O presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, Dom Antonio Maria Vegliò, destacou a importância de não excluir os migrantes da sociedade, nem tampouco "absorver sua identidade".
O prelado discursou nesta quarta-feira no VIII Congresso sobre as migrações, organizado pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), que se realiza em Málaga, na Espanha, de 27 de abril a 1º de maio.
"São dois os extremos a evitar: a absorção, a completa assimilação na sociedade dominante, com prejuízo à identidade do migrante, e a exclusão, que encerra o perigo da marginalização", declarou.
Dom Vegliò constatou que as migrações "assumiram hoje dimensões consideráveis e que, até por esta razão, já não podem ser ignoradas".
Ao mesmo tempo, denunciou que "é cada vez mais evidente o rosto ferido dos migrantes".
O representante do Papa para a assistência aos migrantes explicou que, nos 27 países da União Europeia, calcula-se haver hoje cerca de 24 milhões de imigrantes, em sua maioria provenientes da própria Europa.
O prelado destacou ainda a dificuldade em se ter acesso a números confiáveis sobre os imigrantes ilegais, que, segundo estimativas recentes, "seriam entre 4,5 e 8 milhões, com um aumento estimado em 350 a 500 mil ao ano".
Defensiva
Na Europa, observou, os fluxos da mobilidade humana são "percebidos de maneira negativa pela população local", que assume "uma postura defensiva" em relação ao fenômeno.
"Difunde-se uma postura política de rejeição aos imigrantes, enquanto as economias continuam pedindo sua aceitação".
O prelado também denunciou "a tendência de muitos países de fechar-se e se isolarem, assegurando os níveis de bem-estar para dentro de seus muros, sem prestar suficiente atenção às necessidades que se encontram do lado de fora, com grave omissão do princípio da solidariedade".
"Nos últimos tempos, observa-se uma consolidação das comunidades ditas ‘blindadas' e talvez estejamos testemunhando o nascimento de ‘continentes blindados', com a Europa e a América do Norte à frente."
"Provavelmente, veremos se constituírem em breve novas cortinas de ferro, com rígidos patrulhamentos nas fronteiras e novas medidas de defesa costeiras."
Erros de análise
Dom Vegliò criticou depois "a trilogia inaceitável ‘imigração - criminalidade - terrorismo'", mencionando outros fatores com causas reais de insegurança, entre eles a "globalização econômica sem regras".
"Portanto, atribuir as causas da instabilidade aos imigrantes, ao invés de enfrentar de modo realista estes problemas, serve apenas para criar junto à opinião pública a imagem de um Estado vigilante e preocupado com a segurança de seus cidadãos, alimentando o medo do outro e dos imigrantes em particular."
Como alternativa a essa visão, o bispo sublinha que "conceber a diversidade como um valor implica em desenvolver uma visão pluralística da realidade, para a qual é possível e desejável o reconhecimento, o respeito e a promoção da diversidade".
"A presença dos imigrantes entre nós nos lembra que, do ponto de vista bíblico, bem-estar e liberdade são dons e, como tais, podem ser mantidos apenas quando compartilhados."
Cultura do acolhimento
Dom Vegliò finalmente destacou a importância do diálogo entre as culturas e as religiões - "uma prioridade para a Europa", segundo Bento XVI.
Da mesma forma, pediu a "elaboração de uma cultura e uma ética do acolhimento" nas condições de vida atuais.
Neste sentido, citou o cardeal Renato Raffaele Martino, que em 2008 afirmara que "o acolhimento do estrangeiro está no coração da identidade europeia".
"A Igreja quer afirmar a cultura do respeito, da igualdade e da valorização da diversidade, capaz de ver os imigrantes como portadores de valores e riquezas", disse Dom Vegliò.
"Por essas razões, convida a rever as políticas e normas que comprometem a tutela dos direitos fundamentais", concluiu.
Fonte: Zenit.
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