quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Santa Clara de Assis



Pouco antes de nascer Santa Clara, rezando sua mãe a pedir feliz parto, ouviu uma voz que lhe dizia: «Mulher, não tenhas medo, porque darás à luz quem, com as suas chamas, iluminará o mundo». Esta a razão por que depois se deu à menina o nome de Clara: aquela que resplandece. Desde muito cedo revelou uma abnegação de que são capazes apenas as almas que imensamente amam. Não contente com dar aos pobres o supérfluo, chegava até a privar-se do necessário para os socorrer. Desde a mais tenra infância, tinham-na enlevado os mistérios do reino sobrenatural, e o chamamento do espírito tinha-a erguido acima dos gostos próprios da idade. Mesmo das distrações familiares costumava separar-se para rezar o Pai-nosso. Teve a educação do seu tempo e da sua classe elevada: conhecimentos elementares da leitura e escrita; trabalhos de agulha em que era primorosa; e direção da vida doméstica. Não lhe bastava cumprir a meias os seus deveres. Com previsão certeira, descobria as coisas dotadas de verdadeiro valor, unindo a esta qualidade um temperamento emotivo, sedento de beleza moral. A direção definitiva da sua vida ficou a devê-la a são Francisco de Assis. Viram-se pela primeira vez na quaresma de 1212. Clara andava então pelos 18 anos. A sua família era uma das mais nobres do território de Assis; tinha um castelo nos arredores e uma casa senhorial no interior da cidade. O pai desejava vê-Ia casada, mas, quando lhe falava em projetos matrimoniais, ela ou não escutava ou mudava de assunto. Sentia quão necessário lhe era conservar a sua liberdade e consagrar a pureza a Jesus Cristo. São Francisco ouvira falar de Clara, do trato delicado que tinha com os pobres. Desejou conhecê-la, «porque, diz o velho cronista, desejava arrancar esta nobre presa das garras do mundo perverso e depositá-la, como glorioso troféu, diante do altar de Deus». Clara, por seu lado, depois de ouvir a pregação de Francisco, teve a certeza de ter encontrado o seu guia espiritual. Cada vez que tratava com o seu novo diretor de consciência, voltava mais resolvida a romper com o século, mantendo no interior «uma visão das felicidades eternas, em comparação das quais todo o mundano é vil e desprezível; e a sua alma unicamente se derretia, mais e mais, com o santo anelo de tomar por esposo o Rei dos céus». A dificuldade estava na família. Os pais queriam a todo o custo que ela se casasse. Mas, durante a quaresma, Clara firmou-se na resolução contrária. E no domingo de Ramos, no fim da tarde, fugiu do palácio e foi para a Porciúncula, onde a esperava são Francisco. Naquela noite, Clara consagrou-se a Deus e Francisco cortou-lhe o cabelo, como testemunho do voto por ela feito. Ao amanhecer o novo dia, Francisco levou-a ao mosteiro de beneditinas de são Paulo de Bastia, até encontrar casa própria para as religiosas franciscanas. Vieram procurar a jovem os seus parentes; refugiou-se na igreja e, quando iam a lançar-lhe as mãos, tirou o véu, mostrando a cabeça rapada. Agarrando-se ao altar, declarou publicamente os seus desposórios com Nosso Senhor Jesus Cristo. Passado isto, deixaram-na em paz. Na semana seguinte, veio juntar-se-lhe sua irmã mais nova, Inês, resolvida também a deixar o mundo e consagrar-se a Deus. Não foi tão feliz como Clara. Vieram, em seguida, os seus parentes, tiraram-na da igreja, arrastaram-na pela rua até que, já aborrecidos com gritos e lágrimas, a deixaram livre. São Francisco obteve para elas o Oratório de são Damião e a pequena morada contígua, que pertencia aos beneditinos do Monte Subásio. São Damião ficou sendo, a partir dessa altura, casa gêmea da Porciúncula. Depressa vieram outras damas nobres, dilacerando, como diz o seu primeiro biógrafo, com disciplinas o invólucro alabastrino do seu corpo. Francisco não deu a Clara nenhuma regra de vida; unicamente lhe inculcou o espírito da pobreza e a confiança na solicitude infinita de Deus. Por isso, foi S. Damião, segundo frase de Clara, «a torre forte da insigne pobreza». A comunidade não admitia nenhuma renda fixa. A esmola e o trabalho eram os dois pilares fortes. Clara dava o exemplo em tudo: servia à mesa e cuidava das doentes. De noite, levantava-se para acender as lâmpadas e fazer oração. A cama que tinha era um montão de varas; a comida, pão e água, quando não passava dias inteiros sem comer. Numa Quinta-Feira Santa teve um êxtase que lhe durou 24 horas. Quando Gregório IX quis que aceitasse a posse de algumas rendas, Clara respondeu: «Santíssimo Padre, não é isso o que prometemos». - «Mas, não posso eu desligar-vos da vossa promessa?», respondeu o Papa. Clara, inspirada pelo Espírito Santo, desarmou o Pontífice com esta resposta: «Desligai-me, peço-vos, das minhas culpas, mas não de imitar Nosso Senhor Jesus CristO». Gregório IX concedeu-lhe o privilégio da altíssima pobreza, que mais tarde Inocêncio IV estendeu a todas as comunidades de Senhoras Pobres. São Damião foi milagre que irradiou pureza, como o Sol irradia os sc;:us raios. As mulheres queriam ser puras como Clara, e os homens aprendiam a respeitar a pureza das mulheres. «De toda a parte, escreve o primeiro biógrafo, corriam as mulheres ao cheiro dos seus perfumes». Veio ter com ela a morte no Verão de 1253. O papa Inocêncio IV visitara-a, estando ela de cama; mas desejou beijar-lhe o pé, o que obteve estendendo-lho Inocêncio. Pedindo em seguida a bênção com indulgência plenária, o Papa respondeu: «Queira Deus, filha minha, que não necessite eu, mais tarde que tu, da misericórdia divina». Na sua prolongada enfermidade, quando mais cresciam as dores, respondia: «Desde que por meio de Francisco aprendi a conhecer os dons do meu Senhor Jesus Cristo, não há dor que me custe sofrer». No meio dum silêncio cheio de lágrimas, a agonizante murmurava, falando com a sua alma: «Sai sem medo, que bom guia tens para o caminho. Ó Senhor! Louvo-Te, glorifico-Te por me terdes criado». Clara acaba por olhar fixamente para a porta, que se abre para deixar passar uma procissão de virgens com vestidos brancos, e franjas de ouro à volta de cabelos luzidios. A mais alta, a mais bela, a que leva na fronte uma coroa real, avança até à cama, inclina-se para a moribunda, abraça-a e esconde-a entre os seus véus de luz. Nos braços de Maria, subiu à região das eternas claridades. É representada de custódia do Santíssimo Sacramento na mão. a deter os mouros às portas de Assis. Por lhe ter sido atribuído ver de longe o sepulcro de S. Francisco, foi ela declarada padroeira da televisão.

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