sábado, 4 de julho de 2009

Décimo Quarto Domingo Comum



Mc 6, 1-6
“Jesus não pôde fazer milagres em Nazaré”
O texto de hoje encerra o segundo bloco da primeira parte do Evangelho de Marcos - que trata da cegueira dos familiares de Jesus. O primeiro bloco mostrou a cegueira das autoridades, e o próximo bloco mostrará a cegueira dos discípulos. Assim, Marcos gradativamente aumenta a tensão entre o que Jesus é e a incompreensão dos que o conhecem: autoridades, familiares e discípulos. Tudo para poder lançar como questão fundamental do seu Evangelho a pergunta: “E vocês, quem dizem que eu sou?” (Mc 8, 29). De uma maneira indireta, Marcos aqui toca num dos problemas fundamentais dos cristãos - o escândalo da encarnação. Freqüentemente não temos tanta dificuldade em assumir a realidade da divindade de Jesus, mas sim, a sua humanidade! Até hoje, quantas hipóteses esdrúxulas sobre onde Jesus teria passado os primeiros trinta anos da sua vida, quando a realidade é que Ele os passou como qualquer outro rapaz da sua geração - numa família e comunidade do interior, trabalhando com as mãos e partilhando a dura sorte do seu povo, com uma fé profunda na presença de Javé no seu meio - uma fé alimentada pelas Escrituras. Mas, freqüentemente relutamos para não enxergar a opção real de Deus pelos marginalizados através da realidade da encarnação! Os seus próprios parentes também relutaram para não aceitar a pessoa e a missão de Jesus. Marcos não esconde a dureza das críticas: “Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria?” (v. 3). Se fosse um fariseu, ou um “doutor”, ele teria sido aceito! Quanta coisa semelhante hoje - quando preferimos acreditar nas palavras retóricas dos “doutores” e desprezamos a sabedoria popular dos que lutam no meio do povo para um mundo mais justo! Marcos retoma aqui o tema da primeira parte do Evangelho - que o caminho para conhecer Jesus não é através de uma correria atrás de milagres. Pois, os Nazarenos conheciam bem os milagres de Jesus: “E esses milagres que são realizados pelas mãos d’Ele?” (v. 2). Aqui tocamos no cerne da questão: em Marcos, Jesus nunca faz um milagre para despertar a fé em alguém. Pelo contrário, é a fé das pessoas que causa os milagres da parte de Jesus. Por isso, é importante notar o verbo que Marcos usa: “E Jesus não pôde fazer milagres em Nazaré!” (v. 5). Não foi que não quisesse, nem que não fizesse milagres, mas que Ele não pudesse fazer! Por que? Por causa da falta da fé deles! O texto nos desafia para que nos questionemos sobre o Jesus em quem acreditamos! Conseguimos vê-Lo nos pequenos e humildes e nas pequenas ações em favor do Reino? Ou o buscamos em ditos “milagres” e coisas estrondosas, que muitas vezes podem mascarar uma relutância em assumir o caminho da Cruz? Marcos quer suscitar uma desconfiança na sua comunidade - se nem as autoridades e nem os parentes de Jesus o compreenderam, será que nós O compreendemos? Devagarzinho chegaremos ao Capítulo 8, o pivô de Marcos, onde seremos convidados a responder a pergunta fundamental da nossa fé: quem é Jesus para mim, para nós, hoje?

Fonte: PadreTomas Hughes, SVD

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