terça-feira, 3 de maio de 2011

Patriarca de Jerusalém analisa “primavera árabe”

A "primavera árabe", o papel dos cristãos orientais e da Terra Santa e o que se espera dos cristãos do Ocidente são as perguntas mais importantes realizadas nesta entrevista concedida pelo Patriarca Latino de Jerusalém, Sua Beatitude Fouad Twal.

O que o senhor acha da "primavera árabe"?

Sua Beatitude Twal: Por um lado, estamos muito contentes pelo fato de a juventude tomar consciência, começar a tomar em suas mãos o próprio destino. É um movimento sem nenhum tom político e sem particulares preconceitos religiosos. Vem da conscientização que a juventude árabe teve de sua própria força e vitalidade. Esta superou o elemento do "medo": medo da política, dos serviços secretos, da prisão. Hoje podemos afirmar que o medo mudou de lado. Os governos temem esta multidão de jovens, essa diversidade de opiniões e crenças que se estão despertando. A Igreja sempre pregou mais democracia, mais liberdade e mais dignidade para o nosso povo. Na minha primeira mensagem como Patriarca, declarei que tinha feito o possível para evitar decisões unilaterais, tanto no campo político como no religioso.

Por outro lado, temos de reconhecer que há sempre uma incógnita com relação a esse tipo de movimentos. Ninguém sabe o que acontecerá a seguir. Esperemos que seja o melhor para o bem comum.

Qual é o papel dos cristãos orientais e os da Terra Santa?

Sua Beatitude Twal: Os cristãos do Oriente Médio não deveriam ficar à margem destes movimentos. Como dissemos no sínodo de outubro do ano passado, os cristãos devem sentir-se 100% cidadãos, como seus compatriotas muçulmanos. Devem participar da vida dos seus países, se estes movimentos forem para o bem coletivo. Não gosto de ver os cristãos fora desses movimentos, porque este também é o seu país. Não devem se sentir como um gueto à parte.

Quanto aos cristãos da Terra Santa, temos que recordar que, aqui, a situação política é extremamente delicada e muito diferente da presente em outros países. Não existe uma receita milagrosa. A situação de cada país é única. A Igreja de Jerusalém tem uma missão particular e deve cooperar para a promoção de uma paz justa e duradoura através de suas intervenções, suas instituições e suas escolas. Atualmente, está claro que Israel e os países vizinhos deveriam entender o valor dos protestos generalizados. Se os protestos das multidões de jovens provocaram tais movimentos no interior dos seus regimes, todos os países, incluindo Israel, deveriam estar vigilantes. Nós mesmos, a Igreja Católica e os líderes religiosos, somos interpelados sobre a maneira de guiá-los corretamente.

O que se espera dos cristãos do Ocidente?

Sua Beatitude Twal: Durante o sínodo, tratamos amplamente da questão de que a Igreja Ocidental não deve considerar a Igreja do Oriente como tal. É a mesma Igreja, que está diante dos mesmos desafios que surgem dos jovens, das famílias, das vocações.

Os cristãos que proveem do Ocidente não devem simplesmente ajudar a nossa Igreja; devem considerar-se parte interessada desta Igreja, que é sua Mãe Igreja. Mais ainda, devem sentir-se responsáveis pelo futuro dos cristãos presentes na Terra Santa. Somente vindo morar aqui, em Jerusalém, é que poderão dar "vitaminas" às suas raízes cristãs. Esta é uma vantagem recíproca, tanto no âmbito local como mundial. Jerusalém é a dimensão mundial que será suficiente para a Terra Santa.

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* Christophe Lafontaine é redator do site do Patriarcado Latino de Jerusalém, www.lpj.org

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