quinta-feira, 31 de março de 2016

A presente crise

Muitos correspondentes perguntam-me como o Brasil poderia livrar-se da atual crise econômica e política.

2. Trata, como em toda crise de sintomas agudos das perdas e da deterioração do organismo (no caso o País).

3. Iludem-se os que cogitam de que ela provém somente da tentativa keynesiana, do governo, na gestão de Mantega na Fazenda, de elevar substancialmente o financiamento público para investimentos produtivos de grandes empresas.

4. A crise foi agravada com o término dessa política anticíclica, ao iniciar-se, em 2012, o segundo mandato da presidente da República, e serem adotadas medidas como a brutal elevação dos juros e cortes orçamentários, realmente muito danosas à economia e ao social, a pretexto de sanar o desequilíbrio financeiro.

5. De fato, as duas coisas convergem para deprimir ainda mais a economia e o emprego. Ao mesmo tempo são contraditórias em relação ao pretenso objetivo, pois a elevação dos juros - na dimensão que teve, e incidindo sobre estoque de dívida interna de R$ 4 trilhões -  causa aumento da despesa pública muito superior ao corte de gastos.

6. Os efeitos disso não poderiam ser mais perversos. Significam violento ataque sobre um organismo fraco, e que já sofreu, ao longo dos anos, crises devidas ao crescimento errado e à  sucessiva tentativa de correção, que gera danos adicionais ainda mais pesados.

7. Por que o organismo ficou fraco? Devido a causas estruturais, que acarretam as crises. A causa fundamental é desnacionalização, que conduz à desindustrialização e à concentração, três coisas que não cessaram de aumentar ao longo dos últimos 62 anos.

8. Essas doenças socioeconômicas têm sido incrementadas pela deterioração das instituições políticas e pela profunda penetração política e cultural (anticultural) não apenas dos carteis transnacionais, mas de entidades internacionais, e também governamentais de potências estrangeiras.

9.  Essas instâncias implantaram no País poder de intervenção, não só através de pressões financeiras, que dizem vir do “mercado financeiro”, mas de pressões políticas, intensificando as causas estruturais da insanidade.

10. A cada momento, surgem mais fatos sobre as consequências desse quadro patológico. O Estadão noticia, em 28 do corrente:
“Só em São Paulo, 4.451 indústrias de transformação fecharam as portas em 2015, número 24% superior ao de 2014, quando foram 3.584 fabricantes, segundo a Junta Comercial.”
“Muitos trabalhadores demitidos não receberam salários e rescisões. De acordo com o IBGE, entre novembro e janeiro, a indústria brasileira fechou 1,131 milhão de vagas, número recorde para um trimestre.”

11. Não se trata somente de pequenas empresas. Em Guarulhos, há pouco, as metalúrgicas Eaton, Maxion e Randon encerraram suas atividades.

12. Nos implementos rodoviários houve retração de 50%. A têxtil Polyenka, de Americana (SP), que já tivera 2.000 empregados, deixou de produzir e fez acordo com os 350 funcionários que restavam, para parcelar as rescisões.

13.  A MABE, linha branca, também com 2.000 empregados, pediu falência em fevereiro e fechou as fábricas de geladeiras Continental em Hortolândia e de fogões Dako em Campinas.

14. A grande empresa de autopeças Delphi fechou duas fábricas em 2015, em Mococa (SP) e Itabirito (MG), e este ano completa a transferência da unidade de Cotia para Piracicaba (SP). 1,7 mil trabalhadores perderam os empregos.

15. Mesmo antes da queda de 8,7%, em 12 meses até janeiro de 2016 (dado do IBGE), a indústria caiu de 35% (anos 80) de participação no PIB, para menos de 10%.

16. Em suma, o País regride, em condições piores que as do início do Século XX, à condição de exportador de bens primários. Agora avultam desastres terríveis, como a lama tóxica da mina de ferro da SAMARCO (Vale desnacionalizada e a transnacional Billiton), que polui indefinidamente vastas regiões e o Rio Doce, e até o mar. Há tragédias potenciais desse tipo.

17. Na agropecuária vê-se desastre permanente de enormes dimensões, determinado pela subordinação da estrutura econômica e da infraestrutura às conveniências dos “mercados” importadores.

18. Veja-se esta informação: “O Brasil consome 20% de todos agrotóxicos”.  De longe, portanto, o maior do mundo no uso desses venenos. Ademais, consome 14 agrotóxicos proibidos em outros países. Ora,  a incidência de câncer é três vezes superior à média em áreas contaminadas por agrotóxicos.

19. Em função do agronegócio, cujo objetivo é produzir para países industrializados, metade da área utilizada pela agricultura no Brasil é para a soja.

20.  Ademais, o cartel transnacional das sementes transgênicas, também forte nos fertilizantes, impingiu a aceitação desse flagelo, que ameaça a sobrevivência desta ou, no mínimo, a existência de alimentos não danosos à saúde.

21. Com isso, a grande maioria dos brasileiros, come alimentos cozinhados com óleo de soja transgênica, faltando-lhe informação  para procurar nos rótulos o microscópico T, e dinheiro para opções cuja oferta é limitada.

22. O poder combinado das transnacionais e dos ruralistas, grandes doadores de recursos de campanha, explica o apoio oficial aos grandes projetos de infraestrutura e às fazendas industrializadas.

23. Esse poder é enorme no Congresso - quase metade dos 594 parlamentares participam da bancada ruralista - a qual tornou inócuas as leis proibitivas de plantas geneticamente modificadas.

24. Respondendo à pergunta inicial: com a permanência da presidente ou sua derrubada, o cenário é péssimo, nada havendo a esperar de honesto nem de salvador por parte dos pretendentes. O moralismo, manchado pela seletividade, tem servido para intensificar a desindustrialização, com a queda da produção e o desmonte da Petrobrás e de empresas de engenharia.

25. Repito: não saída decente sob o atual regime. Tampouco, sob um calcado nos governos de 1964 a 1984.

Adriano BenayonAutor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª edição 2005, Editora Escrituras, São Paulo, e de Economia Política, coletânea de artigos, publicada pela Fundação João Mangabeira, Brasília 2013. Consultor. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Alemanha. Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica e tecnológica. Depois, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil).  Fonte: Domtotal.com.br

quarta-feira, 30 de março de 2016

Eutanásia para deprimidos: aumentam os casos no mundo

“A tristeza durará para sempre”. Parece que este foi o último pensamento, com forte amargura, que o célebre pintor holandês Vincent Van Gogh deixou escrito em uma nota antes de cometer suicídio, 29 de julho de 1890. Nas décadas seguintes, alguns psiquiatras eminentes estudaram a complexa personalidade do artista, observando que ele sofria de várias doenças mentais, especialmente a síndrome bipolar.
Um deprimido, portanto, que decide tirar a própria vida, concluindo no modo mais triste a sua carreira artística excepcional. Mas naquela época, talvez, poucas pessoas pensariam que se Van Gogh vivesse na Holanda um século depois, teria podido ter acesso à “doce morte” simplesmente preenchendo um formulário no hospital.
Assim explica a Jama Psychiatry, uma das mais importantes revistas sobre a saúde mental, que publicou em fevereiro passado um extrato no qual se evidencia que “a eutanásia e o suicídio assistido dos pacientes psiquiátricos está aumentando em algumas jurisdições, como na Bélgica e Holanda”.
Uma pesquisa evidencia que de 2011 até 2014, de 66 casos de eutanásia analisados pelos especialistas da Jama, 36 (o 55% do total) ocorreu por causa de “distúrbios depressivos” dos pacientes. Também se observou que em 7 casos (o 11% do total) não se fez nenhuma consulta a outros médicos antes de proceder com a eutanásia e que em 16 casos (24% do total) procedeu-se ainda sem ter uma opinião unânime de vários especialistas no campo da psiquiatria.
Os autores do estudo destacaram, finalmente, como a maior parte das pessoas que se submetem à eutanásia sejam mulheres de diversas idades, carregando com elas histórias complexas marcadas por distúrbios mentais. Isso acontece tanto na Holanda, como na vizinha Bélgica.
A memória é do verão passado. Laura, uma jovem belga de 24 anos pediu e obteve no seu País o “direito” de se submeter à eutanásia somente porque – afirmava – “a vida não é pra mim”. Sofrendo de depressão por um longo tempo, Laura participava de um grupo de psiquiatria e morava dentro de uma estrutura sanitária.
A jovem é uma das 50 pessoas que a cada ano na Bélgica se submetem à “doce morte” por problemas ligados a um sofrimento psíquico. O professor Wim Distelmans, presidente da Comissão belga de controle da Eutanásia, estima que se trata de 3% dos pacientes que se submetem ao suicídio assistido.
O caso de Laura, por causa de sua tenra idade, provocou um debate na Bélgica e na Holanda. E trouxe à luz uma denúncia do Journal of Medical Ethics, assinada por Raphael Cohen-Almagor, professor na Universidade de Hull, na Inglaterra. Ele acusa os médicos belgas de escolher a “doce morte” na ausência de “uma vontade explícita do paciente”. Segundo Cohen-Almagor trata-se de milhares de casos de eutanásia registrados na Bélgica, daí a denúncia do fato de que “nenhuma comissão está se ocupando disso”.
O fenômeno também está aumentando no exterior. Em 2013, o New England Journal of Medicine publicou os resultados de um programa de suicídio assistido – “Death for Dignity Program” – em um Centro de Seatle para enfermos de câncer. Verificou-se que 97,2% dos pacientes com câncer que pedem a eutanásia, fazem-no por causa da perda de autonomia, o 88,9% pela incapacidade de participar de atividades e o 75% por causa da perda de dignidade. Causas, portanto, que são puramente de tipo psicológico-social.
Na Holanda em 2012 surgiu um instituto, o Levenseindekliniek (Clínica do fim da vida), que se ocupa de simplificar o acesso à prática para aqueles pacientes cujos próprios médicos recusaram conceder a eutanásia dado que as suas doenças não foram diagnosticadas terminais. Pacientes que em muitos casos têm o desejo de morrer porque compartilham a inspiração sombria de seu compatriota Van Gogh: “. A tristeza durará para sempre”
Fonte: Zenit.

domingo, 27 de março de 2016

“Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ladrões e corruptos que, em vez de salvaguardar o bem comum e a ética, vendem-se no miserável mercado da imoralidade”

No sugestivo cenário do Coliseu Romano o Papa Francisco presidiu a Via Sacra na noite dessa sexta-feira, 25, perante milhares de pessoas lá reunidas com velas nas mãos e em meio a excepcionais medidas de segurança.
As 14 estações intituladas “Deus é misericórdia” foram escritas pelo cardeal Gualtiero Bassetti arcebispo de Perugia, encarregado pelo Santo Padre, lembrando os dramas do nosso tempo, destacando, entretanto, que Deus não só obra misericórdia, mas que é misericórdia.
Partindo do interior do Coliseu, lugar em que morreram muitos mártires cristãos, pessoas de várias nacionalidades acompanharam a cruz no seu percurso, dentre as quais de Bolivia, Paraguai, México, e uma família do equador. Também da Rússia, China, Bosnia, Síria e de outras partes do mundo. Com eles estava também um apessoa em cadeira de rodas.
Ao final da Via Sacra o Papa rezou a seguinte oração na qual reflete as esperanças e as preocupações, os bens e males do mundo de hoje em que aparecem a cruz de Cristo. Na sua oração o Papa disse:

El Coliseo en el Vía Crucis
Ó Cruz de Cristo!
Ó Cruz de Cristo, símbolo do amor divino e da injustiça humana, ícone do sacrifício supremo por amor e do egoísmo extremo por insensatez, instrumento de morte e caminho de ressurreição, sinal da obediência e emblema da traição, patíbulo da perseguição e estandarte da vitória.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos erguida nas nossas irmãs e nos nossos irmãos assassinados, queimados vivos, degolados e decapitados com as espadas barbáricas e com o silêncio velhaco.
O Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos rostos exaustos e assustados das crianças, das mulheres e das pessoas que fogem das guerras e das violências e, muitas vezes, não encontram senão a morte e muitos Pilatos com as mãos lavadas.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos doutores da letra e não do espírito, da morte e não da vida, que, em vez de ensinar a misericórdia e a vida, ameaçam com a punição e a morte e condenam o justo.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos ministros infiéis que, em vez de se despojarem das suas vãs ambições, despojam mesmo os inocentes da sua dignidade.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos corações empedernidos daqueles que julgam comodamente os outros, corações prontos a condená-los até mesmo à lapidação, sem nunca se darem conta dos seus pecados e culpas.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos fundamentalismos e no terrorismo dos seguidores de alguma religião que profanam o nome de Deus e o utilizam para justificar as suas inauditas violências.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje naqueles que querem tirar-te dos lugares públicos e excluir-te da vida pública, em nome de certo paganismo laicista ou mesmo em nome da igualdade que tu própria nos ensinaste.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos poderosos e nos vendedores de armas que alimentam a fornalha das guerras com o sangue inocente dos irmãos e que dão de comer aos seus filhos o pão ensanguentado.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos traidores que, por trinta dinheiros, entregam à morte qualquer um.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ladrões e corruptos que, em vez de salvaguardar o bem comum e a ética, vendem-se no miserável mercado da imoralidade.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos insensatos que constroem depósitos para armazenar tesouros que perecem, deixando Lázaro morrer de fome às suas portas.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos destruidores da nossa «casa comum» que, egoisticamente, arruínam o futuro das próximas gerações.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos idosos abandonados pelos seus familiares, nas pessoas com deficiência e nas crianças desnutridas e descartadas pela nossa sociedade egoísta e hipócrita.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje no nosso Mediterrâneo e no Mar Egeu feitos um cemitério insaciável, imagem da nossa consciência insensível e narcotizada.
Ó Cruz de Cristo, imagem do amor sem fim e caminho da Ressurreição, vemos-te ainda hoje nas pessoas boas e justas que fazem o bem sem procurar aplausos nem a admiração dos outros.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ministros fiéis e humildes que iluminam a escuridão da nossa vida como velas que se consumam gratuitamente para iluminar a vida dos últimos.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos rostos das religiosas e dos consagrados – os bons samaritanos – que abandonam tudo para faixar, no silêncio evangélico, as feridas das pobrezas e da injustiça.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos misericordiosos que encontram na misericórdia a expressão mais alta da justiça e da fé.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas pessoas simples que vivem jubilosamente a sua fé no dia-a-dia e na filial observância dos mandamentos.
O Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos arrependidos que, a partir das profundezas da miséria dos seus pecados, sabem gritar: Senhor, lembra-Te de mim no teu reino!
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos Beatos e nos Santos que sabem atravessar a noite escura da fé sem perder a confiança em ti e sem a pretensão de compreender o teu silêncio misterioso.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas famílias que vivem com fidelidade e fecundidade a sua vocação matrimonial.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos voluntários que generosamente socorrem os necessitados e os feridos.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos perseguidos pela sua fé que, no sofrimento, continuam a dar testemunho autêntico de Jesus e do Evangelho.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos que sonham com um coração de criança e que trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor, mais humana e mais justo.
Em ti, Santa Cruz, vemos Deus que ama até ao fim, e vemos o ódio que domina e cega os corações e as mentes daqueles que preferem as trevas à luz.
Ó Cruz de Cristo, Arca de Noé que salvou a humanidade do dilúvio do pecado, salva-nos do mal e do maligno! Ó Trono de David e selo da Aliança divina e eterna, desperta-nos das seduções da vaidade! Ó grito de amor, suscita em nós o desejo de Deus, do bem e da luz.
Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que o amanhecer do sol é mais forte do que a escuridão da noite. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que a aparente vitória do mal se dissipa diante do túmulo vazio e perante a certeza da Ressurreição e do amor de Deus que nada pode derrotar, obscurecer ou enfraquecer. Amém!
Fonte: Zenit.

sábado, 26 de março de 2016

Que extraordinário! Esta Sexta-feira Santa, celebrada no ano Santo da Misericórdia

Nós temos a possibilidade de tomar, neste dia, a decisão mais importante da nossa vida, aquela que nos abre de par em par os portões da eternidade: acreditar! Acreditar que“Jesus morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação” (Rm 4, 25).
Que extraordinário! Esta Sexta-feira Santa, celebrada no ano Santo da Misericórdia. E onde mais poderemos encontrar tamanha misericórdia que não seja nos braços abertos do nosso Redentor despendido por amor no madeiro de uma cruz? Ali, Ele, o Cristo Salvador esgotou em si toda a sua capacidade de amar. Ele deu tudo de si para redimir a humanidade de seus pecados.
O Frei Raniero Cantalames,  na meditação da Celebração da Paixão do Senhor no Vaticano em 2013 lembrou-nos  uma homilia pascal do século IV, em que o bispo proclamava estas palavras excepcionalmente contemporâneas e, de certa forma, existenciais: “Para cada homem, o princípio da vida é aquele a partir do qual Cristo foi imolado por ele. Mas Cristo se imola por ele no momento em que ele reconhece a graça e se torna consciente da vida que aquela imolação lhe proporcionou.” 
É comovente ver como Deus não só respeita a liberdade humana, mas parece ter necessidade dela, veja o início da existência terrena do Filho de Deus está marcado por um duplo “sim” à vontade salvífica do Pai: o de Cristo e o de Maria. Pois foi a partir do momento em que a Virgem respondeu ao anjo: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”(Lc 1, 38), é que o Verbo eterno do Pai começou a sua existência humana no tempo.
Da mesma forma é comovente também, ter diante dos nossos olhos hoje, que a nossa salvação está marcada por um duplo “sim”: o sim de Cristo dado numa cruz e o sim de cada um de nós.
É certo que muitos ainda não acreditam e não possuem a esperança de que Cristo provavelmente seja seu resgate, sua salvação. Portanto, poderá ser. Não se pode excluir totalmente que seja. Mas, querido irmão não crente, se de fato a sua salvação provavelmente não depende de Cristo, você não terá perdido nada; se, ao contrário, sua salvação passa sim por Cristo, e isso depende da sua adesão, você terá perdido tudo!
A cruz de Cristo é motivo de esperança para todos, especialmente, nesse ano Santo da Misericórdia temos uma ocasião de graça também para aqueles que não acreditam, mas que buscam um sentido maior para si. Pois “o homem pode suportar tudo, menos a falta de um sentido.” Dr. Viktor Frankl.
E foi justamente nessa busca por um sentido que Saulo, Agostinho e tantos outros, encontraram-se com Cristo. Deus é capaz de fazer de seus negadores mais obstinados os apóstolos mais apaixonados. Que havia feito Saulo de Tarso para merecer aquele encontro extraordinário com Cristo?
Deus tem uma medida de juízo diferente da nossa… Ele não se cansa de nos perdoar e de buscarmo-nos, “de tal modo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3, 16).
Ele salva ainda quem em vida tenha se erguido a combatê-lo. Sim, devemos nos preparar para as surpresas a esse respeito, nós crentes. “Quantas ovelhas estão fora do redil”,exclama Agostinho, “e quantos lobos dentro!”: “Quam multae oves foris, quam multi lupi intus!
Portanto, crentes e não crentes, o convite à conversão é para todos! E encerro da mesma forma que iniciei dizendo-vos que nós temos a possibilidade de tomar neste dia, a decisão mais importante da nossa vida, aquela que nos abre de par em par os portões da eternidade: acreditar! Acreditar que debaixo do céu nenhum outro nome há salvação, a nenhum outro nome foi dado aos homens, pela qual devamos ser salvos. Atos 4, 12.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Papa Francisco: “Sentimo-nos prisioneiros de um mundanismo virtual que se abre e fecha com um simples clique”

Na sinagoga de Nazaré, ao escutarem dos lábios de Jesus – depois que Ele leu o trecho de Isaías – as palavras «cumpriu-se hoje mesmo este passo da Escritura que acabais de ouvir» (Lc 4, 21), poderia muito bem ter irrompido uma salva de palmas; em seguida, com íntima alegria, teriam podido chorar suavemente como chorava o povo quando Neemias e o sacerdote Esdras liam o livro da Lei, que tinham encontrado ao reconstruir as muralhas. Mas os Evangelhos dizem-nos que os sentimentos surgidos nos conterrâneos de Jesus situavam-se no lado oposto: afastaram-No e fecharam-Lhe o coração. Ao princípio, «todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca» (Lc 4, 22); mas depois uma pergunta insidiosa começou a circular entre eles: «Não é este o filho de José, o carpinteiro?» E, por fim, «encheram-se de furor» (Lc 4, 28); queriam precipitá-Lo do cimo do penhasco… Cumpria-se assim aquilo que o velho Simeão profetizara a Nossa Senhora: será «sinal de contradição» (Lc 2, 34). Com as suas palavras e os seus gestos, Jesus faz com que se revele aquilo que cada homem e mulher traz no coração.
E precisamente onde o Senhor anuncia o evangelho da Misericórdia incondicional do Pai para com os mais pobres, os mais marginalizados e oprimidos, aí somos chamados a escolher, a «combater o bom combate da fé» (1 Tim 6, 12). A luta do Senhor não é contra os seres humanos, mas contra o demônio (cf. Ef 6, 12), inimigo da humanidade. Assim o Senhor, «passando pelo meio» daqueles que queriam liquidá-Lo, «seguiu o seu caminho» (cf. Lc 4, 30). Jesus não combate para consolidar um espaço de poder. Se destrói recintos e põe as seguranças em questão, é para abrir uma brecha à torrente da Misericórdia que deseja, com o Pai e o Espírito, derramar sobre a terra. Uma Misericórdia que move de bem para melhor, anuncia e traz algo de novo: cura, liberta e proclama o ano de graça do Senhor.
A Misericórdia do nosso Deus é infinita e inefável; e expressamos o dinamismo deste mistério como uma Misericórdia «sempre maior», uma Misericórdia em caminho, uma Misericórdia que todos os dias procura fazer avançar um passo, um pequeno passo mais além, avançando na terra de ninguém, onde reinavam a indiferença e a violência.
Foi esta a dinâmica do bom Samaritano, que «usou de misericórdia» (cf. Lc 10, 37): comoveu-se, aproximou-se do ferido, faixou as suas feridas, levou-o para a pousada, pernoitou e prometeu voltar para pagar o que tivessem gasto a mais. Esta é a dinâmica da Misericórdia, que encadeia um pequeno gesto noutro e, sem ofender nenhuma fragilidade, vai-se alargando aos poucos na ajuda e no amor. Cada um de nós, contemplando a própria vida com o olhar bom de Deus, pode fazer um exercício de memória descobrindo como o Senhor usou de misericórdia para conosco, como foi muito mais misericordioso do que pensávamos, e assim encorajar-nos a pedir-Lhe que faça um pequeno passo mais, que Se mostre muito mais misericordioso no futuro. «Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia» (Sal 85/84, 8). Esta forma paradoxal de suplicar um Deus sempre mais misericordioso ajuda a romper aqueles esquemas estreitos onde muitas vezes acomodamos a superabundância do seu Coração. Faz-nos bem sair dos nossos recintos, porque é próprio do coração de Deus transbordar de misericórdia, inundar, espalhando de tal modo a sua ternura que sempre abunde, porque o Senhor prefere ver alguma coisa desperdiçada antes que faltar uma gota, prefere que muitas sementes acabem comidas pelas aves em vez de faltar à sementeira uma única semente, visto que todas têm a capacidade de dar fruto abundante, ora 30, ora 60, e até mesmo 100 por uma.
Como sacerdotes, somos testemunhas e ministros da Misericórdia cada vez maior do nosso Pai; temos a doce e reconfortante tarefa de a encarnar como fez Jesus que «andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando» (At 10, 38), de mil e uma maneiras, para que chegue a todos. Podemos contribuir para inculturá-la, a fim de que cada pessoa a receba na suaexperiência pessoal de vida e possa, assim, compreendê-la e praticá-la – de forma criativa – no modo de ser próprio do seu povo e da sua família.
Hoje, nesta Quinta-feira Santa do Ano Jubilar da Misericórdia, gostaria de falar de doisâmbitos onde o Senhor Se excede na sua misericórdia. E, uma vez que é Ele quem dá o exemplo, não devemos ter medo de nos excedermos nós também: um âmbito é o do encontro; o outro, o do seu perdão que nos faz envergonhar e nos dá dignidade.
O primeiro âmbito onde vemos que Deus Se excede numa Misericórdia cada vez maior, é o do encontro. Ele dá-Se totalmente e de um modo tal que, em cada encontro, passa diretamente à celebração duma festa. Na parábola do Pai Misericordioso, ficamos estupefatos ao ver aquele homem que corre, comovido, a lançar-se ao pescoço de seu filho; vendo como o abraça e beija e se preocupa por lhe pôr o anel que o faz sentir-se igual, e as sandálias próprias de quem é filho e não um assalariado; e como, em seguida, põe tudo em movimento, mandando que se organize uma festa. Ao contemplarmos, sempre maravilhados, esta superabundância de alegria do Pai, a quem o regresso do filho consente de expressar livremente o seu amor, sem hesitações nem distâncias, não devemos ter medo de exagerar no nosso agradecimento. A justa atitude, podemos apreendê-la daquele pobre leproso que, vendo-se curado, deixa os seus nove companheiros que vão cumprir o que ordenou Jesus e regressa para se ajoelhar aos pés do Senhor, glorificando e dando graças a Deus em alta voz.
A misericórdia restaura tudo e restitui as pessoas à sua dignidade originária. Por isso, a justa resposta é uma efusiva gratidão: é preciso iniciar imediatamente a festa, vestir o traje, eliminar os ressentimentos do filho mais velho, alegrar-se e festejar… Porque só assim, participando plenamente naquele clima festivo, será possível depois pensar bem, pedir perdão e ver mais claramente como se pode reparar o mal cometido. Pode fazer-nos bem questionarmo-nos: depois de me ter confessado, festejo? Ou passo rapidamente para outra coisa, como quando, depois de ter ido ao médico, vemos que as análises não deram um resultado assim tão ruim e fechamo-las de novo no envelope, e passamos a outra coisa. E, quando dou esmola, deixo tempo a quem a recebe para expressar o seu agradecimento, festejo o seu sorriso e aquelas bênçãos que nos dão os pobres, ou continuo apressado com as minhas coisas depois de «ter deixado cair a moeda»?
O outro âmbito onde vemos que Deus excede numa Misericórdia cada vez maior, é o próprio perdão. Não só perdoa dívidas incalculáveis, como fez com o servo que lhe suplica e, em seguida, se mostra mesquinho com o seu companheiro, mas faz-nos passar diretamente da vergonha mais envergonhada para a dignidade mais alta, sem qualquer etapa intermédia. O Senhor deixa que a pecadora perdoada Lhe lave, familiarmente, os pés com as suas lágrimas. Logo que Simão Pedro se confessa pecador pedindo-Lhe para Se afastar dele, Jesus eleva-o à dignidade de pescador de homens. Nós, ao contrário, tendemos a separar as duas atitudes: quando nos envergonhamos do pecado, escondemo-nos e caminhamos com os olhos em terra, como Adão e Eva, e, quando somos elevados a qualquer dignidade, procuramos cobrir os pecados e gostamos de nos mostrar, de quase nos pavonearmos.
A nossa resposta ao perdão superabundante do Senhor deveria consistir em manter-nos sempre naquela saudável tensão entre uma vergonha dignificante e uma dignidade que sabe envergonhar-se: atitude de quem procura, por si mesmo, humilhar-se e abaixar-se, mas é capaz de aceitar que o Senhor o eleve para benefício da missão, sem se comprazer. O modelo que o Evangelho consagra e nos pode ser útil quando nos confessamos é o de Pedro, que se deixa interrogar longamente sobre o seu amor e, ao mesmo tempo, renova a sua aceitação do ministério de apascentar as ovelhas que o Senhor lhe confia.
Para entrar mais profundamente nesta «dignidade que sabe envergonhar-se», que nos salva de nos crermos mais ou menos do que somos por graça, pode-nos ajudar ver que – na passagem de Isaías, que o Senhor lê hoje na sua sinagoga de Nazaré – o profeta continua dizendo: «E vós sereis chamados “sacerdotes do Senhor”, e nomeados “ministros do nosso Deus”» (61, 6). É o povo pobre, faminto, prisioneiro de guerra, sem futuro, um resto descartado, que o Senhor transforma em povo sacerdotal.
Nós, como sacerdotes, identifiquemo-nos com aquele povo descartado, que o Senhor salva, e lembremo-nos de que existem multidões inumeráveis de pessoas pobres, ignorantes, prisioneiras, que estão naquela situação porque outros as oprimem. Mas lembremo-nos também de que cada um de nós sabe em que medida tantas vezes somos cegos, estamos privados da luz maravilhosa da fé, e não porque nos falte o Evangelho ao alcance da mão, mas por um excesso de teologias complicadas. Sentimos que a nossa alma morre sedenta de espiritualidade, e não por falta de Água Viva – que nos limitamos a sorver aos goles – mas por um excesso de espiritualidades sem compromisso, espiritualidades superficiais. Sentimo-nos também prisioneiros, não cercados – como tantos povos – por muros intransponíveis de pedra ou barreiras de aço, mas por um mundanismo virtual que se abre e fecha com um simples clique. Somos oprimidos, não por ameaças e empurrões, como muitas pessoas pobres, mas pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não conseguimos renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos conduzem ao amor dos nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que aguardam pela voz dos seus pastores.
E Jesus vem resgatar-nos, fazer-nos sair, para nos transformar de pobres e cegos, de prisioneiros e oprimidos em ministros de misericórdia e consolação. Diz-nos Ele, com as palavras do profeta Ezequiel ao povo que se prostituíra, traindo gravemente o seu Senhor: «Eu lembrar-Me-ei da minha aliança que fiz contigo no tempo da tua juventude (…). Ao recordares a tua conduta, sentirás vergonha, quando receberes as tuas irmãs, as que são mais velhas e as que são mais novas do que tu, pois Eu dou-tas como filhas, mas não em virtude da tua aliança. Porque Eu estabelecerei contigo a minha aliança e, então, saberás que Eu sou o Senhor, a fim de que te lembres de Mim e sintas vergonha, não abras mais a boca no meio da tua confusão, quando Eu te perdoar tudo o que fizeste – oráculo do Senhor Deus» (Ez 16, 60-63).
Neste Ano Jubilar, celebremos, com toda a gratidão de que seja capaz o nosso coração, o nosso Pai e supliquemos-Lhe que «Se recorde sempre da sua Misericórdia»; recebamos, com aquela dignidade que sabe envergonhar-se, a Misericórdia na carne ferida de nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos-Lhe que nos lave de todo o pecado e livre de todo o mal; e, com a graça do Espírito Santo, comprometamo-nos a comunicar a Misericórdia de Deus a todos os homens, praticando as obras que o Espírito suscita em cada um para o bem comum de todo o povo fiel de Deus.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 24 de março de 2016

A Santa Sé abrirá os arquivos sobre a ditadura militar argentina

O Vaticano confirmou nesta quarta-feira a abertura “nos próximos meses” dos arquivos relativos à ditadura militar na Argentina por vontade do Papa Francisco, segundo manifestou o porta-voz da Santa Sé, o pe. Federico Lombardi, em uma coletiva de imprensa informal com jornalistas.
“Como já anunciado no passado, o Papa Francisco expressou seu desejo de abrir para consulta os arquivos do Vaticano relativos à ditadura na Argentina (1976-1983). Para isso se requer catalogar o material. O trabalho está sendo feito e esperamos será concluído nos próximos meses”, disse o sacerdote jesuíta.
Após a conclusão das tarefas remanescentes, “será possível analisar os tempos e as condições para a consulta, de acordo com a Conferência Episcopal Argentina”, destacou o padre Lombardi. Ainda assim, “procuramos responder a perguntas específicas sobre questões particulares de caráter jurídico (cartas rogatórias) ou humanitárias”, disse.
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Papa lavará os pés de 12 refugiados

O Papa Francisco se ajoelhará perante doze refugiados para lavar os seus pés e beijá-los. O lugar que escolheu neste ano é um centro de acolhida para  requerentes de asilo em Castelnuovo di Porto. Já como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio tinha este hábito e o conserva agora que é pontífice: visitar os mais necessitados neste dia da Semana Santa.
No primeiro ano de Francisco como Bispo de Roma visitou, para o lava-pés, o centro penitencial de menores no Casal del Marmo. No ano seguinte, 2014, visitou um centro para deficientes e em 2015 a prisão romana de Rebibbia, onde se lavou os pés de 12 homens e mulheres.
O centro onde o Papa irá nesta quinta-feira foi aberto em maio de 2008. Atualmente é um dos maiores centros de primeiro acolhimento para refugiados na Itália; desde Abril é gerido pela cooperativa Auxilium. Está localizador na zona industrial de Castelnuovo di Porto, a 30 Km de Roma e recebe uns 900 refugiados, dentre os quais mulheres e crianças, muitos procedentes da África.
O gesto de Francisco, diz monsenhor Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, em um artigo publicado hoje no L’Osservatore Romano, “quer dizer-nos que é preciso dar a devida atenção aos mais fracos deste momento histórico; que todos estamos chamados a restituir a sua dignidade sem recorrer a subterfúgios. Nos incentiva a olhar para a páscoa com os olhos de quem faz da sua fé uma vida vivida a serviço dos que levam no seu rosto os sinais do sofrimento e a violência”.
Além disso, muitos dos jovens que o Papa lavou os pés não são católicos. “O sinal do Papa Francisco, portanto, se torna ainda mais eloquente. Indica o caminho do respeito como caminho principal para a paz. Respeito, em seu valor semântico, significa perceber que existe uma pessoa que caminha comigo, sofre comigo, se alegra comigo… Lavando os pés dos refugiados, o Papa Francisco pede respeito com cada um deles”, diz mons.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 22 de março de 2016

“Messianismos não servem”, disse o cardeal Braz de Aviz sobre crise política brasileira

O Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Cardeal João Braz de Aviz – em entrevista à Rádio Vaticano – indicou uma estrada para o contexto da crise no Brasil. “Messianismos não servem”.
“Eu tenho consciência, como brasileiro, de pertencer a uma nação muito grande. Claro, ela está inserida no contexto de todas as outras nações. Não somos maiores que os outros, mas somos uma grande nação, não só pelo território: é a questão do gênio brasileiro também, da formação do nosso povo que é tão rica de culturas, de história. E, também, de limites enormes que nós ainda estamos aprendendo a caminhar. A democracia, nós já experimentamos um pouco, mas não foi ainda assim muito, então somo jovens na nossa democracia”, afirmou o prelado.
A opinião de Dom Aviz é que “este momento de hoje no Brasil é um dos mais importantes que existe na nossa história”. Sente-se, portanto, “admirado pelo modo como nosso povo está reagindo nas ruas, que é extraordinário. Isto é, sair para a rua, manifestar a sua própria posição e respeitar a posição do outro também e, ao mesmo tempo, manifestar claramente o que a gente pensa nesta atitude da construção da história de um povo. Fico feliz de ver que, finalmente, parece que nós demos uma ‘via livre’, uma entrada mais forte à verdade, à autenticidade, e também nós queremos sair deste inferno verdadeiro que é a corrupção”.
Concluiu dizendo que “A questão da mudança depende de todos, temos que todos nós fazer uma mudança, e ela é possível. Messianismos não servem. ‘Eu sou o salvador’. Não, o povo é o salvador da sua pátria. A atitude de excluir pessoas, dizer: vocês fazem parte de uma outra mentalidade, também não serve. Temos que ir achando as razões que movem cada um nos pontos contrários para poder achar uma história comum. Esta história comum existe! As instituições precisam ser respeitadas, mas nós precisamos também sair da corrupção. Quem sabe esta Semana Santa vai nos dar esta chance”.
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 21 de março de 2016

“O episcopado é um serviço, não uma honra”

Na solenidade de São José, o Papa Francisco consagrou bispos o espanhol Miguel Angel Ayuso Guixot e o norte-americano Peter Brian Wells. Durante a celebração eucarística, que foi realizada na Basílica de São Pedro, o prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet, pediu ao Santo Padre a ordenação dos dois novos prelados. E o Pontífice respondeu que “de bom grado” o faz.
Antes de continuar a consagração episcopal, o Papa pronunciou essencialmente a homilia ritual prevista na edição italiana do Pontifical Romano, que completou com alguns acréscimos pessoais. Assim Francisco convidou os novos bispos a “olhar para os olhos dos fieis, para verem os seus corações”, serem “servidores de todos” e cuidar especialmente dos seus presbíteros. “O primeiro próximo do bispo é o seu presbítero. Se não amas ao teu primeiro próximo, não amará os demais”, disse o Pontífice.
O Santo Padre também exortou aos candidatos à ordem episcopal a orientar a Igreja que lhes for confiada, e a ser fieis dispensadores dos mistérios de Cristo. “Eleitos pelo Pai para governar a sua família, mantenham sempre diante dos seus olhos o Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas”, insistiu.
Além do mais, o Papa destacou que “O episcopado é o nome de um serviço, não de uma honra”. “Porque a tarefa do bispo é mais servir do que dominar, segundo o mandamento do Mestre”, explicou.
No final de suas palavras, Francisco destacou as tarefas às quais estão chamados. “Não vos esqueçais – indicou – de que a primeira tarefa do bispo é a oração” e “a segunda tarefa, o anúncio da Palavra”. “Se um bispo não reza, não poderá fazer nada”, garantiu.
Fonte: Zenit.

domingo, 20 de março de 2016

Deus não aguarda, mas se antecipa indo ao encontro gratuitamente

Domingo de Ramos e da Paixão! A festa da acolhida de Jesus, em sua entrada na cidade santa de Jerusalém. Os gritos de Hosana, iniciados pelas crianças, cujas bocas não podem se calar, espalham-se pelas ruas e vielas da cidade. Chegou o Rei esperado, o Filho de Davi, as esperanças se cumpriram! No entanto, o burburinho das massas não consegue esconder as conspirações correntes, tramadas às escondidas pelas autoridades políticas e religiosas do tempo. Sabemos que os acontecimentos se precipitaram, pois, poucos dias depois, bastaram poucas tratativas, traição, moedas, falsos testemunhos, tudo conduziu à Cruz, onde foi elevado, fora dos muros da cidade, Jesus de Nazaré! Jesus entrou em Jerusalém para se entregar, como ato de liberdade de quem não tem a sua vida roubada: “É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha  vida. E assim, eu a recebo de novo. Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de recebê-la de novo. Tal é o encargo que recebi do meu Pai” (Jo 10, 17-18).
Aproximam-se sempre os extremos, quando se quer realizar um ato de amor autêntico. E aquele que assistimos em Jerusalém e arredores traz consigo a salvação oferecida a todos os homens e mulheres de todos os tempos. Não podemos imaginar redenção sem derramamento de sangue! (Cf. Hb 9, 22). O preço de nossa salvação foi o Sangue Redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Era o mais desprezado e abandonado de todos, homem do sofrimento, experimentado na dor, indivíduo de quem a gente desvia o olhar, repelente, dele nem tomamos conhecimento. Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas. E a gente achava que ele era um castigado, alguém por Deus ferido e massacrado. Mas estava sendo traspassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados. O castigo que teríamos de pagar caiu sobre ele, com os seus ferimentos veio a cura para nós. Como ovelhas estávamos todos perdidos, cada qual ia em frente por seu caminho. Foi então que o Senhor fez cair sobre ele o peso dos pecados de todos nós. Oprimido, ele se rebaixou, nem abriu a boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante do tosquiador, ele ficou calado, sem abrir a boca” (Is 53, 3-7).
De lá para cá, onde entra a fé em Jesus Cristo é possível aproximar cruz e ressurreição, dor e amor, tristeza que desemboca em alegria! A origem se encontra no plano de amor gestado desde a eternidade no seio da Santíssima Trindade, cujo rosto é o da misericórdia! Mesmo humanamente, não é possível amor autêntico sem saída de si mesmo, sem a capacidade de perder para oferecer o melhor de si pelo bem dos outros. Como entender esta aparente contradição? Jesus anunciou por bem três vezes o desembocar dos acontecimentos, passando ele mesmo pela prisão, tortura, cruz, morte e ressurreição. Quem é dono do processo se oferece e se entrega, sem deixar que os fatos o atropelem. Amor de quem vai ao encontro das situações mais desafiadoras, abraçando todas as dores, a tristeza, o abandono, numa “paixão” pela miséria! Jesus sabia em que cidade entrava, com pleno conhecimento dos conflitos ali existentes e das tramas complicadas, onde as mãos não eram limpas e os pretensos próceres da prática estrita da lei e das normas sociais e religiosas estavam comprometidos com a decadência reinante. Abraçar o que existe de mal, para, lá dentro, no mais profundo das crises, entregar-se e sanar com amor todas as mazelas da humanidade.
Deus não aguarda a vinda de uma humanidade machucada e ferida, suplicante da expectativa da benevolência divina, mas se antecipa, indo ao encontro, gratuitamente, de todas as necessidades humanas. É a misericórdia em ato, na liberdade do dom de amor. Deus não tem medo de “sujar-se”, saindo de si mesmo. Jesus é aquele que assume a condição de escravo, obediente até a morte. Sim, ele está pronto para resgatar da morte a humanidade, justamente com a própria morte. Seria inadequado acusar o Pai do Céu pela morte do Filho amado! Não se trata de roubo da vida do Filho, mas uma viagem de amor, para que nenhuma situação humana fique alheia ao amor de Deus. Dali para frente, todo ato de amor e serviço aos últimos, aos mais frágeis e pecadores, pode ser acolhido como parte do único movimento de amor, nascido do seio de amor de Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo. A misericórdia está no mais alto das atitudes divinas e humanas!
Voltemos a Jerusalém! Quem sabe o que faz acolhe as aclamações e hosanas, mas não se ilude com elas. Para entrar na cidade, vai sobre a montaria dos pobres, um jumentinho, e não com um cavalo cheio de enfeites, próprio das autoridades carregadas de poder. São as roupas das pessoas que servem de homenagem e os ramos de palmeira sinais de vitória escondida na simplicidade daquele que é acolhido. Lá dentro do coração do Senhor, certamente se abria o horizonte das muitas dores que estavam para chegar. Levar em conta a possibilidade e até a certeza do mistério da dor é sinal de inteligência e realismo. Se de todos se pode esperar tal percepção, mais ainda do Senhor Jesus, nosso Salvador.
Consequências! Não ter receio de contar com a vitória de Deus contra a maldade e o pecado. Ele é o Senhor da História! Haveremos de conviver, tendo diante dos olhos trigo e joio, quem sabe até angustiados pelos peixes bons e maus existentes nas redes da vida, com o mistério da iniquidade. Sabemos que ele passa também dentro de nós e não apenas no limite em que começam a entrar os outros e seus eventuais dramas ou pecados. As ruas de nossos corações não se recusem a abrir-se acolhedoras. Não tenhamos receio de mostrar nossas misérias e sujeiras físicas ou morais, pois estamos certos de que aquele que é misericordioso se apaixonou pela humanidade que somos nós. E não impeçamos a ninguém o acesso à fonte da misericórdia, que jorra nas praças de nossa vida de Igreja. Antes, sejamos missionários portadores do anúncio da misericórdia aos mais sofredores e pecadores.
Com este espírito viveremos a Semana Santa que se abre no Domingo de Ramos. Sair de nossas casas, acompanhar a procissão de Ramos, participar da Santa Missa, preparar-se para o Tríduo Pascal! É o programa da próxima Semana, a “Semana Maior”.
Dom Alberto Tavera Corrêa, arcebispo metropolitano de Belém do Pará
Dom Alberto Tavera Corrêa, arcebispo metropolitano de Belém do Pará

sábado, 19 de março de 2016

Três mil e duzentos catecúmenos serão batizados na diocese de Hong Kong

“Vocês não encontraram somente a luz, vocês devem se transformar também em luz que ilumina o mundo.” Assim, o Cardeal John Tong Hon, Bispo de Hong Kong, exortou os catecúmenos durante o rito celebrado no IV Domingo de Quaresma, 6 de março. Em vista da Santa Páscoa, o caminho quaresmal do Ano da Misericórdia da Diocese de Hong Kong se intensifica. De acordo com as informações do jornal diocesano Kung Kao Po, informou a Agência Fides, serão 3.200 os catecúmenos que da Diocese de Hong Kong receberão os sacramentos de iniciação cristã, Batismo, Crisma e Eucaristia na próxima Vigília Pascal.
Desde 28 de fevereiro, III Domingo da Quaresma, as paróquias começaram as avaliações para os catecúmenos. No IV Domingo, o Cardeal Tong presidiu dois encontros na Paróquia de São Francisco. Estavam presentes cerca de 1.600 pessoas entre catecúmenos, padrinhos, madrinhas e catequistas que seguiram seu caminho de fé e de preparação para os sacramentos de iniciação cristã. “Graças a um curso intenso de catecismo, os encontros de oração, a partilha da Sagrada Escritura, espiritualidade .… vocês estão se aproximando cada vez mais da fé e da Igreja” – disse o Cardeal. Depois do Batismo, vocês devem testemunhar a fé através do serviço à Igreja, o cuidado dos pequenos e dos fracos. Porque vocês não encontraram somente a luz, mas vocês também devem se transformar em luz que ilumina o mundo”. Entre os catecúmenos há famílias inteiras, pais e filhos, e jovens casados recentemente.
Fonte: Zenit.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Papa aos líderes do futuro: “A força de uma sociedade é a compaixão, não as habilidades pessoais”

Compaixão uns com os outros e não só conhecimentos e habilidades pessoais; serviço para com aqueles que não são capazes de prover nem mesmo as necessidades diárias e não só diplomacia; cuidado com quem é atingido por problemas, violência e intolerância e não só estudo dos sistemas institucionais e das organizações.
Francisco traz à realidade os mais de 3 mil jovens participantes da Harvard World Model United Nations, encontrados hoje na Sala Paulo VI. É esta uma iniciativa que reúne estudantes universitários de 115 Países para mostrar a atividade da Onu e dos organismos internacionais
Justamente destes jovens se formarão os líderes mundiais do futuro, por isso o Papa lhes recorda os verdadeiros valores e os objetivos a serem perseguidos. “Em qualquer nível de vida e de organização social”, destaca, a “força” de uma comunidade “se apoia não tanto nos nossos conhecimentos e habilidades pessoais, mas na compaixão que mostramos uns com os outros, principalmente nos cuidados que temos com aqueles que não podem cuidar de si mesmos”.
Francisco, portanto, em seguida, expressa a esperança de que a experiência vivida “leve a apreciar a necessidade e a importância de estruturas de cooperação e de solidariedade, que foram forjadas pela comunidade internacional ao longo dos anos”. Elas – evidencia – “são especialmente eficazes quando direcionadas ao serviço de todos aqueles que no mundo são mais vulneráveis e marginalizados”.
“Como estudantes universitários – acrescenta o Papa – vocês se dedicam especialmente à busca da verdade e da compreensão, do crescimento na sabedoria, não só para benefício próprio, mas para o bem das suas comunidades locais e de toda a sociedade”. Depois está “o ensino sobre a diplomacia, os sistemas institucionais e as organizações”, que são sim “importantes e merecem o vosso estudo”, mas estes não são “da estada de vocês em Roma”.
O fruto maior, afirma Francisco, é´ “o tempo percorrido junto”, o encontro “com pessoas de toda parte do mundo” que “representam não só os muitos desafios contemporâneos, mas especialmente a rica variedade de talentos e potencialidades da família humana”. “Cada um de vocês pode, de fato, descrever as esperanças e os sonhos, os desafios e os sofrimentos que caracterizam as pessoas do vosso País”, acrescenta o Santo Padre.
“Os argumentos e as problemáticas que vocês trataram não estão sem rosto”. De fato, “por trás de cada dificuldade que o mundo enfrenta, existem homens e mulheres, jovens e anciãos, pessoas como vocês”. Há “famílias e indivíduos que vivem a cada dia lutando, que procuram cuidar dos seus filhos e de prover-lhes não só o futuro, mas também as necessidades básicas de hoje”. Existem todos aqueles que “atingidos por problemas mais graves do mundo atual, da violência e da intolerância”, tornaram-se “refugiados, tragicamente obrigados a abandonar as suas casas, privados da sua terra e da sua liberdade”.
Estes são “aqueles que precisam da ajuda de vocês, que pedem-lhes a gritos para serem ouvidos, e que são mais do que dignos de todo vosso esforço para a justiça, a paz e a solidariedade”, destaca Francisco E, citando São Paulo, exorta a “alegrar-se com aqueles que se alegram e chorar com aqueles que choram”.
Daí a esperança de que o “WorldMun” leve todos os participantes também a “ver o compromisso da Igreja Católica no serviço às necessidades dos pobres e dos refugiados, a apoiar as famílias e as comunidades e a proteger a inalienável dignidade e os direitos de cada membro da família humana”.
“Nós, cristãos – concluiu o Papa – cremos que Jesus nos chama para servir os nossos irmãos e irmãs, para cuidar dos outros, independentemente da sua origem e das circunstâncias. No entanto, isso não é só um elemento distintivo dos cristãos, mas é um chamado universal, enraizado na nossa comum humanidade como pessoas humanas”.
Fonte: Zenit.

quinta-feira, 17 de março de 2016

“É muito sofrimento… Que as nações abram a porta aos imigrantes!”, disse o Papa

“Onde está Deus?” Deus se esqueceu de mim! Como é possível que tanto sofrimento possa cair sobre os homens, mulheres e crianças inocentes que se encontram com portas fechadas quando procuram entrar por algum lado, e estão ali, na fronteira, porque muitas portas e muitos corações estão fechados?”.
São as perguntas que surgem espontaneamente “dos lábios de muitas pessoas que sofrem, que se sentem abandonadas”. O Papa Francisco as faz próprias na catequese da Audiência geral, dando voz aos que hoje sofrem o drama do exílio: o físico, distante da própria pátria, “tendo nos olhos ainda os escombros de suas casas, no coração o medo e muitas vezes, infelizmente, a dor da perda de pessoas queridas”; e um exílio espiritual, por causa da “solidão”, do “sofrimento” e da “morte”.
Em particular, Bergoglio dirige um pensamento a todos os migrantes que “hoje sofrem a céu aberto, sem comida e não podem entrar, não sentem a acolhida. Gosto muito – disse improvisando – de ouvir quando vejo as nações, os governantes, que abrem o coração e abrem as portas!”.
“Nesses casos – continuou o Papa – pode-se perguntar Onde está Deus? Como é possível tanto sofrimento?”. Existem situações, de fato, que “nos fazem pensar que Deus abandonou”. Porém, Ele “é fiel” e, como se lê no livro de Jeremias, “apresenta-se com toda a sua capacidade de confortar e abrir o coração dos aflitos à esperança”.
O profeta se dirige, de fato, aos israelitas deportados para um país estrangeiro, e anuncia o retorno à terra natal, como “um sinal do amor infinito de Deus Pai que não abandona os seus filhos, mas cuida deles e os salva”. “O exílio tinha sido uma experiência devastadora para Israel”, observa o Santo Padre, “a fé tinha falhado porque na terra estrangeira, sem o templo, sem o culto, depois de ter visto o país destruído, era difícil continuar a crer na bondade do Senhor”.
Vem, então, uma “mensagem de consolação” que “hoje queremos também nós ouvir”. Esta mensagem, este grande anúncio é que “Deus não está ausente, Deus está próximo, e faz grandes obras de salvação com aqueles que confiam Nele”. “Não devemos ceder ao desespero – insta Francisco – mas continuar a estar seguros de que o bem vence o mal e que o Senhor enxugará cada lágrima e nos libertará de todo medo”.
“O Senhor é fiel, não abandona à desolação”, insiste o Papa, “Deus ama com um amor sem fim, que nem mesmo o pecado pode conter, e graças a Ele o coração humano enche-se de alegria e consolação”. Enche-se do “perdão” de Deus que “converte e reconcilia”.
Jeremias fez o anúncio, “apresentando o retorno dos exilados como um grande símbolo da consolação dado ao coração que se converte”. Depois Jesus realizou esta mensagem do profeta, carregando “o verdadeiro e radical retorno do exílio e a reconfortante luz depois da escuridão da crise de fé” que – observa o Papa – “se realiza na Páscoa, na experiência plena e definitiva do amor de Deus, amor misericordioso que dá alegria, paz e vida eterna”.
Nessa linha, o Santo Padre, saudando os peregrinos de língua árabe, em especial os provenientes do Oriente Médio, exclamou: “Quantas experiências de exílio, de  expatriação, de sofrimento e perseguição nos levam a duvidar até mesmo da bondade de Deus e do seu amor por nós!”.
Uma pergunta que – repete – “se dissipa perante a verdade que Deus é fiel e realiza as suas promessas com aqueles que não duvidam e com aqueles que esperam contra toda esperança”. “O consolo do Senhor – afirma Francisco – está próximo daquele que sabe atravessar a dolorosa noite da dúvida, agarrando-se e esperando na aurora da misericórdia de Deus, que nem toda a escuridão e injustiça poderão derrotar jamais”.
Fonte: Zenit.

quarta-feira, 16 de março de 2016

“O crucifixo não é uma obra de arte… é o mistério do ‘aniquilamento’ de Deus, por amor”, disse o Papa

Se nós queremos conhecer “a história de amor” que Deus tem conosco é necessário olhar o Crucifixo, sobre o qual está um Deus que se “esvaziou da divindade”, se “sujou” de pecado para salvar os homens. Assim indicou o Papa Francisco na homilia da missa celebrada em Santa Marta.
A história de salvação contada pela Bíblia tem a ver com um animal, o primeiro a ser nomeado no Gênesis e o último no Apocalipse: a serpente. Um animal que, na Escritura, é símbolo poderoso de condenação e misteriosamente de redenção, explicou o Papa.
Para explicar isso, o Santo Padre referiu-se à leitura de Números e a passagem do Evangelho de João. A primeira contém a célebre passagem do povo de Israel que, cansado de vagar pelo deserto com pouca comida, jura contra Deus e contra Moisés. Também aqui são protagonistas as serpentes, duas vezes.
As primeiras enviadas do céu contra o povo fiel, semeiam medo e morte até que as pessoas implorem perdão a Moisés. E a segunda, recordou o Papa, quando “Deus disse a Moisés: “Faça uma serpente e coloque-a em uma vara (a serpente de bronze). Quem for mordido e olhar para ela ficará vivo”. É misterioso: o Senhor não mata a serpente, a deixa. Mas se uma delas prejudica uma pessoa, basta olhar para a serpente de bronze e ficará curada. Elevar a serpente”.
Além disso, Francisco disse que o verbo “elevar” está, no entanto, no centro do duro debate entre Cristo e os fariseus descrito no Evangelho. Em um certo momento, Jesus afirma: “Quando tiverdes elevado o Filho do homem, então conhecereis quem eu sou”.
Acima de tudo, observou o Santo Padre, “Eu Sou” é também o nome que Deus se tinha dado para que Moisés o comunicasse aos israelitas. E depois, acrescentou o Papa, está essa expressão que volta: “Elevai o Filho do homem…”.
Nesse mesmo sentido, o Bispo de Roma salientou que a serpente é símbolo do pecado. “A serpente que mata. Mas uma serpente que salva. E este é o mistério do Cristo”. Assim, recordou que Paulo, falando do Mistério, diz que Jesus esvaziou-se a si mesmo, humilhou-se, aniquilou-se para salvar-nos. E mais forte ainda: fez-se pecado. Por isso explicou que o Filho do homem, que como uma serpente, tornado pecado, é elevado para salvar-nos.
Esta, disse o Papa, “é a história de nossa redenção, esta é a história do amor de Deus. Se quisermos conhecer o amor de Deus, olharmos o Crucifixo: um homem torturado”, um Deus, “esvaziado de divindade”, “sujado” pelo pecado. Mas um Deus que, concluiu, aniquilando-se destrói para sempre o verdadeiro nome do mal, o que o Apocalipse chama de “a velha serpente”.
E, finalmente, garantiu que “o pecado é a obra de satanás e Jesus vence Satanás ‘tornando-se pecado’ e assim eleva a todos nós. O crucifixo não é uma obra de arte, com muitas pedras preciosas como se veem: o Crucifixo é o mistério do ‘aniquilamento’ de Deus, por amor; e essa serpente que profetiza no deserto a salvação: elevado e quem olhar para ele é curado. E isso não foi feito com uma varinha mágica de um Deus que faz as coisas: não! Isso foi feito com o sofrimento do Filho do homem, com o sofrimento de Jesus Cristo”.
Fonte: Zenit.

terça-feira, 15 de março de 2016

“Servir, ajudar, esquecer-se de si: isso é amor”

Na audiência geral jubilar que precede a Semana Santa, o papa Francisco se concentrou no significado do rito do lava-pés. O gesto realizado por Jesus na Última Ceia foi “tão inesperado e chocante” que “Pedro não queria aceitá-lo”.
Mas nosso Senhor, ao lavar os pés dos discípulos, os chama ao “serviço” como “o caminho a percorrer para viver a fé n’Ele e para dar testemunho do Seu amor”. Tendo-se Ele feito servo, fez também os homens servos uns dos outros (“Também vós deveis lavar os pés uns dos outros” – Jo 13,12-14), revelando, assim, “a maneira de Deus de agir conosco”.
Esta “servidão” não tem nada a ver com “servilismo”: é o “novo mandamento” do amor, um “serviço concreto que prestamos uns aos outros” e que não é feito apenas de “palavras”.
O amor é um “humilde serviço” realizado “no silêncio”, como pediu Jesus: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mt 6,3). Isso implica “disponibilizar os dons que o Espírito Santo nos concedeu” e, ao mesmo tempo, “partilhar os bens materiais para que ninguém fique em necessidade”, de acordo com um estilo de vida que “Deus também sugere a muitos não cristãos como caminho de verdadeira humanidade”.
O lavatório dos pés recorda também o convite de Jesus a “confessar os nossos pecados e a rezar uns pelos outros para saber-nos perdoar de coração”.
A este respeito, o Santo Padre citou Santo Agostinho, que escreveu: “O cristão não desdenhe fazer o que Cristo fez. Porque quando o corpo se inclina ao pé do irmão, o sentimento de humildade se acende no coração, ou, já se existia, é alimentado”. O bispo de Hipona recorda ainda: “Perdoemo-nos os nossos erros e rezemos uns pelo perdão dos pecados dos outros, e, assim, de alguma forma, lavaremos mutuamente os nossos pés”.
O pontífice destacou que muitas pessoas passam a vida “a serviço dos outros”, citando uma carta recebida na semana anterior de uma pessoa que lhe agradecia pelo ano da misericórdia: “[Essa pessoa] me pedia que rezasse por ela, para ficar mais perto do Senhor. A vida dessa pessoa era cuidar da mãe e do irmão; a mãe de cama, idosa, lúcida, mas sem poder se mover, e o irmão deficiente, em cadeira de rodas”. Uma situação familiar difícil, que, por duas vezes, Francisco definiu dizendo: “Isto é amor!”.
“Servir” e “ajudar”, esquecer-se de si mesmo e pensar nos outros: estas são atitudes que lembram o lava-pés, onde “o Senhor nos ensina a ser servos, mais servos, como Ele foi servo por nós, por cada um de nós”.
“Queridos irmãos e irmãs, ser misericordiosos como o Pai significa seguir Jesus no caminho do serviço”, concluiu o papa.
Fonte: Zenit.

segunda-feira, 14 de março de 2016

“Deus não nos identifica com o mal que realizamos”, disse Papa Francisco

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste quinto domingo da Quaresma (cf. Jo 8,1-11) é muito bonito. Eu gosto muito de lê-lo e relê-lo. Apresenta a história da mulher adúltera, destacando o tema da misericórdia de Deus, que nunca quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva. A cena se passa na esplanada do Templo.
Imagine-a ali, na praça [da Basílica de São Pedro]. Jesus está ensinando as pessoas, e então chegam alguns escribas e fariseus que arrastam perante Ele uma mulher apanhada em adultério. Aquela mulher encontra-se assim entre Jesus e a multidão (cf. v. 3), entre a misericórdia do Filho de Deus e a violência, a fúria de seus acusadores. Na verdade, eles não vieram ao Mestre para pedir sua opinião – eram más pessoas – mas para colocar-lhe uma armadilha. De fato, se Jesus seguir a severidade da lei, aprovando a lapidação da mulher, perderá a sua fama de manso e de bondade que tanto fascina as pessoas; se, pelo contrário, for misericordioso, deverá ir contra a lei, que Ele mesmo disse que não veio para abolir mas para cumprir (cf. Mt 5, 17). E Jesus é colocado nesta situação.
Esta má intenção se esconde sob a pergunta feita a Jesus: “O que você acha?” (V. 5). Jesus não responde, cala e realiza um gesto misericordioso: “abaixou-se e começou a escrever com o dedo na terra” (v. 7). Talvez fossem desenhos, alguns dizem que escrevia os pecados dos fariseus … de qualquer maneira, escrevia, era como se estivesse em outro lugar. Desta forma convida todos à calma, a não agir na impulsividade, e a procurar a justiça de Deus. Mas eles, os maus, insistem e esperam Dele uma resposta. Parecia que tinham sede de sangue. Então Jesus levantou o olhar e disse: “Quem estiver sem pecado, jogue a primeira pedra” (v. 7). Esta resposta quebra os acusadores, desarmando-os no verdadeiro sentido da palavra: todos depuseram as “armas”, isto é, as pedras prontas para serem jogadas, tanto aquelas visíveis contra a mulher, quanto aquelas escondidas contra Jesus. E enquanto o Senhor continua a escrever na terra, a fazer desenhos, não sei…, os acusadores vão saindo um por um, começando pelos mais velhos, mais conscientes de não estarem sem pecado. Quanto bem nos faz sermos conscientes de que também nós somos pecadores! Quando falamos dos demais – tudo coisas que conhecemos bem – , quando bem nos fará ter a coragem de deixar cair por terra as pedras que temos para jogar nos demais, e pensar um pouco nos nossos pecados!
Ficaram lá, sozinhos, a mulher e Jesus: a miséria e a misericórdia, um diante do outro. E isso, quantas vezes nos acontece quando paramos diante do confessionário, com vergonha, para mostrar a nossa miséria e pedir o perdão! “Mulher, onde estão?” (v.10), lhe diz Jesus. E basta esta constatação, e o seu olhar cheio de misericórdia, cheio de amor, para mostrar àquela pessoa – talvez pela primeira vez – que tem uma dignidade, que ela não é o seu pecado, ela tem uma dignidade de pessoa; que pode mudar de vida, pode sai das suas escravidões e caminhar em um novo caminho.
Queridos irmãos e irmãs, aquela mulher representa todos nós, que somos pecadores, ou seja, adúlteros diante de Deus, traidores de sua lealdade. E a sua experiência representa a vontade de Deus para cada um de nós: não a nossa condenação, mas a nossa salvação através de Jesus. Ele é a graça, que salva do pecado e da morte. Ele escreveu na terra, no pó com o qual é feito todo homem (cf. Gen 2,7), a sentença de Deus: “Não quero que morras, mas que vivas”. Deus não nos prega no nosso pecado, não nos identifica com o mal que realizamos. Temos um nome, e Deus não identifica este nome com o pecado que cometemos. Quer libertar-nos, e quer que também nós o queiramos junto com ele. Quer que a nossa liberdade se transforme do mal para o bem, e isso é possível – é possível! – com a sua graça.
Que a Virgem Maria nos ajude a confiar-nos totalmente à misericórdia de Deus, para se tornar novas criaturas.
Fonte: ZENIT

domingo, 13 de março de 2016

Fermento leveda a massa

“Um pouco de fermento leveda a massa toda!” Esta é uma lembrança pertinente do apóstolo Paulo diante de uma confusão estabelecida por divisões acirradas na comunidade dos Gálatas. Os conflitos naquele cenário encontravam justificativa e sustento até mesmo na Lei e nas práticas tradicionais. A comunidade não conseguia encontrar saídas, arquitetar consensos. Diante desse contexto, São Paulo adverte “se vos mordeis e vos devorais uns aos outros” não haverá soluções e reconstruções. No momento atual, não estaria, de alguma maneira, desencadeada essa dinâmica das agressões nos segmentos da sociedade brasileira, particularmente no mundo da política? A imprescindível necessidade de reconfigurar essa esfera no país parece ter caído na dinâmica das “mordidas e voracidades”.

Não se pode simplesmente pensar em construir nova sociedade com a destruição do outro. Essencial e eficaz é exercer a cidadania com o necessário reconhecimento da dignidade humana para, assim, corrigir os erros, reestabelecer a verdade e realinhar processos. Nesse sentido, é oportuno refletir sobre a orientação do apóstolo Paulo aos Gálatas, em busca da superação de descompassos que causam abalos na dinâmica da vida da comunidade. O apóstolo recorre a um dito simples que ajuda a compreender a responsabilidade de cada pessoa no zelo da própria consciência, exercício fundamental para que toda a sociedade trilhe novos caminhos. Ele recorda que “um pouco de fermento leveda a massa toda”. Pensando a respeito da sociedade, isto significa que cada cidadão precisa compreender que a sua própria conduta em diferentes âmbitos, particularmente no exercício profissional, religioso e representativo, tem amplo alcance na esfera coletiva.

“Jogar pedras e esconder a mão” não ajuda a sociedade a se reconstruir.  Os segmentos diversos precisam de orientação para alcançar horizontes mais amplos, palavras com força de agregação que efetivem as mudanças urgentes. Obviamente que há segmentos com responsabilidade maior nessa tarefa de construir a necessária proximidade. Não é pequena, por exemplo, a tarefa do setor religioso e confessional, por suas instituições com força para orientar e agregar, motivar articulações e, assim, estabelecer processos que podem gerar, com maior velocidade, respostas adequadas às crises instauradas.  Certamente, o Brasil carece mais dessa palavra incidente e agregadora, que não está no domínio de “um salvador da pátria”. As regionalidades desse país com dimensões continentais podem muito contribuir a partir de seu tecido cultural e de suas tradições, pois são capazes de inspirar articulações entre a representação política, líderes religiosos, culturais e artísticos, empreendedores e, obviamente, todo o povo.  Essa união é capaz de formatar novos hábitos, agendas e pautas com mais pertinência no enfrentamento de problemas.

Na contramão desse caminho estão as formas de participação política que se reduzem a partidarismos. Ora, as soluções para os muitos problemas não estão apenas nos âmbitos governamentais. Há saídas simples que acabam perdidas por falta de competência, esforço individual, excesso de comodismo e preguiça, estreitamento de horizonte. Situações que encastelam os indivíduos, os grupos e as instituições na mediocridade. Cada cidadão não pode apenas criticar, como se estivesse fora da “massa”. É preciso e determinante se compreender como “fermento” capaz de “levedar toda a massa”. Eis, pois, um extenso e exigente processo de reeducação na cultura brasileira, que exige análises e, sobretudo, a coragem de se fazer algo não simplesmente para si, mas para toda a comunidade.

Sem dispensar segmento algum, é preciso que, especialmente a classe política, em razão de sua representatividade, consiga dialogar e, verdadeiramente, buscar o bem do povo. Para isso, o parlamento, entre outras mudanças necessárias, deve deixar de ser palco de “gladiadores” que lutam por interesses particulares, cartoriais e partidários. De maneira simples, à luz da própria consciência, presidida por princípios éticos e morais, em todas as circunstâncias, os cidadãos todos são convocados a se compreender, nas suas atitudes, nos seus exercícios, como “fermento que leveda a massa”.

Dom Walmor Oliveira de AzevedoO arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante os exercícios de 2003 a 2007 e de 2007 a 2011. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB - Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas. 
Fonte: Domtotal.com.br