A descrição que nos oferece o Evangelho de João sobre Jesus como o Bom Pastor pretende afirmar que a promessa de Deus, anunciada pelo profeta Ezequiel se cumpre em Jesus.
Em Ez 34,1-10, o profeta anuncia a palavra de Deus contra os pastores mercenários. Na comparação do profeta, pastores são também as autoridades políticas, o rebanho é o povo, que pertence exclusivamente a Deus. A função do pastor é cuidar do rebanho em todos os sentidos, principalmente defendê-lo diante dos lobos. O que acontece, porém? Muitas autoridades políticas, em vez de cuidarem do povo, preocupam-se unicamente com seus próprios interesses; em vez de servirem ao povo, elas o usam em proveito próprio; em vez de defenderem o rebanho, elas o entregam aos inimigos. Na visão do profeta, a ruína da nação é culpa das autoridades que a governam.
Será que não podemos atualizar com a recente tragédia do Rio de Janeiro e de Niterói?
Jesus declara: “Eu sou o bom pastor”, isto é, aquele que liberta o povo para uma vida em abundância.
A expressão “eu sou” remonta ao texto do livro do Êxodo, no qual Deus se deu a conhecer a Moisés na época da libertação da escravidão no Egito.
A relação de Jesus com as ovelhas é uma relação de reciprocidade: as ovelhas escutam a voz do pastor. “Eu mesmo irei buscar as minhas ovelhas e as reunirei”. É Ele quem dá a sua vida pelas ovelhas, uma por uma, Ele as chama pelo nome. A comunhão se concretiza pelo seguimento. Somos o seu rebanho. A nossa resposta é que faz a diferença para o pastor.
Àqueles que seguem o pastor, lhes será dada a vida eterna. Ele não é como os pastores mercenários, é o pastor que conhece suas ovelhas e que dá a vida.
Jesus é a porta para a vida. Ele chama. Ele espera, mas cada um de nós é que deve caminhar e transpor essa porta.
Jesus é o pastor, as ovelhas são os discípulos e o povo, que o ouvem e o seguem. Os homens reconhecem a Jesus como o enviado de Deus porque Ele salva e conduz à vida. Ele veio para dar vida aos homens. Ele dá a vida eterna que já se concretiza na fé o único salvador e mediador para a vida.
E sua missão é universal: “Tenho outras ovelhas que não são deste redil, também a estas devo conduzir e elas escutarão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor.”
Este projeto de libertação continua hoje no mundo, através de pessoas engajadas que estendem ao infinito as fronteiras da fé e adesão a esse pastor. Quem se compromete sofre tribulações, como Ele sofreu, mas a certeza de que ninguém poderá tirar nada de sua mão fortalece, dando esperança e coragem.
No mundo caótico em que vivemos, cheio de muitos pastores mercenários, que só querem levar vantagem, cheio de lobos ávidos de poder, força e “status”, cabe ao cristão, seguidor de Cristo, ser a verdadeira ovelha do Bom Pastor e participar com Ele da busca, da orientação, do cuidado para que se realize o que Ele preconizou: “haverá um só rebanho e um só pastor”.
Na família, no bairro, na comunidade, nos acontecimentos da nação e do mundo, podemos agir de acordo com os ditames do nosso Bom Pastor, trazendo para o nosso “redil” aqueles que, por qualquer motivo estejam afastados. Ele virá recolher o seu imenso rebanho e o levará para a plenitude da vida eterna. E que, neste domingo do Bom Pastor, vamos pedir santas vocações para a vida ministerial, religiosa e consagrada e, mais do que isso, rezar pelo Papa Bento XVI, a quem reafirmamos ser o “Pedro de hoje” no mundo em que vivemos, amém!
Fonte: Dom Eurico dos Santos VelosoArcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG)
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