sábado, 9 de abril de 2011

É um momento de lutar pelo bem, diz arcebispo do Rio de Janeiro

O massacre em uma escola do Rio de Janeiro nessa quinta-feira, em que 12 crianças foram assassinadas por um rapaz que em seguida se matou, “nos faz pensar sobre aquilo que nós trazemos no coração”, a vontade de “lutar pelo bem”.

O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, deu essa declaração a ‘WebtvRedentor’, ontem, após visitar a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio, local da tragédia sem precedentes no Brasil.

O ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, armado com dois revólveres e muita munição, invadiu a escola e matou 12 crianças entre 9 e 14 anos – 10 meninas e 2 meninos –. Em suas dezenas de disparos, ele feriu ainda outros 12 alunos.

A tragédia poderia ter sido maior se não fosse a intervenção da polícia. Um sargento do Batalhão de Polícia Rodoviária, Márcio Alexandre Alves, que estava nos arredores, viu alunos feridos e se dirigiu à escola. Lá deparou com o atirador e o alvejou na perna. Ferido, o rapaz cometeu suicídio com um tiro na cabeça.

Ao saber da tragédia, o arcebispo do Rio de Janeiro e outros sacerdotes da área se dirigiram à escola para dar apoio às vítimas.

Lá Dom Orani conversou com alguns funcionários, professores e familiares de alunos. “Estivemos juntos para levar esperança, confiança, solidariedade, a todos aqueles que sofrem”, disse.

Segundo Dom Orani, este “é um momento de grande reflexão para todos nós”, mas é também ocasião “de olhar com esperança para o futuro, apesar de toda tragicidade”.

Hospital

Depois de ir à escola, o arcebispo dirigiu-se ao hospital Albert Schweizer, principal ponto de atendimento dos feridos. Ali ele encontrou familiares, “alguns ainda na incerteza de onde estava o filho ou a filha”, outros que aguardavam a cirurgia dos filhos e ainda alguns que se dirigiam para o reconhecimento do corpo.

“Nós pedimos a Deus que ajudasse e consolasse todas os familiares que perderam os seus filhos, que desse também força para os professores, para que tenham força de anunciar a vida, a esperança a todas as crianças que voltarão à escola”, afirmou o arcebispo.

“Nós que vimos esses fatos trágicos, que olhemos com esperança e confiança para o futuro, e saibamos construir juntos um mundo melhor. Está em nossas mãos”, disse.

“Isso tudo que nós vimos, ouvimos e presenciamos é justamente um desafio para que a gente trabalhe ainda mais e melhor pela fraternidade e pela paz.”

Perfil

Dom Orani reconheceu que o atirador era uma pessoa doente, mas que vivia também toda uma “situação confusa familiar”.

“Isso demonstra para nós que nós temos de ajudar as pessoas. Primeiro, a formar bem a sua família, ser bem acolhido, bem aceito na sua família. Depois, educar para o bem, para a fraternidade.”

“E que as pessoas com muito desequilíbrio tenham seu tratamento, para que possam conviver em sociedade, também procurando o bem e fazendo o bem. Acho que é uma corresponsabilidade de toda nossa sociedade”, afirmou Dom Orani.

A polícia ainda investiga o perfil do atirador Wellington Menezes de Oliveira. Segundo depoimentos, ele apresentava um comportamento estranho nos últimos meses.

Sua mãe adotiva morreu no ano passado, e o pai já era falecido. De acordo com os relatos, Wellington era tímido e retraído, não tinha amigos e passava boa parte do seu tempo no computador.

Filho de mãe com problemas mentais que tentou o suicídio, o atirador era o caçula de cinco filhos e foi adotado ainda criança.

Na carta que deixou, Wellington demonstra ter premeditado o crime. Em frases repetitivas e algumas vezes desconexas, ele faz recomendações sobre seu enterro, pede que outros rezem pelo seu perdão a Deus. Solicita ainda que a casa onde vivia seja doada para pessoas que cuidam de animais abandonados, afirmando que os animais “precisam muito mais de proteção e carinho que os seres humanos”.

Solidariedade

Seminaristas do Rio de Janeiro atenderam ao pedido da arquidiocese e foram doar sangue em um gesto de solidariedade com as vítimas do atentado.

14 seminaristas do Seminário São José foram ao Instituto Nacional do Câncer (Inca) doar sangue. Acompanhou-os o reitor de filosofia do Seminário, padre Álvaro José Assunção.

“Em meio ao momento de dor e sofrimento, viemos exercer o gesto de solidariedade com o próximo, respondendo ao mal com o bem. Respondemos com um gesto de caridade, de fraternidade e assim somos solidários às famílias”, disse o seminarista Thiago Azevedo.
Dom Orani Tempesta explicou que o acompanhamento da Igreja católica aos familiares dos mortos e feridos continuará.

“Dentro do possível, não sufocando demais as famílias, aqueles que quiserem, que são católicos, vão ser visitados, vão ser acolhidos, nessa presença da Igreja, que vai acompanhando, como sempre o fez, dentro da liberdade” de cada pessoa, disse.

Além dos mortos, 12 crianças foram feridas pelo atirador – dez meninas e dois meninos –. Desse total, três estão em estado grave e apenas um recebeu alta hospitalar.

A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, decretou luto oficial de três dias no país. A missa de sétimo dia será realizada na própria Escola Municipal Tasso da Silveira, na próxima quarta-feira.

Fonte: - Zenit (Alexandre Ribeiro)

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