quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O que sabemos sobre as seitas?

A Rede Iberoamericana para o Estudo das Seitas (RIES), com sede na Espanha, fundada há dez anos por especialistas católicos no campo e que atualmente reúne uns vinte especialistas da Espanha, Portugal e América Latina, oferece vários serviços de consultoria, formação e informação sobre o complexo mundo das seitas e das novas formas de religiosidade.
No mês de setembro, membros da RIES no Uruguai ministrarão um curso sobre "seitas, psicologia da religião, nova era e espiritualidades alternativas”. O curso contará com a participação especial do Pe. Luis Santamaria – da Espanha - , consultor da Conferência Episcopal Espanhola e conhecido especialista na matéria.
Desta vez, entrevistamos o psicólogo Álvaro Farías, membro do RIES no Uruguai, para conhecer mais sobre a problemática das seitas e sobre o curso que está sendo organizado.


Por que você considera importante a capacitação nestes temas?

- Alvaro Farias: Porque é um tema cada vez mais complexo, que afeta toda a sociedade e tornou-se um problema pastoral para as igrejas e um problema de saúde mental que exige maior urgência e seriedade. A formação é uma forma de prevenção. Além de que, a demanda de consultas aumenta a cada ano e no nosso curso anterior participaram psicólogos, jornalistas, médicos, advogados, docentes, pastores e uma grande diversidade de pessoas preocupadas pelo tema, tanto a nível profissional quanto familiar. O interesse no tema nos mostra que é um problema social sobre o que não se conhece muito e reina uma confusão, especialmente no mundo das novas terapias.

 Como a Igreja responde a este fenómeno?

- Alvaro Farias: Existem vários pronunciamentos magisteriais desde João Paulo II sobre o assunto e, especialmente, nos documentos do CELAM, de Puebla a Aparecida, onde a questão é um desafio pastoral que exige grande atenção dos pastores e de todos os agentes pastorais. Mas embora existam orientações, documentos e material de informação, os fieis não são suficientemente formados no tema e o proselitismo sectário é mais eficaz onde a evangelização é mais fraca e onde a formação é inexistente.
Daí iniciativa que a iniciativa do RIES tem sido, nos últimos anos, reunir especialistas católicos no tema e oferecer um serviço permanente no tema em todos os níveis, desde as conferências episcopais até os colégios, universidades, paróquias e famílias que solicitam consultoria, formação e ajuda.

Agora está sendo organizado um novo curso no Uruguai. A quem está voltado?

- Alvaro Farias: O próximo curso começa no dia 1 de setembro, e, embora esteja pensado para todo tipo de público, fazemos uma ênfase especial nos agentes pastorais, porque são eles que estão na primeira linha de contenção e aqueles que mais devem ter informação para orientar no discernimento. Muitas vezes recebi em meu escritório pessoas afetadas pelas seitas ou parentes de pessoas que estão em uma seita e, na sua maioria, são pessoas de origem católica que, em suas buscas espirituais ou terapêuticas, começaram pelo reiki ou o yoga para depois acabar em uma seita. Muitas vezes, a pergunta que me faço é: será que ninguém soube alertá-los sobre onde estavam se metendo? E a resposta que acabo me dando é que não. Ninguém lhes alertou, ninguém cuidou deles, ninguém soube como intervir no discernimento e geralmente é devido à grande desinformação que existe no nosso país e na Igreja, em tudo o que seja relacionado ao tema das seitas.

 Poderia citar-nos um exemplo desse tipo de casos?

- Alvaro Farias: Obviamente não posso dar exemplos clínicos, meu trabalho como psicólogo me obriga a confidencialidade. Mas poderia citar-lhes um fenômeno que estamos estudando de perto: O "Projeto Yoga Udelar”. É um projeto que entrou na Universidade da República - estatal e laica - através da ordem estudantil sobre yoga e meditação. Até aqui alguém poderia dizer: "E então, qual é o problema?". O Yoga poderá ser um exercício físico e mental saudável, mas acima de tudo é uma disciplina derivada do hinduísmo. Neste projeto usam-se conceitos provenientes do esoterismo, da Nova Era e do Hinduísmo incluindo uma doutrinação espiritual. O pior é que ninguém sabe, que quem lidera este projeto no Uruguai é fiel discípulo de Gregorian Bivolaru, um guru romeno que tem mandado de prisão internacional por usar os praticantes de ioga para produzir filmes pornográficos e pelo tráfico de pessoas.
Isso acontece no Uruguai, mas a desinformação é tal que ninguém se incomodou. Quantos católicos praticam reiki, biodecodificação, leem livros de mefatísica e incontáveis terapias promovidas pela Nova Era? Bastaria perguntar nas paróquias e colégios católicos e nos surpreenderíamos.
Ninguém cai em uma seita como nos filmes, mas sim participando de seminários e retiros de origem duvidosa. As atividades aparentemente inócuas são muitas vezes a porta de hipotecar a saúde mental de muitas pessoas. Outra questão mais complexa é a confusão religiosa na qual muitos estão imersos por falta de formação.

 Que tipo de perigos existem com relação à saúde mental?

--Álvaro Farias: A questão das seitas é abordada a partir de diferentes perspectivas. Eu como psicólogo abordo-a a partir da psicologia. As vítimas de grupos sectários são vítimas de um processo de manipulação que significa violência psicológica sistemática. É a mais sutil e pouco percebida das formas de violência, mas também é uma das mais prejudiciais e destrutivas.

 Sabemos que durante o curso participará um especialista espanhol. Quem é?

--Álvaro Farias: Sim, vem o Pe. Luis Santamaría del Rio, padre católico espanhol, membro fundador de RIES e especialista no tema seitas e Nova Era. É também consultor da Comissão Episcopal de Relações Interconfessionais da Conferência Episcopal Espanhola, membro da Sociedade Espanhola de Ciências das Religiões (SECR), da Academia Americana de Religião (AAR) e da Sociedade Internacional para o Estudo das Novas Religiões (ISSNR).
É uma grande alegria para nós tê-lo aqui, pois tem uma visão ampla do assunto a partir da perspectiva teológica e pastoral, e é um grande conhecedor dos aspectos doutrinais do fenômeno "Nova Era". Além disso, a sua experiência no campo e sua relação com especialistas de todo o mundo, nos dará uma visão mais abrangente do fenômeno.

 Como é possível contatar a RIES na Europa e na América Latina?

--Álvaro Farias: A RIES tem duas secretarias para coordenar toda a rede. Na Espanha o e-mail é ries.secr@gmail.com e na América Latina é ries.america@gmail.com.
Temos duas contas de Twitter: @InfoRies e @infosectas e uma página no Facebook: www.facebook.com/Infosectas
Também temos seções em diferentes sites, com muitos artigos e entrevistas com vários membros da RIES em portais católicos. Tentamos ajudar, aconselhar e informar sobre todas as áreas possíveis, tanto em âmbitos católicos como seculares, já que o problema das seitas não é um tema das Igrejas, mas um drama social que afeta a todos, independentemente de suas crenças.

Fonte: Zenit.

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