terça-feira, 13 de outubro de 2009

São Paulo: Igreja investiga santidade de dançarina



A Diocese de Santo André, no ABC paulista, coleta informações sobre Vanilda Sanches Béber, dançarina e professora de dança, morta em 1958, para verificar se ela tem fama de santidade. É o primeiro passo para o início da causa de beatificação e canonização, que começa com um processo diocesano, a ser aberto pelo bispo, d. Nelson Westrupp, e segue para o Vaticano.
Vanilda está sepultada no Cemitério da Saudade, em um túmulo coberto de placas com os agradecimentos de devotos que dizem ter alcançado graças por sua intercessão. Dezenas de mensagens são endereçadas à sua mãe, Eunice Sanches, de 89 anos, com testemunhos de pessoas de todo o País, principalmente do interior paulista.
"Muita gente visita o túmulo de Vanilda para pedir a Deus algum favor e até milagre por intermédio dela e de Nossa Senhora Aparecida", informa Eunice. Desde que Vanilda morreu, a mãe coleciona pastas e álbuns com documentos e fotos. Esse é o ponto de partida para a pesquisa que o padre Décio Gruppi, chanceler da Diocese de Santo André, faz por ordem do bispo.
O trabalho é difícil porque muita gente que conheceu Vanilda já morreu e alguns registros importantes se perderam. "O fato de a moça ter sido dançarina e ter morrido depois de um aborto faz do caso uma situação peculiar", afirma padre Décio. A Igreja vai investigar a fundo antes de elevar a dançarina aos altares e precisa ter a certeza de que o aborto foi espontâneo e não provocado.
Vanilda casou-se em abril de 1958, antes de completar 15 anos, engravidou três meses depois e morreu em outubro do mesmo ano, após perder a criança. "Era uma menina muito atenciosa com todos e foi muito caridosa, sempre disposta a atender aos pobres que batiam à porta de nossa casa", lembra Eunice. "Uma semana depois de sua morte, ela me transmitiu em sonho uma oração para quem quisesse recorrer à sua intercessão".
A oração, transcrita com as palavras que Eunice diz ter ouvido, pode ser lida em uma placa colada na parede do túmulo. Um trecho do texto, sem correções: "meu Deus, eu vos peço de todo coração para que vós e Nossa Senhora me dê o direito e força para atender todos que ficaram na terra orando por nós. Meu Deus, eu vos peço que todos que pedirem em meu nome, Vanilda, que sejam atendidos com vossas divinas graças e Nossa Senhora Aparecida".
A fama de santidade de Vanilda, segundo sua mãe, começou a crescer durante o velório, quando uma mulher de azul, que ninguém conhecia, aproximou-se da urna e, depois de acariciar o rosto dela e passar a mão num crucifixo, comentou que ela já estava no Céu. "A mulher, que acreditamos ser Nossa Senhora, nunca mais foi vista", disse Eunice.
"Não é por ter sido dançarina que Vanilda não pode ser santa", observou a irmã Célia Cadorin, freira que atuou como vice-postuladora nas causas de canonização de Madre Paulina e de Frei Galvão, os primeiros santos brasileiros. Residente agora em São Paulo, depois de muitos anos em Roma, irmã Célia conversou com padre Décio e com familiares de Vanilda sobre a eventual abertura do processo em Santo André.
FAMA - O primeiro passo, insistiu irmã Célia, é constatar a fama de santidade. "Se há tantas placas (são mais de 200) no túmulo, que é visitado por tanta gente, isso é fama de santidade", disse Ela se pôs à disposição dos interessados para trabalhar na causa de Vanilda, mas avisou que não se pode fazer nada sem aprovação do bispo diocesano. D. Nelson encarregou padre Décio de coletar informações, mas não parece ter pressa.
"Vanilda era dançarina e professora de dança clássica, frevo, sapateado e bailado espanhol, mas nunca dançou com as pernas de fora", disse Eunice. Convidada a se apresentar na televisão e em várias emissoras de rádio da capital paulista e do ABC, a moça sempre abriu mão de cachês. Pedia que o dinheiro fosse distribuído aos pobres.
Padre Décio lembra que, pelo fato de ser dançarina, Vanilda não entrou na Associação das Filhas de Maria. Foi rejeitada, apesar de seu pai, o espanhol Antônio Sanches, torneiro mecânico e líder sindical, ter sido congregado mariano. "Quando Vanilda morreu, meu marido não gostava nem que se falasse de milagres", lembra Eunice.
A devoção começou em casa. Tias e primas de Vanilda recitavam a oração que ela ditou para a mãe em sonho e pediam ajuda em situações difíceis. "Sempre rezo e sou atendida", disse Sueli Guanetti, uma das primas, residente em Bauru, interior de São Paulo. Eunice distribuía entre parentes e amigos que a procuravam vidros com óleo e água benta.
São testemunhos que padre Décio deve levar em consideração, mas ele quer achar outras pessoas que tenham conhecido Vanilda. Ele acha importante conseguir algum documento sobre a internação da moça no hospital em que morreu para saber como foi o aborto. Como a Igreja condena a prática, é preciso ter certeza de que não tenha sido provocado.
A prefeitura de Santo André acompanha a história pela projeção que dá à cidade. O Serviço Funerário Municipal incluiu o nome dela entre as personalidades no Cemitério da Saudade, que comemora seu centenário. O túmulo de Vanilda fica a poucos metros da sepultura do ex-prefeito Celso Daniel, morto em 2002.

(Agência Estado)

Nenhum comentário:

Postar um comentário