quarta-feira, 2 de junho de 2010

Princípios para enfrentar emergência educacional, segundo Bento VXI

A chave para compreender a crise atual na educação está em constatar que suas raízes residem numa concepção equivocada de autonomia do homem. Assim explicou o Papa Bento XVI aos bispos italianos, aos quais recebeu em audiência, por ocasião de sua 65ª Assembléia Plenária, na última quinta-feira.
O Papa dedicou um extenso discurso ao aprofundamento do tema - quem tem recebido grande atenção em seu pontificado.
Neste sentido, elogiou a o fato da Conferência Episcopal Italiana ter escolhido este tema para seu plano pastoral para os próximos dez anos.
Bento XVI convidou os prelados a irem "até que as raízes dessa emergência, para assim encontrar respostas adequadas a este desafio."
O Papa apontou para as duas "causas profundas" da crise: em primeiro lugar, "uma falsa noção de autonomia do homem"; em segundo, o ceticismo e o relativismo.
Falsa autonomia
Para a pedagogia moderna, explicou o Papa, "o homem deveria se desenvolver por si mesmo, sem imposições por parte dos demais, aos quais competiria apenas dar suporte a seu auto-desenvolvimento, sem, no entanto, se envolver no processo."
Esta noção, no entanto, é errônea, pois para a pessoa humana "é essencial o fato de que só logra ser ela própria a partir do outro, o ‘eu' se converte em si próprio apenas mediante o ‘tu' e o ‘vós'; é criado para o diálogo, para a comunhão sincrônica e diacrônica", disse o Papa.
"Por isso, a assim chamada educação ‘antiautoritária' não é educação, e sim renúncia a educar", afirmou, destacando aí o ponto chave para abordar a questão: "esta idéia falsa de autonomia do homem como um ‘eu' completo em si mesmo".
A respeito da segunda causa - ceticismo e o relativismo - Bento XVI explicou que estas duas atitudes intelectuais estão fundamentadas "na exclusão das fontes que orientam o caminho humano", a natureza e a Revelação.
A natureza é considerada hoje "como um sistema puramente mecânico", da qual, enquanto ente, "não pode proceder orientação alguma". A Revelação se considera como "um momento do processo histórico" e, portanto, relativo, algo "destituído de conteúdo."
"Assim se calam as duas fontes, a natureza e a revelação, como também a terceira, a história, posto que também a história se converte em um aglomerado de decisões culturais, ocasionais e arbitrárias, que não valem para o presente nem o futuro", prosseguiu.
Por isso, explicou o Pontífice, é fundamental "restabelecer uma concepção verdadeira da natureza como criação de Deus que nos fala", e a Revelação, reconhecendo "que o livro da criação, no qual Deus nos dá orientações fundamentais, está decifrado na Revelação (...) aplicado na história cultural e religiosa, não sem erros, mas de maneira substancialmente válida, que continua a se desenvolver e purificar."
"Em um tempo em que a grande tradição do passado corre o risco de se tornar letra morta, somos chamados a nos aproximar de cada um com disponibilidade sempre renovada, acompanhando no caminho de descoberta e assimilação pessoal da verdade", destacou.
"Educar nunca foi tarefa fácil, mas não podemos nos resignar: estaríamos desvalorizando o mandato que o próprio Senhor nos confiou, chamando-nos a pastorear com amor seu rebanho", afirmou o Papa.
Esta "paixão pela educação" deve ser uma "paixão do ‘eu' pelo ‘tu', pelo ‘nós', por Deus, e que não se resume a uma didática, a um conjunto de técnicas nem tampouco na transmissão de princípios áridos".
Neste sentido, concluiu exortando os bispos presentes a "não perderem a confiança nos jovens", recorrendo a novos meios e novas linguagens, sem porém adulterar o anúncio cristão.

Fonte: Zenit.

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