É “um grande privilégio” poder acolher o Papa e “abrir a Bento XVI as portas de sua casa em Malta”. Estas foram as palavras de Dom Tommaso Caputo, Núncio em Malta, ao descrever seus sentimentos às vésperas da visita apostólica do Pontífice à ilha, que ocorrerá neste final de semana.
“Será uma peregrinação às origens da fé”, disse o núncio a ZENIT, evento que ocorrerá “na véspera do quinto aniversário de sua eleição à Cátedra de Pedro”. “Uma coincidência não apenas significativa, mas também providencial”.
- Após anos a serviço da Santa Sé na Secretaria de Estado, como se sente ao acolher, como núncio, o Santo Padre em Malta?
- Dom Caputo: Quando se espera pelo Papa, os sentimentos de alegria e gratidão são naturais para todos. No meu caso, posso acrescentar ainda o sentimento de grande privilégio: em minha primeira experiência como núncio, a Providência me confia a tarefa de abrir a Bento XVI, peregrino da paz e da esperança a seguir as pegadas de Pedro, as portas de “sua” casa em Malta. Só se pode viver o significado eclesial desta graça, e, ao mesmo tempo, tocar com as mãos o sentido histórico de um evento que certamente representará o marco de um novo início no caminho da Igreja e da sociedade maltesas.
Falo do futuro, ainda que estejamos às vésperas da visita, mas, de muitas maneiras, a presença de Bento XVI já está viva em nossa ilha desde o momento em que foi anunciada. Este período de expectativa tem sido marcado principalmente pela reflexão e pela oração. Pode-se dizer que já rendeu frutos. E isto torna ainda mais profundos nossos sentimentos de gratidão e alegria...
- O Papa fará uma peregrinação seguindo os passos de Pedro, e, em Rabat, visitará a Gruta. Quais são as expectativas da Igreja de Malta?
- Dom Caputo: Malta é uma terra apostólica e representa, neste sentido, uma página aberta e viva da história de uma Igreja que, na visão de Bento XVI – conforme lembrou em uma recente audiência geral – está cada vez mais ciente de que toda a história cristã é, em sua essência, uma trajetória contínua de testemunho que se iniciou com os apóstolos. Será, portanto, uma peregrinação às origens da fé, sabendo que cada horizonte novo, também para a Igreja do terceiro milênio, não pode ser discernido sem que se considerem suas raízes. No magistério do Papa Bento, a fecundidade da sucessão apostólica resplandece como um ponto luminoso, e, diria até, como uma lâmpada capaz de iluminar os passos ao longo do percurso por uma modernidade frequentemente desorientada e ainda em busca de sentido.
Bento XVI virá para celebrar em nossa ilha o 1950º aniversário do naufrágio de Paulo. Pode-se dizer que o Papa virá, na concretude dos locais, também para selar este grande evento eclesial. É claro que, diante da vastidão de significados desta visita, a amplitude das expectativas da Igreja local são proporcionais.
Sob este ponto de vista, a visita se dá no momento ideal. A Igreja e a sociedade maltesas, ligadas por uma história com muitos pontos em comum, vivem um momento de transformação. O ritmo das mudanças pode não parecer tão tumultuado quanto em outras partes do mundo, mas toda a região mediterrânea exibe as características de uma transformação que pode conduzir a mudanças importantes e decisivas. A presença do Papa ajudará todos nós a refletir e a identificar os melhores caminhos e oportunidades para responder aos desafios dos novos tempos.
- A visita foi cuidadosamente preparada pela Igreja e pelo Estado. Como são as relações entre estas duas instituições?
- Dom Caputo: As relações Igreja-Estado são marcadas por uma cordialidade que definiria como verdadeiramente de substância, e não apenas de aparência. A cooperação nos preparativos para a visita confirma essa percepção. Os laços dessa relação são fortes porque cada um das partes desempenha seu papel. Malta é rica em instituições assistenciais, de modo que, em certo sentido, poderia ser definida como uma terra onde a caridade é amplamente difundida. Com frequência, na bases destas instituições está o relacionamento próximo entre a comunidade eclesial e a sociedade civil. De resto, a Ordem de Malta constitui um ponto de referência não apenas para a ilha, ainda que tudo tenha tido origem aqui.
A visita de Bento XVI será a terceira visita de um Pontífice à ilha, no curso dos últimos 20 anos: João Paulo II este em Malta duas vezes, em 1991 e em 2001, e seu sucessor visitará a ilha na véspera do quinto aniversário de sua eleição à Cátedra de Pedro. Uma coincidência não apenas significativa, mas também providencial. É importante lembrar que em Malta a religião católica é reconhecida como religião oficial do Estado e que, por isso, é costume que os presidentes da República, no início e ao final de seus mandatos, se reunam em audiência com o Santo Padre.
- A seu ver, qual é o papel de Malta na União Europeia na transmissão dos valores e das raízes cristãs?
- Dom Caputo: A Malta compete, sem dúvida, um papel importante na Comunidade Europeia. O que faz um país grande não é apenas a extensão de seu território ou o número de habitantes. O peso da história de Malta pode exercer grande influência na Comunidade Europeia, especialmente se os demais países da região mediterrânea lograrem exercer sua vocação de pontes entre mundos e realidades diversas. A referência às raízes cristãs é, para Malta, particularmente bem-vinda. A peregrinação do Papa Bento XVI seguindo os passos de São Paulo representa a confirmação de uma identidade antiga e ainda reconhecível. A posição geográfica também contribui para reforçar os traços desta identidade: Malta é a terra natal da hospitalidade, do diálogo e da convivência pacífica entre povos e culturas diferentes. Tratam-se de valores que as sociedades ditas globalizadas – com frequência apenas no âmbito mercantil – e os países continentais tendem a esquecer. Mas hoje, mais do que nunca, é necessário cultivar o solo da hospitalidade. E neste sentido, Malta têm muito a oferecer.
- O Papa ficará hospedado na Nunciatura, em Rabat. Há algumas pequenas surpresas a sua espera?
- Dom Caputo: Não falarei em surpresas, mas em entusiasmo: que evento poderia ser mais entusiasmante do que este que se aproxima? Bento XVI entre nós. A história passando ao nosso lado. A nós, cumpre apenas acolher e servir a este momento de graça.
Fonte: Zenit.
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