quinta-feira, 3 de março de 2011

Bento XVI: São Francisco de Sales, modelo de humanismo cristão

São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra e padroeiro dos escritores e jornalistas católicos, foi a figura sobre a qual falou hoje o Papa Bento XVI, em sua série sobre doutores da Igreja, na audiência geral.

O Papa ilustrou a vida deste santo bispo, de origem nobre e de grande formação cultural, autor de clássicos cristãos, como a "Introdução à vida devota", que teve grande influência na espiritualidade católica e que antecipou algumas das intuições do Concílio Vaticano II sobre os leigos.

Francisco de Sales foi bispo de Genebra "do exílio", na pequena localidade montanhosa francesa de Annecy, pois sua sede episcopal era naquele tempo a fortaleza do calvinismo.

Apesar do seu retiro, "a influência da sua vida e dos seus ensinamentos na Europa da época foi imensa. Ele foi apóstolo, escritor, pregador, homem de ação e oração; esteve comprometido com os ideais do Concílio de Trento, envolvido na controvérsia e no diálogo com os protestantes, experimentando cada vez mais, muito além do necessário confronto teológico, a eficácia da relação pessoal e da caridade; foi também encarregado de missões diplomáticas a nível europeu e de deveres sociais de mediação e reconciliação".

"Mas, acima de tudo, São Francisco de Sales é um pastor de almas", afirmou, citando a "Introdução à vida devota".

Nesta obra, sublinhou o Pontífice, o santo "dirige um convite que podia parecer, na época, revolucionário. É o convite a ser totalmente de Deus, vivendo em plenitude a presença no mundo e os deveres do próprio estado".

Precisamente, "o documento com o qual o Papa Leão XIII, mais de dois séculos depois, o proclamou Doutor da Igreja insistirá nesta ampliação do chamado à perfeição, à santidade".

"Assim nasceu o chamado aos leigos, esse cuidado pela consagração das coisas temporais e pela santificação da vida cotidiana, em que insistirão o Concílio Vaticano II e a espiritualidade do nosso tempo", afirmou Bento XVI.

Liberdade verdadeira

Outro dos grandes ensinamentos de São Francisco de Sales, explicou o Papa, foi sobre a essência da verdadeira liberdade, que é o amor, em sua obra "Tratado do amor de Deus", "uma verdadeira e própria summa, além de uma fascinante obra literária", afirmou.

"Sua descrição do itinerário até Deus parte do reconhecimento da ‘inclinação natural', inscrita no coração do homem, ainda que pecador, de amar a Deus sobre todas as coisas."

Para o santo, Deus "é pai e senhor, esposo e amigo, tem características maternas e de cuidadora, é o sol do qual a noite é a misteriosa revelação. Uma espécie de Deus que atrai para si o homem com laços de amor, ou seja, de verdadeira liberdade".

Francisco foi um "um grande conhecedor do coração humano", afirmou o Papa, citando algumas frases do santo a Joana de Chantal: "Deixo-vos o espírito de liberdade, não o que exclui a obediência - pois esta é a liberdade do mundo -, mas o que exclui a violência, a ansiedade e o escrúpulo".

"Em uma época como a nossa, que busca a liberdade, também com violência e inquietude, não se pode perder a atualidade deste grande mestre de espiritualidade e de paz, que indica aos seus discípulos o ‘espírito de liberdade', a verdadeira, como cume de um ensinamento fascinante e completo sobre a realidade do amor."

Segundo o Papa, São Francisco de Sales é "um testemunho exemplar de humanismo cristão e, com seu estilo familiar, com parábolas que têm frequentemente o bater de asas da poesia, recorda que o homem carrega gravado nas profundezas de seu ser o anseio por Deus e que só n'Ele se encontra a verdadeira alegria e sua realização mais plena".

"Não é à toa que, na origem das muitas vias da pedagogia e da espiritualidade do nosso tempo, encontramos vestígios desse mestre, sem o qual não teriam existido São João Bosco nem o heroico "pequeno caminho" de Santa Teresa de Lisieux", acrescentou.

Fonte: Zenit.

Nenhum comentário:

Postar um comentário