segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Emigração cristã também preocupa os muçulmanos

A emigração dos cristãos do Oriente Médio é uma grande perda para os muçulmanos, que também estão sofrendo pela situação política e social atual.
Foi o que afirmaram nessa quinta-feira representantes religiosos sunitas e xiitas convidados à assembleia do Sínodo dos Bispos: Muhammad al-Sammak, conselheiro político do Mufti da República do Líbano, e o aiatolá Seyed Mostafa Mohaghegh Ahmadabadi, professor de Direito na Universidade Shadid Beheshti, em Teerã.
Ambos foram recebidos em audiência pelo próprio Papa, nessa quinta à tarde, depois da sétima congregação geral do sínodo.
Em suas intervenções na Sala sinodal, ambos se apoiaram em várias suras do Alcorão, entre elas a 82 e a 45, sublinhando que os cristãos são “amigos dos crentes”.
Grito comum
Durante sua fala, o representante sunita Muhammad al-Sammak, afirmou que, para os muçulmanos árabes, os problemas dos cristãos do Oriente são também os seus. Ele sublinhou que se trata de uma única questão.
“Nosso sofrimento como orientais é um só. Nós partilhamos nossos sofrimentos. Os vivemos em nosso atraso social e político, em nossa recessão econômica e de desenvolvimento, em nossa tensão religiosa e confessional”, afirmou.
A recente intolerância contra os cristãos é – acrescentou – “um fenômeno estranho ao Oriente e que está em contradição com nossas culturas religiosas e constituições nacionais”. É algo que “tenta desgarrar o tecido de nossas sociedades nacionais, demoli-las, e dissolver os laços de seu complexo tecido, traçado há muitos séculos”.
“A emigração do cristão é um empobrecimento da identidade árabe, de sua cultura e autenticidade”, afirmou. Ele insistiu em que “manter a presença cristã é um dever islâmico comum, tal e como é um dever cristão comum”.
Para al-Sammak, este fenômeno está mostrando uma “imagem distorcida do Islã”, por causa da incompreensão do espírito dos ensinamentos islâmicos específicos relativos às relações com os cristãos, que o Santo Alcorão qualificou como “os mais amigos dos crentes”.
Outra questão é “a falta de respeito pelos direitos dos cidadãos com plena igualdade perante a lei de alguns países”.
Perante isso, o representante muçulmano sublinhou a necessidade de inculcar no mundo oriental “o respeito pelos fundamentos e regras da cidadania, que aplica a igualdade nos direitos e também nos deveres”.
Ele também invocou uma “cultura da moderação, do amor e do perdão, entendida como respeito pela diferença de religião e credo, de língua, de cor e de raça, e depois, como nos ensina o Santo Alcorão, submetendo-nos ao juízo de Deus segundo nossas diferenças”.
Globalização
Para o representante xiita, o aiatolá Seyed Mostafa Mohaghegh Ahmadabadi, a necessidade de diálogo entre as religiões é hoje muito mais urgente, por causa da globalização, que mudou também o próprio conceito de “sociedade multicultural”.
“A experiência dos Bálcãs demonstra que a dominação cultural e étnica de um grupo sobre outros não pode ser defendida”, mas que “é necessário, pelo bem da estabilidade social e da saúde étnica”, respeitar sua presença e seus direitos”.
Na opinião de Ahmadabadi, o pensamento “cheio de preconceitos, expansionista e de supremacia política e cultural” está “diminuindo e está destinado a desaparecer”.
“O mundo ideal seria um estado onde os crentes de qualquer credo pudessem, de maneira livre e sem nenhuma apreensão, temor ou obrigação, viver segundo os princípios e costumes, suas próprias tradições. Este direito, que foi reconhecido universalmente, deve ser de fato posto em prática por estados e comunidades”, afirmou.
“É bom para a essência de cada religião e para seus fiéis que os discípulos de cada credo possam praticar seus direitos sem nenhum temor ou vergonha, e viver segundo seus próprio legado e cultura. A estabilidade do mundo depende da estabilidade dos pequenos e grandes grupos e sociedades.”
Nesse sentido, o aiatolá afirmou que a relação entre o Islã e o Cristianismo tal e como se estabelece no Alcorão, “baseia-se na amizade, no respeito e entendimento mútuo”.
Em sua opinião, “nos últimos 1400 anos, às vezes devido a considerações políticas, existiram momentos obscuros nesta relação. Mas não devemos relacionar esses atos ilegítimos de certos indivíduos e grupos nem com o Islã nem com o Cristianismo”.

Fonte: Zenit.

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