quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Agora não é o momento de deportar haitianos

Os bispos dos EUA divulgaram uma carta pedindo que o governo federal suspenda as deportações de haitianos, citando um relatório que documenta pelo menos uma morte por cólera entre os devolvidos à ilha caribenha.

"Agora não é hora de continuar com as deportações para o Haiti; não seria moral nem politicamente adequado fazê-lo no futuro próximo", disseram os bispos na carta, dirigida à secretária do Departamento de Estado para a Segurança Nacional, Janet Napolitano.

A carta é assinada pelo arcebispo coadjutor de Los Angeles e presidente do Comitê de Migração da Conferência Episcopal, Dom José Gomez, e pelo bispo de Tucson e presidente da Catholic Relief Services, Dom Gerald Kicanas.

A conferência episcopal americana (USCCB) tinha manifestado sua oposição a continuar com deportações para o Haiti, logo que se anunciou, em dezembro passado, que havia terminado o prazo de um ano de prorrogação.

Houve 27 deportações no mês passado; foi um destes deportados quem supostamente morreu de cólera.

Situações insustentáveis

Os bispos foram informados, pelo departamento de segurança, que se tratava de "assuntos de segurança interna" e que "aqueles de quem se havia programado a deportação eram delinquentes que cumpriram penas por ‘antecedentes criminais graves'".

Mas os bispos Gómez e Kicanas falaram de outra realidade: "Entre os 27 e deportados e os outros 300 que aguardam deportação, há um número significativo de condenações não violentas de baixo nível, de pessoas que já haviam sido liberadas e estavam vivendo na comunidade sem incidente durante anos. Outras se encontram em situações humanitárias imperiosas, incluindo condições médicas graves ou potenciais queixas contra as medidas de imigração".

Há planos para levar a cabo 700 deportações até o final do ano, planos condenados pelos bispos por causa dos mais de 3.600 haitianos vítimas de cólera, com outros 400 mil infectados; pelo lento processo de reconstrução, com centenas de milhares de vítimas do terremoto ainda morando em barracas; e pelos distúrbios causados pelas últimas eleições presidenciais de novembro.

"Para agravar esses problemas, as prisões do Haiti, nas quais o governo do país normalmente coloca os deportados e que são conhecidas pelo tratamento desumano dado aos presos, agora estão repletas de cólera - afirmaram. Como se sabe, foi noticiado que um deportado, Wildrick Guerrier, morreu de cólera, contraído em uma prisão do Haiti, e que outro deportado está gravemente doente."

"Continuar com as deportações, nestas condições, representaria um grande e consciente desrespeito pela vida e pela dignidade dos haitianos que serão deportados."

Mau presságio

Além disso, os bispos advertem que as deportações estão enviando um sinal para a ilha, de que os Estados Unidos "abandonaram seu compromisso de ajudar o Haiti a voltar ao normal".

Dom Gomez e Dom Kicanas recomendam três medidas para ajudar o Haiti: redesigná-lo com o status de "proteção temporária"; assegurar a liberdade condicional humanitária para os parentes próximos dos haitianos nos Estados Unidos, para receberem tratamento médico após o terremoto; e implementar um programa condicional de reunificação familiar que beneficiaria mais de 55.000 haitianos com petições familiares aprovadas nos Estados Unidos, enquanto esperam que suas datas prioritárias sejam atualizadas.

Os bispos elogiaram a decisão de Napolitano, do Haiti como nação com status de "proteção temporária" após o terremoto de janeiro de 2010.

"Pedimos-lhe que não negue esta ação positiva com uma retomada das deportações agora - acrescentaram. Em vez disso, pedimos-lhe que se detenham as deportações ao Haiti de maneira indeterminada e que se estenda ao Haiti a ajuda dos EUA, prestando um apoio à imigração de haitianos, sobretudo tendo em conta a atual crise da saúde e a crise política que o país enfrenta."

A carta (em inglês) pode ser lida em www.usccb.org/comm/archives/2011/11-026.shtml

Fonte: Zenit.

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