segunda-feira, 8 de março de 2010

Os tempos estão maduros para um quinto dogma mariano?

Desde que, na Sexta-feira Santa, em que Jesus, falando da cruz quando estava prestes a morrer, disse ao apóstolo João “Eis tua mãe”, o papel maternal de Maria tem sido um elemento central da fé e da devoção cristã.
As representações da dor de Maria em obras de arte como a Pietà de Michelangelo sugeriram uma profunda verdade emocional: quando um crente é confrontado com uma grande dor ou sofrimento, podemos recorrer a Maria, nossa mãe espiritual, em busca de consolo, porque ela experimentou um sofrimento imenso.
As grandes aparições marianas, especialmente em Lourdes em 1858 e em Fátima em 1917, sugerem aos observadores atentos da vida mística que Maria segue “aproximando” os “pequenos”, as crianças, para incentivar e compartilhar com eles uma mensagem de consolo materno e exortação.
Ao longo dos séculos, a reflexão teológica da Igreja tem premiado títulos particulares e especiais a Maria, para explicar quem ela é, e porque é merecedora de nossa devoção filial.
Até agora, a Igreja proclamou quatro dogmas sobre a Mãe de Jesus: (1) seu papel materno no nascimento de Cristo, o Filho de Deus, se tornando verdadeiramente a Mãe de Deus (Theotokos, Concílio de Éfeso, 431); (2) sua Virgindade Perpétua (primeiro Concílio de Latrão, 659); (3) sua Imaculada Conceição (Pio IX, proclamação ex cathedra, 1854); e (4) sua Assunção ao céu (Pio XII, proclamação ex cathedra, 1950).
Durante quase um século, houve um movimento pequeno, mas crescente na Igreja a favor da proclamação de um quinto dogma mariano, que se refere ao papel da Beata Virgem como Mãe Espiritual de toda a Humanidade.
Em 25 de março, o Vatican Forum da revista Inside the Vatican e do St. Thomas More College, em um local próximo à Praça de São Pedro, convidará um grupo internacional de bispos e teólogos para debater se agora é o momento apropriado para pronunciar uma quinta definição ou “dogma” sobre a Virgem Maria.
Anos de preparação
O movimento na Igreja por um quinto dogma sobre o papel da Virgem Maria em nossa salvação tem mais de 90 anos. O líder ecuménico católico belga cardeal Désiré-Joseph Mercier iniciou em 1920, com o apoio do então padre Maximiliano Kolbe.
Desde então até o presente, mais de 800 cardeais e bispos pediram para diferentes Papas uma definição do papel especial de Maria na salvação da humanidade.
Além disso, os promotores dessa devoção recolheram mais de sete milhões de pedidos de fiéis de todo o mundo.
Os Papas que promulgaram os dois recentes dogmas marianos, Papa Pio IX (1846-1878) e Pio XII (1939-1958), reconheceram de forma positiva o papel dos pedidos de membros da hierarquia e dos leigos.
Ao longo de 2009, cardeais e bispos de todos os continentes pediram que o Papa Bento XVI considere o dogma da Maternidade espiritual de Maria, em três aspectos essenciais, como co-redentora, mediadora de todas as graças e como “advogada”. Isso aconteceu depois de cinco cardeais terem escrito aos bispos do mundo requerendo pedidos ao Santo Padre para o quinto dogma mariano.
Entre os que assinaram a petição estão o cardeal Telesphore Toppo, arcebispo de Ranchi (Índia); cardeal Luis Aponte Martínez, arcebispo emérito de San Juan (Porto Rico); cardeal Varkey Vithayathil, arcebispo de Ernakulam-Angamaly (Índia); cardeal Riccardo Vidal, arcebispo de Cebu, (Filipinas) e o cardeal Ernesto Corripio y Ahumada, arcebispo emérito da Cidade do México.
Alguns bispos, particularmente no Ocidente, veem uma definição Mariana potencialmente contraproducente para o ecumenismo. Dois dos cinco cardeais que em 2009 escreveram aos bispos do mundo todo sobre esse potencial quinto dogma mariano, os cardeais indianos Telesphore Toppo e Vithayathil, arcebispo da Igreja sírio-malabar, responderam publicamente a essa objeção ecumênica argumentando que proclamar a verdade sobre a Mãe de Jesus apenas traria uma unidade cristã baseada na unidade da verdade e da fé, acompanhada da renovada intercessão de Maria, Mãe da unidade, como resultado da proclamação papal de seu papel de mãe espiritual universal.
João Paulo II usou o título co-redentora ao menos em seis ocasiões durante seu papado.
Bento XVI, sem usar o título, tem repetidamente afirmado a doutrina da co-redenção de Maria, ou “co-sofrimento” com Jesus, particularmente em seu discurso do Dia Mundial do Doente e em sua oração de 2008 pelas pessoas que sofrem na China, dirigida a Nossa Senhora de Sheshan.
Inícios
Ao refletir sobre o início desse movimento por um dogma mariano, temos de ressaltar que o cardeal Mercier (1851-1926), arcebispo de Mechelen (Bélgica) desde 1906 até sua morte, foi um líder eclesial chave de seu tempo. Além da liderança heroica demostrada durante a Primeira Guerra Mundial, o cardeal Mercier acolheu o famoso diálogo entre anglicanos e católicos conhecido como Conversas de Malinas, e obteve o estabelecimento da festa litúrgica da Beata Virgem Maria, Mediadora de Todas as Graças, com sua própria missa e ofício. Seu mentor espiritual foi o beato Columbano Marmion.
Aqui, em suas próprias palavras, está o exercício espiritual diário que foi recomendado pelo cardeal Mercier. É válido até hoje.
Ele escreveu: “Eu vou revelar o segredo da santidade e da alegria. Todos os dias durante cinco minutos, controle sua imaginação e feche os olhos, e pare de escutar todos os sons do mundo para entrar em si. Então, na santidade de sua alma batizada (que é templo do Espírito Santo) fale a esse Espírito Divino, dizendo: “Oh, Santo Espírito, amado de minha alma, te adoro”. Ilumina-me, guia-me, dá-me forças e me consola. Diga-me o que fazer. Dá-me tuas ordens. Prometo submeter-me a tudo o que quer de mim e aceito tudo o que permitir que aconteça. Deixe-me saber tua vontade”.
“Se você fizer isso, sua vida fluirá para a felicidade, serenidade e pleno consolo, mesmo no meio das tribulações. Vai dar graça em tempos de dificuldades, dando-lhe força para suportá-las, e alcançar os Portões do Paraíso cheio de méritos. Esta submissão ao Espírito Santo é o segredo da santidade”.
“E foi essa submissão ao Espírito Santo, é claro, a marca que distinguiu a vida de Maria, especialmente no momento na Anunciação (25 de março), quando ela disse, "Faça-se em mim segundo a tua palavra".
Diálogo
O diálogo do dia 25 vai incluir como palestrantes Dom Ramón Argüelles, arcebispo de Lipa (Filipinas) e presidente da Sociedade Mariana-Mariológica das Filipinas; padre Enrique Llamas, presidente da Sociedade Mariológica da Espanha. Estarão presentes também Judith Gentle, teóloga anglicana, escritora e membro da Sociedade Mariológica “Nossa Senhora de Walsingham”, da Grã-Bretanha.
As sessões matutinas serão constituídas de breves apresentações dos palestrantes, debatendo se é apropriado um quinto dogma mariano nesse momento, enquanto que as sessões vespertinas consistirão em um diálogo entre os palestrantes, a imprensa e o público nesse assunto.
A Academia Pontíficia Mariana foi convidada a participar no diálogo, mas posteriormente informou a revista Inside the Vatican que os membros da Academia não iriam participar. O evento, que é livre e aberto ao público, começará às 10h da manhã na Via Borgo Pio, 141.
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Robert Moynihan é fundador e editor da revista mensal Inside the Vatican. É autor do livro Let God’s Light Shine Forth: the Spiritual Vision of Pope Benedict XVI (2005, Doubleday).
O blog de Moynihan pode ser encontrado no link www.insidethevatican.com. E Moynihan pode ser contactado no e-mail: editor@insidethevatican.com.

Fonte: Zenit.

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