua vida (cf. 1 Jo 4, 8). A caridade dá vida a todas as outras virtudes, pois é necessária para que estas se dirijam a Deus. Sem a caridade, as outras virtudes estão como mortas. A caridade não termina com a nossa vida terrena, na vida eterna viveremos continuamente a caridade. São Paulo menciona sobre a caridade em 1 Cor. 13,13; e 13,87. Ao falar da caridade, tem que falar do amor. O amor “não é um sentimento bonito” ou a carga romântica da vida. O amor é buscar o bem do outro. A caridade é mais do que o amor. O amor é natural. A caridade é sobrenatural, algo do mundo divino. A caridade é possuir em nós o amor de Deus. É amar como Deus ama, com a sua intensidade e com as suas características. A caridade é um dom de Deus que nos permite amar na medida superior às nossas possibilidades humanas. A caridade é amar como Deus, não com a perfeição com que Ele o faz, mas sim com o estilo que Ele tem. Referimo-nos a isto quando dizemos que estamos feitos à imagem e semelhança de Deus, por termos a capacidade de amar como Deus.
Para refletir: 1 Cor 13, 4-7: “O amor é paciente, é bondoso. O amor não tem inveja; o amor não é jactancioso, não é arrogante. Não se comporta indecorosamente; não busca as suas próprias coisas, não se irrita, não considera o mal recebido. O amor não se regozija com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor não passa jamais. Mas se existem dons de profecia, acabar-se-ão; se existem línguas, cessarão; se existir conhecimento, acabar-se-á”. A minha caridade o meu amor têm estas características? Tenho pregado este distintivo na minha vida cristã?
Para rezar: nada melhor do que o Hino de São Francisco, onde se resume a essência do amor.
Fazei-me um instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio que eu leve o vosso amor;
Onde houver injúria que eu leve o vosso perdão, Senhor;
Onde houver dúvida que que leve a fé.
Mestre, fazei que eu procure mais
Consolar que ser consolado;
Compreender que ser compreendido;
Amar que ser amado.
Fazei-me um instrumento da vossa paz;
Que eu leve esperança por onde for
Onde houver escuridão que eu leve a luz
Onde houver sofrimento que eu leve o vosso gozo, Senhor.
Fazei-me um instrumento da vossa paz;
É perdoando que se é perdoado;
É dando que Vós nos dais;
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
Fazei-me um instrumento da vossa paz.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
Fonte: Zenit.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Ambiente: 270 líderes e representantes religiosos unem voz em defesa do clima

270 líderes e representantes religiosos lançaram uma declaração conjunta a pedir “coragem” aos líderes internacionais que esta sexta-feira vão assinar na sede da ONU, em Nova Iorque, os compromissos de combate às alterações climáticas.
“Os desafios que nos aguardam requerem honestidade e coragem, porque todos deverão agir para reduzir as emissões poluentes”, refere o documento, divulgado pelo Vaticano.
A assinatura do acordo sobre o clima decorre da COP21, a 21ª Cimeira da ONU sobre Alterações Climáticas, que decorreu no último mês de dezembro, em Paris.
Os participantes acordaram então a adoção de modelos económicos que reduzam as emissões de dióxido de carbono e gases com efeito de estufa, de modo a limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5 graus Celsius, em relação à era pré-industrial.
O acordo na ONU será vinculante se for ratificado por um mínimo de 55 países, que somados representam 55% das emissões globais de gases de efeito estufa.
Entre os líderes religiosos que assinaram o apelo entregue à Assembleia geral das Nações Unidas estão o bispo Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Academia Pontifícia das Ciências e das Ciências Sociais (Vaticano); o rabino-chefe Shear Yashuv Cohen; o grande imã Maulana Syed Muhammad Abdul Khabir Azad; o arcebispo anglicano Desmond Tutu; e o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, Olav Fykse Tveit.
O texto fala do “cuidado pela Terra” como uma responsabilidade comum, citando a encíclica ‘Laudato si’, do Papa Francisco, e declarações de budistas, cristãos, hindus, judeus, muçulmanos, siques e outros líderes religiosos.
Segundo os líderes religiosos, se as emissões de dióxido de carbono e gases com efeito de estufa não baixarem rapidamente, “os impactos serão irreversíveis para centenas de milhões de vidas”.
“É preciso iniciar uma transição dos combustíveis fósseis poluentes para fontes limpas de energia renovável”, apelam.
OC - Ecclesia.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Vaticano: Papa ordenou 11 padres e pediu-lhes que sejam «misericordiosos»

O Papa presidiu ontem à ordenação de 11 padres, no Vaticano, para assinalar o 53º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, e pediu que os novos sacerdotes sejam “muito misericordiosos”.
Entre os candidatos encontrava-se um diácono iraquiano, Firas Kidher, da Congregação dos Rogacionistas do Coração de Jesus.
Na homilia da celebração que decorreu na Basílica de São Pedro, o Papa sublinhou que os novos padres foram escolhidos para ser ministros da “unidade” na Igreja, convidados a imitar Jesus Cristo e a sua “cruz”.
“Caminhai em novidade de vida, sem cruz não encontrareis nunca o verdadeiro Jesus e uma cruz sem Cristo não tem sentido”, precisou.
Os novos sacerdotes foram chamados um a um para o rito de ordenação presbiteral.
“Deus, que iniciou em ti a sua obra, desde criança, a leva ao seu cumprimento”, foi a bênção do Papa sobre os ordinandos.
A Missa foi concelebrada pelo vigário e os auxiliares da Diocese de Roma, os superiores dos seminários dos novos padres e os seus párocos.
Durante a procissão do final da celebraçao, a assembleia saudou com uma salva de palmas os sacerdotes recém-ordenados.
OC - Zenit.

domingo, 17 de abril de 2016

Por que o celibato incomoda tanta gente?

O celibato em palavras muito simples é a condição daquela pessoa que opta por não fazer uso das suas faculdades sexuais.  Na Igreja, essa disciplina foi adotada paulatinamente, tendo sua primeira aparição oficial já no século VI, no Concílio de Elvira. No Concílio de Trento, no século XVI, o celibato foi adotado para toda a Igreja ocidental e incorporado ao direito canônico como disciplina para todo o clero.
Esse é o resumo de uma história que poderia parecer simples. Afinal, quando alguém entra no seminário para ser padre, sabe muito bem o que abraça e abraça livremente. No entanto, ao que me parece, essa história é cheia de argumentos apaixonados, seja daqueles que são contra ou daqueles que são a favor. E é justamente aí que surge algo estranho. As opiniões, quase em sua totalidade, são de pessoas a quem o celibato em nada afeta. Os maiores interessados: bispos, padres, frades e seminaristas, estão felizes com a sua escolha de vida.
Por que estão felizes? Simplesmente porque estão cumprindo cegamente uma norma que a Igreja inventou para supostamente preservar sua riqueza dos possíveis herdeiros dos padres? Pelo contrário. A Igreja possui argumentos racionais e extremamente evangélicos para justificar tal disciplina eclesiástica. O papa Paulo VI vai dar pelo menos três argumentos: o primeiro deles é cristológico. Dado que o padre é imitador de Cristo, deve configurar-se ao máximo ao Divino Mestre. Como Cristo foi celibatário, assim também o padre deve sê-lo. Simples assim; O segundo é eclesiológico: o padre opta pelo celibato para dedicar-se mais inteiramente à salvação das almas. Por fim, o papa nos apresenta o argumento escatológico. O celibato seria um sinal da condição dos filhos de Deus na glória. Resumindo, imitar a Cristo é o máximo de felicidade a que o homem pode aspirar. Nesse sentido, os padres estão muito felizes, obrigado.
Chega a ser irritante ouvir as pessoas comentarem sobre o assunto. Algumas sugerem que o padre opta pelo celibato por não “gostar de mulher”, outras olham para o padre como um coitado, que priva-se do matrimônio como se esse fosse o único caminho de felicidade. Uma curiosidade: por que tanta gente olha para o celibato pelo viés negativo da renúncia e tão poucas olham pelo viés da alegria que é escolher um caminho entre tantos outros?
No fundo, acredito que a resposta esteja na concepção errada que as pessoas têm de amor. Enquanto amor for um meio para satisfação pessoal, poucos entenderão o celibato e, consequentemente, o sacerdócio. Celibato é sacrifício, é doação, entrega, renúncia. Aliás, como é qualquer outra vocação, inclusive o matrimônio. Quem é capaz de se sacrificar diariamente pelo bem do outro no matrimônio entende que o padre faz o mesmo por Deus no sacerdócio. Por outro lado, quem vê o amor de forma deturpada, naturalmente não entenderá o celibato. Afinal, se não há “ninguém” para satisfazer as necessidades do pobre padre, como ele será feliz? Realmente, para quem vê o amor desse jeito não faz o menor sentido.
Diante disso tudo, a pergunta ainda carece de ser respondida: por que o celibato incomoda tanta gente?  Primeiramente porque hoje em dia vivemos uma cultura de comentaristas vazios. Todo mundo acha que tem propriedade para fazer comentários sobre qualquer tipo de assunto, desde futebol a política. Depois, está o problema daqueles que não contentes em não gostar do catolicismo, fazer o “favor” de desrespeitá-lo. Reparem bem que não se ouvem comentários sobre a disciplina do exército brasileiro ou sobre a Charia (lei) muçulmana. Quanto aos padres, por outro lado, há pessoas que ao que parece se alegram em crucificá-los nos nossos dias. Mas, pensando bem, alegrai-vos, padres, até nisso vocês estão seguindo os passos daquele que vos inspirou em primeiro lugar!
Vinícius Farias da Silva. Seminarista da Arquidiocese de Brasília, atualmente cursa o segundo ano de teologia em vistas do sacerdócio.
(Artigo enviado a ZENIT pelo próprio autor).

sábado, 16 de abril de 2016

“Todos nós temos durezas no coração, todos nós. Se alguém de vocês não têm, levante a mão, por favor”

Na homilia de ontem na Casa Santa Marta o Santo Padre destacou que zelar pelas coisas sagradas não significa necessariamente ter um coração aberto a Deus. E recordou que Paulo de Tarso era fiel aos princípios da sua fé, mas com o seu coração fechado, surdo a Cristo, a ponto que pediu para ir exterminar e prender os cristãos que viviam em Damasco.
A vida de Paulo se torna a “história de um homem que deixa que Deus mude o coração”, disse o Papa Francisco. Paulo é envolvido por uma luz potente, sente uma voz que o chama, cai e fica momentaneamente cego. “Saulo o forte, o seguro, estava no chão”.
Naquela condição, sublinhou o Papa, “compreende a sua verdade: não era um homem como Deus queria, porque Deus criou todos nós para estarmos em pé, com a cabeça erguida”. Mas a voz do céu não diz apenas “Por que me segues?”, mas o convida a se levantar:
“Levanta-te e te será dito, deves ainda aprender”. E quando começou a se erguer, não conseguia e percebeu que estava cego: naquele momento havia perdido a visão. ‘E se deixou guiar’: o coração começou a se abrir. Assim, levando-o pela mão, os homens que estavam com ele o conduziram a Damasco, aonde por três dias não pôde ver, não comeu e nem bebeu. Este homem estava no chão, mas logo entendeu que deveria aceitar esta humilhação. A humilhação é o caminho para abrir o coração. Quando o Senhor nos envia humilhações ou permite que elas venham, é justamente para isso: para que o coração se abra, seja dócil, se converta ao Senhor Jesus.
O coração de Paulo se derrete. O que muda, naqueles dias de solidão e cegueira, é a sua vista interior. Depois, Deus lhe envia Ananias, que lhe impõe as mãos e também os olhos de Saulo voltam a enxergar. Mas há um aspecto desta dinâmica, afirmou o Papa, que deve ser ressaltado:
“Recordamos que o protagonista destas histórias não são nem os doutores da lei, nem Estêvão, nem Filipe, nem o eunuco, nem Saulo… É o Espírito Santo. O protagonista da Igreja é o Espírito Santo que conduz o povo de Deus. E, imediatamente, caíram dos olhos de Saulo algo como que escamas e ele recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado. A dureza do coração de Paulo – Saulo, Paulo – se transforma em docilidade ao Espírito Santo”.
“É belo – concluiu Francisco – ver como Senhor é capaz de mudar os corações” e fazer que “um coração duro, teimoso, se torne um coração dócil ao Espírito”.
“Todos nós temos durezas no coração, todos nós. Se alguém de vocês não têm, levante a mão, por favor. Peçamos ao Senhor que nos mostre que estas durezas nos jogam no chão. Que nos envie a graça e também – se necessário – as humilhações, para não ficarmos no chão, mas levantarmo-nos, com a dignidade com a qual Deus nos criou, ou seja, com a graça de um coração aberto e dócil ao Espírito Santo”.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Educar pela vida familiar

O Papa Francisco, atento às dinâmicas da cultura contemporânea e após a realização de dois sínodos, traz pertinente interpelação com a Exortação Apostólica sobre o amor na família, Amoris Laetitia.  Com sua extraordinária sensibilidade humana e a partir da escuta do mundo católico, Francisco mostra que a grande meta é reavivar a consciência sobre a importância do matrimônio e da família. Desafio complexo que não permite tratamento superficial. São necessárias ações bem fundamentadas para não se correr o risco de obscurecer ou anular o determinante e indispensável papel da família - lugar da educação por excelência - particularmente essencial neste momento, quando se precisa configurar novo tecido cultural. E isso é imprescindível para a superação das crises muito desafiadoras, nos âmbitos da ética, política, economia e instituições.
 
A Igreja, na unidade de doutrina e práxis, acolhe a indicação de que, em cada país ou região, é possível buscar soluções mais atentas às tradições e aos desafios locais. Longe de qualquer tipo de permissividade, o caminho é se debruçar sobre culturas diferentes, considerando a pluralidade que caracteriza cada sociedade. Essa tarefa exige acuidade, empenhos e profunda espiritualidade. Por isso, o Papa Francisco recoloca, com destaque, alguns caminhos pastorais que levam à construção de famílias sólidas, fecundas segundo o plano de Deus, com especial luz sobre a educação dos filhos.
 
Não há mais tempo a perder diante da necessidade de se investir na família, referência singular com propriedades para edificar nova cultura humanística e espiritual que permita superar o atual momento social e político. Há uma complexidade própria na realidade da família, que precisa ser adequadamente compreendida e tratada.  Para isso, as jaulas do egoísmo e da mesquinhez devem ser evitadas. Essas prisões nascem de individualismos perversos e da consequente perda de capacidade para gestos altruístas, indispensáveis na vida de todos, especialmente no exercício da cidadania. Em questão, portanto, está o desafio de se compreender, em profundidade, a importância da família.
 
O desvirtuamento dos laços familiares é um real perigo alimentado por uma exasperada cultura individualista que pode parecer atraente, mas é caminho para prejuízos irreversíveis. É preciso conhecer mais profundamente a realidade familiar para não se negociar o inegociável. A liberdade de escolha, sublinha o Papa Francisco, permite a cada pessoa projetar a própria vida e cultivar o melhor de si mesmo, mas se não houver objetivos nobres e disciplina, se degenera numa incapacidade para a doação. O entendimento de que a liberdade individual garante o direito de julgar a partir de parâmetros próprios, como se não houvesse verdades, valores e princípios diferentes, é problemático. Cria a convicção de que tudo, desde que atenda ao interesse particular, é permitido.  Contribui para que entendimentos sobre o matrimônio sejam achatados por conveniências e caprichos.
 
Há um percurso longo para resgatar valores que foram perdidos. Sem essas referências, continuarão a surgir descompassos e a humanidade sofrerá com a perda de rumos. A trajetória a ser seguida exige entendimentos, recomposições e a necessária capacitação para a vivência de valores éticos e morais.  E a família é, indiscutivelmente, a primeira escola desses valores. Lugar em que se aprende o bom uso da liberdade. A Exortação Apostólica lembra que há inclinações maturadas na infância que impregnam o íntimo de uma pessoa e permanecem pelo resto da vida como tendência favorável a um valor ou como uma rejeição espontânea de certos comportamentos.
 
O aprendizado ético e moral no contexto educativo inigualável da família sustenta a vida, permeia atos e escolhas. Somente a instituição familiar tem propriedades para cumprir certas tarefas e metas na formação das pessoas, em razão de sua particular capacidade para alcançar e fecundar corações. De modo especial, é âmbito da socialização primária, em meio aos afetos mais profundos e tocantes, que possibilitam a aprendizagem da reciprocidade, do relacionar-se com o outro. Capacita para a escuta, a partilha, o respeito, a ajuda e a convivência.
 
A humanidade é convidada a compreender e a investir na força educativa da família, criando condições sociopolíticas, humanísticas e espirituais para que essa escola primeira seja qualificada e se mantenha como vetor para as grandes mudanças.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas. Fonte: Domtotal.com.br

quinta-feira, 14 de abril de 2016

A Igreja celebra neste domingo a Jornada Mundial de Oração pelas vocações

 Papa Francisco recordou na audiência geral que no próximo domingo será celebrada a Jornada Mundial de Oração pelas vocações. Portanto, exortou os fieis a pedirem a Cristo que envie sempre novos trabalhadores para o seu serviço.
Com o tema “A Igreja, mãe de vocações”, o Santo Padre diz que o dinamismo eclesial da vocação é um antídoto contra o veneno da indiferença e o individualismo.
Portanto, nessa mensagem, o Papa convida todos os fieis a assumir a responsabilidade no cuidado e no discernimento vocacional, especialmente os sacerdotes, porque o cuidado pastoral das vocações é uma parte fundamental do seu ministério pastoral.
Abaixo publicamos toda a mensagem do Papa Francisco:
***
Amados irmãos e irmãs!
Como gostaria que todos os baptizados pudessem, no decurso do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, experimentar a alegria de pertencer à Igreja! E pudessem redescobrir que a vocação cristã, bem como as vocações particulares, nascem no meio do povo de Deus e são dons da misericórdia divina! A Igreja é a casa da misericórdia e também a «terra» onde a vocação germina, cresce e dá fruto.
Por este motivo, dirijo-me a todos vós, por ocasião deste 53º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, convidando-vos a contemplar a comunidade apostólica e a dar graças pela função da comunidade no caminho vocacional de cada um. Na Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, recordei as palavras de São Beda, o Venerável, a propósito da vocação de São Mateus: «Miserando atque eligendo» (Misericordiae Vultus, 8). A acção misericordiosa do Senhor perdoa os nossos pecados e abre-nos a uma vida nova que se concretiza na chamada ao discipulado e à missão. Toda a vocação na Igreja tem a sua origem no olhar compassivo de Jesus. A conversão e a vocação são como que duas faces da mesma medalha, interdependentes continuamente em toda a vida do discípulo missionário.
O Beato Paulo VI, na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, descreveu os passos do processo da evangelização. Um deles é a adesão à comunidade cristã (cf. n. 23), da qual se recebeu o testemunho da fé e a proclamação explícita da misericórdia do Senhor. Esta incorporação comunitária compreende toda a riqueza da vida eclesial, particularmente os Sacramentos. A Igreja não é só um lugar onde se crê, mas também objecto da nossa fé; por isso, dizemos no Credo: «Creio na Igreja».
A chamada de Deus acontece através da mediação comunitária. Deus chama-nos a fazer parte da Igreja e, depois dum certo amadurecimento nela, dá-nos uma vocação específica. O caminho vocacional é feito juntamente com os irmãos e as irmãs que o Senhor nos dá: é uma con-vocação. O dinamismo eclesial da vocação é um antídoto contra a indiferença e o individualismo. Estabelece aquela comunhão onde a indiferença foi vencida pelo amor, porque exige que saiamos de nós mesmos, colocando a nossa existência ao serviço do desígnio de Deus e assumindo a situação histórica do seu povo santo.
Neste Dia dedicado à oração pelas vocações, desejo exortar todos os fiéis a assumirem as suas responsabilidades no cuidado e discernimento vocacionais. Quando os Apóstolos procuravam alguém para ocupar o lugar de Judas Iscariotes, São Pedro reuniu cento e vinte irmãos (cf. Act 1, 15); e, para a escolha dos sete diáconos, foi convocado o grupo dos discípulos (cf. Act 6, 2). São Paulo dá a Tito critérios específicos para a escolha dos presbíteros (cf. Tt 1, 5-9). Também hoje, a comunidade cristã não cessa de estar presente na germinação das vocações, na sua formação e na sua perseverança (cf. Exort. ap.Evangelii gaudium, 107).
A vocação nasce na Igreja. Desde o despertar duma vocação, é necessário um justo «sentido» de Igreja. Ninguém é chamado exclusivamente para uma determinada região, nem para um grupo ou movimento eclesial, mas para a Igreja e para o mundo. «Um sinal claro da autenticidade dum carisma é a sua eclesialidade, a sua capacidade de se integrar harmonicamente na vida do povo santo de Deus para o bem de todos» (Ibid., 130). Respondendo à chamada de Deus, o jovem vê alargar-se o próprio horizonte eclesial, pode considerar os múltiplos carismas e realizar assim um discernimento mais objectivo. Deste modo, a comunidade torna-se a casa e a família onde nasce a vocação. O candidato contempla, agradecido, esta mediação comunitária como elemento imprescindível para o seu futuro. Aprende a conhecer e a amar os irmãos e irmãs que percorrem caminhos diferentes do seu; e estes vínculos reforçam a comunhão em todos.
A vocação cresce na Igreja. Durante o processo de formação, os candidatos às diversas vocações precisam de conhecer cada vez melhor a comunidade eclesial, superando a visão limitada que todos temos inicialmente. Com tal finalidade, é oportuno fazer algumaexperiência apostólica juntamente com outros membros da comunidade, como, por exemplo, comunicar a mensagem cristã ao lado dum bom catequista; experimentar a evangelização nas periferias juntamente com uma comunidade religiosa; descobrir o tesouro da contemplação, partilhando a vida de clausura; conhecer melhor a missão ad gentes em contacto com os missionários; e, com os sacerdotes diocesanos, aprofundar a experiência da pastoral na paróquia e na diocese. Para aqueles que já estão em formação, a comunidade eclesial permanece sempre o espaço educativo fundamental, pelo qual se sente gratidão.
A vocação é sustentada pela Igreja. Depois do compromisso definitivo, o caminho vocacional na Igreja não termina, mas continua na disponibilidade para o serviço, na perseverança e na formação permanente. Quem consagrou a própria vida ao Senhor, está pronto a servir a Igreja onde esta tiver necessidade. A missão de Paulo e Barnabé é um exemplo desta disponibilidade eclesial. Enviados em missão pelo Espírito Santo e pela comunidade de Antioquia (cf. Act 13, 1-4), regressaram depois à mesma comunidade e narraram aquilo que o Senhor fizera por meio deles (cf. Act 14, 27). Os missionários são acompanhados e sustentados pela comunidade cristã, que permanece uma referência vital, como a pátria visível onde encontram segurança aqueles que realizam a peregrinação para a vida eterna.
Dentre os agentes pastorais, revestem-se de particular relevância os sacerdotes. Por meio do seu ministério, torna-se presente a palavra de Jesus que disse: «Eu sou a porta das ovelhas (…). Eu sou o bom pastor» (Jo 10, 7.11). O cuidado pastoral das vocações é uma parte fundamental do seu ministério. Os sacerdotes acompanham tanto aqueles que andam à procura da própria vocação, como os que já ofereceram a vida ao serviço de Deus e da comunidade.
Todos os fiéis são chamados a consciencializar-se do dinamismo eclesial da vocação, para que as comunidades de fé possam tornar-se, a exemplo da Virgem Maria, seio materno que acolhe o dom do Espírito Santo (cf. Lc 1, 35-38). A maternidade da Igreja exprime-se através da oração perseverante pelas vocações e da acção educativa e de acompanhamento daqueles que sentem a chamada de Deus. Fá-lo também mediante uma cuidadosa selecção dos candidatos ao ministério ordenado e à vida consagrada. Enfim, é mãe das vocações pelo contínuo apoio daqueles que consagraram a vida ao serviço dos outros.
Peçamos ao Senhor que conceda, a todas as pessoas que estão a realizar um caminho vocacional, uma profunda adesão à Igreja; e que o Espírito Santo reforce, nos Pastores e em todos os fiéis, a comunhão, o discernimento e a paternidade ou maternidade espiritual.
Pai de misericórdia, que destes o vosso Filho pela nossa salvação e sempre nos sustentais com os dons do vosso Espírito, concedei-nos comunidades cristãs vivas, fervorosas e felizes, que sejam fontes de vida fraterna e suscitem nos jovens o desejo de se consagrarem a Vós e à evangelização. Sustentai-as no seu compromisso de propor uma adequada catequese vocacional e caminhos de especial consagração. Dai sabedoria para o necessário discernimento vocacional, de modo que, em tudo, resplandeça a grandeza do vosso amor misericordioso. Maria, Mãe e educadora de Jesus, interceda por cada comunidade cristã, para que, tornada fecunda pelo Espírito Santo, seja fonte de vocações autênticas para o serviço do povo santo de Deus.
Cidade do Vaticano, 29 de Novembro – I Domingo do Advento – de 2015.
Fonte: Zenit.