segunda-feira, 2 de agosto de 2010

BBC prepara cobertura “equilibrada” da visita papal

Quando Mark Thompson, o diretor geral da British Broadcasting Corporation, veio a Roma para preparar a próxima visita papal à Grã-Bretanha, negou que a BBC tivesse uma mania inata contra a Igreja Católica.
Ele e outros diretivos da BBC acreditam que a cobertura, como grande parte de sua programação, é respeitosa e equilibrada, e que os programas sobre a Igreja são de grande qualidade.
Mas, à medida que se aproxima a visita do Papa, o que existe de verdade nisso?
Ao levar em consideração os programas que já foram divulgados e os rumores sobre os previstos, infelizmente, não é verdade, em absoluto.
De acordo com um bom número de fontes de notícias, espera-se que a BBC frustre muitos católicos, ao emitir um programa fixado para que coincida com a visita do Papa de 16 a 19 de setembro. O conteúdo do programa continua sendo secreto, mas algumas fontes de informação dizem que será um drama de 90 minutos que submete o Papa a um juízo, acusado de encobrir abusos sexuais perpetrados por sacerdotes.
A BBC se mostra muito reservada sobre este rumor. Uma porta-voz sua me disse, em 21 de julho, que os programas coincidem com a visita de Estado, mas não pôde dar detalhes – tampouco em relação ao possível conteúdo – por “razões de programação”. Ela também foi incapaz de dar informação sobre todos os programas relacionados com a visita papal, que já foram difundidos.
O programa mais importante que a cooperação emitiu até agora em relação à visita foi um drama da BBC Rádio 4 sobre o cardeal John Henry Newman, a quem o Santo Padre beatificará em Birmingham no dia 19 de setembro.
Chamado de Gerontius, Newman foi interpretado pelo respeitado ator Derek Jacobi. Mas a representação não tinha nada a ver com o progresso da alma rumo ao purgatório, nem manifestava a relevância na vida das pessoas das grandes obras teológicas de Newman. Ao invés disso, centrou-se em sua íntima amizade com Frei Ambrose St. John – uma amizade que os defensores dos direitos homossexuais dizem ser de caráter homossexual, mas que os especialistas em Newman mostram que era simplesmente um afeto próximo e fraternal.
Revisando a obra no Catholic Herald, o autor Francis Phillips escreveu: “Na metade de [um] diálogo sem ânimo, melodramático entre Newman e seu anjo da guarda, uma voz masculina jovem declara: ‘A Igreja Católica romana é homofóbica!’. Além disso, infere-se que o lema de Newman, ‘Das sombras à verdade’, pode ser um código encoberto do seu desejo de sair do armário”. Phillips propôs a leitura do maior especialista em Newman, o Pe. Ian Ker, ao invés disso.
Além de programas diretamente relacionados com a visita papal, a BBC produziu algumas saídas dignas de elogio. Em março, a Rádio 4 emitiu Heart and Soul, um excelente documentário sobre o sofrimento e como se pode chegar a uma compreensão pessoal da ressurreição de Cristo. Nesse mesmo mês, a BBC News ofereceu um artigo muito equilibrado do correspondente do Vaticano Gerry O'Connell nos meios de comunicação do Vaticano sobre a forma como se está lidando com a crise de abuso sexual.
Formas veladas
Mas a maioria dos programas continua traindo as tendências dominantes da BBC laicista. Ainda que se tenha feito um esforço para pedir a muitos católicos de pensamento ortodoxo para que apareçam em seus programas de notícias, no entanto, a maioria tende a ser católico dissidente. Os fiéis crentes que vão conseguir costumam ser destacados, como no caso de 5 de abril, quando um filósofo e político católico italiano, Rocco Buttiglione, apareceu no programa Radio 4's Today para discutir sobre a crise do abuso sexual. Buttiglione fez uma defesa enérgica e equilibrada, mas foi interrompido constantemente pelo apresentador, John Humphrys.
O Pe. Tim Finigan, sacerdote inglês e blogueiro, resumiu o problema quando escreveu em maio sobre um e-mail interno da BBC que lhe foi enviado. “A BBC está organizando um debate entre sua equipe sobre o cristianismo”, escreveu em seu blog The Hermeneutic of Continuity. “A quem trarão para fazer isso? A um professor de história e defensor dos direitos dos homossexuais, que descreve sua própria posição religiosa atual como a de um agnóstico ou ateu com um transfundo de anglicanismo, e um acadêmico muçulmano”.
E se ainda são necessárias provas de que a BBC não pode tratar da fé com a seriedade que merece, Cristina Odone, uma ex-editora de The Catholic Herald, escreveu em 29 de abril, no Telegraph, como ficou brava quando a BBC enviou um cômico para entrevistá-la sobre o escândalo de abusos sexuais entre os clérigos – e passou a maior parte do tempo tirando sarro da fé. “Será que a BBC pode fazer isso com um muçulmano? Com um judeu? Com um hindu? – perguntava-se. Claro que não. Não têm coragem. Mas quando se trata dos católicos, enviam-lhes os palhaços.”
Quando escrevi aqui sobre o desvio da BBC em fevereiro, concluí que entre a equipe diretiva da BBC, o ânimo anticatólico não era tão dominante – ainda que, sem dúvida, existe em alguns setores – como a incapacidade da sua equipe, predominantemente secularizada, de levar a fé a sério.
A Igreja da Inglaterra tende a concordar. No começo deste ano, criticou a cobertura da BBC da religião em geral como “não suficientemente boa” e expressou sua preocupação por que a transmissão de assuntos religiosos esteja sendo deixada de lado. Inclusive um dos antigos apresentadores da BBC em assuntos religiosos, Roger Bolton, queixou-se, em um discurso em março, de que a perspectiva religiosa nas notícias é “surpreendentemente ausente, tanto nas transmissões como por trás das cenas, nas discussões internas de redação”.
Mas criticar a BBC é fácil de fazer e se faz frequentemente. Um amigo que trabalha para a corporação se lamentava recentemente que criticar a “BeeB” é algo assim como “tiro de peixes em um barril – ainda que o tiro aos peixes em um dos peixes de ‘tiro ao barril’ não é um esporte tão popular”. De fato, as emissoras públicas do mundo inteiro são objeto de acusações similares de serem tendenciosas.
Em um discurso de fevereiro em Roma, Thompson se referiu a algumas brincadeiras típicas: “De qualquer forma, ‘para que exatamente se paga uma licença?’ É preciso aboli-la”; “Por que não colocar uma bomba debaixo delas?”, disse, acrescentando: “Estes não são encontros da imprensa britânica. São de Bild, do Frankfurter Allgemeine Zeitung, do jornal flamenco De Standaard, Il Giornale e do Spiegel. Tampouco são sobre a BBC – são sobre a ARD / ZDF, VRT e a RAI”.
Cultura de morte
Mas se poderia argumentar que a tendenciosidade da BBC contra a Igreja Católica tem um traço mais grave e sinistro do que simplesmente as falhas normais de um organismo público de radiodifusão, relacionado não somente com um mal-estar na corporação, e sim mais em geral entre as elites do país e talvez dentro da cultura britânica em seu conjunto. A BBC, depois de tudo, não é o único organismo de radiodifusão do Reino Unido que ataca a Igreja: com notável, mas surpreendente descaro, Channel 4 pediu ao ativista dos direitos dos homossexuais Peter Tatchell, que se apresente em um documentário sobre Bento XVI.
Mas se diz da BBC que padece sobretudo de uma forma de pensar que impregna secularismo, que abraça – ou pelo menos simpatiza com ela – a cultura da morte, seja o aborto, o feminismo radical, a agenda homossexual, a anticoncepção, a eutanásia, a ciência contrária à ética, assim como a pesquisa com células-tronco embrionárias. O consumo de drogas entre os empregados também se diz que está generalizado.
Recentes acontecimentos trágicos entre funcionários da BBC parecem corroborar esta opinião. Ray Gosling, um apresentador veterano e destacado ativista de direitos dos homossexuais, admitiu em fevereiro que há vários anos havia asfixiado seu amante de sexo masculino, para matá-lo. Pouco depois de sua confissão ao vivo, foi arrestado sob suspeita de homicídio e posto em liberdade sob fiança, ainda que a investigação continue.
E nos últimos anos, três jovens apresentadores da BBC morreram em circunstâncias pouco comuns, sendo a mais recente a de Kristian Digby, um apresentador de televisão abertamente gay, que morreu misteriosamente em fevereiro, aos 33 anos.
Em 2006, Bento XVI insistiu na importância de dizer “não” à atual cultura da morte, “uma anticultura” que, segundo ele, se manifesta em coisas tais como a fuga nas drogas. Trata-se de uma forma de “escapar da realidade no ilusório – disse –, em uma felicidade falsa que se manifesta na mentira, na fraude, na injustiça, no desprezo aos demais”.
Também disse que a cultura da morte “se mostra em uma sexualidade que se converte em puro prazer sem responsabilidade, que faz do homem um objeto, por assim dizer, sem considerá-lo já como uma pessoa, com um amor pessoal, com fidelidade, mas transformando-o em mercadoria”.
Como antídoto, defendeu o “sim” da cultura da vida: a fidelidade aos Dez Mandamentos, que, segundo disse, “não são proibições, mas uma visão de vida”.
Talvez possamos esperar que a BBC e outros setores dos meios de comunicação do Reino Unido percebam a sabedoria e a pertinência das palavras do Santo Padre durante sua vida à Grã-Bretanha.
Tanto na corporação como em outros lugares do país, sem dúvida são necessárias.

Fonte: Zenit.

Nenhum comentário:

Postar um comentário