terça-feira, 1 de junho de 2010

Transumanismo e Igreja

Para alguns, o termo "transumanismo" não significa nada. Porém, ele está se estendendo, pelo menos nos Estados Unidos.
Alguns filmes inspirados por essa filosofia são: Matrix, AI - Inteligência Artificial; Homem-de-Ferro; e Blade Runner, filmes de sucesso que não podem não ter deixado uma marca nas consciências.
Fala sobre isso o professor Robert Gahl, norte-americano de Wisconsin, engenheiro, filósofo e teólogo, que leciona Ética fundamental na Pontifícia Universidade da Santa Cruz de Roma.
- O que é o transumanismo?
Gahl: A palavra significa algo diferente ou além do humano. E este é um conceito anticristão.
Não pode existir o outro-humano na história. O homem não pode se transformar em outro. Porque o ponto de referência estável no tempo é Jesus, homem perfeito, ontem, hoje e amanhã.
- Por que pensa que é impossível chegar um dia a algo que supere o homem, a uma imortalidade material, no sentido de viver na história para sempre?
Gahl: Não se pode abandonar o conceito de humanidade e pensar em algo diferente. Por nossa natureza, somos autotransformáveis, enquanto seres espirituais, à imagem de Deus, potencializados pela razão.
Enquanto isso, a natureza humana permanece igual; é a evolução biológica, não a transformação da espécie.
As mudanças são acidentais, não substanciais. Podemos modificar a nós mesmos, o contexto social, adquirir habilidades novas, como ir de bicicleta. Mas continuamos sendo homens.
Utilizamos novos instrumentos, novas linguagens, alteramos a constituição genética (mesmo sem intenção).
- Refere-se às eugenias?
Gahl: A eugenia é negativa porque prevê a eliminação do ser humano (o homicídio dos incapacitados física ou mentalmente).
- A tecnologia pode ser, então, positiva ou negativa de acordo com a finalidade?
Gahl: Adquirimos aspectos novos de consciência, tecnologias novas, para melhorar os seres humanos. E estas novidades são bem ou mal utilizadas.
- Quando são bem usadas?
Gahl: Quando as regras morais de respeito são aplicadas à pessoa, que é livre e deve ser amada por si mesma. E, portanto, não deve ser instrumentalizada para outros fins.
- E mal?
Gahl: Exatamente quando se explora as pessoas, as usa para outros fins. Se por outro lado a ajuda, é para seu bem.
- Um exemplo de transumanismo?
Gahl: Os replicantes de Blade Runner são transumanos, superam a humanidade, têm benefícios, porém são os escravos que se rebelam posteriormente...
E o filme pergunta: o que é o ser humano? A resposta do filme é positiva: é o homem capaz amar, de ter liberdade e de respeitar aos outros.
- Qual é o bem do progresso científico?
Gahl: É quando se trata alguém como se fosse um fim em si mesmo. Se eliminam ou exploram ou manipulam as pessoas (abortos, homicídios, instrumentações para as experiências), o progresso é ruim. Se serve para ajudam, é positivo.
- Alguns negam e exemplo positivo do transumanismo?
Gahl: Hoje está na moda o neuro enhancement, um tipo de desenvolvimento para aumentar a função neural, o cérebro.
- É negativo potencializar o cérebro?
Gahl: É positivo em alguns campos da medicina, por exemplo, para estimular o nervo ótico. Mas se é usado para manipular a pessoa, vai contra a moral.
Por exemplo, as máquinas criadas para provocar sensações sexuais pervertidas, fora da relação do amor, provocam desordens, com uma redução narcisista.
- Qual é a sua postura?
Gahl: Não é certo obrigar as pessoas a fazerem experiências em si mesmas. O transumanismo tem riscos.
É necessário respeitar a liberdade. O critério fundamental é respeitar e querer. A pessoa é fim em si mesmo e não instrumento para o outro.
- Outro setor do transumanismo é o cyborg e a robótica. O que pensa disto?
Gahl: Bom é o cyborg que salva a vida como os marca-passos para o coração. Ou os robôs que evitam fazer coisas repetitivas e liberam o homem para atividades mais criativas.
Mas o robô - estão fazendo isto no Japão - especializado celebrar casamentos ou a receber clientes em um hotel elimina a relação e cria um mundo virtual no qual o homem se relaciona com máquinas, ao invés de outras pessoas.
- Qual é a postura da Igreja?
Gahl: A Igreja impulsiona o progresso científico, pelas descobertas dirigidas a beneficiar o homem, melhorá-lo, potencializá-lo.
Mas é contrária à manipulação do homem, aos experimentos com o homem, porque vão contra a liberdade e a dignidade.
- Outro aspecto do transumanismo é a busca da imortalidade?
Gahl: Os transumanistas anticristãos materialistas - principalmente norte-americanos e ingleses - buscam a imortalidade na terra, prolongar a vida para sempre.
A esperança materialista é a de viver para sempre. Mas não é uma vida melhor, com uma visão beatífica de Deus.
- Qual é a resposta de Papa?
Gahl: É necessário recuperar a aspiração aos céus, em vez de prolongar a vida para sempre. Ele disse isto aos luteranos em Kirchentag, na Jornada Ecumênica das Igrejas na Alemanha.
O que o homem deseja mais profundamente é a amizade, a felicidade, o amor. Não sozinho, mas com o outro. Isso depende do dom. Há, portanto, necessidade de um Salvador. Somente com o Salvador você pode alcançar aos céus.
- O mito da juventude eterna não morreu?
Gahl: Já existiu na antiguidade. A fonte da juventude eterna é uma espécie de transumanismo velho.
- Qual é sua mensagem de felicidade, para transumanistas e outros?
Gahl: A família ocupa o primeiro lugar contra qualquer intenção de manipular o nascimento das crianças (eugenias) para melhorar a espécie humana.
É uma violação à liberdade de amor entre os pais. O afeto experimentado na família - que é amor incondicional - antecipa a felicidade do céu: aí está onde encontramos a felicidade, através da vida vivida pelos demais.


Fonte: Zenit.

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