sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Unidade entre religiões para levar Deus aos homens

O encontro inter-religioso de Assis, realizado hoje, não se contrapõe aos anteriores. O ecumenismo que tem por objetivo a unidade entre as confissões cristãs é um caminho irreversível e precisa do encontro com outras religiões. Mas não é o sincretismo o caminho que a Igreja Católica está percorrendo. São palavras do diretor de L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, em entrevista concedida a ZENIT.

“Não há uma contraposição real entre 1986 e 2011. Acho que se trata mais de interpretações. Se em 1986 alguém concluiu que todas as religiões são iguais, que é indiferente o credo e que a opção cristã é igual às outras, isso não tem nada a ver com a iniciativa de João Paulo II”.

Vian recordou que, segundo os pensadores cristãos dos primeiros séculos, “a verdade está no Logos, em Cristo, presente misteriosamente em todos os lugares do universo: é a teoria das 'sementes do Logos', derivada do pensamento estóico”.

Simplificando ao extremo: “Fragmentos da única verdade estão espalhados misteriosamente por toda parte. É o que permitiu aos jesuítas missionários na Índia, Japão, China, como Roberto De Nobili, Alessandro Valignano e Matteo Ricci, achar pequenas partes de verdade também naquelas antiquíssimas tradições religiosas que nunca conheceram Cristo. Com esta base, um teólogo como Karl Rahner falou de cristãos anônimos”.

Voltando a Assis, o diretor do jornal da Santa Sé recordou que “os caminhos de salvação podem ser muitos porque ninguém conhece os desígnios de Deus, mas segue válida a tradição da Igreja Católica, confirmada pelo Vaticano II e recordada na declaração Dominus Iesus, em 2000: um documento que resume as afirmações do Concílio Vaticano II sobre a unidade da salvação trazida por Cristo, o único salvador do mundo”.

Vian foi muito claro: “Bento XVI repete isto continuamente, em coerência com toda a tradição católica, ininterrupta e viva”.

Sobre a escolha de respeitar no encontro inter-religioso de Assis a identidade específica de cada um a fim de evitar o risco do sincretismo, o diretor de L'Osservatore Romano não teve dúvidas: “Esta é a intenção”.

E considerou equivocada a ideia de ver Assis como um encontro sincrético: “É necessário conhecer um pouco da formação cultural, do ensino episcopal e depois papal de Karol Wojtyla, sem esquecer que, desde o final de 1981, o papa nomeou Joseph Ratzinger como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, mantendo-o nesse cargo apesar dos pedidos reiterados do cardeal, que queria voltar aos estudos na Baviera. Acho verdadeiramente impossível que houvesse sincretismo nas intenções de João Paulo II quando ele convocou o encontro de 1986”.

E afirmou que “Assis não é só um encontro ecumênico. O ecumenismo é um caminho irreversível, como disseram Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI: um caminho em que não se volta atrás e que foi assumido pelas confissões cristãs como um movimento para a unidade. Uma unidade que seria possível num tempo relativamente breve entre a Igreja Católica, as antigas Igrejas Orientais e as Ortodoxas, da perspectiva de um caminho comum que implica também os anglicanos e os protestantes”.

Mas “Assis não é só um encontro entre cristãos, e sim com as outras religiões, sem existir um sincretismo que misture tudo indistintamente”.

Sobre o recente motu proprio Porta Fidei, de 17 de outubro, Vian explicou que “a iniciativa de Bento XVI de convocar um Ano da Fé ressalta o que está no coração do papa: os cristãos, hoje, se ocupam de muitas coisas, mas correm o risco de perder de vista o essencial”.

“Na viagem de Bento XVI à sua pátria, ele falou com clareza. O papa sabe perfeitamente que a Igreja na Alemanha tem estruturas extraordinárias, sabe que ela ajuda muitas igrejas locais no mundo, mas quis aspirar a mais”.

Em resumo, os riscos são graves. O papa escreveu em 10 de março de 2009: “A chama da fé pode se apagar em países de antiga tradição cristã”.

Fonte: Zenit.

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