A praia de Santa Marinella, muito próxima de Roma, era um dos lugares onde Eugenio Pacelli (que depois se tornaria o Papa Pio XII) costumava passar as férias de verão. Ali se colocou, no dia 5 de junho, um busto de bronze, em sua homenagem.
A Ir. Margherita Marchione, da comunidade das Mestras Pias Filipinas, entregou na quarta-feira passada o busto ao Papa Bento XVI, Praça de São Pedro, depois da audiência. "São tantas as fotografias que me vêm em poucos segundos", diz a religiosa, enquanto olha fotos do encontro com o pontífice.
Essa religiosa, nascida em New Jersey (EUA), em 1922, filha de pais italianos, é doutora em filosofia pela Columbia University de Nova York. Dedicou-se a escrever e pesquisar a obra e vida de personagens como Clemente Rebora, Giovanni Boine, Giuseppe Prezzolini, Filippo Mazzei. Nos últimos 15 anos, estudou e publicou 10 livros em inglês e italiano sobre Pio XII.
Nesta entrevista a ZENIT, ela explica a obra e as virtudes do Papa Pacelli.
ZENIT: A senhora conheceu pessoalmente Pio XII. Conte-nos essa experiência.
Ir. Margherita Marchione: Eu o vi na Basílica de São Pedro em 1957. Vim a Roma com sua sobrinha Elena Rossignani Pacelli. Estávamos na primeira fila e ele se aproximou. Beijei-lhe as mãos e lhe falei. Ele me fez algumas perguntas. Queria saber o que fazia em Roma. Eu já era religiosa. Viajava, pesquisava e lhe falei de minha tese sobre o poeta Clemente Rebora. Ele perguntou por minha família e me deu a bênção.
Para mim esta foi uma ocasião impressionante. Recordo-a muito. Ele me falou como se fôssemos amigos de muitos anos. Comoveu-me sua gentileza, seu sorriso. As emoções que senti nesse dia, as impressões que tive são preciosas, indeléveis. Ele emanava santidade.
ZENIT: Por que decidiu tornar-se a principal biógrafa do Papa Pacelli?
Ir. Margherita Marchione: Em 1995, quase 40 anos depois de meu encontro com Pio XII, vim a Roma para um capítulo geral e soube que nossas irmãs, as Mestras Pias Filipinas, tinham salvo em três conventos nossos 114 judeus. Maravilhei-me e disse: como é possível? Essas são as coisas que ninguém escreve! Então me interessei mais por Pio XII, falei com as irmãs que ainda estavam vivas e me comoveu muito o trabalho que fizeram, assim como tantos outros italianos, ao esconder os judeus em nossos conventos em Roma.
Quando regressei aos EUA, comecei a me interessar. Entrevistei vários judeus que tinham sido nossos hóspedes e assim escrevi o primeiro livro em inglês, intitulado Yours is a precious witness. (Seu testemunho é precioso, N. do T.). Falaram-me do trabalho da Igreja para salvar muitos deles. Depois escrevi uma dezena de livros mais. Pude entrevistar pessoas que sofreram verdadeiramente, que estiveram aqui em Roma naquele tempo. Abandonei todos os outros interesses e me dediquei a escrever só sobre Pio XII.
ZENIT: Como foi o trabalho que suas irmãs de comunidade desempenharam para esconder os judeus?
Ir. Margherita Marchione: As irmãs em todos os conventos foram muito solícitas para escondê-las (as mulheres judias). Davam-lhes de comer. Para elas também faltava alimento, mas, apesar disso, davam a metade para as judias. Se os nazistas não tivessem acreditado na irmã que lhes disse que não havia ninguém escondido, não só estas mulheres, mas também as religiosas que as alojavam teriam sido enviadas para Auschwitz. Ou seja, foi preciso muita coragem. Eu admiro o que fizeram e queria divulgar isso.
ZENIT: Outra de suas obras fala do silêncio de Pio XII...
Ir. Margherita Marchione: Sim. Alguns judeus o acusam de silêncio, mas isso não é certo. Seu silêncio era prudente. Ele fez todo o possível para salvar os judeus, nos bastidores, pode-se dizer. Mas ele não podia colocar-se em confronto com os EUA, Inglaterra, Alemanha ou com os países russos.
A obra caritativa de Pio XII foi universal, magnânima, assídua e, sobretudo, cristã e paterna no sentido mais profundo desse termo. Pio XII manteve uma rede diplomática no Vaticano durante toda a guerra. Interessava-se pessoalmente por cada caso humano que conhecia. Jovens e velhos recorriam a ele para ter ajuda e para encontrar seus parentes desaparecidos. Diariamente chegavam numerosos pedidos de todos os países do mundo e todos recebiam sua atenção.
Para permitir a correspondência com as famílias dos prisioneiros, instituiu o departamento de informação para as buscas: um arquivo único no mundo que continha notícias sobre os prisioneiros de guerra. A tarefa destes pessoal da Santa Sé era informar as famílias sobre o estado dos prisioneiros.
ZENIT: que pensa dos julgamentos que às vezes fazem de Pio XII?
Ir. Margherita Marchione: A história deve contar a verdade. Que a Igreja Católica salvou mais de 5.000 judeus só em Roma. Não reconhecer isso é uma vergonha. Por isso, quando escrevo, para mim é necessário dizer a verdade.
Em meu livro Pope Pius XII, quis dar a conhecer as virtudes teologais e cardinais de Pio XII. Dou-lhe só alguns exemplos: ele comia pouquíssimo, não bebia licor ou o mesclava com água durante as refeições, não comia doce, era muito mortificado e de um caráter muito forte. Era um homem de fé, esperança e caridade.
ZENIT: Falemos da personalidade deste Papa...
Ir. Margherita Marchione: Ele estava dotado dos dons do Espírito Santo e em grau heróico, com todas as virtudes: teologais e cardinais. Era orante, era uma pessoa muito serena, tranquila, dedicado a cada dever como pontífice. Por sua própria natureza, era uma mescla entre uma pessoa tolerante e humilde e preferia os ambientes serenos e tranquilos. Doçura versus severidade, persuasão versus imposição. Era muito humilde e sincero, para ele, todos eram iguais. Eu o recordo como um santo, e isso basta.
Fonte: Zenit.
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