quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Cardeal equatoriano: vermelho de nossa batina recorda o amor

Dom Raúl Eduardo Vela Chiriboga encontrava-se em retiro espiritual, após ter renunciado à arquidiocese de Quito por limite de idade, quando soube que Bento XVI o havia convocado para integrar o Colégio Cardinalício.
“Temos de estar dispostos a dar a vida pelo bem da Igreja”, disse o cardeal de 76 nesta entrevista que concedeu a ZENIT.

Sua primeira missão episcopal foi como bispo auxiliar de Guayaquil. Como foi?

Cardeal Vela: Quando fui nomeado bispo pelo Papa Paulo VI, em 1972, havia 4 anos trabalhava como secretário da Conferência Episcopal Equatoriana, e segui exercendo ambas funções, tarefas compatíveis, mas um pouco pesadas. Agradeço ao Senhor por ter tido como mestre pastoral e espiritual o cardeal Bernanrdino Echavarría (1912 - 2000), um bispo de longa trajetória pastoral, que foi o segundo arcebispo de Guayaquil. Sobretudo no serviço aos mais necessitados e no espírito de oração que sabia transmitir a todos seus colaboradores.

Depois o senhor foi bispo de Azogues...

Cardeal Vela: Ali estive durante 14 anos. Era uma diocese pobre e nova, eu era o segundo bispo. Havia muitos irmão indígenas. Pude trabalhar no aspecto espiritual, que é o fundamental para minha tarefa, mas também no aspecto promocional e social.

Por que disse que era necessário purificar a religiosidade popular nessa diocese?

Cardeal Vela: Porque às vezes, a religiosidade popular, se não a purificamos, vai assumindo certas coisinhas que não são nem doutrinal, nem pastoral, nem dogmaticamente de acordo com a fé de nossos antepassados. Então vem certa confusão, certo dualismo, que se gostaria de introduzir, que não tem nada a ver com um sadio e reto sentido religioso, que se põe em relação com Deus.

Em seguida o senhor passou a arcebispo castrense...

Cardeal Vela: Uma experiência também maravilhosa durante 14 anos. Às vezes, as pessoas podem perguntar: por que um bispo em meio aos militares, que teoricamente são pessoas treinadas para matar, para resguardar a ordem à base da violência, talvez com o uso das armas? Creio que passou com eles uma grata experiência. Muito aprendi deles do sentido de honestidade, de retidão, de serviço aos demais. Sobretudo me interessou o campo da família do militar, porque é um dos grandes perigos que tem, porque nem sempre estão comprometidos a viver juntos, dado o traslado de um lugar para outro. Também foi um campo muito bom para o cultivo das relações humanas, buscando a dignidade de todos, desde os mais altos militares até os soldados mais simples.

E a experiência como arcebispo de Quito?

Cardeal Vela: Não foi fácil. Eu dizia ao Senhor: “confio em ti”. Era uma diocese grande, complexa. Tive o apoio dos bispos auxiliares, da Santa Sé, de meus sacerdotes e minhas comunidades, sobretudo no aspecto da oração.

A vida política do Equador não é tão simples. Três golpes de estado entre 1997 e 2005. Como o senhor viveu esses momentos, primeiro como arcebispo castrense e depois como primaz do Equador?

Cardeal Vela: Pude descobrir quão complexa é a vida política! Uma pessoa que vai dirigir uma nação deve ser um estadista sereno, tranquilo, porque os assuntos se apresentam tão de repente e tão seguidos durante o dia que podem assustar qualquer um.
Há que saber conviver e combinar os desejos de um povo que estão referidos só ao bem comum. Mas quando o bem comum se deixa de lado, começa o conflito, surgem as diferenças, as discrepâncias e a divisão dentro do povo. Isso é muito doloroso.
Na América Latina estamos muito atentos para lutar por todos os meios para dialogar. Não podemos viver só da briga diária. O diálogo é uma arte. Não podemos pensar que minha ideia tem de vigorar de todos os modos. Quando vamos ao diálogo, devemos procurar ir desarmados.

Como cardeal, ao que vai se dedicar agora?

Cardeal Vela: Vamos ver o que diz o Santo Padre. Formo parte do Colégio Cardinalício, que como bem o diz o Código de Direito Canônico, somos os escolhidos pelo Santo Padre para o conselho, a ajuda, a visão da problemática em âmbito universal. Espero que o Senhor me inspire e dê graças. É ali quando alguém se sente pequeno e um pouco necessitado da luz para a palavra oportuna, a discrição necessária e sobretudo o testemunho. Como sabe, agora na batina levaremos a cor vermelha. Recorda-nos o sangue, também o amor.

Fonte: Zenit. - (Carmen Elena Villa)

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