segunda-feira, 11 de abril de 2011

Esquecer os perseguidos

Um recente relatório publicado por Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) faz trilha da perseguição sofrida pelos cristãos em muitos países. O documento considera de modo especial a situação, verdadeiramente difícil, nos países do Oriente Médio.

No prólogo do informe ‘Perseguidos ou esquecidos? Um relatório sobre os cristãos oprimidos pela sua fé: edição 2011', o patriarca latino de Jerusalém, arcebispo Foaud Twal, comenta que "calvário não é um nome que pertence só à arqueologia e à antiguidade".

"É uma realidade contemporânea que descreve, em diferentes graus, o sofrimento de muitas igrejas no Oriente Médio, nas quais ser cristão significa aceitar que você deve fazer um grande sacrifício", afirma.

Na introdução, o autor do informe, John Pontifex, apresenta a questão do que ele chama de brutalidade a sangue frio sofrida pelos cristãos com a indiferença do Ocidente.

"Esta falta de reconhecimento dos crimes contra o cristianismo não poderia ser mais trágica, ao ter lugar em um momento em que em países chave a violência e a intimidação dos fiéis piorou de forma evidente", destaca.

Pontifex indica que há uma onda de violência em crescimento em muitos países muçulmanos. Ele atribui isso ao fato de que os cristãos são uma espécie de vítimas dos muçulmanos radicais na expressão da hostilidade destes pelo Ocidente.

Também é um desejo manifesto de alguns extremistas fazer desaparecer completamente o cristianismo de suas nações.

Ataques

O relatório examina cerca de 30 países. O Egito é o país com a maior população cristã do Oriente Médio, cerca de 10 milhões. Esta cifra tão elevada não tem evitado a onda de atos violentos contra eles nos últimos anos.

Têm-se registrado incidentes graves, como o ataque de janeiro de 2010 à Missa de Natal copta ortodoxa de meia-noite, e a explosão de um carro bomba no exterior da Igreja dos Santos, uma igreja copta ortodoxa em Alexandria, em janeiro deste ano.

O relatório observa também que a conversão ao cristianismo ainda está proibida por lei, apesar da Constituição garantir a liberdade de crença e religião.

Apesar das dificuldades legais - um convertido não consegue alterar o status de seu documento de identidade - AIS assinala que o número de conversões está aumentando.

Outro problema dos cristãos no Egito é a negação dos pedidos para construir novas igrejas ou renovar as existentes. A obtenção de permissão oficial para uma nova igreja pode levar 30 anos e é necessária a aprovação pessoal do presidente.

Passando à Argélia, o relatório assinala que nos últimos tempos tem-se registrado um aumento dos processos e intimidações contra os cristãos convertidos que se baseiam em acusações de proselitismo, o que violaria as leis.

Ainda que o Islã seja a religião oficial do Estado, AIS indica que a Constituição também defende o direito à liberdade de pensamento e de prática religiosa, dentro de determinadas limitações.

Um dos problemas na Argélia é que 95% dos cristãos do país são estrangeiros. Como resultado, são vistos como estranhos e costumam levantar suspeita.

No Irã, ainda que o Estado reconheça o cristianismo, seu status legal é precário, indica o relatório. Os membros das minorias religiosas são, de fato, cidadãos de segunda classe. Além disso, não lhes é permitido difundir suas crenças ou manifestá-las fora dos lugares de culto.

Em uma carta dirigida em novembro passado ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, o Papa pediu um diálogo sobre o status da Igreja no Irã.

Conversões

A apostasia - ou renúncia - ao Islã é proibida por lei e passível de detenção. Segundo informes recentes, o número de cristãos assírios nativos diminuiu de 100 mil nos anos 70 para 15 mil hoje.

O Iraque é outro país onde o número de cristãos diminuiu notavelmente. Segundo AIS, os bispos do país estimam que o número caiu de 900 mil para menos de 200 mil.

O êxodo aumentou ainda mais após o ataque de 31 de outubro passado à catedral católica síria de Nossa Senhora da Salvação, em Bagdá, e o massacre de ao menos 52 pessoas.

Segundo o relatório, crê-se que entre 2003 e 2010 mais de 2 mil cristãos foram assassinados pela violência, sendo a maioria por causa da fé.

A população cristã dos territórios da Terra Santa também diminuiu drasticamente. O relatório explica que quando o Papa visitou a região em 2009, o arcebispo Fouad Twal, patriarca latino de Jerusalém, publicou estatísticas que mostravam que os cristãos palestinos de Jerusalém tinham diminuído de 52% em 1922 para menos de 2% hoje.

Se a tendência continuar, a cifra atual de 10 mil cristãos reduzirá à metade em uma década. Em Belém, o número de cristãos caiu de 85% da população em 1948 para 12% em 2009.

O relatório destaca ainda que o governo israelense dificultou o acesso a vistos para sacerdotes, religiosos e seminaristas estrangeiros. Os vistos agora têm validade de um ano, em vez de dois, como era antes.

Os cristãos enfrentam dificuldades também nas áreas sob a Autoridade Palestina, tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza. Desde que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza em junho de 2007, os cristãos têm sido pressionados a se submeterem a práticas muçulmanas, como o uso do véu por mulheres em locais públicos.

Morte

O relatório não se limita de modo algum ao Oriente Médio. Mais longe, no Afeganistão, descreve como, no verão de 2010, um grupo de ex-muçulmanos teve de fugir para a Índia depois de ser condenado à morte após sua conversão ao cristianismo.

Em geral, no ano passado, houve uma piora dramática na atitude para com os não-muçulmanos, o que fez com que os cristãos tentassem passar despercebidos para evitar ser acusados de proselitismo. Infelizmente, segundo o relatório, a situação é susceptível de deteriorar ainda mais.

O vizinho Paquistão é outro berço da hostilidade contra os cristãos. Muitos dos problemas decorrem da lei da blasfêmia. As ofensas contra o Alcorão recebem a sentença de prisão perpétua e os insultos contra o profeta Maomé são punidos com a pena de morte.

O relatório cita dados da Comissão Nacional Justiça e Paz da Igreja Católica, afirmando que entre 1986 e 2010 houve 210 acusações contra cristãos. As pessoas usam a acusação de blasfêmia como uma desculpa para vinganças pessoais. Segundo o relatório, desde 2001 pelo menos 50 cristãos foram mortos por aqueles que usaram a blasfêmia como pretexto.

A Indonésia é um país que registou o crescimento do fundamentalismo islâmico desde 2009, diz o relatório. Nos últimos tempos têm-se registrado atos de violência, desde a queima e destruição de igrejas até o cancelamento por parte das autoridades dos serviços de Páscoa, sob pressão de extremistas. Das 32 províncias, Aceh é a única totalmente regida pela lei islâmica - a sharia. No entanto, o relatório indica que as autoridades de 16 províncias adotaram uma legislação baseada na sharia.

O relatório também trata de outros países, desde Coreia do Norte, Cuba até a Venezuela. O texto fornece evidências claras de que os cristãos enfrentam uma ameaça muito real de extremistas muçulmanos, algo que recebe pouca atenção, e nenhuma solução.

Fonte: Zenit.

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