terça-feira, 11 de maio de 2010

Cuba: cardeal Ortega invoca amor, reconciliação e perdão

Em uma entrevista concedida à revista Palabra Nueva, da arquidiocese de Havana, o cardeal arcebispo da capital cubana, Jaime Ortega, analisou a situação atual vivida pelo país e fez um apelo em nome da Igreja pelo diálogo e a reconciliação entre todos os cubanos.
Recentemente, foi realizado um encontro que contou com a presença de pastores e líderes de praticamente todas as confissões religiosas presentes em Cuba, bem como do presidente da República, Raúl Castro, pela responsável pelo Departamento para Assuntos Religiosos, Caridad Diego, e outras autoridades cubanas, além do religioso dominicano brasileiro Frei Betto - mas não compareceram representantes da Igreja católica de Cuba ao evento.
Perguntado sobre a razão da ausência da Igreja Católica, o cardeal Ortega respondeu: "recebemos o convite, mas declinamos porque se tratava da comemoração de dois eventos não diretamente ligados à Igreja Católica".
No curso da reunião, discutiu-se sobre uma "aliança estratégica" do Estado cubano com os diversos grupos presentes "para o bem do povo" de Cuba.
A respeito desta proposta, o cardeal afirmou que "jamais aceitei estes termos para tratar das relações da Igreja com os poderes estatais, pois tem ressonâncias militares e políticas que não contribuem para o desenvolvimento das relações da Igreja com Estado".
"A possibilidade de agir na sociedade não depende de um pacto social, expresso ou tácito, entre a Igreja e o Estado", acrescentou.
"A ação da Igreja junto à sociedade está no âmbito dos direitos, e o direito à liberdade religiosa é claramente reconhecido na Constituição vigente de Cuba", disse.
"A Igreja Católica desenvolve sua missão em Cuba em prol do bem comum" e, neste sentido, "pode colaborar com instituições estatais ou privadas ou organizações humanitárias internacionais comprometidas com o bem geral da Nação cubana", mas sua ação "não se baseia em qualquer aliança, seja vertical, seja horizontal, fundamentando-se no direito do corpo eclesial de apresentar o amor de Jesus Cristo no mundo", disse ainda o purpurado.
O cardeal enfatizou que Cuba "se encontra numa situação muito difícil".
"Muitos falam do socialismo e seus limites, alguns propõem um socialismo reformado, outros se referem a mudanças concretas que devem ser implementadas, à necessidade de se abandonar o velho Estado burocrático do tipo stalinista, outros falam da indolência dos trabalhadores e da crise de produtividade."
O denominador comum de todas estas propostas é "que se realizem rapidamente em Cuba as mudanças necessárias para remediar" a crise.
Para o purpurado, "o primeiro passo para se desfazer o círculo vicioso em que nos encontramos" é favorecer "um diálogo Cuba-EUA".
No início de seu mandato, o presidente Raúl Castro propôs aos EUA um diálogo "sem exigir condições". Em sua campanha presidencial, também Barack Obama acenou para uma mudança de estilo no trato com Cuba, manifestando sua intenção de "falar diretamente com Cuba".
Mas, após assumir, o novo presidente norte-americano repetiu o velho esquema das administrações anteriores: condicionou o diálogo às reformas referentes aos direitos humanos", lamentou o cardeal Ortega.
"Estou convencido de que a primeira coisa a ser feita é se encontrar e falar - sublinhou o arcebispo de Havana. Esta é a maneira civilizada de se enfrentar qualquer conflito."
Neste contexto, comentou o purpurado, a Igreja "não pode tomar partido desta ou de outra parte, com uma proposta política de desestabilização de um lado e o consequente entrincheiramento defensivo de outro. (...) Compete à Igreja exortar todos à sabedoria e ao bom-senso, para que assim os ânimos possam ser pacificados".
O cardeal Ortega concluiu pedindo pelas "orações e ações de todos os que creem, para que o amor, a reconciliação e o perdão se façam presentes entre todos os cubanos", neste momento difícil.

Fonte: Zenit.

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