domingo, 13 de julho de 2014

Arcebispos do Iraque alertam o Ocidente: "Caso este êxodo continue, terminará a história do cristianismo no Iraque"

A Fundação AIS promoveu, na passada quarta-feira, 9, um encontro entre os bispos de Bagdade, Mossul e Kirkuk com os dirigentes da União Europeia. O objetivo da reunião é a necessidade urgente de se apoiar a multidão de novos refugiados oriundos das zonas controladas pelo ISIS, um grupo radical sunita que conquistou Mossul e pretende tomar a própria capital iraquiana, Bagdade.
"Os próximos dias vão ser muito maus. Se a situação não mudar, os cristãos vão ser apenas uma presença simbólica no Iraque", disse D. Louis Sako. “Caso este êxodo continue, terminará a história do cristianismo no Iraque”, acrescentou.
Por sua vez, o Arcebispo de Mossul explicou aos dirigentes comunitários como a vida se tornou praticamente impossível desde que esta cidade caiu nas mãos do ISIS no mês passado.
A fama de violência que rodeia este grupo islamita levou a que cerca de 500 mil pessoas tivessem fugido da cidade, entre os quais a esmagadora maioria da comunidade cristã. Segundo este prelado, neste momento não há água em Mossul, nem praticamente electricidade. “Há apenas medo", disse.
O mesmo se passa em Kirkuk, Segundo D. Mirkis, apesar de se estar na região curda, mais segura, assiste-se à debandada de “centenas de cristãos todos os dias”.
Para este Arcebispo, a causa principal para a fuga dos cristãos tem de ser encontrada no “ambiente de pânico” que se verifica entre a comunidade. “São poucos os cristãos que ainda projectam a sua vida e o seu futuro no Iraque.”
Os três prelados procuraram explicar também aos responsáveis políticos de Bruxelas que os cristãos no Iraque são, hoje em dia, o grupo religioso mais fragilizado perante a erupção do conflito armado. “Ao contrário dos sunitas, xiitas e curdos, os cristãos não têm milícias para se protegerem.”

Perseguição aos cristãos
E não é só no Iraque que isto acontecendo. Desde a proclamada “Primavera Árabe” que os cristãos têm vindo a ser vítimas do poder crescente dos radicais islâmicos.
É o caso do ISIS, anteriormente denominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante e que agora se intitula apenas Estado Islâmico.
Este grupo radical, que pertence à órbita da Al-Qaeda, declarou a instauração de um califado nas regiões que controla e que se estendem desde certas zonas da Síria, nomeadamente a cidade de Raqqa, até ao Iraque, tendo já conquistado Mossul, a segunda cidade mais importante do país.
Na passada segunda-feira, duas religiosas e três crianças foram sequestradas em Mossul em plena luz do dia. D. Louis Sako informou ainda os dirigentes da União Europeia que as igrejas cristãs foram fechadas ao culto em Mossul.

O fundamentalismo como grande inimigo também do Ocidente
Em recentes entrevistas concedidas à AIS os prelados também puderam explicar o que está por detrás de toda essa violência: o desejo dos radicais de islamizar o mundo.
“O ISIS pretende fundar um Estado islâmico com poços de petróleo a fim de islamizar o mundo”, afirmou D. Louis Sako, Patriarca Caldeu em entrevista no dia 28 de Junho.
O mesmo prelado afirmou que o grande inimigo a ser enfrentado é o fundamentalismo, o extremismo, e este só pode ser combatido com o diálogo e a cultura, pois “Quanto maior for a cultura de um país menos suscetível é ao fanatismo”. O próprio arcebispo coloca muita esperança na geração mais jovem. “Eu procurei sempre formá-los”, porque “o povo Iraquiano não é naturalmente fanático. Mas, tal como o mundo islâmico, como um todo, foi sequestrado por fanáticos”.
O Patriarca Caldeu referiu que o sofrimento não se restringe somente ao cristianismo, mas também à elite árabe que tem sido objeto de constante perseguição, em definitiva, a mira é qualquer um que não pense como eles. “Não há perseguição aos Cristãos. Há muitos mais muçulmanos que fugiram de Mossul e arredores”. O prelado afirmou que a solução para o conflito não é a intervenção armada do Ocidente, e recordou que “os Americanos destituíram um ditador, mas sob o regime de Saddam Hussein pelo menos tínhamos segurança e trabalho. E o que é que temos agora? Confusão, anarquia e caos”.
Em época de Copa do Mundo, e com o coração nas próprias seleções e nos partidos, D. Loius denunciou que “O Ocidente se contenta com ser um expectador descomprometido diante do sofrimento do Oriente, e que tem como única preocupação o futebol; por outro lado, a política ocidental só busca interesses econômicos, em vez de “pressionar os políticos iraquianos para fazê-los encontrar uma solução política e formar um Governo de unidade nacional”.

Ajuda aos refugiados
Para ajudar os refugiados acesse: http://www.fundacao-ais.pt/cms/view/id/335
(Fonte: AIS / Red. T.S.)

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