quinta-feira, 10 de julho de 2014

"Compreendo que os cristãos deixem o Iraque "

"Nós, cristãos, estamos desaparecendo do Iraque. Assim como aconteceu com os nossos irmãos na Turquia, Arábia Saudita e África do Norte. Até mesmo no Líbano, somos agora uma minoria". Palavras amargas proferidas por Monsenhor Yousif Mirkis durante uma conversa recente com Ajuda à Igreja que Sofre.
O arcebispo caldeu de Kirkuk, no norte do Iraque, disse à fundação pontifícia que como resultado da conquista de algumas regiões do país por parte do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Isis) aumentou a possibilidade de que outros fieis decidam emigrar.
Desde que a guerra começou em 2003, centenas de milhares de cristãos fugiram do país, deixando a sociedade iraquiana sem um componente essencial. Apesar de pequena minoria, a comunidade cristã sempre se vangloriou de uma instrução e um nível cultural bem acima da média nacional. "Há onze anos, representávamos apenas o 3% da população - observou o prelado – apesar de que o 40% dos médicos especializados eram cristãos. Assim como a maioria dos intelectuais, dos escritores e dos jornalistas". Mérito da educação difundida pelas muitas escolas dirigidas pela Igreja e por uma mentalidade cristã tradicionalmente aberta e multilingue. "Obviamente, muito do nosso dinamismo se perdeu por causa do êxodo maciço de fiéis", disse o arcebispo.
A abertura rumo ao Ocidente e a identificação errônea entre a minoria e os países "infiéis" é sem dúvida uma das razões que colocam os cristãos na mira dos extremistas. Para Monsenhor Yousif Mirkis o antagonismo entre o mundo islâmico repropõe hoje a mesma divisão em blocos da Guerra Fria. "Estamos testemunhando uma guerra entre a modernidade e a sociedade fortemente ligada ao passado". O prelado sublinhou que o nome escolhido pelos salafistas – em árabe “ancestrais piedosos" - atesta o desejo de um retorno à sociedade do século VII.
Os cristãos não são o único inimigo de quem se esperava um tal retorno ao passado. "É toda a comunidade intelectual que está sob ataque, incluindo elites muçulmanas - disse o arcebispo – vejam que desde o começo de 2013 morreram uns 180 professores universitários. Com consequências desastrosas para toda a sociedade iraquiana". A solução de uma situação tão dramática só pode ser um maior diálogo uma mais ampla difusão da cultura. "É o único antídoto para o fanatismo que hoje ameaça todo o mundo islâmico, e não apenas a nossa comunidade."
Monsenhor Mirkis continua a esperar em um futuro dos cristãos no Iraque. No entanto, confessa que não é fácil encontrar palavras para inspirar a mesma esperança nos fiéis, especialmente nos mais jovens. "O que devo dizer para aqueles que me pedem uma razão para ficar? - se pergunta - Nos últimos dez anos, perdemos um bispo e seis padres e milhares de pessoas foram mortas durante os ataques. Posso compreender perfeitamente porquê os os cristãos decidem ir embora".

Fonte: Zenit.

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