sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Papa em Sta. Marta: Amar Cristo sem a Igreja é uma dicotomia absurda



Francisco afirmou na homilia ontem quinta-feira que “não entende um cristão sem Igreja”. Na missa celebrada nesta manhã, na capela da casa Santa Marta, o Papa indicou os três pilares do sentido de pertença eclesial: a humildade, a fidelidade e a oração pela Igreja.
Partindo, como nas homilias desta semana, da figura do rei David que nos é apresentada pelas leituras do dia como um homem que fala com o Senhor como um filho fala com seu pai e, mesmo quando recebe um não, aceita-o com alegria. David – sublinha o Papa- tinha um “sentimento forte de pertença ao Povo de Deus”. E esta sua atitude – afirmou- faz-nos pensar sobre o nosso sentido de pertença à Igreja, o nosso sentir com a Igreja e na Igreja. Então, explicou o Santo Padre:
“O cristão não é um batizado que recebe o Batismo e depois segue o seu caminho. O primeiro fruto do Batismo é fazer-te pertencer à Igreja, ao Povo de Deus. Não se entende um cristão sem Igreja. E por isto o grande Paulo VI diz que é uma dicotomia absurda amar Cristo sem a Igreja; escutar Jesus mas não a Igreja. Não se pode. É uma dicotomia absurda. Nós recebemos a mensagem evangélica na Igreja, e é nela que fazemos nossa santidade. O resto é pura fantasia, como dizia, uma dicotomia absurda”.
Deste modo, Francisco apontou que o “sensus ecclesiae” é justamente sentir, pensar e querer dentro da Igreja. Por isso recordou que há três pilares de pertença à Igreja, de sentir-se Igreja, e explicou cada um deles.
O primeiro é a humildade, ter a consciência de que estar dentro de uma comunidade é uma grande graça: “Uma pessoa que não é humilde, não pode sentir com a Igreja, sentirá aquilo que lhe agrada. E esta humildade que se vê em David: ‘Quem sou eu, Senhor Deus, e que coisa é a minha casa?’. Com aquela consciência que a história da salvação não começou comigo e não terminará quando eu morro. Não, é toda uma história da salvação: eu venho, o Senhor pega em ti, faz-te andar para a frente e depois chama-te e a história continua. A história da Igreja começou antes de nós e continuará depois de nós. Humildade: somos uma pequena parte de um grande povo, que vai pelo caminho do Senhor.”
Depois, o Papa citou o segundo pilar: fidelidade, que está “unida à obediência”. E afirmou: “Fidelidade à Igreja; fidelidade ao seu ensinamento; fidelidade ao Credo; fidelidade à doutrina, conservar esta doutrina. Humildade e fidelidade. Também Paulo VI nos recordava que nós recebemos a mensagem do Evangelho como um dom e devemos transmiti-lo como um dom, mas não como uma coisa nossa: é um dom recebido que damos. E nesta transmissão ser fieis. Porque nós recebemos e devemos dar um Evangelho que não é nosso, que é de Jesus e não devemos – dizia ele – ser proprietários do Evangelho, donos da doutrina recebida, para utiliza-la ao nosso prazer.”
Por fim, o Papa Francisco disse que o terceiro pilar é um serviço particular: “oração pela Igreja”. “Como vai a nossa oração pela Igreja? Nós rezamos pela Igreja? Na missa todos os dias, mas em casa, não? Quando rezamos?”- questionou o Santo Padre-. Por isso pediu “ao Senhor que nos ajude a ir por este caminho para aprofundarmos a nossa pertença e o nosso sentir com a Igreja”.

Fonte: Zenit.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Presbíteros segundo o coração de Jesus, para o mundo de hoje

“Presbíteros segundo o coração de Jesus para o mundo de hoje” foi o tema do 2º Seminário Nacional sobre Formação Presbiteral, promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada e pela Organização de Seminários e Institutos Filosófico-Teológicos do Brasil, que aconteceu na cidade de Aparecida de 20 a 25 de janeiro.
Cerca de 232 pessoas, entre reitores de seminários, seminaristas, diretores de institutos, professores, psicólogos, padres, bispos, religiosos (as) participaram do evento.
A mensagem final do Seminário destaca a vocação ao ministério ordenado como um dom, pois, sua origem “não está em nós mesmos”, mas no “encontro com a Pessoa de Jesus e seu projeto”, bem como uma tarefa, pois, “cada um é convocado a fazer crescer e frutificar o dom recebido na comunhão do presbitério”.
Sobre os desafios das instituições, reconhecendo “as fragilidades e as dificuldades” existentes, o documento ressalta a necessidade de “melhor qualificar o processo formativo”. “Sabemos que o testemunho de pessoas apaixonadas pelo Crucificado-Ressuscitado é fundamental neste nosso serviço. “Ele é a fonte da nossa esperança, e não nos faltará a sua ajuda para a missão que nos foi confiada” (Papa Francisco. Evangelii Gaudium, n. 278).”
A mensagem exorta a “deixar de lado tudo que atrapalha à configuração com Jesus Cristo” e “a cuidar do coração, tornando-o pleno de ardor e fervor”.
Por fim convida os presbíteros a perseverarem e a não se deixarem “abater pelos desafios”, pois “Cristo é nossa vida e nosso guia, nossa esperança e nosso fim, nossa única referência”.
A mensagem conclui pedindo a intercessão de São Luiz Gonzaga e São João Maria Vianney, padroeiros dos seminaristas e dos padres.

Fonte: Zenit.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Pescadores

Jesus morou em Cafarnaum, que fica às margens do Mar da Galileia, mar de água doce, também chamado de Lago de Genesaré. Um “rio-mar”! São principalmente as águas que vêm do Monte Hermon que o constituem, para depois prosseguir, Rio Jordão, até o Mar Morto. Às margens do Jordão acorreram multidões para o batismo de João, na preparação penitencial à vinda do Messias Salvador. Em seu entorno aconteceu a maior parte dos eventos da vida pública do Senhor naquela região (Mt 4, 12-23). Foram poucas as incursões em outras áreas, além das viagens a Jerusalém e algumas cidades ou aldeias da Judeia.
Jesus tinha aprendido de São José o digno ofício de carpinteiro, provavelmente exercido nos anos de juventude, mas é do meio de pescadores que chama seus primeiros discípulos. Foi também da pesca e do mar que tirou muitas de suas belíssimas parábolas, com as quais aproximava os ouvintes da realidade do Reino de Deus. E a Galileia das nações (Mt 4,15) foi o espaço para o convite ao Reino e a conversão de muitas pessoas. O Senhor tinha a paixão pelo Reino. “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” era como um refrão repetido! E até hoje é esta a palavra que pode tocar no coração das pessoas.
Pregar o Evangelho do Reino e curar as doenças e enfermidades (Mt 4, 23) eram as ocupações principais de Jesus. Palavra e gestos que a expressavam, fé e vida! Por onde passava, as pessoas encontravam um sentido novo naquilo que faziam, descobriam novos laços de relacionamento, mudavam as prioridades de sua existência. E ele se revelava Senhor, dominando as doenças, as forças da natureza, o demônio e a morte. Os discípulos foram chamados a testemunhar as mudanças e a se comprometerem com elas, tornando-se depois multiplicadores da mesma graça.
Simão, André, Tiago e João eram pescadores de profissão, não apenas ocasionais ou diletantes. Nem dava para exercitar a mentira sobre o tamanho do peixe, como se costuma brincar com pescadores de nosso tempo. Sua labuta incluía noites e madrugadas mar adentro, para levar à praia, ao nascer do sol, o fruto de seu trabalho, a ser negociado e transformado em sustento. Daí em diante o pescador devia descansar um pouco em casa e retornar, ao cair da tarde, ao seu trabalho. Pode-se imaginar o que estava por trás da resposta de Pedro a Jesus: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, pela tua palavra, lançarei as redes” (Lc 5, 5).
De sua profissão podem-se recolher preciosos ensinamentos, que aparecem como sinais da verdade do Reino de Deus. O pescador deve saber a hora adequada para pescar. Confere lua, vento, maré, estação do ano! Não se precipita! Sua tarefa é tantas vezes um grande exercício de paciência. Depois o pescador sabe identificar as espécies de peixes. Seu discernimento contribui para a própria profissão, assim como assegura a continuidade do produto de seu trabalho. Nem se pode pensar em pesca predatória! O trabalho que faz exige persistência e perseverança dedicação de dias e anos. Sua pele é curtida pelo vento, o sol e as intempéries, para aguentar firme!
Nossa Região Amazônica é rica de rios, barcos, ilhas, ribeirinhos, pescadores. Esta é uma excelente oportunidade para reconhecer a bravura e a coragem os povos dos rios e das florestas. Considero preciosos dons de Deus o Açaí, a mandioca e a farinha, o peixe e o camarão, ao lado de outros produtos prodigalizados pela Providência de Deus. Os ribeirinhos e pescadores carregam consigo os mesmos dons acima citados, que correspondem a valores do Reino de Deus. É que Deus fala através de sua Palavra proclamada e fala através dos sinais de seu Reino oferecidos pela própria vida, um livro eivado de sabedoria! Não poucas vezes pude contemplar o vai-e-vem de homens e mulheres levando ao comércio de nossos portos o fruto de seu trabalho, tantas vezes submetidos a condições duras e até injustas para ganhar o dinheiro literalmente suado, com o qual as famílias são sustentadas. As viagens em “casquinhas”, os remos ou os pequenos motores, até chegar aos barcos maiores e navios, tudo é carregado de paciência, persistência, perseverança, discernimento, coragem! Deus seja louvado por tantos “livros” abertos na vida! Deus seja louvado pela abundância das águas. Deus seja louvado, olhando de Belém, pelo nosso “rio-mar”!
E foram pescadores de peixes que se tornaram pescadores de homens! Chegue ao coração de todos os fiéis, das diversas culturas e ambientes, o convite a que crianças, adolescentes e jovens olhem para o Senhor e descubram seu olhar e sua palavra forte e firme, que chama ao seu seguimento. Em nome do Senhor e de sua Igreja, quero chamar do meio dos povos das terras, das águas e das florestas homens e mulheres generosos, dispostos a dar tudo a Deus. Amplio este convite a todos os que do continente olham para nossos rios e mares, a fim de que surjam muitas vocações ao serviço do Senhor e de seu Reino.
E a todos os povos e culturas que nos conhecem ou querem conhecer, chegue a convicção expressa na recente Carta de Manaus: “A Igreja Católica na Amazônia Legal vive e cresce com características próprias, enraizadas na sabedoria tradicional e na religiosidade popular que durante séculos alimentou e continua a manter viva a espiritualidade dos povos da floresta e das águas, e agora, do mundo urbano. Enfrenta com alegria as dificuldades das distâncias e da falta de comunicação para encontrar e oferecer ao rebanho, confiado a nós pelo Senhor da messe, a luz da Palavra de Deus e a Eucaristia como alimentos que revigoram e animam as forças para viver a comunhão com Deus e cuidar da Amazônia como chão da partilha, pátria solidária, “morada de povos irmãos e casa dos pobres” (Carta de Manaus, no Primeiro Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal; Cf. Documento de Aparecida, número 8). Que o Brasil se apaixone conosco pelos desafios da missão!

Dom Alberto Taveira Correa reflete sobre a missão na Amazônia

sábado, 25 de janeiro de 2014

Terceiro domingo do Tempo Comum

Textos: Isaías 8, 23 – 9, 3; 1 Co 1, 10-13.17; Mateus 4, 12-23.
Ideia principal: a missão salvadora de Cristo é universal, ou seja, veio para salvar a todos.
Resumo da mensagem: O Filho de Deus, Jesus, que tem sua identidade de Servo (mensagem do último domingo), precisa de colaboradores para levar adiante a missão salvífico universal confiada pelo Pai (Evangelho), que é de luz (primeira leitura) de amor e de união (segunda leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, Jesus começa sua missão salvífico universal não na Jerusalém sagrada e religiosa, nem na pacífica Judéia, mas na Galiléia dos gentios, onde havia uma mistura de raças e um trânsito de civilizações, mistura de judeus e pagãos. Galiléia estava “na fronteira” e ali aconteciam ultrajes, delírios e descrenças. A escolha deste cenário nos sugere que Jesus oferecerá uma salvação universal. Jesus é apresentado como luz (primeira leitura), como o amor como salvação para todos. Ninguém é excluído.
Em segundo lugar, como a missão salvífico universal de Jesus é difícil, quer a livre e amorosa colaboração dos homens para que lhe ajudem. Portanto, os chama com amor e confiança. Eles respondem livremente deixando tudo para segui-lo. E têm que ir e evangelizar, como nos diz o Papa Francisco em sua exortação, não a lugares fáceis, mas a lugares “incômodos​”, e isto “sem demora, sem repugnância e sem medo” (Evangelii Gaudium, 23), "primereando" no amor (Id. 24) e levando a palavra de ordem de conversão a Jesus (Evangelho) e vínculo mútuo que quebra tudo partidarismo eclesial (segunda leitura).
Finalmente, para esta missão salvífico universal Jesus nos convidou a todos os batizados para sermos seus colaboradores. Cristo passa através das escolas, das fábricas, das legislaturas, nas estradas, e convida a todos para segui-lo e espalhar seu evangelho, cada um segundo a sua capacidade e de acordo com sua vocação peculiar. Alguns como leigos – a maioria -, outros como religiosos e outros como sacerdotes. Como batizados somos chamados a apoiar esta missão salvífico universal de Cristo, sendo profetas que anunciam a Cristo e à Sua Palavra e denunciam, a partir do evangelho, o que fere a Deus e aos irmãos; sacerdotes que sabem oferecer os seus sofrimentos e alegrias, e reis para servir a todos e lutar contra o pecado em seus corações e nos corações dos outros. Para isso temos que deixar nosso barco, nossas redes, nossos pais e talvez possibilidades boas e legítimas (Evangelho).
Para refletir: se Cristo me chamasse hoje a me comprometer com mais seriedade em sua missão salvífico universal, responderia  que “sim” ou “não”? Que coisas me prendem ao meu barco e minhas redes? Estou revestido da luz e do amor de Jesus para transmiti-lo aos outros.


P. Antonio Rivero, L.C. Doutor em Teologia Espiritual, professor e diretor espiritual no seminário diocesano Maria Mater Ecclesiae de São Paulo (Brasil).
Para qualquer sugestão ou dúvida, podem se comunicar com o padre Antônio neste e-mail: arivero@legionaries.org

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Superar o "escândalo" da divisão entre os cristãos

"Cristo não está dividido"; por isso, "a divisão entre os cristãos" só pode ser definida como um "escândalo", disse hoje o papa Francisco numa chuvosa e lotada audiência geral. É uma resposta clara para a pergunta que São Paulo fez aos cristãos de Corinto: "Cristo acaso está dividido?".
A pergunta é o tema inspirador da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, em andamento até o próximo sábado, dia da Conversão do Apóstolo dos Gentios. Uma "iniciativa espiritual preciosa", define o papa, que, há mais de um século, envolve as comunidades cristãs e deve ser aproveitada como um "tempo dedicado à oração pela unidade de todos os batizados", à luz da exortação de Cristo para que "todos sejam um".
Hoje, observa o papa, "precisamos reconhecer sinceramente e com dor que as nossas comunidades continuam vivendo entre divisões que são um escândalo". É um paradoxo, porque "o nome de Cristo cria comunhão e unidade, não divisão! Ele veio trazer a comunhão entre nós, não nos dividir".
As divisões "enfraquecem a credibilidade e a eficácia do nosso compromisso de evangelização", ameaçando "esvaziar" o poder do batismo e da cruz, os dois elementos centrais comuns a todo o "discipulado cristão". O convite do papa é para "nos alegrarmos sinceramente com as graças concedidas por Deus aos cristãos", a exemplo de Paulo, que, como recorda o Santo Padre, sabe "reconhecer com alegria os dons de Deus presentes em outras comunidades".
"É bonito reconhecer a graça com que Deus nos abençoa", diz o bispo de Roma, e, mais ainda, "encontrar, em outros cristãos, aquilo de que precisamos, aquilo que podemos receber como um presente dos nossos irmãos e irmãs". O primeiro passo é, portanto, "encontrar-se": um gesto aparentemente trivial, mas que, muitas vezes, se torna um objetivo difícil de alcançar. O encontro, explicou o papa, "exige algo mais: muita oração, humildade, reflexão e conversão contínua". Não nos desanimemos, exorta o papa. "Sigamos em frente neste caminho, rezando pela unidade dos cristãos, para que este escândalo acabe e não exista mais entre nós".
Como na última quarta-feira, no momento da saudação aos fiéis na Praça de São Pedro, o papa Francisco dirigiu seus pensamentos primeiramente aos peregrinos de língua árabe, especialmente aos que vieram do Egito. Para eles, o auspício de que "a fé não seja motivo de divisão, mas instrumento de unidade e de comunhão com Deus e com os irmãos (...) A invocação do nome do Senhor não seja razão de encerramento, mas de abertura do coração para o amor que une e acrescenta". Bergoglio convidou a perseverar na oração, para que "nosso Senhor conceda a unidade aos cristãos, vivendo a diferença como riqueza; vendo no outro um irmão a ser acolhido com amor".
O Santo Padre saudou depois os participantes do encontro e coordenadores regionais do Apostolado do Mar, liderado pelo cardeal Antonio Maria Vegliò, exortando-os a ser "a voz dos trabalhadores que vivem longe dos seus entes queridos e que enfrentam o perigo e a dificuldade".
No final da audiência, o papa dedicou um pensamento à Conferência Internacional de Apoio à Paz na Síria, que acaba de começar em Montreux, Suíça, e que incluirá negociações de paz em Genebra a partir de 24 de janeiro. A oração do Sucessor de Pedro é um apelo tocante ao Senhor para que Ele "abrande o coração de todos, a fim de que, procurando apenas o bem maior do povo sírio, já tão duramente provado, não poupem nenhum esforço para chegar urgentemente ao fim da violência e ao fim do conflito que já causou sofrimento demais".
Sofrimento que, traduzido em números, deixou em três anos de conflito mais de 130 mil mortos e uma quantidade incontável de refugiados. O papa pede que todos, fiéis, cidadãos e pessoas de boa vontade, contribuam para abrir nessa terra martirizada "um caminho decidido de reconciliação, de harmonia e de reconstrução (...) Que cada um encontre no outro não um inimigo, não um concorrente, e sim um irmão para aceitar e para abraçar".

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Catequese do Papa Francisco na audiência de ontem quarta-feira

Queridos irmão e irmãs,

Sábado passado iniciou-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que se concluirá sábado próximo, festa da conversão de São Paulo apóstolo. Esta iniciativa espiritual, mais do que nunca preciosa, envolve as comunidades cristãs há mais de cem anos. Trata-se de um tempo dedicado à oração pela unidade de todos os batizados, segundo a vontade de Cristo: “que todos sejam um” (Jo 17, 21). Todos os anos, um grupo ecumênico de uma região do mundo, sob a condução do Conselho Ecumênico das Igrejas e do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, sugere um tema e prepara subsídios para a Semana de Oração. Este ano, tais subsídios são provenientes das Igrejas e comunidades eclesiais do Canadá, e fazem referência à pergunta dirigida por Paulo aos cristãos de Corinto: “Então estaria Cristo dividido?” (1 Cor 1, 13).
Certamente Cristo não está dividido. Mas devemos reconhecer sinceramente e com dor que as nossas comunidades continuam a viver divisões que são um escândalo. As divisões entre nós cristãos são um escândalo. Não há outra palavra: um escândalo. “Cada um de vós – escrevia o apóstolo – diz: “Eu sou de Paulo”, “Eu sou de Apolo”, “E eu de Cefas”, “E eu de Cristo”” (1, 12). Mesmo aqueles que professavam Cristo como seu líder não são aplaudidos por Paulo, porque usavam o nome de Cristo para separar-se dos outros dentro da comunidade cristã. Mas o nome de Cristo cria comunhão e unidade, não divisão! Ele veio para fazer comunhão entre nós, não para dividir-nos. O Batismo e a Cruz são elementos centrais do discipulado cristão que temos em comum. As divisões, em vez disso, enfraquecem a credibilidade e a eficácia do nosso compromisso de evangelização e arriscam esvaziar a Cruz do seu poder (cfr 1,17).
Paulo repreende os coríntios pelas suas disputas, mas também dá graças ao Senhor “por causa da graça de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus, porque Nele fostes enriquecidos de todos os dons, aqueles da palavra e aqueles do conhecimento” (1, 4-5). Estas palavras de Paulo não são uma simples formalidade, mas o sinal que ele vê antes de tudo – e disto se alegra sinceramente – os dons feitos por Deus à comunidade. Esta atitude do Apóstolo é um encorajamento para nós e para cada comunidade cristã a reconhecer com alegria os dons de Deus presentes nas outras comunidades. Apesar do sofrimento das divisões, que infelizmente ainda permanecem, acolhemos as palavras de Paulo como um convite a alegrar-nos sinceramente pelas graças concedidas por Deus a outros cristãos. Temos o mesmo Batismo, o mesmo Espírito Santo que nos deu a Graça: reconheçamos isso e nos alegremos.
É belo reconhecer a graça com a qual Deus nos abençoa e, ainda mais, encontrar nos outros cristãos algo de que necessitamos, algo que podemos receber como um dom dos nossos irmãos e irmãs. O grupo canadense que preparou os subsídios desta Semana de Oração não convidou as comunidades a pensarem naquilo que poderiam dar a seus vizinhos cristãos, mas os exortou a encontrar-se para entender aquilo que todos podem receber de tempos em tempos dos outros. Isso requer algo a mais. Requer muita oração, requer humildade, requer reflexão e contínua conversão. Sigamos adiante neste caminho, rezando pela unidade dos cristãos, para que este escândalo seja exterminado e não esteja mais entre nós.

(Tradução: Jéssica Marçal/Canção Nova) - Fonte: Zenit.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O Concílio Vaticano II: uma reviravolta ecumênica

Aconteceu ontem, em Milão, na Escola FAES de Monforte, um encontro intitulado "Catolicismo e a Igreja Ortodoxa Russa. Passado e Presente". Como palestrantes o Cav. Lav. Ing. Rosario Alessandrello, Presidente da Fundação Centro para o desenvolvimento das relações Itália-Russia.
A conferência percorreu a história do Cristianismo na Rússia, com especial atenção para as relações entre as Igrejas irmãs. Alessandrello começou a sua conferência recordando que o cisma de 1054 marca a separação de Roma das Igrejas Cristãs de rito bizantino fiéis aos primeiros sete concílios ecumênicos. “A mais numerosa entre elas – explicou Alessandrello - é a Igreja Russa". “As Igrejas Ortodoxas, que hoje contam com oito patriarcados e muitas Igrejas independentes (chamadas autocéfalas ou semi-autônomas), reconhecem um primado de honra ao patriarca de Constantinopla. Os fiéis são cerca de 230 milhões", disse Alessandrello.
Depois explicou que “Kiev, em particular, é o berço histórico da Ortodoxia Russa, porque aqui no século X se realizou a evangelização da antiga Russia, evento que culminou em 988 no batismo do príncipe Vladimir de Kiev, quando a povo russo recebeu a sua identidade cristã. Durante séculos, Kiev foi a sede do primaz da Igreja Russa (até sua mudança para Moscou no século XVI) e permanece até hoje cidade cheia de legado simbólico".
Em seguida, falou-se das tentativas, ao longo da história, de reunificar a Igreja Ortodoxa com a Igreja Católica, no entanto, sistematicamente, "caído em saco roto". Uma vez foi representada pelo Concílio Ecumênico II, onde o tema da unidade dos cristãos foi colocado no centro das discussões.
Acabado o Concílio, de fato, “aconteceu a abolição recíproca da excomunhão do ano de 1054 em uma reunião entre o Patriarca Atenágoras e o Papa Paulo VI", disse Alessandrello. "De fato, no século XX - disse o palestrante -, para o Cristianismo poucos dias são históricos como o 5 de janeiro de 1964. Cinquenta anos atrás, Paulo VI e o patriarca ortodoxo de Constantinopla, Atenágoras, se encontraram e se abraçaram em Jerusalém. No dia 6 de Janeiro o Papa fez a visita ao patriarca. Fechava-se quase um milênio de excomunhão e de falta de comunicação. Era uma reviravolta”.
Mas novas ações são esperadas no futuro para permitir que respirem juntos os "dois pulmões da Europa" – parafraseando uma definição de João Paulo II. "A personalidade do Patriarca Kirill e o Pontificado de Ratzinger - foi lembrado - têm ajudado para mudar o eixo da relação entre Roma e a Ortodoxia sobre as questões da colocação do cristianismo no mundo contemporâneo, em particular aceitando o desafio de reavivar a relação entre o cristianismo e a Europa, em uma perspectiva que Moscou concebe como euro-russa. Uma mudança significativa também do ponto de vista geopolítico".
São do passado mais recente uma série de episódios significativos: o apelo do papa Francisco ao presidente russo Putin para que defenda os cristãos no Oriente, a manifestação de uma comum devoção de Francisco e Putin à Virgem Maria e o anúncio do Santo Padre de uma viagem à Terra Santa para celebrar com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, os 50 anos do encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras e, portanto, reafirmar a unidade dos cristãos no mundo como essencial estímulo de paz.

(Trad.TS) - Fonte: Zenit.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Liberdade religiosa e o diálogo inter-religioso

Professores do ensino religioso, agentes de pastoras e especialistas se reúnem a partir de hoje, 17, em São Paulo, para debater os aspectos determinantes do pluralismo eclesial e religioso no Brasil. Esse é um dos objetivos do V Simpósio de Formação Ecumênica e XVI Encontro de Professores de Ecumenismo, que serão realizados, simultaneamente, até o dia 19 de janeiro.
O evento é organizado pela Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB, com o propósito de capacitar agentes de pastoral e professores.
A conferência de abertura, prevista para às 15h, contará com a presença do padre Marcial Maçaneiro, teólogo e professor, com atuação no MEC para verificação de cursos de Filosofia e Teologia no Brasil. Ele irá debater com os participantes as declarações Nostra Aetate e Dignitatis Humanae, que tratam da liberdade religiosa e sobre o diálogo inter-religioso. Esses textos foram escritos durante o Concílio Vaticano II e completaram 50 anos de suas publicações.
O perito em ecumenismo, padre Gabriele Cipriani, que possui longa trajetória de estudos da temática, abordará o Decreto sobre Ecumenismo Unitatis Redintegratio, no qual a Igreja incentiva promover a unidade entre os cristãos. Assinado pelo papa Paulo VI, o decreto “quer propor a todos os católicos os meios, os caminhos e as formas com que eles possam corresponder a esta vocação e graça divina”.
Diálogo
De acordo com o assessor da comissão, padre Elias Wolff, o seminário pretende aprofundar a compreensão das orientações do Concílio Vaticano II sobre o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, para favorecer atitudes de encontro, diálogo e cooperação entre igrejas e religiões.
“Queremos intensificar o processo de formação para quem já estuda e analisa o contexto religioso brasileiro. Também esta é uma oportunidade aos agentes que atuam na dimensão pastoral, na tentativa de buscarmos métodos para vincular a evangelização e o diálogo. Desta forma, encaminhar a ação missionária da Igreja, a partir da convivência entre cristãos e membros de outras religiões”, explica padre Elias.

Fonte:CNBB

sábado, 18 de janeiro de 2014

Judeus e cristãos são "parentes" também teologicamente

Hóspede da Pontifícia Universidade Gregoriana, o rabino de Buenos Aires, Abram Skorka, falou detalhadamente sobre a sua amizade com o papa Francisco, as relações judaico-cristãs e as perspectivas da visita pastoral do Santo Padre à Terra Santa.
Na conferência pública realizada ontem à noite no auditório da universidade jesuíta, participou também o cardeal Kurt Koch, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos e da Comissão para as Relações Religiosas com os Judeus. A conferência foi aberta pelo reitor, pe. François-Xavier Dumortier, SJ.
Conforme explicado pelo cardeal Koch, a mesa redonda de ontem foi também um tributo à memória do cardeal jesuíta alemão Augustin Bea (1881-1968), figura de destaque do Concílio Vaticano II, pioneiro do diálogo judaico-cristão e um dos principais arquitetos da declaração Nostra Aetate. O Centro de Estudos Judaicos da Universidade Gregoriana homenageia o nome do cardeal Bea.
O rabino Skorka apresentou o contexto histórico da pluralidade multicultural e religiosa de Buenos Aires, que, desde o século XIX, se tornou destino de vítimas de perseguição política e de minorias étnicas da Europa, dando vida à maior comunidade judaica da América Latina.
O diálogo judaico-católico na Argentina, disse o rabino, vem historicamente de antes do Vaticano II e, de alguma forma, foi precursor das suas ideias a partir do nascimento, em 1956, da primeira fraternidade judaico-cristã do subcontinente latino-americano.
O verdadeiro propósito do diálogo inter-religioso, disse Skorka, “é essencialmente a explicação do porquê da nossa fé, do motivo de sermos judeus em vez de cristãos. É uma prática que não pode ser fim em si mesma e que deve evitar a autocomplacência, fugindo das tentações de proselitismo”.
Só assim poderemos "nos conhecer e amar", disse o rabino, destacando que, em hebraico, os verbos conhecer e amar são sinônimos. "Deus está em cada homem. Por isso, respeitar a Deus significa respeitar quem está perto de mim", declarou.
O diálogo inter-religioso, observou ainda, se divide em três níveis: os dois primeiros são o conhecimento e o amor; depois vem o nível teológico, que, em particular nas relações judaico-cristãs, pode ser bastante frutuoso. "Durante o nosso último encontro, o papa Francisco disse que o próximo passo é justamente o teológico", afirmou o rabino de Buenos Aires.
Recordando o calote argentino de 2001, Skorka comentou que a crise foi uma oportunidade na qual "as instituições religiosas foram chamadas a colaborar umas com as outras de maneira profunda".
Sobre a próxima visita do papa Francisco à Terra Santa, o rabino de Buenos Aires espera que a viagem inspire uma "mensagem de paz", embora o papa "não vá resolver todos os problemas; pelo menos ele vai deixar um sinal".
ZENIT perguntou sobre as armadilhas desta visita pastoral, em particular sobre o risco de uma "banalização" do evento. Skorka respondeu que "há grandes expectativas entre todas as pessoas" devido ao "grande carisma" de Francisco, e que, deste ponto de vista, o desafio para o papa será precisamente demonstrar que uma viagem desse tipo não é uma trivialidade.
ZENIT perguntou também qual é a visão do rabino sobre o diálogo entre cristãos e muçulmanos, revitalizado pelo papa Francisco especialmente depois da mensagem por ocasião do Ramadã. Skorka considera que o diálogo inter-religioso é uma necessidade para todas as religiões e não deve excluir nenhuma fé.
O rabino acrescentou que as relações judaico-cristãs, no entanto, sempre terão uma vantagem em virtude das raízes comuns abraâmicas, “que nos tornam, em certo sentido, parentes”. Além disso, foi no contexto histórico judaico que o cristianismo veio à luz.
É significativo, observa Skorka, que Jesus fosse chamado de rabbi, ou seja, rabino, mestre. Do ponto de vista teológico, "a relação é muito profunda".
Com o islã também há raízes abraâmicas em comum, mas as circunstâncias históricas levaram a uma diversidade maior, que torna o diálogo mais complexo, pelo menos no âmbito teológico. É um caso parecido com o das relações entre as três religiões monoteístas e o budismo, por exemplo.
Em todo caso, reiterou o rabino, o diálogo inter-religioso é sempre necessário pelo menos nos dois primeiros níveis, o do conhecimento e o do amor, e deve ter como pilar essencial "o respeito pela vida" em todas as suas formas.

Fonte: Zenit.

Judeus e cristãos são "parentes" também teologicamente

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Vocações, testemunho da verdade



Amados irmãos e irmãs!

1. Narra o Evangelho que «Jesus percorria as cidades e as aldeias (...). Contemplando a multidão, encheu-Se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. Disse, então, aos seus discípulos: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe"» (Mt 9, 35-38). Estas palavras causam-nos surpresa, porque todos sabemos que, primeiro, é preciso lavrar, semear e cultivar, para depois, no tempo devido, se poder ceifar uma messe grande. Jesus, ao invés, afirma que «a messe é grande». Quem trabalhou para que houvesse tal resultado? A resposta é uma só: Deus. Evidentemente, o campo de que fala Jesus é a humanidade, somos nós. E a acção eficaz, que é causa de «muito fruto», deve-se à graça de Deus, à comunhão com Ele (cf. Jo 15, 5). Assim a oração, que Jesus pede à Igreja, relaciona-se com o pedido de aumentar o número daqueles que estão ao serviço do seu Reino. São Paulo, que foi um destes «colaboradores de Deus», trabalhou incansavelmente pela causa do Evangelho e da Igreja. Com a consciência de quem experimentou, pessoalmente, como a vontade salvífica de Deus é imperscrutável e como a iniciativa da graça está na origem de toda a vocação, o Apóstolo recorda aos cristãos de Corinto: «Vós sois o seu [de Deus] terreno de cultivo» (1 Cor 3, 9). Por isso, do íntimo do nosso coração, brota, primeiro, a admiração por uma messe grande que só Deus pode conceder; depois, a gratidão por um amor que sempre nos precede; e, por fim, a adoração pela obra realizada por Ele, que requer a nossa livre adesão para agir com Ele e por Ele.

2. Muitas vezes rezámos estas palavras do Salmista: «O Senhor é Deus; foi Ele quem nos criou e nós pertencemos-Lhe, somos o seu povo e as ovelhas do seu rebanho» (Sal 100/99, 3); ou então: «O Senhor escolheu para Si Jacob, e Israel, para seu domínio preferido» (Sal 135/134, 4). Nós somos «domínio» de Deus, não no sentido duma posse que torna escravos, mas dum vínculo forte que nos une a Deus e entre nós, segundo um pacto de aliança que permanece para sempre, «porque o seu amor é eterno!» (Sal 136/135, 1). Por exemplo, na narração da vocação do profeta Jeremias, Deus recorda que Ele vigia continuamente sobre a sua Palavra para que se cumpra em nós. A imagem adoptada é a do ramo da amendoeira, que é a primeira de todas as árvores a florescer, anunciando o renascimento da vida na Primavera (cf. Jr 1, 11-12). Tudo provém d’Ele e é dádiva sua: o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, mas – tranquiliza-nos o Apóstolo - «vós sois de Cristo e Cristo é de Deus» (1 Cor 3, 23). Aqui temos explicada a modalidade de pertença a Deus: através da relação única e pessoal com Jesus, que o Baptismo nos conferiu desde o início do nosso renascimento para a vida nova. Por conseguinte, é Cristo que nos interpela continuamente com a sua Palavra, pedindo para termos confiança n’Ele, amando-O «com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças» (Mc 12, 33). Embora na pluralidade das estradas, toda a vocação exige sempre um êxodo de si mesmo para centrar a própria existência em Cristo e no seu Evangelho. Quer na vida conjugal, quer nas formas de consagração religiosa, quer ainda na vida sacerdotal, é necessário superar os modos de pensar e de agir que não estão conformes com a vontade de Deus. É «um êxodo que nos leva por um caminho de adoração ao Senhor e de serviço a Ele nos irmãos e nas irmãs» (Discurso à União Internacional das Superioras Gerais, 8 de Maio de 2013). Por isso, todos somos chamados a adorar Cristo no íntimo dos nossos corações (cf. 1 Ped 3, 15), para nos deixarmos alcançar pelo impulso da graça contido na semente da Palavra, que deve crescer em nós e transformar-se em serviço concreto ao próximo. Não devemos ter medo: Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada estação da vida. Ele nunca nos abandona! Tem a peito a realização do seu projecto sobre nós, mas pretende consegui-lo contando com a nossa adesão e a nossa colaboração.

3. Também hoje Jesus vive e caminha nas nossas realidades da vida ordinária, para Se aproximar de todos, a começar pelos últimos, e nos curar das nossas enfermidades e doenças. Dirijo-me agora àqueles que estão dispostos justamente a pôr-se à escuta da voz de Cristo, que ressoa na Igreja, para compreenderem qual possa ser a sua vocação. Convido-vos a ouvir e seguir Jesus, a deixar-vos transformar interiormente pelas suas palavras que «são espírito e são vida» (Jo 6, 63). Maria, Mãe de Jesus e nossa, repete também a nós: «Fazei o que Ele vos disser!» (Jo 2, 5). Far-vos-á bem participar, confiadamente, num caminho comunitário que saiba despertar em vós e ao vosso redor as melhores energias. A vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno. Porventura não disse Jesus que «por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35)?

4. Amados irmãos e irmãs, viver esta «medida alta da vida cristã ordinária» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31) significa, por vezes, ir contra a corrente e implica encontrar também obstáculos, fora e dentro de nós. O próprio Jesus nos adverte: muitas vezes a boa semente da Palavra de Deus é roubada pelo Maligno, bloqueada pelas tribulações, sufocada por preocupações e seduções mundanas (cf. Mt 13, 19-22). Todas estas dificuldades poder-nos-iam desanimar, fazendo-nos optar por caminhos aparentemente mais cómodos. Mas a verdadeira alegria dos chamados consiste em crer e experimentar que o Senhor é fiel e, com Ele, podemos caminhar, ser discípulos e testemunhas do amor de Deus, abrir o coração a grandes ideais, a coisas grandes. «Nós, cristãos, não somos escolhidos pelo Senhor para coisas pequenas; ide sempre mais além, rumo às coisas grandes. Jogai a vida por grandes ideais!» (Homilia na Missa para os crismandos, 28 de Abril de 2013). A vós, Bispos, sacerdotes, religiosos, comunidades e famílias cristãs, peço que orienteis a pastoral vocacional nesta direcção, acompanhando os jovens por percursos de santidade que, sendo pessoais, «exigem uma verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos; deverá integrar as riquezas da proposta lançada a todos com as formas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo e as formas mais recentes oferecidas pelas associações e movimentos reconhecidos pela Igreja» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31).

Disponhamos, pois, o nosso coração para que seja «boa terra» a fim de ouvir, acolher e viver a Palavra e, assim, dar fruto. Quanto mais soubermos unir-nos a Jesus pela oração, a Sagrada Escritura, a Eucaristia, os Sacramentos celebrados e vividos na Igreja, pela fraternidade vivida, tanto mais há-de crescer em nós a alegria de colaborar com Deus no serviço do Reino de misericórdia e verdade, de justiça e paz. E a colheita será grande, proporcional à graça que tivermos sabido, com docilidade, acolher em nós. Com estes votos e pedindo-vos que rezeis por mim, de coração concedo a todos a minha Bênção Apostólica.

Vaticano, 15 de Janeiro de 2014

FRANCISCO

O respeito pelo meio ambiente faz parte da vocação cristã

"Uma fonte de vida e de graça": assim se autodefine, em seu site oficial, a paróquia de Santa Maria del Buon Consiglio, em Roma, localizada em meio a um denso labirinto de edifícios e lojas e ponto de referência para todo o bairro há quase um século.
Foi assim especialmente durante os turbulentos anos da Segunda Guerra Mundial, quando a paróquia forneceu abrigo e assistência aos pobres e perseguidos. Emergiram nessa mesma paróquia a personalidade e o altruísmo de Arnaldo Canepa, catequista e fundador do Centro Oratori Romani. Canepa, já reconhecido como Servo de Deus, está em processo de beatificação.
A paróquia de Santa Maria do Bom Conselho, com a sua história longa e intensa, também é capaz de olhar para o futuro. O pe. Davide Martini, jovem sacerdote ordenado em 2010 e atualmente vice-pároco, testemunhou essa postura paroquial durante um encontro do Centro Interuniversitário de Pesquisas em Ciências Ambientais e Biotecnologia, durante o qual falou de questões que estão no centro do projeto "Igreja ecologia". O objetivo desse projeto é promover a proteção, a adaptação ambiental e a eficiência energética do patrimônio imobiliário eclesiástico.
"O respeito pelo meio ambiente faz parte da vocação cristã", diz o pe. Davide. "Adão e Eva receberam de Deus o seguinte mandamento: sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a, com os peixes do mar, as criaturas que voam pelos céus e toda criatura vivente que se move sobre a terra (cf. Gênesis 1,28). Isto significa que temos de cuidar não só de uma pequena parte do planeta, mas do planeta inteiro".
Para o vice-pároco, é importante que os fiéis entendam que "o respeito pelo meio ambiente exige atenção para as pequenas coisas. Talvez não vamos ser nós quem elimine a poluição, mas podemos dar pequenos passos". Os paroquianos podem adotar "políticas de desenvolvimento sustentável e se tornar exemplos para a comunidade, fazendo coisas concretas".
O pe. Davide quer implantar na paróquia a promoção de "caminhos de desenvolvimento sustentável", informando os fiéis sobre "procedimentos regulamentares e administrativos".

Pe. Davide Martini, vice-pároco em Roma, fala do projeto Igreja ecologia
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

No dia do batismo de Cristo ainda contemplamos os céus abertos



Após a Santa Missa e o batizado de 32 crianças, o Papa Francisco da janela da Residência Apostólica, no Vaticano, rezou a oração do Angelus, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de Sao Pedro.

Publicamos a seguir as palavras pronunciadas pelo Santo Padre Francisco.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje é a festa do Batismo do Senhor. Nesta manhã, batizei 32 crianças. Agradeço convosco ao Senhor por estas novas criaturas e por cada vida nova. Eu gosto de batizar crianças. Eu gosto tanto! Cada criança que nasce é um dom de alegria e de esperança, e cada criança que é batizada é um prodígio da fé e uma festa para a família de Deus.
O Evangelho de hoje enfatiza que, quando Jesus recebeu o Batismo por João no Rio Jordão, “se abrem para ele os céus” (Mt 3, 16). Isto realiza as profecias. De fato, há uma invocação que a liturgia nos faz repetir no tempo do Advento: “Se rasgásseis os céus, se descêsseis” (Is 63, 19). Se os céus permanecem fechados, o nosso horizonte nesta vida terrena é escuridão, sem esperança. Em vez disso, celebrando o Natal, a fé mais uma vez nos deu a certeza de que os céus se rasgaram com a vinda de Jesus. E no dia do batismo de Cristo ainda contemplamos os céus abertos. A manifestação do Filho de Deus sobre a terra marca o início do grande tempo da misericórdia, depois que o pecado tinha fechado os céus elevando uma barreira entre o ser humano e o seu Criador. Com o nascimento de Jesus, os céus se abrem! Deus nos dá em Cristo a garantia de um amor indestrutível. Uma vez que o Verbo se fez carne é possível ver os céus abertos. Foi possível para os pastores de Belém, para os Magos do Oriente, para o Batista, para os apóstolos de Jesus, para Santo Estêvão, o primeiro mártir, que exclamou: “Contemplo os céus abertos!” (At 7, 56). E é possível também para cada um de nós, se nos deixamos invadir pelo amor de Deus, que nos vem dado pela primeira vez no Batismo por meio do Espírito Santo. Deixemo-nos invadir pelo amor de Deus! Este é o grande tempo da misericórdia! Não se esqueçam disso: este é o grande tempo da misericórdia!
Quando Jesus recebeu o batismo de penitência de João o Batista, solidarizando com o povo penitente – Ele sem pecado e não necessitado de conversão – , Deus Pai fez ouvir a sua voz do céu: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado” (v. 17) Jesus recebe a aprovação do Pai celeste, que o enviou propriamente para aceitar partilhar a nossa condição, a nossa pobreza. Partilhar é o verdadeiro modo de amar. Jesus não se dissocia de nós, considera-nos irmãos e partilha conosco. E assim nos torna filhos, junto com Ele, de Deus Pai. Esta é a revelação e a fonte do verdadeiro amor. E este é o grande tempo da misericórdia!
Não parece que no nosso tempo nos seja necessário um suplemento de partilha fraterna e de amor? Não parece que todos temos necessidade de um suplemento de caridade? Não aquela que se contenta com a ajuda de improviso, que não envolve, não coloca em jogo, mas aquela caridade que partilha, que cuida da necessidade e do sofrimento do irmão. Que sabor conquista a vida quando se deixa inundar pelo amor de Deus!
Peçamos à Virgem Santa para nos apoiar com a sua intercessão no nosso empenho de seguir Cristo no caminho da fé e da caridade, o caminho traçado pelo nosso Batismo
(Após o Angelus)
Dirijo a todos a minha cordial saudação, em particular, às famílias e aos fiéis provenientes de várias paróquias da Itália e de outros países, bem como às associações aos diversos grupos.
Hoje, gostaria de dirigir um pensamento especial aos pais que trouxeram seus filhos para o Batismo e àqueles que estão se preparando para o Batismo de seus filhos. Uno-me a alegria dessas famílias, agradeço com eles ao Senhor, e rezo para que o Batismo dos filhos auxilie os próprios pais a redescobrirem a beleza da fé e a retornarem de um modo novo para os sacramentos e para a comunidade.
Conforme já anunciado, no próximo dia 22 de fevereiro, Festa da Cátedra de Sao Pedro, terei a alegria de realizar um Consistório, durante o qual nomearei 16 novos Cardeais, que pertencem a 12 nações de todo o mundo, representando a profunda relação eclesial entre a Igreja de Roma e as outras Igrejas espalhadas pelo mundo.
No dia seguinte presidirei uma solene concelebração com os novos Cardeais, enquanto nos dias 20 e 21 haverá o Consistório com todos os Cardeais para refletir sobre o tema da família.

Eis o nome dos novos Cardeais:

1 – Dom Pietro Parolin, arcebispo titular de Acquapendente, Secretario de Estado
2 – Dom Lorenzo Baldisseri, arcebispo titular di Diocleziana, Secretário Geral do Sínodo dos Bispos.
3 – Dom Gerhard Ludwig Műller, arcebispo-bispo emérito di Regensburg, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
4 – Dom Beniamino Stella, arcebispo titular di Midila, Prefeito da Congregação para o Clero.
5 – Dom Vincent Nichols, arcebispo de Westminster (Grã Bretanha).
6 – Dom Leopoldo José Brenes Solórzano, arcebispo di Managua (Nicaragua).
7 – Dom Gérald Cyprien Lacroix, arcebispo di Québec (Canadá).
8 – Dom Jean-Pierre Kutwa, arcebispo de Abidjan (Costa d’Avorio).
9 – Dom Orani João Tempesta, O.Cist., arcebispo do Rio de Janeiro (Brasil).
10 – Dom Gualtiero Bassetti, arcebispo de Perugia-Città della Pieve (Italia).
11 – Dom Mario Aurelio Poli, arcebispo di Buenos Aires (Argentina).
12 – Dom Andrew Yeom Soo jung, arcebispo de Seoul (Korea)
13 – Dom Ricardo Ezzati Andrello, S.D.B., arcebispo di Santiago del Cile (Cile).
14 – Dom Philippe Nakellentuba Ouédraogo, arcebipso de Ouagadougou (Burkina Faso).
15 – Dom Orlando B. Quevedo, O.M.I., arcebispo de Cotabato (Filippine).
16 – Dom Chibly Langlois, bispo di Les Cayes (Haïti).
Arcebispos eméritos
1 – Dom Loris Francesco Capovilla, arcebispo titular de Mesembria
2- Dom Fernando Sebastián Aguilar, C.M.F., arcebispo emérito de Pamplona
3- Dom Kelvin Edward Felix, arcebispo emérito de Castries.
(TRad.:CN noticias/Zenit)

sábado, 11 de janeiro de 2014

A polêmica da palavra "Alá" na Malásia: sacerdote católico é interrogado

A agência AsiaNews noticiou que a polícia da Malásia entregou ontem ao Ministério Público do país as atas do interrogatório a que foi submetido o pe. Lawrence Andrew, diretor do semanário católico “Herald”, da arquidiocese da capital, Kuala Lumpur.
O sacerdote caiu na mira das autoridades devido às suas recentes declarações sobre a polêmica do uso da palavra "Alá" por parte de não muçulmanos. Ele está sendo investigado por suposta "sedição". Fontes católicas relatam que a situação local “está muito difícil” e que o pe. Lawrence não tem a intenção de fazer declarações oficiais à imprensa, para não alimentar ainda mais a polêmica.
O Ministério Público, por sua vez, tem negado os rumores de possíveis novos convites ao pe. Lawrence para comparecer perante as autoridades depois de ter criticado a apreensão de centenas de exemplares da bíblia por autoridades islâmicas de Selangor.
Em 7 de janeiro, o pe. Lawrence foi interrogado durante duas horas pela polícia da capital: o motivo foram as declarações feitas pelo sacerdote de que as organizações e instituições islâmicas não têm direito nem jurisdição para interferir em instituições e associações cristãs.
O padre acrescentou que as igrejas da região continuarão usando o nome de "Alá" para descrever o Deus cristão nos cultos de domingo, porque a proibição de empregar a palavra se aplica somente à publicação “Herald”.
Junto com o sacerdote, foram interrogadas outras 99 pessoas. A polícia já confirmou o fim das investigações e agora cabe ao Ministério Público malaio avaliar as posições individuais e decidir se haverá processos. À polícia, o pe. Lawrence forneceu várias provas, incluindo textos antigos e edições de bíblias, para mostrar que a palavra "Alá" é usada pelos cristãos há séculos.
O caso ultrapassou as fronteiras da Malásia e abasteceu um incendiado debate entre os muçulmanos de todo o mundo. Muhammad Musri, imã e especialista em lei islâmica nos Estados Unidos, chegou a se dirigir ao governo de Kuala Lumpur pedindo que a justiça autorize os cristãos a usarem a palavra "Alá". "Eu sou especialista em islã e aprendi o alcorão de cor", diz ele, que considera que a decisão do tribunal de proibir os cristãos malaios de usar o termo é "contrária aos valores do islã" e deve ser revista, já que se trata de um "erro trágico".
Na própria Malásia, a intimação ao pe. Lawrence chamou vasta atenção. Ela aconteceu poucos dias depois que funcionários do Departamento Religioso Islâmico invadiram a Sociedade Bíblica da Malásia em Selangor e apreenderam 320 exemplares da bíblia em língua malaia, além de reterem, durante algumas horas, dois membros da comunidade cristã local.
A blitz islamita nas instalações da sociedade cristã entra na polêmica levantada pelo uso da palavra "Alá" por parte dos não muçulmanos. Em outubro passado, o Tribunal de Recurso proibiu o “Herald”, publicação católica da arquidiocese de Kuala Lumpur, de usar a palavra "Alá" em referência ao Deus cristão. O pe. Lawrence, diretor da publicação semanal, entrou com pedido de recurso contra a sentença.
Após o veredito, funcionários do Ministério do Interior bloquearam 2.000 exemplares da revista no aeroporto de Kota Kinabalu, Estado de Sabah, "justificando" o gesto com a necessidade de verificar se a publicação estava mesmo cumprindo a ordem e se não havia “uso indevido da palavra Allah”.

Fonte: Zenit.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Cada momento da nossa vida é definitivo

O apóstolo João define o tempo presente de modo preciso: "Esta é a última hora" (1 Jo 2,18). Isso significa que, com a vinda de Deus na história, já nos encontramos nos "últimos" tempos, depois do qual o passo final será a segunda e última vinda de Cristo. É claro, aqui se trata da qualidade do tempo e não da sua quantidade. Com, Jesus chegou a "plenitude" dos tempos, plenitude de sentido e plenitude da salvação. E não haverá mais uma nova revelação, mas a plena manifestação do que Jesus já revelou. Neste sentido, estamos na "última hora"; cada momento da nossa vida é definitivo e cada uma das nossas ações é repleta de eternidade; de fato, a resposta que damos, hoje, a Deus, que nos ama em Jesus Cristo, incide sobre o nosso futuro.
A visão bíblica e cristã do tempo e da história não é cíclica, mas linear: é um caminho que leva a um cumprimento. Um ano que passa, portanto, não nos leva a uma realidade que acaba, mas a uma realidade que se realiza, é um passo a mais em direção à meta que está diante de nós: uma meta de esperança e de felicidade, porque nos encontraremos com Deus, razão da nossa esperança e fonte da nossa alegria.
Enquanto o ano 2013 chega ao fim, colhemos, como em uma cesta, os dias, as semanas, os meses que vivemos para oferecer tudo ao Senhor. E nos perguntamos: como vivemos o tempo que Ele nos deu? Nós o utilizamos, sobretudo, para nós mesmos, para os nossos interesses ou soubemos empregá-lo para os outros? E Deus? Quanto tempo empregamos para "estar com ele", na oração, no silêncio? ...
Pensemos também nesta cidade de Roma. O que aconteceu este ano? O que está acontecendo e o que vai acontecer? Como está a qualidade de vida nesta cidade? Tudo depende de nós! Como está a qualidade da nossa "cidadania"? Este ano, contribuímos, com o nosso "pouco", para torná-la vivível, organizada, acolhedora? Na verdade, o rosto de uma cidade é como um mosaico, cujas peças são todas as pessoas que aqui vivem. Claro, quem tem autoridade, tem maior responsabilidade, mas cada um é co-responsável, no bem e no mal.
Roma é uma cidade de beleza única! Seu patrimônio espiritual e cultural é extraordinário. No entanto, também em Roma há tantas pessoas assinaladas pela miséria, material e moral, pessoas pobres, infelizes, que interpelam a consciência, não apenas dos responsáveis públicos, mas também de cada cidadão. Em Roma, talvez, sentimos de modo mais forte este contraste entre o ambiente majestoso e repleto de beleza artística, e as dificuldades sociais de quem tem mais problemas.
Roma é uma cidade sempre cheia de turistas, mas também cheia de refugiados. Roma está cheia de pessoas que trabalham, mas também de pessoas que não encontram trabalho ou fazem trabalhos mal pagos e, por vezes, indignos; mas todos têm o direito de ser tratados com a mesma atitude de acolhida e de equidade, porque cada um é portador de dignidade humana.
Chegou o último dia do ano. O que faremos? Como agiremos no próximo ano, para tornar a nossa Cidade um pouco melhor? A Roma do ano novo terá um rosto bem mais bonito se for mais rica de humanidade, hospitaleira, acolhedora; se todos nós formos atenciosos e generosos com os mais necessitados; se soubermos colaborar, com espírito construtivo e solidário, pelo bem de todos. A Roma do ano novo será melhor se não houver pessoas que a olham "de longe", que olham a sua vida só "da varanda", sem se deixar envolver pelos tantos problemas humanos, problemas de homens e mulheres que, no final... e desde o início, quer queiramos ou não, são nossos irmãos. Nesta perspectiva, a Igreja de Roma se sente comprometida em dar a sua contribuição própria para a vida e o futuro da Cidade: para animá-la com o fermento do Evangelho, para ser sinal e instrumento da misericórdia de Deus.
Nesta noite, encerremos o Ano do Senhor 2013, agradecendo e pedindo perdão. Agradeçamos por todos os benefícios que Deus nos concedeu, especialmente, pela sua paciência e fidelidade, que se manifestam no decorrer dos tempos, mas de forma única, na plenitude dos tempos, quando "Deus enviou seu Filho, nascido de mulher" (Gl 4,4).
Que a Mãe de Deus, em nome da qual iniciaremos, amanhã, um novo trajeto da nossa peregrinação terrena, nos ensine a acolher o Deus feito homem, a fim de que cada ano, cada mês, cada dia seja repleto do seu amor eterno.

Fonte: Zenit.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

É necessário o empenho de todos para construir uma sociedade verdadeiramente mais justa e solidária

Após a celebração da Eucaristia da Solenidade da Mãe de Deus e Dia Mundial da Paz, na Basílica Vaticana, o Papa Francisco rezoua oração mariana do Angelus com os fiéis presentes na Praça São Pedro. Antes da oraçao, ele pronunciou as seguintes palavras:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia e feliz ano novo!

No início do ano novo dirijo a vocês minhas felicitações mais cordiais de paz e de bem. Meus augúrios são os da Igreja, são cristãos! Não com sentido um pouco mágico ou fatalista de um novo ciclo que começa. Nós sabemos que a história tem um centro: Jesus Cristo, encarnado, morto e ressuscitado, que está vivo no meio de nós; e tem um fim: o Reino de Deus, Reino de paz, justiça, liberdade, amor; e tem uma força que move em direção àquele fim: a força é o Espírito Santo. Todos nós temos o Espírito Santo, que recebemos no Batismo, e Ele nos encoraja a seguir em frente no caminho da vida cristã, no caminho da história, para o Reino de Deus.
Este Espírito é a potência do amor que fecundou o ventre da Virgem Maria, e é o mesmo que anima os projetos e obras de todos os construtores da paz. Onde há um homem ou uma mulher construtor da paz, é o próprio Espírito Santo que está a ajudar, levando-os a realizar a paz. Duas estradas se entrecruzam hoje: a festa de Maria Santíssima Mãe de Deus e o Dia Mundial da Paz. Oito dias atrás ecoou o anuncio angélico: "Glória a Deus e paz aos homens"; hoje nós o acolhemos novamente da Mãe de Jesus, que "guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração" (Lc 2,19), para nos comprometer durante o ano que se inicia.
O tema do Dia Mundial da Paz é "Fraternidade, fundamento e caminho para a paz". Fraternidade: na estrada dos meus antecessores, começando por Paulo VI, eu desenvolvi o tema em uma mensagem, já difundida, e que hoje entrego a todos. Na base está a convicção de que somos todos filhos do único Pai Celeste, fazemos parte da mesma família humana e partilhamos um destino comum. Disso deriva a responsabilidade de cada um de atuar, para que o mundo se torne uma verdadeira comunidade de irmãos, que se respeitam e aceitam as diversidades e cuidam uns dos outros. Nós somos chamados a dar-nos conta das violências e das injustiças em muitas partes do mundo, e que não nos podem deixar indiferentes e paralisados: é necessário o empenho de todos para construir uma sociedade verdadeiramente mais justa e solidária. Ontem, recebi a carta de um senhor, talvez um de vocês, que me colocando a par de uma tragédia familiar, enumerou as tragédias e guerras de hoje, no mundo, e me perguntou: o que acontece no coração humano, que é levado a fazer tudo isso? E ele disse, no final: "É hora de parar". Eu também acho que vai fazer bem parar este caminho de violência, e buscar a paz. Irmãos e irmãs, faço minhas as palavras deste homem: o que acontece no coração do homem? O que acontece no coração da humanidade? É hora de parar!
De todos os cantos da terra, os crentes elevam suas orações para pedir ao Senhor o dom da paz e a força para levá-la a todos os ambientes. Neste primeiro dia do ano, que o Senhor nos ajude encaminharmo-nos mais decididamente no caminho da justiça e da paz. E comecemos em casa! Justiça e paz em casa, entre nós. Começa em casa e, em seguida, continua, para toda a humanidade. Mas temos que começar em casa. Que o Espírito Santo atue nos corações, desfaça a rigidez e as durezas e nos conceda a graça de enternecermos diante da fragilidade do Menino Jesus. A paz, de fato, exige a força da mansidão, a força não violenta da verdade e do amor.
Nas mãos de Maria, Mãe do Redentor, coloquemos, com confiança filial, as nossas esperanças. Para ela, que estende a sua maternidade a todos os homens, confiemos o grito de paz dos povos oprimidos pelas guerras e violências, para que a coragem do diálogo e da reconciliação prevaleça sobre a tentação da vingança, da prepotência, da corrupção. Peçamos que o Evangelho da fraternidade, anunciado e testemunhado pela Igreja, possa falar às consciências e abater os muros, que impedem aos inimigos de se reconhecer irmãos.
(Depois do Angelus)
Irmãos e irmãs,
eu gostaria de agradecer ao Presidente da República Italiana pelos bons votos que me dirigiu ontem à noite, durante a sua mensagem à nação. Retribuo de coração, invocando a bênção do Senhor sobre o povo italiano, de modo que, com a contribuição responsável e solidária de todos, possa olhar para o futuro com confiança e esperança.
Saúdo com gratidão as muitas iniciativas de oração e compromisso com a paz que ocorre em todas as partes do mundo, por ocasião do Dia Mundial da Paz. Recordo, em particular, a Marcha Nacional que teve lugar ontem à noite em Campobasso, organizado pela CEI, Caritas e Pax Christi. Saúdo os participantes do evento "Paz em todas as terras”, promovido em Roma e em muitos países pela Comunidade de Santo Egídio. Assim como as famílias do Movimento do Amor Familiar, que fizeram vigília nesta noite na Praça de São Pedro. Obrigado! Obrigado por esta oração.
Dirijo uma cordial saudação a todos os peregrinos presentes, as famílias e os grupos de jovens. Um pensamento especial para os "Cantores da Estrela", crianças e jovens que na Alemanha e na Áustria, levam a bênção de Jesus às casas e recolhem ofertas para as crianças que têm necessidades básicas. Obrigado pelo empenho! Saúdo também os amigos e voluntários da Fraterna Domus.
Desejo a todos um ano de paz, na graça do Senhor e sob a proteção materna de Maria, que hoje invocamos com o título de "Mãe de Deus". O que vocês acham de todos juntos, cumprimentá-la agora, dizendo três vezes: "Santa Mãe de Deus"? Todos juntos: Santa Mãe de Deus! Santa Mãe de Deus! Santa Mãe de Deus!

Bom começo do ano, bom almoço e adeus!

Fonte: Zenit.