A tensão que se seguiu às eleições provocou uma onda de violência generalizada que pode se converter num “verdadeiro genocídio”, denunciou o bispo Eduardo Hiiboro Kussala, de Tombura-Yambio, ao sul do Sudão.
Falando à associação humanitária Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), o prelado afirmou que as tensões se intensificaram após as denúncias de fraudes nas eleições recentemente realizadas – as primeiras pluripartidárias dos últimos 25 anos no país.
As eleições, realizadas entre 11 e 15 de abril, levaram a vitória do partido do presidente em exercício, Omar al Bashir, o National Congress Party, e do Sudan People's Liberation Movement (SPLM).
O processo eleitoral se deu em meio a denúncias de irregularidades, entre as quais se incluem a intimidação de eleitores e fraudes.
Segundo a AIS, um dos caminhões que transportava cédulas eleitorais foi incendiado. Para o prelado, “os resultados das eleições podem desencadear sérias violências”.
O bispo advertiu que “uma animosidade já radicada no coração de muita gente, de diversos grupos étnicos no sul do país, pode conduzir a nada menos que um genocídio”.
Uma série de “questões não resolvidas”, como a disputa por territórios nas fronteiras entre o norte e o sul do Sudão e a disputa pelo controle da região de Abyei, rica em petróleo, contribuem para acirrar os ânimos.
“A menos que a crise política não seja gerida de maneira construtiva, a possibilidade de que toda nação se precipite no abismo constitui um cenário verossímil”, confessou ele.
Dom Hiiboro destacou ainda que prosseguem as negociações sobre uma possível separação do Sul do Sudão – questão que será submetida a um referendo popular em janeiro de 2011, com as exigências referentes à partilha dos dividendos da exploração petrolífera, às relações comerciais com o Norte e aos direitos de cidadania.
Tais questões deveriam ter sido resolvidas com o acordo e paz de 2005, que conferiu relativa autonomia ao Sul do Sudão, após 20 anos de guerra civil entre o regime islâmico da capital Cartum e a guerrilha rebelde SPLM, com sede no Sul.
Acusando SPLM de ser o principal responsável pela ausência de progressos desde 2005, Dom Hiiboro declarou que “a única responsabilidade deste fracasso é dos próprios sudaneses do sul, seja dos que estão no governo, seja da oposição”.
“A morte em vão de cidadãos sudaneses será devida à incapacidade dos líderes políticos de criar um melhor processo para a resolução dos conflitos”.
“Promover as disparidades a ponto de levar a nação ao colapso e exasperar as diferenças tribais e religiosas apenas para chegar ao poder, mantendo-o a qualquer custo, não pode ser considerada uma política salutar”, denunciou.
“Nenhum povo ou nação merece tal tipo de política tóxica”.
As advertências do bispo Hiiboro destoam de outros relatos de relativa tranqüilidade referentes às eleições em outras regiões do Sudão. O bispo auxiliar de Cartum, Daniel Adwok Kur, reportou à AIS que o processo eleitoral havia se processado “pacificamente”, e que era improvável a ocorrência de qualquer surto de violência “porque as partes envolvidas teriam muito a perder para permitirem que o processo democrático fosse interrompido”.
Este otimismo parece não se aplicar à diocese do bispo Hiiboro, que sofre com as atrocidades cometidas pelos rebeldes do Exército de Resistência do Senhor (Lord's Resistance Army, LRA), guerrilha cristã com sede em Uganda ligada ao partido governista do sul do Sudão.
No final do verão passado, o LRA promoveu uma série de assassinatos com crucificações em Nzara; a Igreja de Nossa Senhora da Paz foi profanada e ao menos 17 pessoas, em sua maioria adolescentes, foram seqüestradas.
Fonte: Zenit.
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