sábado, 13 de junho de 2009

Religiosas: rede mundial contra tráfico de pessoa



Apresentado no Vaticano um congresso sobre a luta contra esta mácula social

Por Carmen Elena Villa

O Pe. Eusebio Hernández Sola, O.A.R, qualificou o tráfico de pessoas como uma nova forma de pobreza que requer toda a atenção da Igreja.O sacerdote, chefe de escritório na Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, interveio nesta sexta-feira em uma coletiva de imprensa da Santa Sé para apresentar a segunda edição do congresso “Religiosas em rede contra o tráfico de pessoas”, que se realizará na cidade de Roma entre os dias 15 e 18 do mês de junho.
O encontro acadêmico, organizado pela União Internacional das Superioras Gerais (UIG) e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), procura avaliar os conteúdos da declaração final da primeira versão deste congresso, realizado em 2007, assim como ver quais podem ser as ações para o futuro.
“Deunciamos que o tráfico de pessoas é um crime que representa uma grave ofensa contra a dignidade da pessoa e uma séria violação dos direitos humanos”, foi a síntese da declaração final da primeira edição deste encontro.
O compromisso pela luta contra o tráfico de pessoas surgiu na reunião plenária de 2001 das superioras gerais, que representam 1 milhão de membros de congregações religiosas católicas do mundo inteiro.
Segundo informou Stefano Volpicelli, da OIM, na coletiva de imprensa, “apesar de não haver cifras precisas, calcula-se que milhões de pessoas se convertem, cada ano, em vítimas deste fenômeno. Seriam 2,5 milhões segundo os dados da Direção de Justiça da Comissão da União Europeia, publicados em 2007, dos quais 500 mil são europeus”.
Nova forma de pobreza
Por sua parte, a Irmã Bernardette Sangma, religiosa salesiana e coordenadora deste evento, apresentou uma análise da complexidade do fenômeno da exploração sexual e trabalhista sofrida por milhares de pessoas, enganadas e levadas a outros países, que carecem das mínimas condições de dignidade humana.
Indicou que as causas desta problemática se encontram tanto nos países de origem como nos de trânsito e destino.
Muitas vezes, as redes de tráfico de pessoas, denunciou, estão “em conivência com autoridades locais e políticas, que devastam as regiões mais pobres e indefesas da sociedade em todas as partes do planeta”.
E indicou que este flagelo “acontece atrás das nossas ruas, dos nossos bairros e afeta nossos conhecidos, nossas amigas e amigos, as crianças das nossas escolas e paróquias”.
Insistiu, por isso, na necessidade de organizar-se para prevenir e aliviar este fenômeno: “Os grupos criminais que depravam as mulheres e as crianças estão muito bem organizados e comunicados entre si, nas diferentes partes do mundo”.
“A lógica do mercado nos diz que não existe oferta sem demanda. Lamentavelmente e com tristeza, notamos que grande parte da demanda provém também de esposos e pais de família que se dizem cristãos praticantes”, observou a religiosa.
A Igreja não pode ficar à margem
O Pe. Hernández indicou que, como tarefa preventiva, é necessário “trabalhar muito na formação dos jovens, nas escolas e nas paróquias, para construir neles o valor do respeito da pessoa, cuja dignidade nunca pode ser comercializada”.
“A repressão e o castigo não servem se não formamos as consciências nos verdadeiros valores humanos e cristãos”, disse o sacerdote.
Por sua parte, a Irmã Bernadette destacou a importância de que as comunidades religiosas se comprometam a “opor-se a esta realidade” por meio de “uma estratégia multidimensional, capaz de abarcar muitos aspectos para remover as causas a partir de diversos enfoques, para aliviar e acompanhar o caminho da reconstrução da vida daqueles que estão envolvidos e feridos no profundo do seu ser e para procurar criar um campo humano nas políticas de tomada de decisões em todos os níveis”.
Indicou o fato de que muitas comunidades devem ser conscientes da necessidade de trabalhar “para que nenhuma mulher, nenhuma menina ou menino vivam tal decadência humana”.
“No campo da recuperação e da reconstrução da vida ferida, a força transformadora do amor e um ambiente repleto de calor humano são capazes de ajudar a recuperar a fé e a voltar a projetar o caminho da própria vida”, sublinhou.
A presença das religiosas junto às vítimas, “dia a dia, na fatigosa e árdua reconquista da própria personalidade, converte-se no reflexo do rosto compassivo de Deus, que gradualmente cura as feridas e nos dá esperança”, concluiu a Irmã Bernadette.
O Pe. Hernández destacou o trabalho das pessoas que “se inclinam com misericórdia diante dos irmãos e irmãs que mais sofrem, porque suas vidas foram destruídas e privadas do bem mais precioso: a dignidade própria do ser humano”, e que “sem estas ‘samaritanas’, a humanidade seria mais pobre e mais triste”.

Fonte: Zenit.

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