"Deus te quer bem". Esse era o lema da Irmã Cândida Maria de Jesus (1845-1912), que será canonizada no dia 17 de outubro na Praça de São Pedro. Uma obediência que a levou a viver a caridade ao extremo.
Esta religiosa espanhola, nascida na localidade de Adoain (Espanha), é a fundadora da comunidade das Filhas de Jesus, presente hoje na Europa (Espanha e Itália), América Latina (Cuba, República Dominicana, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Brasil, Uruguai, Argentina), Ásia (China, Bangladesh, Tailândia, Taiwan, Filipinas e Japão) e África (Moçambique).
ZENIT entrevistou sua postuladora, a Irmã Anna Maria Cinco Castro, que destacou dela "um amor singular a Deus, a cuja maior glória, a cujo fiel serviço, quis dedicar toda sua vida e cada instante da mesma".
ZENIT: Como Juana Josefa sentiu o chamado à vida religiosa?
Anna Maria Cinco Castro: Sendo jovem (entre 18 e 20 anos), Juana Josefa (nome de nascimento), primogênita das sete filhas de uma família humilde e profundamente cristã, comunicou a seus pais sua decisão de se consagrar a Deus na vida religiosa. Ante as insistentes propostas de casamento que seus pais lhe apresentavam, contestou reiteradamente: "só para Deus".
ZENIT: Como foi o chamado para fundar a comunidade?
Anna Maria Cinco Castro: Aconselhada por seu confessor, trasladou-se de Tolosa a Burgos, e entrou como servente em uma casa. Em 1869, foi para Valladolid com a família que servia, e ali, a 2 de abril de 1869, na Igreja da Virgem do Rosário (mais conhecida como Rosarillo), diante do altar da Sagrada Família, ela entendeu claramente que devia fundar uma nova congregação com o nome de Filhas de Jesus, dedicada ao bem espiritual das almas e à educação católica dos povos, por meio da oração e outras obras de piedade e caridade, e particularmente da instrução da infância e juventude.
Em Salamanca, a 8 de dezembro de 1871, dia da Imaculada, "sob seu visível amparo e particular proteção", nasceu o Instituto das Filhas de Jesus, em simplicidade e pobreza.
ZENIT: Qual é o carisma do instituto?
Anna Maria Cinco Castro: Sentimo-nos especialmente chamadas a viver em uma atitude filial para Deus como Pai, caracterizada pela identificação com Jesus, a confiança, a segurança em seu amor incondicional, o louvor. Este rosto de Deus que contemplamos, de modo muito particular a Jesus, convida-nos à fraternidade com todos, à gratuidade, à simplicidade, à alegria ainda quando se passe pela cruz.
ZENIT: Como era a sensibilidade da Irmã Cândida para os mais necessitados?
Anna Maria Cinco Castro: Tinha uma grande caridade com o próximo, sensível a seu autêntico bem. Queria que suas filhas buscassem o bem de seus próximos mais que seu próprio bem-estar ou utilidade temporal.
ZENIT: Que aspectos de sua vida a ajudaram a cultivar esta virtude?
Anna Maria Cinco Castro: Creio que ela, que nasceu em uma família humilde e que teve de deixar sua terra sendo ainda jovem, teve uma experiência humana muito próxima deles. Quando era servente em uma casa de família, declarou um dia: "onde não há lugar para meus pobres, tampouco há para mim".
Depois, como fundadora, experimentou profundamente sua pobreza pessoal (sua escassa preparação intelectual, a falta de meios econômicos e de ajudas materiais ao começo da fundação e durante toda sua vida), junto com o amor grande e infinito do Pai, que nunca nos abandona. No fundo, é esta sua experiência de Deus como Pai de todos, que abriria seu coração aos mais necessitados, porque todos somos irmãos.
ZENIT: Em que valores se baseia a educação que esta comunidade oferece às crianças e jovens?
Anna María Cinco Castro: É uma educação que se orienta em chave evangelizadora e dá prioridade aos valores do Reino, como o amor universal e solidário, simplicidade e proximidade, liberdade e responsabilidade, alegria e serenidade, e respeito, participação e acolhida. Uma educação para aprender e exercitar em viver como filho de Deus e irmão de todos. E por isso uma educação com enfoque positivo, dando prioridade ao amor, à motivação e estímulo. Madre Cândida dizia: "Na educação, usar sempre o método mais alegre".
ZENIT: Quais são as principais virtudes da futura santa?
Anna María Cinco Castro: Um grande espírito de fé que a permite ver as pessoas, os acontecimentos e todas as coisas sob a luz de Deus, e uma esperança firme nas promessas divinas. "Fé, fé, fé viva, constante e eterna, e com isso, trabalhar sem descanso, que tudo passa e só Deus basta..."
Uma relação estreita e constante com Jesus que a faria buscar se parecer a Ele como um filho se parece com seu pai. Dizia: "Em Jesus tudo temos". Um amor filial à Virgem, que ela chamava de a verdadeira fundadora do Instituto, e cuja proteção buscava - quase todas as suas cartas começam com a frase "A Puríssima Virgem nos cubra com seu manto".
ZENIT: Como a comunidade está-se preparando para a canonização?
Anna María Cinco Castro: Estamos nos preparando para a canonização, mas não precisamente por sua organização externa, mas por escutar com mais atenção o chamado à santidade que este acontecimento nos recorda. Estamos vivendo este tempo como um tempo de maior acolhida e vivência do Evangelho de Jesus Cristo, para ser tão parecidas a Jesus que nos reconheçam como "Filhas de Jesus". Vemos a canonização como um forte chamado a uma vida mais santa e entregue ao sonho de viver cada dia mais segundo os valores do Evangelho e mais centradas na pessoa de Jesus Cristo como foi a Madre Cândida.
Queremos que estes meses de preparação para a festa sejam oportunidade para que cresçamos na tarefa missionária que temos todos os que reconhecemos e amamos Jesus.
Fonte: Zenit.
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