Com a cruz, Cristo inverteu a lógica da violência, derrotando-a. No entanto, esta continua predominando nas relações humanas, dos poderosos contra os fracos e, infelizmente, entre o homem e a mulher.
Assim afirmou o pregador da Casa Pontifícia, Raniero Cantalamessa, durante a pregação por ocasião da Sexta-Feira Santa, dirigida hoje à Cúria Romana, na presença do Papa.
Cantalamessa insistiu na gravidade da violência contra a mulher e afirmou que “esta é uma ocasião apropriada para levar as pessoas e instituições que lutam contra essa violência à compreensão de que Cristo é seu melhor aliado”.
Em Cristo, “já não é o homem que oferece sacrifícios a Deus, mas é Deus quem se ‘sacrifica’ pelo homem”, explicou. “O sacrifício não mais se destina a ‘aplacar’ a divindade, mas a aplacar o homem, fazendo-o renunciar a sua hostilidade nas relações com Deus e com o próximo.”
“O sacrifício de Cristo contém uma mensagem formidável para o mundo de hoje. Grita para o mundo que a violência é um resíduo arcaico, uma regressão a estágios primitivos e superados da história humana e, em se tratando de crentes, um retardamento censurável e escandaloso frente à tomada de consciência do salto qualitativo operado por Cristo.”
O pregador afirmou que, em quase todos os mitos antigos, a vítima é o vencido e o verdugo é o vencedor. “Jesus alterou o sentido da vitória. Inaugurou um novo gênero de vitória, que não consiste em fazer vítimas, mas sim em fazer-se vítima.”
“O valor moderno da defesa das vítimas, dos fracos e da vida ameaçada tem origem no campo do cristianismo, sendo um fruto tardio da revolução operada por Cristo.”
Por isso, quando se abandona a visão cristã, “perde-se esta conquista e volta-se a exaltar o forte, o poderoso”.
“Lamentavelmente, porém, a mesma cultura moderna que condena a violência a favorece e exalta, paralelamente. Rasgamos as vestes diante de alguns acontecimentos sanguinários, mas não nos damos conta de que se prepara o terreno para que estes ocorram justamente com aquilo que é anunciado nas páginas dos jornais ou nos programas de televisão.”
Junto à violência juvenil e contra as crianças, Cantalamessa indicou a violência contra a mulher, “que se torna ainda mais grave quando cometida no abrigo e na intimidade do lar, frequentemente justificada com base em preconceitos pseudo-religiosos e culturais”.
“A violência contra a mulher torna-se ainda mais odiosa ao refugiar-se justamente no ambiente onde deveria reinar o respeito recíproco e o amor: na relação marido e mulher.”
O pregador propôs, a exemplo de João Paulo II, uma petição de “perdão por erros coletivos”, o “perdão que uma metade da humanidade deveria pedir à outra metade, os homens às mulheres”.
“Esse pedido não deve permanecer genérico ou abstrato. Deve levar a gestos concretos de conversão, a palavras de desculpas e de reconciliação no seio da família e da sociedade”, afirmou.
“Também na relação com a mulher que erra, que contraste há entre o agir de Cristo e aquele que ainda verificamos em certos ambientes!”, acrescentou, citando a passagem evangélica da mulher adúltera. “O adultério é um pecado que se comete sempre a dois, mas para o qual apenas um tem sido sempre (em algumas partes do mundo, ainda hoje) punido.”
“Há famílias nas quais o homem se julga autorizado a levantar a voz e as mãos para a dona de casa. Esposa e filhos vivem sob a constante ameaça da ‘ira do papai’.”
“A estes homens talvez valesse dizer: Caros colegas homens, criando-vos varões, Deus não vos concedeu o direito de bater os punhos contra a mesa por qualquer motivo. A palavra dirigida a Eva após sua culpa – ‘Ele (homem) te dominará – era uma amarga previsão, não uma autorização.”
Fonte: Zenit.
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