sábado, 26 de fevereiro de 2011

Doutrina social da Igreja é resposta à crise econômica

A crise econômica e suas raízes, a lei natural ignorada, a criação de um bem-estar somente material: estes foram alguns dos problemas relacionados à encíclica Caritas in Veritare que estiveram no centro de uma conferência, ontem, do presidente do Instituto para Obras Religiosas (IOR), Ettore Gotti Tedeschi, no final do seminário "Economia social de mercado: uma nova visão", em uma das sedes da Câmara dos Deputados, em Roma.

O orador recordou que a economia de mercado foi definida pelo economista italiano Luigi Einaudi como "uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo, que garante a liberdade individual freando seu instinto egoísta, através de critérios de subsidiariedade e de solidariedade. Nem estatismo nem capitalismo exagerado".

"Entretanto, para que funcione - esta é a minha opinião -, tem que ser baseada na doutrina social da Igreja, porque ela tem experiência e valor", disse ele.

O banqueiro lembrou que "a doutrina social da Igreja foi a forma mais eficaz de tornar o amor efetivo, apesar de que, como diz Bento XVI na encíclica, a caridade desvinculada da verdade não pode subsistir".

No entanto, existem algumas condições: "A doutrina da Igreja, para poder funcionar, requer duas colunas: ensinar, porque a Igreja é mestra, e um Estado que não seja ávido".

O presidente do IOR explicou que "a economia social de mercado, como primeiro objetivo, deve usar os recursos disponíveis de maneira eficiente e obter resultados mais eficazes. O segundo objetivo tem de assegurar o progresso integral, tendo presente a unidade corpo-alma do homem. E, finalmente, precisa distribuir a riqueza criada, não só por caridade, mas também por sustentabilidade".

Crise de sentido

"A encíclica diz que, se a liberdade vem antes da verdade, o homem imaturo raramente chegará à verdade e, portanto, não saberá distinguir entre meios e fins e confundirá o uso dos instrumentos."

"E os instrumentos são neutros. Não existe banco ético nem finanças éticas; existe o homem ético, que faz as finanças de maneira ética e moral, ou seja, dando sentido às suas ações."

"Na introdução da encíclica, o Papa diz que, se o homem começa a refletir e dar sentido à sua vida, os instrumentos, a política, a medicina adquirirão independência e autonomia moral. Mas o instrumento não pode ter autonomia moral. É o homem que dá sentido ao uso dos instrumentos."

"E Bento XVI, na Caritas in veritate, lembra o que Paulo VI disse na Humanae Vitae e na Populorum progressio: não se pode prescindir das ações humanas e do pleno respeito pela vida e não se pode fazer um plano de desenvolvimento econômico se o progresso é apenas material, porque o homem não é apenas um animal material."

Eutanásia e orçamento

Gotti Tedeschi lembrou que "temos negado a dignidade da vida e estamos fazendo progressos apenas materiais. E agora está em discussão a lei sobre a eutanásia. Para provocar, direi: é uma lei econômica, porque não se podem manter os velhos, que custam muito quando não nascem crianças; é uma questão de orçamento".

"A questão - continuou ele - é que os Estados Unidos e a Europa representam, há 30 anos, um bilhão de pessoas. A diferença é a idade delas. Há 25 anos, 25% das pessoas eram menores de 25 anos. Hoje, são 10%. E os de 65 representavam 15%, e hoje são 65% da população."

"Quando as pessoas saem do ciclo de produção, geram gastos de saúde e aposentadoria. O que acontece em uma sociedade que não tem nenhuma mudança geracional? Se a estrutura permanece a mesma, o que é feito para aumentar o PIB?"

"Tudo isso está contido na encíclica - reiterou Gotti Tedeschi. E, no começo, ela afirma que negamos a vida e o desenvolvimento integral."

Redução da dívida

"É possível reduzir a dívida?", perguntou-se Gotti Tedeschi. E lembrou que os três sistemas são: um default, como o argentino; a inflação, uma nova bolha; e que o Papa ensina: a austeridade.

"É preciso voltar a economizar para formar a base monetária e construir - disse. Além disso, 60% das coisas que são consumidas não geram mão de obra."

Do ponto de vista econômico, "o homem tem três dimensões: produtor, consumidor e economizador. Há 20 anos, as dimensões eram coerentes. Agora, porém, eu trabalho e produzo um produto, mas compro um similar feito na Ásia, melhor e que custa menos. Depois de três anos, a minha empresa, que produzia esse mesmo produto, vai falir e, portanto, não gastarei mais".

"Este é o paradoxo da globalização consumista. É o que o Papa chamou de ‘desenvolvimento econômico não-integrado'. Porque o homem se esqueceu de que tem uma alma; considera somente um corpo, pela influência do niilismo e do relativismo."

"Como dizia um ex-ministro italiano da Saúde, Umberto Veronesi, ‘é inútil pensar que o homem tem uma faísca do divino quando o homem é apenas um animal inteligente. Comem e se divertem, mas depois reclamam se alguém faz isso demais'."

Fonte: Zenit.

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