O Estado brasileiro reconheceu ontem, 19, com 33 anos de atraso, que um sacerdote jesuíta assassinado em 1976 por um policial foi vítima de um crime político.
Trata-se do padre João Bosco Penido Burnier, baleado na nuca por um policial em outubro de 1976 quando defendia duas mulheres que eram torturadas em uma delegacia de Ribeirão Cascalheira (MT), em plena ditadura militar (1964-1985).
Padre Burnier estava na delegacia ao lado do hoje bispo emérito da cidade de São Félix do Araguaia (MT), o espanhol dom Pedro Casaldáliga, que escreveu um livro no qual trata o jesuíta como um mártir.
A ata na qual a Comissão Especial para os Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça reconhece que Burnier foi uma das vítimas do regime militar foi publicada ontem no "Diário Oficial da União".
Segundo a Comissão, o sacerdote "morreu por causas não naturais em dependências policiais por ter participado ou ter sido acusado de participação em atividades políticas".
O policial que atirou no padre nunca foi processado porque o regime considerou o fato um acidente.
Segundo dom Casaldáliga, testemunha do homicídio, quando ambos chegaram à delegacia para defender as mulheres que eram torturadas, Burnier teve uma grande discussão com os policiais e ameaçou denunciá-los na Justiça antes de ser agredido, golpeado na cabeça com um revólver e assassinado com um tiro na nuca.
O bispo emérito relata em um de seus livros que, após a missa de sétimo dia pela morte do padre, a população de Ribeirão Cascalheira foi em procissão até a delegacia, arrombou as portas e as grades e libertou os presos.
No local, foi construída posteriormente uma igreja, apesar da oposição da Polícia.
Além do livro "Martírio do padre João Bosco Penido Burnier" de dom Casaldáliga, o também jesuíta padre Pedro Américo Maia escreveu a obra "Mártir pela justiça" também sobre a vida do jesuíta assassinado.
Hoje Burnier é nome de uma ONG em defesa dos direitos humanos e de escolas em Minas Gerais e Mato Grosso.
O sacerdote, nascido em 11 de junho de 1917 na cidade de Juiz de Fora, foi o quinto de nove irmãos, dois dos quais também se dedicaram à vida religiosa, entre eles Vicente Burnier, que foi o primeiro sacerdote surdo do Brasil.
O jesuíta, que se formou em teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, onde foi ordenado padre em 1946, se destacou por sua atuação no país em defesa dos índios e foi um dos membros do Conselho Missionário Indigenista (Cimi), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Nos últimos anos de vida, Burnier trabalhou como missionário em Diamantino (MT), onde cuidava de membros das etnias Bakairi e Xavante, cujas línguas ele conhecia e falava.
Fonte: CNBB
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