segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Grace Kelly além da beleza

Roma acolhe exposição sobre a princesa de Mônaco

Por Elizabeth Lev

A nostalgia do verão que vem com os primeiros dias de frio do outono romano encontra eco em uma comovente exposição aberta em outubro passado.
"Os anos de Grace Kelly" estará disponível no Palácio Ruspoli até o dia 26 de fevereiro, oferecendo fotos, vídeos, trajes e outras lembranças da extraordinária vida da querida atriz norte-americana que se converteu em princesa europeia.
Grace Kelly nasceu em uma família católica irlandesa da Filadélfia no dia 12 de novembro de 1929. Seu pai, ex-atleta olímpico e famoso fabricante de ladrilhos, foi um importante membro do Partido Democrata, que ensinou a sua família os valores cristãos.
O certificado de batismo de Grace está marcado por fotos familiares que mostram crianças saudáveis e felizes, as quais gostavam de simples prazeres. Apesar de sua riqueza e de suas frequentes aparições nas páginas da sociedade, os Kelly viviam modestamente, sem ostentação.
De seus pais, Grace percebeu o sentido do trabalho duro e da dedicação, enquanto que seu tio, George Kelly, dramaturgo ganhador do Pulitzer, incentivou seu lado artístico. Seus desenhos, enquanto jovem, revelam o amor pela cor, pela luz e pela beleza, que a impulsionaria ao mundo do cinema.
Após realizar alguns papéis e ter trabalhado para a televisão, Grace foi catapultada para o estrelato. Tendo feito 11 filmes de 1951 a 1956, Grace Kelly comprimiu a carreira de uma vida inteira em poucos anos. Trabalhou com lendas do cinema como Clark Gable e Cary Grant, que continuaria sendo seu amigo por toda a vida.
Em 1954, aos 26 anos, ganhou um Oscar de melhor atriz por seu papel em The Country Girl. A exposição exibe seu Oscar, o vestido pastel e verde que usou na ocasião e os comentários indiretos sobre sua maquiagem e vestido feitos pela Academia junto ao anúncio da nomeação ao Oscar.
Mais chamativas que as lembranças de Hollywood são as cartas, telegramas de amor e apoio. Bing Crisby, co-protagonista no The Country Girl, escreve espontaneamente e a louva prevendo seu futuro. Família e amigos escreviam-lhe com sincera alegria. Grace aparece entre as páginas, amareladas pelo tempo, como alguém capaz de aperfeiçoar a amizade e o respeito verdadeiro.
Em 1955, durante o festival de Cannes, Grace fez uma foto no Palácio Real de Mônaco, onde havia se encontrado com o príncipe Rainier. Seu vestido de flores estampadas, na exposição, revive o dia do transcendental encontro de forma clara, tal como as imagens do vídeo.
No momento do encontro, Grace tinha um relacionamento com Oleg Cassini, um desenhista russo divorciado. Suas cartas de amor e propostas de casamento rodeiam uma longa carta de sua família, que descreve o desgosto de seus pais por seus planos de se casar com um homem "que já tem uma esposa". Grace, de acordo com sua fé e família, deixou de ver Cassini.
Mas quando uma porta é fechada, outra se abre. O príncipe Rainier foi passar as festas de Natal com a família Kelly na Filadélfia e a pediu em casamento. Grace deixou sua carreira e também sua pátria para se converter em princesa de Mônaco.
Os apaixonados telegramas e cartas do príncipe Rainier derramam-se como o arroz em uma boda em torno do espetacular vestido que Grace vestiu para se casar no dia 19 de abril de 1956.
Grace e seu príncipe tiveram três filhos. Carolina nasceu em 1957, Alberto em 1958 e Estefania em 1965. Os vídeos familiares de Grace demonstram seu papel como uma mãe amorosa e atenta.
A exposição, entretanto, vai ainda aos elaborados trajes que encomendou para seus sofisticados bailes e festas. Esta seção, intitulada “A rainha do efêmero” por Fedric Mitterand, francês organizador da exposição e ministro da cultura, causa deslumbre devido a grande seleção de vestidos e cartas da jet-set internacional.
Aqui, Grace aparece reduzida de novo a uma atriz que veste trajes para papéis menos importantes. De repente esta mulher de substância parece muito superficial. Mas entre as notas ficam os testemunhos que possuem uma firme defesa e amizade com a artista negra Josephine Baker e sua preocupação pela angustiada e reclusa Greta Garbo.
Vi a primeira montagem desta exposição em Monte Carlo há três anos, na qual havia muitas imagens do trabalho da princesa Grace Kelly como presidente da Cruz Vermelha de Mônaco. Não somente ganhou financiadores, como ofereceu voluntariamente seu tempo e seus esforços, visitando doentes e ajudando os refugiados. A exposição de Mônaco também destacava sua fundação de AMADE, criada a fim de proteger os direitos das crianças no mundo.
AMADE, nomeada assim para “que se sonhe como amor”, busca “criar, promover, coordenar e apoiar iniciativas que ajudem as crianças mais vulneráveis”.
Apesar das intimações de Alferd Hitchcock e outros para levá-la de volta à grande tela, a princesa Grace Kelly só voltou às câmeras um pouco antes de sua morte, para Family Theater, uma produtora fundada em 1947 por um velho amigo, padre da Santa Cruz, Patrik Peyton.
A princesa foi filmada rezando o terço na Basílica de São Pedro, um legado maior que suas fabulosas jóias exibidas na exposição. Infelizmente, este conteúdo não é nem sequer mencionado pelos organizadores, apesar do fato desta ter sido sua primeira aparição em um filme havia 25 anos.
As fotos do Príncipe e da Princesa de Mônaco com o Papa estão juntas às imagens da visita aos Kennedy. Contudo, a exposição ignora a conexão católica entre Mônaco e a Santa Sé, que têm mantido relações diplomáticas desde 1861.
Nem conta tampouco como em 1954, no centenário de Imaculada Conceição, o príncipe Rainier fez uma peregrinação a Lourdes para pedir a Maria uma esposa adequada. Vários anos depois, a princesa Grace Kelly revelou que seu nome de nascimento é Bernadette, a criança francesa a quem apareceu a Virgem em Londres. No dia 25, aniversário da peregrinação do príncipe, a princesa Grace também visitou Lourdes para agradecer.
Grace morreu em um acidente de carro no dia 14 de setembro de 1982 e foi enterrada na catedral de São Nicolau, em Monte Carlo (também dedicada à Imaculada Conceição), a mesma Igreja que a recebeu para o “Casamento do Século”, 26 anos antes. A exposição evoca uma triste nostalgia, não de uma glamurosa rainha de um conto de um conto de fadas moderno, mas de um tempo em que os líderes recordavam que noblesse oblige e que a vida de uma pessoa pesava mais que chiffon e jóias.
(Elizabeth Lev ensina arte e arquitetura cristã no campus italiano da Duquesne University e no programa de estudos da Universidade Católica de São Tomás)

Fonte: Zenit.

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