quinta-feira, 17 de junho de 2010

É preciso encontrar formas novas de intervenção da Igreja na sociedade

O Cardeal-Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, considera que, frente à atual realidade da sociedade portuguesa, “é preciso encontrar formas novas de intervenção da Igreja na sociedade”.
O cardeal falou hoje, em Fátima, nas Jornadas Pastorais da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), que discutem até esta quinta-feira o tema «Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal».
Dom José assinalou que a Igreja “faz parte integrante do todo da sociedade e dada a qualidade da sua mensagem e o número dos seus membros, não pode deixar de procurar formas sempre novas para contribuir para o bem da comunidade humana em que está integrada”.
“Estamos a cair na situação anacrónica que qualquer intervenção da Igreja, de modo particular da hierarquia, em dimensões fundamentais como o são uma sã antropologia ou a defesa de valores éticos é facilmente julgada como intervenção na esfera do estritamente político, esquecendo que o domínio político é todo o interesse pelo bem da polis’.”
Segundo o cardeal, é preciso “valorizar a Igreja como o conjunto dos fiéis, a comunidade crente, e não a identificar só com a hierarquia. Esta, por decisão própria e em defesa do carácter específico do seu ministério, abstém-se habitualmente de se imiscuir no âmbito do estritamente político”.
“Mas os cristãos leigos não são a isso obrigados e devem ser porta-vozes, no seio da sociedade, dos autênticos valores cristãos. Aliás, pressinto que virá dos leigos a energia para esta renovação da intervenção da Igreja na sociedade”, afirmou.
O Patriarca de Lisboa considera que a intervenção profética da Igreja “tem de privilegiar a proclamação de uma correta antropologia, levando à descoberta do mistério do homem, de que decorre a defesa ética dos princípios da convivência humana, em ordem à construção duma sociedade fraterna”.
Dom José Policarpo citou o Papa, que no diálogo com os jornalistas durante o voo para Portugal, a 11 de maio de 2010, explicou que a sã antropologia tem de integrar a dimensão transcendente da vida humana; “integrar a fé e a racionalidade moderna numa única visão antropológica, que completa o ser humano e torna, desse modo, comunicáveis as culturas humanas”.
“Só desta compreensão do homem e da sua transcendência brota uma ética da convivência para a construção da sociedade. A exigência ética envolve toda a existência humana, pessoal e comunitária, a vida e o amor, o trabalho e a economia”, destacou o cardeal.
Leigos
O cardeal Policarpo aposta num “esforço acrescido de formação do laicado”, para aprofundar o “conhecimento do mistério e da dignidade do homem”.
A doutrina social da Igreja “continua a ser a grande desconhecida”, lamenta. Mas só o aprofundamento cultural “formará a consciência dos cristãos sobre todas as dimensões da vida humana, pessoal e comunitariamente considerada”.
“É impressionante verificar a pouca importância que a dimensão ética tem nas escolhas políticas. E no entanto, em democracia participativa, o voto deveria ser sempre a escolha de uma consciência bem formada e esclarecida”, afirma.
Segundo Dom José Policarpo, a Igreja “deve lutar por isso, o que não significa o imiscuir-se no estritamente político. Esse esforço de formação será uma luta pela liberdade”.

(Alexandre Ribeiro)

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