quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Papa recorda que própria inteligência não basta para fazer teologia

Propõe como modelo Santo Anselmo, “doutor magnífico” da Igreja

Por Inma Álvarez

Bento XVI afirmou nesta quarta-feira, durante a audiência geral na Sala Paulo VI, que um verdadeiro teólogo “não pode contar somente com sua inteligência, mas deve cultivar ao mesmo tempo uma profunda experiência de fé”.
O Papa dedicou sua catequese à figura de um dos maiores pensadores medievais, Santo Anselmo de Cantuária (ou de Aosta), fundador da teologia escolástica, que passou à história como “doutor magnífico” na tradição cristã.
Santo Anselmo, nascido em 1033 em Aosta, em plenos Alpes italianos, comentou o Papa, “cultivou um intenso desejo de aprofundar nos mistérios divinos, na plena consciência, no entanto, de que o caminho da busca de Deus nunca termina, pelo menos nesta terra”.
“Ele afirma claramente que quem pretende fazer teologia não pode contar somente com sua inteligência, mas deve cultivar ao mesmo tempo uma profunda experiência de fé”, explicou.
O Papa recordou os três estádios da teologia propostos por Santo Anselmo, que continuam sendo plenamente válidos hoje “para uma pesquisa teológica sadia e para quem quiser aprofundar nas verdades da fé”.
Estes são: “a fé, dom gratuito de Deus que é preciso acolher com humildade; a experiência, que consiste na encarnação da Palavra de Deus na própria existência cotidiana; e, por último, o verdadeiro conhecimento, que nunca é fruto de raciocínios frios, mas de uma intuição contemplativa”.
Citou as próprias palavras do santo a respeito disso: “Não pretendo, Senhor, penetrar em vossas profundezas, porque não posso sequer desde longe confrontar com elas meu intelecto; mas desejo entender, ao menos até certo ponto, vossa verdade, em que meu coração crê e ama. Não procuro entender para crer, mas creio para entender”.
O Papa desejou que o “amor pela verdade e a sede constante de Deus, que marcaram toda a existência de Santo Anselmo, sejam um estímulo para todo cristão para buscar, sem cessar jamais, uma união cada vez mais íntima com Cristo”
Bispo valente
O pontífice destacou também a valentia de Anselmo, que, como arcebispo de Cantuária, teve de enfrentar Guilherme, o Vermelho, e Henrique I da Inglaterra para defender a liberdade da Igreja, apesar de que isso tenha lhe custado o desterro.
Neste sentido, animou os bispos, consagrados e leigos, a que tenham como guia o “zelo repleto de valentia que distinguiu sua ação pastoral e que lhe causou então incompreensões, amargura e, finalmente, o exílio”.
“Que seja um estímulo para todos os fiéis a amar a Igreja de Cristo, a rezar, a trabalhar e a sofrer por ela, sem abandoná-la nem traí-la jamais”, desejou Bento XVI.
Destacou também sua faceta de educador, especialmente dos jovens, a quem preferia persuadir ao invés de impor sua autoridade.
Anselmo foi um “monge de intensa vida espiritual, excelente educador de jovens, teólogo com uma extraordinária capacidade especulativa, sábio homem de governo e intransigente defensor da libertas Ecclesiae – da liberdade da Igreja.”
“É uma das personalidades eminentes da Idade Média, que soube harmonizar todas estas qualidades graças a uma profunda experiência mística que guiou sempre seu pensamento e sua ação”, acrescentou.
Santo Anselmo
O santo doutor da Igreja, conhecido como Anselmo de Aosta, de Bec ou de Cantuária, foi educado pelos beneditinos, ordem à qual quis pertencer desde os 15 anos, mas nesse então foi impedido pelo pai.
Após uma juventude dissipada, entrou no mosteiro de Bec (França), atraído pela sabedoria do seu abade, Lanfranco de Pavia, a quem substituiu três anos depois. Lá se dedicou fundamentalmente a lecionar na escola claustral.
De lá, a pedido de Lanfranco, que havia sido nomeado arcebispo de Cantuária, passou à Inglaterra, onde se dedicou também a lecionar. Quando Lanfranco morreu, Anselmo foi eleito como novo arcebispo, em 1093.
Desde esse momento, teve de enfrentar uma forte luta com os reis ingleses, Guilherme, o Vermelho (ou o Conquistador), e Henrique I, pela questão das investiduras e a custódia dos bens da Igreja. Esta atitude lhe custou um exílio de três anos, até que a situação se resolvesse. De volta a Cantuária em 1106, dedicou seus últimos anos à tarefa teológica, até sua morte, no dia 21 de abril de 1109.

Fonte: Zenit.

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