sábado, 2 de maio de 2015

A Igreja e os genocídios armênio e grego-assírio

O século XX foi o século dos genocídios, dos massacres em massa e do uso científico para impor a dor, a violência e a morte a milhões de seres humanos indefesos. Famoso, lamentável e internacionalmente reconhecido é o genocídio dos judeus e de outras minorias perpetrado pelos nazistas durante a primeira metade do século XX.
No entanto, no início do século XX houve dois genocídios pouco conhecidos e que foram uma espécie de “ensaio”, de “experiência” do que, um pouco mais tarde, seria o grande massacre do século XX. Trata-se do genocídio armênio e do genocídio grego-assírio.
O genocídio armênio ocorreu entre 1915-1917 e tratou-se da matança e deportação forçada de aproximadamente 1, 5 milhões de pessoas de origem armênia que viviam no Império Otomano, atual Turquia, com a intenção de exterminar sua presença cultural, sua vida econômica e seu ambiente familiar. Existem registros históricos que demonstram que toda essa violência foi feita de forma planejada e utilizando os métodos científicos disponíveis na época.
Já o genocídio grego-assírio não possui tantos estudos históricos e científicos como o genocídio armênio. No entanto, foi um genocídio tão cruel como o armênio. No período entre 1915 a 1922 tropas regulares e milícias paramilitares do Império Otomano, atual Turquia, perseguiram e mataram entre 500 e 950 mil gregos, e entre 250 e 750 mil assírios perderam suas vidas. Calcula-se que aproximadamente 1, 7 milhões de grego-assírios tenham morrido vítimas da perseguição.
No dia 12/04/2015, durante uma Missa para lembrar os 1, 5 milhões de mortos durante o massacre, o Papa Francisco foi claro ao dizer que, de fato, houve um genocídio dos armênios entre 1915-1917. Foi a primeira fez que um Papa afirmou que houve um genocídio do povo armênio. Apesar de muitos países já terem reconhecido o genocídio armênio, as palavras do Papa foram reconfortantes para as vítimas e os descendentes do genocídio e, ao mesmo tempo, deu mais força para que, a nível internacional e nos órgãos de apoio aos direitos humanos (ONU, Anistia Internacional, etc), o genocídio armênio seja definitivamente reconhecido. O Papa Francisco foi Apóstolo, uma voz profética, ao ter a coragem, mesmo diante de muitas pressões internacionais vindas da Turquia e de outros países, de ter publicamente reconhecido a existência do genocídio armênio.
De forma oficial, por meio das palavras do Papa Francisco, a Igreja reconheceu oficialmente a existência do genocídio armênio.  Daqui por diante padres, leigos e ministros poderão livremente afirmar que, de fato, houve um brutal genocídio do povo armênio, entre 1915 e 1917, pelos turcos-otomanos.  Apontam-se 3 relevantes motivos para que as palavras do Papa Francisco sejam tão importantes.
Primeiro, como salienta o jornalista Breno Salvador, os genocídios dos armênios e dos grego-assírios, pelo turco-otomanos, representa “um caso marcante de ataque à cristandade, porque havia uma tentativa de dominação e imposição do Islã. O que se passa no Oriente Médio hoje gira em torno disso, da mesma forma como com os armênios, gregos e assírios. O Estado Islâmico promove um genocídio”. (Jornal O Globo,24/04/2015).
Segundo, a luta pelo reconhecimento internacional do genocídio grego-assírio é fortalecida. Trata-se de uma das grandes lutas do século XXI. O povo grego-assírio necessita ter a memória e a identidade dos seus compatriotas reconhecida. Foram 1, 7 milhões de vítimas que necessitam de algum tipo de reconhecimento.
Terceiro, em um momento de incerteza, com o aumento da violência sectária, religiosa e étnica, com a ameaça de genocídios por parte de grupos extremistas, as palavras do Papa são um alerta que a luta em prol da dignidade da pessoa humana está penas começando e que não pode ser interrompida. A Igreja é convocada a ser sinal e luz em prol dos grupos humanos mais violentados e vulneráveis.

Fonte: Zenit.

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