quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Brasil: para se falar em país da esperança, primeiro é necessária reforma moral

Arcebispo primaz considera que o tempo presente do país “continua sombrio”

O arcebispo de Salvador, cardeal Geraldo Majella Agnelo, considera que para se olhar para o Brasil como “o país da esperança”, como se falava “nas décadas passadas”, antes é preciso que haja uma reforma moral.
Quando se usava a expressão “país da esperança”, apontava-se a população jovem, que na maioria tinha menos de 25 anos, o potencial de crescimento e dos recursos naturais.
Mas faltavam –explica Dom Geraldo em artigo enviado a ZENIT ontem– “conhecimentos técnicos e maturidade democrática para melhorar os Índices de Desenvolvimento Humano que continuavam teimosamente baixos e para conseguir patamares mais justos de distribuição da renda e dos benefícios da sociedade moderna, que continuavam reservados a poucos”.
“Nestes últimos anos, acenderam-se novas esperanças de que o futuro estava mais próximo e, finalmente, seríamos o país do presente, da realização das esperanças.”
“A descoberta do pré-sal, a perspectiva de realizar as Olimpíadas no Rio de Janeiro, a simpatia internacional pelo Brasil, entre outras coisas, simbolizam essa aproximação do futuro esperado”, afirma o arcebispo.
Mas a “dura realidade parece interromper os embalos desse sonho acalentado”.
Dom Geraldo assinala a problemática do crime organizado, da violência, do sistema de educação pública que “não é capaz de dar aos adolescentes pobres a esperança de vida digna e de acesso ao mercado de trabalho, deixando-os no estágio de semi-alfabetizados”.
“O sistema da saúde investe em práticas supostamente modernas de atendimento, mas é sufocado pelo retorno de endemias que deveriam estar erradicadas há tempo, além de outros aspectos igualmente graves”, afirma o cardeal Agnelo.
Esses problemas –considera o arcebispo– “não passariam de desafios facilmente superáveis se a classe dirigente tivesse uma consciência à altura”.
Mas os parâmetros que orientam a conduta dos que têm maiores responsabilidades sociais parecem ser “o dinheiro, a luxúria e o poder”.
“Nota-se grave defasagem entre os desafios e a maturidade da consciência de homens e mulheres que devem enfrentá-los. Emerge um déficit de responsabilidade, a incapacidade a responder à nação.”
Trata-se –considera o cardeal Agnelo– de um contexto que “obriga o Brasil a adiar para o futuro a realização do sonho de um desenvolvimento integral, sustentável, capaz de incluir as faixas pobres da população à vida digna pelo trabalho”. O presente “continua sombrio”, enfatiza.
“É necessária uma reforma moral que atinja cada pessoa, em todos os níveis da responsabilidade social. Para isso, as devoções modernas devem ser deixadas de lado, para que cada um possa reencontrar a fonte do bem, a nascente da dignidade, a origem do ideal em Jesus Cristo e no seu Evangelho.”
A “verdadeira responsabilidade” –indica o cardeal– “começa quando a pessoa, reconhecendo esta nascente de dignidade e de paz, de justiça e de bem diz: Tu. Tu, Senhor. Eu Te respondo. Com minhas ações, com meus planos e projetos, eu Te respondo”.

(Alexandre Ribeiro)

Fonte: Zenit.

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