terça-feira, 8 de setembro de 2009

Estado é laico, mas sociedade é marcadamente religiosa, lembra arcebispo

Dom Walmor Oliveira de Azevedo destaca autenticidade do cristianismo

O arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, considera que a laicidade do Estado "não pode permitir que um tratamento discriminatório ou indiferente venha por parte dele, em se considerando especialmente seu dever de cuidar das necessidades básicas de sua sociedade"."Seria uma temeridade banir religiões e igrejas dos cenários de uma sociedade", afirma, em artigo enviado a Zenit na sexta-feira.
O arcebispo assinala que é necessário que a sociedade discuta "questões que dizem respeito à importância e necessidade incontestável da religiosidade na vida de seu povo".
"Não é, portanto, só o PIB, o pré-sal, a destinação dos seus sonhados resultados financeiros, a sucessão presidencial ou o superávit primário que têm importância e garantem uma sociedade modernizada e desenvolvida."
Dom Walmor enfatiza que "o que a sua população e instituições podem e sabem discutir e refletir tem força determinante sobre seu destino e desdobramentos na sua história".
"Não se pode brincar com vivência religiosa, mesmo descontando o natural e insubstituível respeito às liberdades individuais. E menos ainda entender e fazer do afazer religioso um negócio ou exploração mercadológica."
"Nesta importante discussão de interesse para a sociedade é preciso focar as raízes, motivações e história das práticas religiosas. Não basta simplesmente fazer uma lei geral, considerada por muitos como um risco de liberação geral, para acalmar e acomodar fúrias religiosas ou garantir conivências políticas."
O arcebispo afirma que "não se pode correr o risco de garantir direitos de inventar uma religião e suas práticas a qualquer um. Do contrário, valerá o que cada um simplesmente disser, como se diz, tirando de ‘detrás da orelha', e proclamando como verdade e como dogma o que anuncia".
Então ele explica que "o cristianismo na sua autenticidade, enraizado na tradição judaica, se afirma pelo primado da palavra - que não é anunciado por qualquer pessoa. É o primado da Palavra de Deus. A Palavra de Deus que é Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós".
"Este primado da Palavra exige dos discípulos de Jesus Cristo uma escuta cotidiana desta Palavra. Sem manipulações arriscadas que a enjaula numa panacéia milagreira, reduzindo a exigência de uma experiência de fé, obediência e confiança para transformar a vida, em expectativas de receber simplesmente o que se precisa, como se Deus fosse prateleira de supermercado na qual se apanha, gratuitamente, o que se quer."
Dom Walmor afirma que o primado da Palavra de Deus "tem no episódio contado por São João no capítulo seis do seu Evangelho, depois da multiplicação dos pães, a direção certa, quando muitos entenderam como duro demais o que Jesus estava dizendo, e o abandonaram".
"Perguntados os discípulos se queriam ir embora também, Pedro respondeu: ‘A quem iremos nós, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna'. O primado da Palavra de Deus é fonte inesgotável de qualificação de toda palavra que se pronuncia, de todo juízo e de toda edificação. Palavra é vida e compromisso. O primado da Palavra de Deus é exigência de escuta permanente para qualificar o que se diz, e com o que se diz edificar."

Fonte: Zenit.

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