quinta-feira, 26 de maio de 2011

Resgatar chama da fé que ainda brilha na Europa

Diante do crescente secularismo, o Conselho Pontifício para a Nova Evangelização foi instituído no ano passado para propiciar “um impulso missionário capaz de promover uma nova evangelização”, segundo indica o Motu próprio Ubicumque et Semper, publicado em 12 de outubro de 2010.

O primeiro presidente deste dicastério, Dom Rino Fisichella, assegurou que, com este novo organismo da Santa Sé, busca-se enfrentar o “subjetivismo da nossa época”, que se fecha “em um individualismo privado de responsabilidades públicas e sociais”.

O arcebispo colombiano Dom Octavio Ruiz Arenas, quem desempenha a função de vice-presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, foi nomeado, em 14 de maio, como primeiro secretário do novo dicastério.

Nesta entrevista com ZENIT, da capital uruguaia, onde se realizou a 33ª Assembleia Ordinária do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), Dom Ruiz falou da sua nova missão na Santa Sé.

Como o senhor recebe esta nova nomeação do Santo Padre?

Dom Octavio Ruiz: Recebo esta nomeação do Santo Padre com humildade e gratidão. Humildade porque se trata de uma grande responsabilidade, na qual deverei aprender muito, orar intensamente, estudar e refletir, para tentar cumprir da melhor maneira este serviço eclesial. Com gratidão, porque é pela bondade do Santo Padre e pela estima que ele tem por mim, já que fui durante mais de 11 anos um dos seus colaboradores na Congregação para a Doutrina da Fé, que agora me chama para ser secretário deste novo dicastério da Santa Sé, que está tão profundamente arraigado no seu coração.

Como foi a sua experiência no episcopado colombiano e depois como vice-presidente da Comissão para a América Latina?

Dom Octavio Ruiz: Minha experiência como bispo auxiliar de Bogotá, e depois como arcebispo de Villavicencio, foi muito enriquecedora na minha vivência pastoral, já que em ambos os lugares tive a oportunidade de trabalhar intensamente na elaboração dos respectivos planos de pastoral, dentro precisamente da preocupação de colocar em marcha o convite de João Paulo II à nova evangelização. Minha experiência como vice-presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina durante 4 anos me permitiu ter um contato direto e fraterno com as diretivas do CELAM, com as conferências episcopais e com muitas organizações eclesiais latino-americanas, que, de uma maneira ou de outra, estão interessadas em levar a cabo esta tarefa evangelizadora. Igualmente, tive a oportunidade não somente de visitar grande parte dos países latino-americanos e do Caribe, mas pude acompanhar muito de perto os processos que as conferências episcopais foram iniciando para a “missão continental”.

Este dicastério se centra na evangelização da Europa, segundo disse o Papa. Por que o senhor acha que nomearam um colombiano como secretário?

Dom Octavio Ruiz: O Papa Bento XVI tem um grande interesse pelo continente europeu, que, como sabemos, foi invadido pelo secularismo, esquecendo e deixando de lado suas raízes cristãs. A Igreja tem de se dedicar com decisão e entusiasmo a resgatar a chama que ainda brilha nesses países. É preciso levar em consideração, além disso, que o próprio Papa expressou que, ainda que a nova evangelização se encaminhe principalmente, neste momento, à Europa, a América Latina também está chamada a realizar esta nova evangelização, pelos problemas que está enfrentando, pela influência de novas correntes culturais, pelo enfraquecimento da vida cristã em nossos países e pelo avanço de muitos grupos religiosos não-católicos que estão recrutando os nossos fiéis.

Pois bem, quando o Papa João Paulo II começou a falar da nova evangelização, ele lançou um apelo à América Latina, apelo que não deixou de fazer ao longo do seu pontificado, em muitas circunstâncias, em suas viagens, em seus diálogos durante as visitas ad limina. Neste sentido, a nomeação de um bispo latino-americano não deve estranhar, já que se trata de uma região enorme do mundo, na qual se encontra quase a metade dos católicos e que, durante quase 30 anos, vem refletindo e fazendo o esforço de realizar a nova evangelização.

No entanto, na América Latina também cresce este processo de secularismo...

Dom Octavio Ruiz: Sem dúvida, a América Latina também vive isso, mas, ao mesmo tempo, sofre as consequências de um mundo globalizado. As influências externas, os avanços tecnológicos da mídia, o fluxo migratório e muitas outras circunstâncias não eximem nosso Continente de ser afetado pelo secularismo e pela perda da fé. A isso se acrescenta a indiferença religiosa e o avanço do agnosticismo.

Como fazer que esta nova evangelização seja mais eficaz e coerente?

Dom Octavio Ruiz: A nova evangelização tem de seguir o que dizia o Beato João Paulo II: novo ardor, novos métodos, novas expressões. Trata-se de anunciar o Evangelho de sempre, o único, isto é, a pessoa de Jesus Cristo, com toda a clareza e integridade de que nos falava Paulo VI na Evangelii nuntiandi. Temos, então, de buscar a maneira de conhecer a cultura particular de cada povo no qual se fará a evangelização, para encontrar as expressões adequadas, que, sem trair a mensagem, cheguem ao ouvido das pessoas. Os métodos são de grande importância, pois é preciso encontrar a forma de chegar aos que estão afastados, mas com tal ardor, convicção e testemunho pessoal, que atraia a mensagem de um Deus vivo, próximo e cheio de amor, que quer dar sentido à nossa existência. Mas não podemos nos limitar a simples estratégias ou técnicas, porque não podemos esquecer que o grande evangelizador é o Espírito Santo, razão pela qual precisamos de muita oração e de um grande convencimento, bem como da alegria de ter encontrado pessoalmente Jesus Cristo, dentro desta grande comunidade que é a Igreja.

No ano que vem se realizará um sínodo dedicado à nova evangelização. O que o senhor espera desta transcendente reunião?

Dom Octavio Ruiz: No próximo sínodo, convocado por Bento XVI para outubro de 2012, teremos a oportunidade de escutar os delegados de toda a Igreja. Lá poderemos conhecer as grandes inquietudes do mundo atual e dos diversos continentes, suas preocupações, suas esperanças. Ao mesmo tempo, poderemos traduzir em conhecimentos os esforços que já estão sendo realizados para levar a cabo a nova evangelização. Os resultados que saírem de lá – e a posterior exortação apostólica que o Santo Padre nos dará – constituirão a bússola do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.

Fonte: Zenit - (Carmen Elena Villa)

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