A fé, esperança e caridade são virtudes que podem existir em todo ser humano, mas que vêm diretamente de Deus e todas envolvem elementos de risco.
Essa mensagem é fundamental de "Volta às virtudes" ("Ritorno alle virtù. La riscoperta di uno stile di vita"), um livro do arcebispo Gianfranco Ravasi, atual presidente do Conselho Pontíficio para a Cultura, que acaba de relançar em italiano no Oscar Mondadori.
Dividido em três capítulos, Dom Ravasi, um dos maiores estudiosos da Bíblia e da vida, analisa eficazmente estas três virtudes teológicas com o objeto de ajudar a cada pessoa a compreender melhor o significado de sua vida.
O momento em que a graça entra no coração do homem, escreve, "é o momento em que Deus aparece na noite da alma". Deus, explica, não é um soberano distante e impassível; é ele que busca e chama e bate em nossa porta "abrindo de par em par nossa solidão".
Mas a luz de Deus, uma vez que ilumina a alma, deve se encontrar com uma resposta e com a conformidade, e essa conformidade é a fé, diz Dom Ravasi.
Além disso, esta fé e este abandono da fé é algo que tem lugar na escuridão e no grande risco. Prossegue explicando que não sabemos, é claro, que este abandono nos trará e não sabemos que tipo de ajuda receberemos.
Mas como Abraão, que deixou seu país sem saber aonde ia, nós simplesmente necessitamos estar prontos para escutar a ordem e começar a caminhar.
Falando sobre a virtude heróica da esperança, Dom Ravasi faz referência às palavras de Bernanos, o escritor francês do século XX, que escreveu: "A forma mais eminente de esperança é o triunfo sobre o desespero; esperar é correr o risco. É, de fato, o risco dos riscos". Ravasi escreve que, contrária à esperança, "milita não só o pessimismo sistemático, mas também o engano".
Giorgio Montefoschi, repassando o livro no Corriere della Sera de 8 de março, estava de acordo. A esperança, escrevia, não só argumenta e estimula os homens nesta vida a criar um mundo melhor, mas também é uma força decisiva, animando a humanidade a olhar além de seu estado terrenal e das fronteiras da morte. A Ressurreição de Cristo, continua Dom Ravasi em seu livro, é o "selo que dita a esperança".
Como com a fé e a esperança, Deus se adianta na terceira virtude teológica do amor. Citando São João Evangelista, Dom Ravasi afirma que não somos nós que amamos a Deus, mas Deus que nos amou, enviando seu Filho ao mundo. Em certas ocasiões não o reconhecemos, acrescenta, mas podemos sentir esse mistério transcendente que culmina em Jesus homem. O homem é capaz de assumir riscos e "responder ao amor de um Deus desconhecido". Só então, escreve, pode "superar o medo e a ansiedade".
Falando na semana passada com Dom Ravasi sobre o livro, ele disse que não escreveu tanto pala imoralidade na sociedade atual, mas porque ele considera um desenvolvimento mais grave: "uma imoralidade, uma indiferença ao confrontar o bem e o mal". Voltando a estas virtudes, confiava que voltariam a trazer a moralidade para a sociedade. Como o Papa Bento XVI, também vê uma crise na falta de reconhecimento do "conceito de transcendência"; hoje, a moralidade é vista como algo independente em qualquer situação particular, afirmava, mesmo que o princípio da transcendência coincida com a maior lei da natureza.
Ávido leitor, como Bento XVI, é capaz de citar eruditos e autores de ampla variedade de atuação. Como presidente do dicastério vaticano, Dom Ravasi também procura encontrar uma nova linguagem que chegue aos crentes e à sociedade leiga. Este livro, publicado pela primeira vez em 2005, mas reimpresso agora, parece ter sido escrito tendo precisamente esse objetivo.
Fonte: Zenit.
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