segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O “Revival” para interpretar o contemporâneo

O que significa “revival”? O termo indica uma recuperação, um retorno, um fazer reviver de forma nova e diferente algo que está distante, geralmente distante no tempo. A forma do revival mais reconhecida, aliás, é a diacrônica.

Trata-se, portanto, da recuperação de formas, modos e gostos de alguma época passada, com referência específica, mas não exclusiva, ao mundo da arte, da moda, do vestir. Os revivals são induzidos e promovidos geralmente por razões de mercado, já que o motor sentimental que eles acionam é sempre poderoso. Mas o acionar do motor sentimental provoca reflexões: a regeneração de elementos passados se fundamenta em sintonias reais, numa relação real entre o que foi e o que é?

O revival também tem uma dimensão original que é cultural, que nasce em movimentos artísticos ou em poéticas individuais, por motivos precisos de conteúdo e de consonância. Se analisarmos bem, o revival dos gostos, motivado pelo comércio, embora já seja a forma mais difundida, é apenas uma dimensão derivada e decadente dos revivals autênticos.

São exemplos de revivals tanto a recuperação de roupas e penteados dos anos 60 e 80 quanto as diversas formas de neoclassicismo que encontramos na história. Para não entendermos mal o fenômeno, precisamos considerar algumas diferenciações: uma coisa é a recuperação de algo que se tem na própria memória pessoal, outra é a recuperação de elementos em que se quer reconhecer um valor sempiterno; é diferente a dinâmica de um movimento apoiado e promovido pela mídia, e ainda diferente a dinâmica que passa pela rede mais sutil da comunicação cultural interpessoal e pela mensagem deixada pelas obras.

Refletindo mais um pouco, vemos que não existe só uma dimensão diacrônica do revival, mas também uma dimensão diatópica. O que é a mesma coisa, pois não é raro se regenerarem e voltarem à vida elementos afastados não no tempo, mas no espaço. Trata-se de um movimento análogo ao diacrônico, porque são trazidos a um contexto elementos externos a ele, com transformação recíproca. O simples “citacionismo” de elementos estranhos, por sua vez, não pode ser chamado de revival; o revival implica a modificação do elemento retomado, uma espécie de contaminação com o tempo presente, e também um efeito de transformação no contexto que acolhe o revival. A finalidade do revival diatópico é análoga à do revival diacrônico, e, como este, conhece uma dimensão cultural e uma comercial, uma sofisticada e uma pop, mas o movimento em que ele se insere é diferente. Aliás, a atração por usos e costumes que vêm “de fora”, e nos quais se fundamentam os revivals diatópicos, tem ligação com o exotismo e envolve a complexa relação com o diferente mais do que a dinâmica do passado.

Mas também existe uma tipologia de revival sintético, tanto diacrônica quanto diatópica, quando se recuperam e transformam elementos passados de culturas longínquas. É um fenômeno presente, por exemplo, nas vanguardas artísticas do século XX, mas também em movimentos artísticos e culturais dos séculos XVIII e XIX. Elementos nipônicos, chineses e orientalismos em geral estão presentes em artistas como Ingres, Delacroix, Courbet, até Whistler e Van Gogh. O neoclassicismo do século XVIII também expressa um amor não só pela arte antiga, grega, romana ou etrusca, ou seja, por elementos


Fonte: Zenit.

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