quarta-feira, 13 de abril de 2011

Reconhecer incompetência pessoal é começar a aprender

Nesta entrevista, o professor Gabriel Ginebra, doutor em administração de empresas, fala da sua obra "Gestión de Incompetentes: un enfoque innovador de la gestión de personas", http://www.librosdecabecera.com/gestion-de-incompetentes, um livro que está causando impacto nos ambientes do management.

O reconhecimento da incompetência, a sua própria e a dos outros, é o princípio da aprendizagem, segundo o seu livro. É verdade?

Gabriel Ginebra: É o princípio socrático da sabedoria do "Só sei que nada sei", e a cada dia verificamos o oposto em empresários, intelectuais e políticos que, cegados por suas realizações, recusam-se a admitir erros e a aprender. O atual ambiente de crise tem deixado muito exposto, mas muitos ainda têm de cair do cavalo.

Por outro lado, só cooperaremos plenamente e criaremos equipe se estivermos convencidos - e é muito difícil - de que os nossos colegas são superiores em muitos aspectos. Este é o fundamento ontológico de toda a organização, como disse Chester Barnard, há quase um século. Em um mundo de hipercompetentes, todos sabem tudo e ninguém precisa de ninguém, um mundo de deuses, mas solitários. E não estou me referindo às lendas gregas, mas a reinos e lendas que habitam as nossas instituições políticas, midiáticas e empresariais.

Então eu sou incompetente, você é incompetente... Onde vamos parar assim?

Gabriel Ginebra: Seria bom chegar a empresas povoadas por pessoas comuns, onde os talentos são descobertos entre as pessoas de todo estilo de vida, se pode ser um profeta na própria terra. Onde chamar-se "Pereira" ou "da Silva" dê prestígio: é com esses bois que vamos arar. É preciso pensar em mudar as pessoas antes de pensar em mudar de pessoas. Como digo no livro, somos mais incompetentes do que imaginamos, mas temos mais potencial do que acreditamos.

O discurso da excelência leva, no entanto, à exclusão do empregado que comete um erro, condenando-nos a um constante recomeçar com inexperientes. Há uma cultura do medo, em que a simples chamada de atenção do chefe nos põe em guarda, como uma bola de neve de verdades maquiadas que se convertem em processos empresariais mentirosos. Na supervisão de segurança das usinas nucleares de Fukushima, foram falsificados 200 relatórios. Consideravam-se invulneráveis.

Seu conselho é: coloque uma criança em seu escritório. O que poderíamos melhorar ao seguir a sua sugestão?

Gabriel Ginebra: As crianças são completamente encantadoras, mas também são perfeitamente incompetentes. Sua simples presença impõe o valor absoluto de uma pessoa e destaca o papel relativo da atividade econômica. Paciência, entusiasmo, expressividade, originalidade, aprendizagem, bom humor são alguns dos valores que irradia uma criança pequena.

As crianças deveriam estar mais presentes nos escritórios, mas também os idosos, os que não têm estudos, os que não têm tanto talento, os tímidos, aqueles que não sabem outros idiomas, as mães que pararam de trabalhar por alguns anos. Se não fizermos isso, perderemos muito talento: lembranças, experiências, contatos etc.

Estas propostas estão em sintonia para compreender a empresa como uma comunidade de pessoas, como sugere a última encíclica do Papa; e o projeto de Economia da Comunhão, do Movimento dos Focolares, trabalha nisso há anos. Se você prestar atenção, a família é um modelo no qual há um esforço por buscar o talento de cada um.

Nas empresas, há muito mau humor, tédio, cansaço... O que está faltando?

Gabriel Ginebra: Falta paz. Raimon Panikkar disse que a felicidade é inversamente proporcional à aceleração. Os líderes vivem estressados sem responsabilizar-se por sua consequência, perdendo horizonte. Falta tempo para pensar, para olhar os trabalhadores nos olhos, embora o site da empresa declare que as pessoas são o principal ativo. Queremos fazer muitas coisas, rápido demais, e assim estaremos sempre atrasados. Em nossas sociedades ricas, o estresse crônico é patológico.

Desenvolvo o conceito de "Líder Pacífico" - espero que este seja o meu próximo livro. Um diretivo que se preocupa com o ritmo, que pratica a sabedoria do tempo para cada coisa, que "faz o que deve e está no que faz", como resumiu São Josemaría a santidade.

Um líder prudente, que busca as virtudes esquecidas do silêncio, sorriso, generosidade, ordem, perseverança, sinceridade... humildade. Que reconhece os próprios erros e tolera os defeitos dos outros. Que domina seu ofício e ama o seu trabalho.

Você é pai de uma família numerosa, de sete filhos. Em que aspectos lhe serve a sua capacidade organizativa e logística familiar aplicada à empresa?

Gabriel Ginebra: É interessante a relação que você faz. No filme "O Negociador", Kevin Spacey organiza com êxito o resgate 50 reféns, enquanto não consegue que seu filho de 8 anos consiga sair do seu confinamento na pia da casa.

Meus amigos me perguntam como eu consigo ter sete filhos e escrever livros. Eu gosto de responder que o número máximo de filhos que alguém pode suportar é um a menos do que já tem. Embora as pessoas na rua apontem o dedo para você e possam até admirá-lo secretamente, faz tempo que eu tenho a sensação de andar ultrapassado, de viver de tentativas, de não estar fazendo algo bom. O fato de escrever um livro de Gestão de Incompetentes não exclui que eu me considere um deles. Minha esposa diz que o Gabriel ela vê no livro é muito melhor do que o Gabriel com quem mora. Eu concordo com ela.

Como se consegue chegar ao fim do mês?

Gabriel Ginebra: Com a crise, na verdade acho que, se eu for parar para pensar, não chegamos. Alguém já disse que a nova definição de proletário deveria ser: Autônomo pai de família numerosa. Mas também temos a experiência magnífica de comprovar que o Pai-Nosso funciona. O "pão nosso de cada dia" acaba chegando, mas Deus, como roteirista do thriller, faz que as coisas aconteçam só no último minuto.
O desafio de criar um só filho é muito superior à capacidade de qualquer casal. Eu acho que é essa a lição de fundo aqui dos tempos difíceis em que vivemos.

Fonte: Zenit - (Miriam Díez i Bosch)

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