segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ateu defende a religião

Assinala dívida da civilização com as religiões

Por Pe. John Flynn

De acordo com o ateu Richard Wawkins, a Igreja Católica é, no mundo, uma das maiores forças do mal. Esta é apenas a mais recente das muitas observações feitas por ele contra a religião e contra Deus.
Seus comentários foram publicados no dia 23 de outubro, na seção de religião do site ‘Washington Post’, quando foi convidado para comentar a entrada de anglicanos na Igreja Católica.
A polêmica sobre a religião, devido à enxurrada de livros publicados sobre o assunto e diversos comentários feitos nos últimos anos, continua a fluir livremente. Um recente debate em Londres, intitulado "A Igreja Católica é uma força para o bem no mundo", atraiu mais de 2.000 pessoas, de acordo com o relato de Catholic Herald, no dia 23 de outubro.
Stephen Fry e Christopher Hitchens, que apontavam o lado negativo da Igreja, tiveram uma significativa vitória sobre seus adversários, Ann Widdecombe, um parlamentar do partido conservador e, Dom Onaiyekan, arcebispo de Abuja, na Nigéria. O resultado foi 1.876 votos contra 268.
Outro exemplo recente foi evidenciado em uma coluna australiana, onde Catherine DeVeny põe Deus no divã da psiquiatria e proclama: "Deus tem transtorno de personalidade narcisista".
No dia 2 de setembro, em artigo publicado pelo jornal The Age, DeVeny afirmou que Deus sofre de "sentimentos de grandiosidade", de uma obsessão "com fantasias de sucesso", junto a uma falta de empatia, que faz "se comportar de forma arrogante".
A ofensiva dos ateus deu origem a inúmeros livros a favor de Deus e da religião organizada. Uma reviravolta interessante no debate vem de um livro recém-publicado por alguém que não acredita em Deus, mas ainda assim defende a religião.
Sob uma ótica positiva
Na obra An Atheist Defends Religion: Why Humanity is Better Off with Religion Than Without It, (Um Ateu Defende a Religião: Por que a humanidade está em melhor situação com a religião do que sem ela - Alpha Books), Bruce Sheiman oferece uma nova perspectiva para a competição entre os crentes e ateus.
A "questão de Deus" não pode ser resolvida a contento das partes em conflito, afirma o autor. Sheiman chama a considerar o valor da própria religião. Ele não procura provar que Deus existe, mas defende a religião como uma instituição cultural.
Sheiman explica que, apesar de não ser uma pessoa de fé, não "pretende repudiar a Deus". Ele se descreve como um “aspirante a ateu", porque "a religião oferece uma combinação de benefícios psicológicos, emocionais, morais, comuns, existenciais, físicos e até mesmo à saúde que nenhuma outra instituição pode replicar."
Explica em sua introdução ao livro que a melhor maneira de julgar o caso de forma convincente para o ateísmo não é por argumentos que tentam como intuito provar a existência de Deus e sim demonstrar a contribuição duradoura da religião.
"A religião também pode trazer malefícios, mas as ações benéficas realizadas diariamente por bilhões de pessoas é a verdadeira história da religião, que acompanha o crescimento e a prosperidade da humanidade", conta Sheiman.
Um dos benefícios da religião é dar sentido à vida. De acordo com Sheiman, estamos conscientes de que vivemos em um mundo de grande poder e potencialidade, mas, em contraste com os animais que só vivem em uma relação utilitarista com o mundo, os seres humanos estão conscientes de que este mundo existe fora de nós mesmos.
O autor, em seguida, relata alguns exemplos de sociedades primitivas que procuravam dar sentido a suas vidas por meio da religião. Os mitos e rituais dos povos ajudaram a conectar a realidade mortal com o ‘eterno e espiritual’.
A ciência moderna, em muitos casos, exclui a religião a fim de explicar o mundo e o universo. Contudo, Sheiman aponta que nós podemos aceitar o que a ciência diz sobre o funcionamento do universo, porém, as constatações não implicam em nossas vidas.
Em outras palavras, a forma com que o mundo funciona não é a mesma que explica o porquê o mundo funciona.
Natureza Moral
Outra característica da região é no âmbito moral. É claro que as pessoas podem ter moral sem possuir religião. De acordo com o autor, entretanto, também é evidente é que a religião torna as pessoas boas. Na verdade, afirma Sheiman, os seres humanos apresentam um comportamento ético que vai muito além do poder explicativo.
Sheiman cita uma pesquisa que demonstra a forma com que a atividade religiosa está associada a uma maior interação social. Assim como a religião edifica a comunidade no âmbito moral.
Ele analisa esta questão entendendo que a ação moral é o caminho para a união com Deus e que temos uma espécie de contrato moral, praticando o ‘bem maior’.
A crença na bondade é intrínseca à todas as religiões, explica Sheiman. Os ateus muitas vezes não compreendem a moral religiosa, ele argumenta. Não é uma simples recompensa ou sistema de punição. "O mais cínico vê na religião uma obediência cega à autoridade moral e um sistema de controle opressivo comportamental", comentou.
Enquanto alguns adeptos religiosos exibem uma orientação autoritária, isso também pode ocorrer com muitas pessoas não-religiosas, conclui Sheiman. Para muitas pessoas, Deus é visto como um pai amoroso e dono de superioridade moral à qual os seres humanos aspiram, destacou.
Uma contribuição da religião para a sociedade é a noção cristã de que os seres humanos são feitos à imagem de Deus, explica Sheiman. Desde que os seres humanos estão destinados a compartilhar da natureza divina devem ser respeitados como filhos de Deus.
Tal visão leva a inúmeros atos de sacrifício e compaixão a cada dia, comenta. Fatos e estudos sociológicos demonstram que as pessoas religiosas têm mais carinho, compaixão e dão mais dinheiro para a caridade do que as não-religiosas. Esta prática não está restrita a uma religião em particular, ressalta o autor.
A religião também fornece uma base sólida para o comportamento moral através de uma adesão a valores absolutos. Em contrapartida, observa Sheiman, sem religião as pessoas podem ter moral. Contudo, os preceitos morais são feitos por um homem falível e não substancial, pois envolve opiniões pessoais ou mesmo interesse pessoal.
Isso leva a crer que nossas mentes acreditam em uma verdade relativa. Como humanos nós assinalamos que o imperativo moral não depende de Deus, então ele não é absoluto e permanece relativo.
A ciência por si só não pode levar a uma cultura moral, ele continua. "O certo e o errado não são explicados pela física ou biologia", afirma.
"A religião torna-se assim a mais importante fonte cultural e institucional dos princípios éticos, precisamente porque ela é considerada acima do capricho humano", acrescenta.
Progresso
Em outro capítulo do livro, Sheiman relata como a religião esteve detrás do progresso do mundo ocidental, nos caminhos da democracia, liberdade, ciência e tecnologia.
Ao longo do tempo, temos crescido como civilização em grande parte devido à religião, argumenta. Isto nos leva a concluir que a religião global teve um impacto positivo, conclui.
Seria possível imaginar a alternativa de uma trajetória de progresso sem religião. Mas isso seria inacreditável, de acordo com Sheiman. Os historiadores não podem identificar qualquer outra força cultural tão robusta como a que a religião poderia ter realizado ao longo de civilização.
Sheiman também critica a leitura seletiva da história, realizada por parte de alguns ateus, que é demasiadamente eficiente para atribuir os aspectos negativos da história religiosa, embora raramente admita a dívida da civilização com a religião.
Um crente poderia muito bem responder a Sheiman que sua fé em Deus não depende de algum tipo de lucro, perda de credibilidade na história ou de sua vida pessoal. No entanto, numa altura em que muitos ateus denigrem as Igrejas e a fé, dizendo que estas são totalmente irracionais e negativas, o livro de Sheiman serve como um antídoto útil para este ataque tão superficial e sem nexo à crença.

Fonte: Zenit.

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